Diretor Ivo Moreira  \  Periodicidade Mensal
Poucos são os palcos e clubes nacionais que Overule não terá ainda pisado. Com uma média anual de 150 atuações que classifica como "muito gratificante", é possivelmente o DJ que mais "toca" em terras lusas. 
Além dos discos, coleciona também uns sólidos 11 anos de carreira. Nesta entrevista exclusiva ao Portal 100% DJ, Overule fala do seu passado e da sua experiencia, comenta as vantagens e desvantagens da "era" do Digital DJing, opina sobre a noite em Portugal e faz um balanço muito positivo do ano que passou, destacando dois gigs que lhe ficaram na memória. Contou-nos ainda os pormenores do "Mr Superstar" - o seu novo single de estreia, confessando que para o produzir se inspirou nas tendências dos finais dos anos 70, inícios de 80.
Durante o decorrer deste ano e além da promoção do novo single, Overule estará empenhado no concretizar de um novo projeto com um baterista - notícia que nos desvendou. Para conhecer na primeira pessoa… Overule!
 
 
O que é que te levou a entrar no mundo da música?
Acima de tudo sempre gostei de música. Sempre mexeu comigo tudo o que está interligado com música… possivelmente começou por aí. Depois comecei a ouvir determinados estilos de música que têm mais envolvente do que apenas música, estou a falar nomeadamente do Hip Hop, que despertou para mim um interesse muito maior em relação à música e à maneira como eu via a música. Foi por aí que dei os primeiros passos.
 
Há quanto tempo és DJ?
Há cerca de 16 anos. Profissionalmente, há 11 anos.
 
Deixaste de estudar para ingressar no mundo da música, não foi?
Não foi propriamente para ingressar no mundo da música. Eu deixei de estudar para me tornar um DJ profissional. Na altura foi uma opção difícil porque estava muito pressionado, principalmente pela minha família, mas tinha em mente que me “iria dar bem”, porque já andava com um ritmo de trabalho grande e sabia também o meu valor e as minhas capacidades. Previa que se tivesse o tempo necessário para me dedicar a 100% a isto, que conseguiria ser bem sucedido. Foi isso que me levou a deixar de estudar. Não sei se um dia mais tarde me vou arrepender disso, mas para já não me arrependo e tem corrido bem. Se calhar a maior razão para ter deixado de estudar, foi imaginar-me no final do curso, a trabalhar num escritório, fechado 8 horas ou então a fazer o que faço neste momento. Coloquei as duas coisas na balança e decidi fazer o que atualmente faço, precisamente porque sabia que ia ser muito mais feliz. Se não o fizesse e se tivesse continuado com o curso, não seria uma pessoa tão feliz como sou hoje.
 
Já foste DJ de uma banda de Hip Hop. Queres contar-nos essa experiência?
O DJing apareceu na minha vida através do Hip Hop, porque antes de ser DJ, o meu objetivo era fazer scratch. Eu não sabia nenhuma técnica de mistura, nem nenhuma técnica do que está associado ao trabalho de um DJ, apenas tinha interesse em fazer scratch, e comecei por aí, sem material nenhum, a brincar com uma aparelhagem que os meus pais tinham lá em casa e com alguns vinis antigos do meu pai. Depois fui para a banda de Hip Hop. Senti necessidade de fazer, de alguma forma, parte do movimento Hip Hop, e na altura, aquela vertente com que mais me identificava dentro das quatro que compõem o Hip Hop (DJing, MC, Graffiti e B-boying), era precisamente o DJing e as coisas começaram por aí. A banda de Hip Hop também ajudou a que evoluísse como DJ e que abrisse mais os meus horizontes no trabalho que faço atualmente. Penso que o Hip Hop nesse aspeto foi uma escola para mim, servindo de impulsionador daquilo que faço hoje. Depois obviamente que fui evoluindo e tomando conhecimento de outros estilos musicais, de outras culturas... mas começou por aí.

Assumes-te um DJ de Hip Hop?
Não propriamente. Acima de tudo considero-me um freestyler. "Estilo livre - Open format" é como se denomina o tipo de DJs como eu. Também não toco todos os estilos de música, porque há determinados estilos que eu próprio não compreendo e não me dizem nada. Eu toco aqueles que me dizem alguma coisa e que eu acho que têm qualidade suficiente para inserir e me divertir a tocar.

(...) as ferramentas estão mais facilmente disponíveis, há muito mais gente a aderir e a querer ser DJ.

 
Basicamente misturas "todos" os géneros musicais. Neste momento e na tua opinião qual é o género que as pessoas absorvem mais e melhor?
Acho que a nível de música eletrónica, o House em Portugal tem uma aceitação muito grande e desde que existem DJs portugueses nos clubes, de há 40 anos para cá, que este género musical sempre teve um peso muito forte. Se calhar não é o que me entusiasma mais, mas tenho de reconhecer que em Portugal é o que tem mais força. 
 
Tens ideia do número exato de discos que coleccionas?
Nunca me dei ao trabalho de os contar a todos, um a um. Fiz uma contagem assim por alto, da última vez que mudei de casa, e rondavam os dez mil discos de vinil. O crescimento desta coleção já estagnou, há três ou quatro anos atrás, altura em que eu aderi ao Serato e às novas tecnologias. Hoje em dia também é muito raro comprar vinil, a não ser que haja algum específico que seja de coleção, mas tirando isso a maioria das músicas que compro são digitais. 
 
Por falar em digital... Qual é a tua opinião sobre o digital djing e toda esta nova era?
Tem as suas vantagens e desvantagens. Se olharmos do ponto de vista em que eu, há uns anos atrás, quando tocava só com vinil, tinha que carregar quatro malas de 100 discos cada uma e que me dava cabo das costas e do físico, e hoje em dia só tenho de carregar um laptop, nesse aspecto é bastante positivo. Mesmo a nível do trabalho, ajuda imenso porque hoje em dia, com programas digitais, conseguimos fazer determinadas coisas que com música tocada em vinil não seria possível. Acho que essas são as principais vantagens. As desvantagens por sua vez, passam pelas empresas que desenvolveram esses softwares, que estão a tornar o trabalho do DJ cada vez mais fácil. O que de certa forma permite que os novos DJs não se esforcem tanto e não trabalhem tanto a parte técnica como se trabalhava há uns anos atrás. E isso de certa forma está a causar uma menor qualidade no nosso trabalho e na maioria dos DJs que se vêem por aí, porque não se preocupam minimamente em fazer um trabalho técnico. Acho que os programas também ajudam a essa facilidade, a esse comodismo. 
 
Já que o trabalho é facilitado, consideras que os softwares também ajudam a que haja um número mais elevado de pessoas interessadas?
Eu acho que a procura é a mesma, só que como as ferramentas estão mais facilmente disponíveis, há muito mais gente a aderir e a querer ser DJ, e, no fundo, eu não acho isso mau nem vejo nenhuma desvantagem nisso - acho que há lugar para toda a gente - mas acho que no mínimo as pessoas que querem ser DJs, deveriam esforçar-se para saberem o básico da técnica e aprender um pouco sobre a história da música, ou seja, a sua cultura musical, porque isso também conta, não é só ir aos tops de determinadas rádios e lojas, e "sacar" todo aquele top e fazer um set só dessa listagem. Há por trás um trabalho muito maior e muito mais exigente que apenas esse. 
 
Que opinião tens sobre a noite em Portugal?
Sinceramente já foi melhor. Acho que a noite em Portugal tem vindo a perder qualidade, mas ainda há alguns espaços em que se consegue sair e ter um serviço de qualidade - isto é, serviço de qualidade a todos os níveis, desde o serviço de bar, a porta, a qualidade do DJ, a música, a decoração da casa... Esse tipo de pormenores que todos juntos oferecem aos clientes um serviço de qualidade. Existem algumas casas que ainda conseguem fazer isso, mas a maioria do que tenho visto por aí, tem vindo a perder um pouco isso. Não estou a dizer que é culpa dessas casas, se calhar também é culpa da crise que estamos a passar e do facto de não estar tanta gente a sair à noite e as casas não têm tanta gente a consumir nas noites em que abrem, que também contribui para que a qualidade seja um pouco inferior. Infelizmente é assim, mas são os dias que correm, e esperemos que venham melhores dias e melhores noites!
 
Tens uma média anual de 150 atuações por ano em Portugal. O que é que isto significa para ti?
É muito gratificante. No final do ano, quando penso nesse número é desgastante mas acaba por ser gratificante, porque o facto de conseguirmos fazer esse número de atuações significa que as pessoas, passados dez anos, continuam a gostar do meu trabalho e a contratar-me e significa que o trabalho e a ideia que eu tinha desde inicio de fazer uma carreira a longo prazo está a ser bem sucedida. Essencialmente é isso que significa esses números. Às vezes, números em si também só não chegam, é preciso dar continuidade a esse trabalho. Quero com isto dizer, que não basta apenas um ano com 150 atuações, mas é preciso manter esse nível e ritmo durante vários anos para se conseguir construir uma carreira sólida.
 

Para mim a fama é apenas um acessório, não é algo que eu procuro, vem apenas por acréscimo do trabalho que faço.

 
Certamente que este número envolve também trabalho da tua agência...
É da agência e não só. Isto é um trabalho de equipa. Nós trabalhamos sempre todos em conjunto. Eu próprio marco datas, não tenho o trabalho de booking completamente entregue a uma agência. É um trabalho que desenvolvemos em equipa e todos trabalhamos em prol do mesmo. 
 
Trabalhas também muito a tua imagem. Atualmente qual achas a melhor e mais viável forma de chegar facilmente aos fãs?
A internet hoje em dia é o meio mais rápido de comunicar com as pessoas, não só com os fãs mas com o público de maneira geral. E principalmente Facebook e plataformas digitais de redes sociais que ajudam a que isso aconteça e as pessoas conseguem por si só também estar mais a par e mais por dentro do meu trabalho e não só, mas também do meu dia-a-dia, sem ser como DJ.
 
Que balanço fazes do ano que passou? Qual o gig que mais te marcou?
Acima de tudo é obviamente um balanço positivo. Foi um ano com bastantes atuações e de muito trabalho de estúdio, porque no fundo para lançarmos determinados temas temos de estar quase um ano a preparar esse trabalho e é isso que eu estive principalmente a fazer o ano passado e vou continuar a fazer este ano também. Relativamente ao gig... vou apontar dois: as festas de São Paio na Torreira, um evento que me surpreendeu imenso. Foi ao ar livre, em cima da praia, com cerca de dez mil pessoas - algo único. O segundo foi a Expofacic, que também gostei bastante e que me correu bem.
 
Tens também uma série de marcas a trabalhar contigo. Consideras que são importantes para o crescimento da tua carreira?
Sim, no fundo nunca fui eu que procurei as marcas, foi precisamente ao contrário. É uma boa associação porque há uma interajuda a nível de trabalho. 
 
Entraste em 2014 a lançar um novo single. Fala-nos um pouco sobre o teu "Mr. Superstar".
Este tema é a minha estreia como produtor a solo. Eu já tinha vindo a trabalhar como produtor noutros projetos e estive associado a vários
 projetos, alguns deles com boa visibilidade, outros nem por isso, mas essencialmente estive cerca de dois ou três anos parado, sem produzir, estava focado nas atuações, nos meus DJ sets e no trabalho que desenvolvo ao vivo. Também o radioshow que faço me ocupou bastante tempo e tirava-me tempo para produzir. No início de 2013 decidi voltar ao estúdio e à produção - porque já andava com saudades disso, e foi principalmente esse o motivo que me levou a produzir. Neste single de estreia, que já fiz há meio ano atrás, e que na altura não sabia se iria ser o primeiro - isso foi decidido mais tarde - decidi convidar o Virgul porque é um parceiro de estrada, com quem trabalho em atuações ao vivo já há alguns anos. Decidi convidar um amigo, que por sua vez convidou outro amigo - o Atiba, que já tinha participado com o Virgul nos álbuns dos Da Weasel e dos Nu Soul Family.
 
No que é que te inspiraste para o produzir?
Acima de tudo inspirei-me nas tendências dos finais dos anos 70, inícios dos 80, naquela linha do Funk e do swing, da Motown, de James Brown, por aí... Eu acho que o Hip Hop em si também tem muita influência do Funk e do Sampling, de coisas de Disco e Funk dos anos 70 e 80, e eu achei por bem começar por essa vertente musical.
 
Consideras-te um "Superstar"?
Não, de todo. O "Superstar" no fundo é uma caricatura e uma crítica social às pessoas que são pouco presunçosas, que procuram a fama apenas como meio de ostentação e não como um "acessório". Para mim a fama é apenas um acessório, não é algo que eu procuro, vem apenas por acréscimo do trabalho que faço.  
 
Para além da promoção do teu novo single, que novos projetos tens para desenvolver este ano?
Tenho mais singles para lançar durante o resto do ano e desde o Verão de 2013 que voltei a trabalhar em rádio e estou a fazer o meu radioshow semanal em 10 rádios do país. E posso adiantar, em primeira mão, que estou a desenvolver para o Verão um projeto ao vivo com um baterista e que irá chamar "Drumma Scratch". Será um projeto engraçado e diferente. Terá um número limitado de atuações que vamos apresentar apenas em grandes palcos. Vamos trabalhar a componente de remixes e edits próprios, tudo para tornar um espetáculo diferente e inovador. 
 
Que mensagem gostarias de deixar aos teus fãs e aos leitores do Portal 100% DJ?
Queria acima de tudo agradecer-lhes pelo apoio que me têm dado ao longo destes anos, por gostarem de ouvir o meu trabalho e por continuarem a sair à noite para me ouvir.
 
 
Publicado em Entrevistas
A poucos dias do sunset mais épico do ano, o Where's the Party by Carlsberg está a finalizar os preparativos para proporcionar uma épica experiência musical num local único como o Heliporto da Marina de Cascais, que se irá transformar em "capital" da música eletrónica durante oito horas. No sábado, dia 28 de junho, das 16 horas à meia noite, Thomas Gold, Danny Avila, Pete Tha Zouk, Pedro Cazanova e FunkYou2 vão dar música às mais de seis mil pessoas que são esperadas no evento.
 
Com um cartaz composto por grandes nomes da música eletrónica mundial, o sunset da Carlsberg irá proporcionar um fim-de-tarde e noite de elevada qualidade musical num local único como é Cascais. O cenário e a paisagem envolvente do Heliporto da Marina tornarão esta experiência ainda mais inesquecível. 
 
Ao nível da produção, o evento contará com um dispositivo técnico de mais de 120.000 watts de som, 80.000 watts de luz, 165m2 de ledwall vídeo de alta resolução, duplo LaserShare de alta intensidade, CO2, espetáculo de pirotecnia e muito mais. A Welove Events é a empresa responsável pela produção do evento cujo conceito Where’s the Party by Carlsberg inclui ainda um club tour de festas que está a percorrer o país até Setembro.
 
O DJ e produtor Pedro Cazanova é embaixador deste conceito em Portugal e o Portal 100% DJ foi "medir-lhe o pulso", e saber quais as suas expectativas já para este sábado. "São muito boas tendo em conta que o evento do ano passado foi muito bom e este ano terá que ser melhor!" referiu o produtor português.
 
Questionado quanto às sonoridades que irá levar na mala, Cazanova não tem dúvidas e revelou ainda uma estreia "irei levar algumas sonoridades um bocado mais 'fortes' dado que é um evento muito grande e temos que nos adequar ao público e à festa. Irei também estrear a minha música nova para o Verão e quero começar a tocá-la já no sábado."
 
Mas as novidades não ficaram por aqui. Nesta conversa Pedro Cazanova confessou-nos também em primeira mão que vai lançar um CD no próximo sábado "A compilação que sai no dia 28 terá os temas mais tocados por mim na club tour da Where’s the party by Carlsberg e conta com o meu último tema produzido em parceria com o Richard Grey e com a voz do Will Simms."
 
Em jeito de desafio final, perguntámos a Cazanova, com que artista gostaria de fazer um B2B neste evento - "com o Mauro Barros" rematou.
 
Recorde-se que este ano, a grande festa do Where’s the Party by Carlsberg acontece em duas edições. Depois de Cascais, segue-se o sunset mais épico deste verão no sul do país. A 15 de agosto, o Algarve recebe, entre outros, Armin Van Buuren, eleito por 5 vezes o melhor DJ do Mundo.
 
Com estas festas, Carlsberg pretende proporcionar experiências únicas aos participantes e reforçar o seu caráter premium associando-se à noite e à celebração.
 
 
Publicado em Eventos
Após pisar palcos do Tomorrowland ou o Ultra Music Festival, o DJ e produtor português acaba de lançar um novo single intitulado de “Crystalized”, em colaboração com Vince Kidd, com o selo da Sony Music.
 
A voz do tema é de Vince Kidd, um dos participantes da quarta temporada da edição inglesa do The Voice. “Os Karetus, os quais admiro muito, é que sugeriram” este cantor “porque já o conheciam e assim que ouvi a voz dele num vídeo que eles me mostraram, arrepiou-me de imediato”, afirmou Diego Miranda em entrevista ao Portal 100% DJ.
 
Vince Kidd veio diretamente de Londres para Portugal e entrou em estúdio com Diego Miranda e participou também no videoclip gravado na Serra da Estrela.
 
Questionado sobre as editoras portuguesas e a pouca aposta na música eletrónica por parte das mesmas, Diego Miranda admite que “esse é um dos grandes problemas dos produtores de electronic dance music em Portugal”, apesar de sentir que “há um enorme talento, mas depois falta o apoio por parte das editoras para que o artista possa desenvolver o seu trabalho, seja em termos financeiros como na parte de divulgação”.
 
Na opinião do DJ e produtor, “todos sabemos que atualmente também é difícil as editoras sobreviveram economicamente com a internet, onde se pode fazer download gratuito de quase tudo, mas acho que se aposta muito na música popular e esquecem-se da música eletrónica, que se calhar é muito mais ouvida, seja nas rádios ou em espaços de animação. Devia também de haver um acompanhamento ao artista. No estrangeiro as editoras funcionam praticamente como agências e que tratam de tudo do artista”.
 
Em relação à sua posição no Top 100 da DJ Mag deste ano, Diego Miranda confessa que “este foi sem dúvida um ano incrível na minha carreira. Acho que merecia subir mais ainda, mas tenho noção que a competitividade é cada vez maior e mais feroz. Já é uma grande honra representar o nosso país e estar pelo quarto ano consecutivo na tabela”.
 
Sobre o futuro da sua carreira, Diego Miranda revelou ao Portal 100% DJ que está neste momento a trabalhar com os Karetus e Mia Rosa “num tema que acho que vai dar muito que falar”, além de outros projetos e colaboração com outros artistas como o Wao e “também é possível que faça mais um tema com os Wolfpack”. Em relação às suas atuações, o artista vai estar presente na Ásia, Europa e América do Sul mas admite que “the best is yeat to come, sempre!”.
 
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Publicado em Música
sábado, 12 setembro 2015 22:46

Alok: "O meu berço foi a música eletrónica"

Chama-se Alok e é um dos nomes da atualidade da música eletrónica brasileira, que mais destaque tem alcançado a nível internacional com atuações no Rock In Rio Las Vegas e em várias edições das famosas festas das cores Happy Holi. Depois de ser considerado como o DJ e produtor mais popular da terra do carnaval pela House Mag, o artista estreou-se em Portugal na edição de Cascais da Where’s The Party by Carlsberg. O Portal 100% DJ esteve à conversa com Alok numa entrevista exclusiva, acompanhada pelas filmagens do seu novo documentário, onde os temas destacados na mesma foram a sua carreira, o nosso país e o cenário da música eletrónica no Brasil.
 
 
O facto dos teus pais serem DJs influenciou a tua escolha desta profissão?
Com certeza. Eu nasci neste meio eletrónico. O meu berço foi a música eletrónica e os meus pais inspiraram-me muito e ainda inspiram.
 
Porque decidiste criar a tua própria editora “Up Club Records”?
Porque acho que há muitas pessoas talentosas por aí e muitas vezes não conseguem demonstrar o seu trabalho, porque não se conseguem encaixar ou adequar-se ao formato das editoras. A editora é aberta para todos os tipos de criatividade - o que importa é a criatividade, nós não rotulamos nada. É mais uma porta e uma oportunidade para as pessoas poderem mostrar o seu trabalho e não serem influenciados pelas editoras a criar a música que eles querem.
 
Que novos talentos tens debaixo de olho?
Há muito bom talento. É o caso de um rapaz chamado Illusionize - ele está a “rebentar”. Existe também o Dazzo, ele já toca há muitos anos, mas está agora a ter destaque. Também comecei a ver vários nomes novos que nunca tinha ouvido falar e vou fazer o lançamento. Possivelmente irei divulgar no melhor momento, depois de toda a parte burocrática, contrato, etc…
 

A editora é aberta para todos os tipos de criatividade - o que importa é a criatividade, nós não rotulamos nada.

 
Tens viajado em digressão por quase todo o Brasil. Qual é a tua visão do cenário da música eletrónica no país?
No Brasil, estamos a viver agora um momento de maior ascensão. Começamos a apercebermo-nos que as crianças hoje estão muito inseridas na música eletrónica e isso é algo inédito, porque anteriormente as pessoas só se inseriam na música eletrónica a partir dos 18 ou 19 anos.
 
Nos últimos meses, o Brasil tem recebido grandes e importantes festivais de música eletrónica, como é o caso do Tomorrowland, onde também atuaste. Qual foi a sensação de estar na cabine do Main Stage, daquele que é considerado o melhor festival do mundo?
Foi a realização de um sonho e não poderia ter sido melhor. Realmente foi o melhor gig da minha vida. Abriu portas a muitas coisas positivas na minha carreira, e bem... o Tomorrowland é um fenómeno, não é? Fiquei muito feliz por fazer parte desse palco e dividi-lo com grandes nomes.
 
Tencionas atuar na edição da Bélgica?
Este ano não, somente no TomorrowWorld, nos Estados Unidos da América.
 
Sabemos que o teu nome significa luz. Consideras a luz uma fonte de inspiração para as tuas produções?
Nunca tinha parado para pensar, mas pode-se dizer que sim.
 
Foste considerado pela House Mag como o DJ número 1 do Brasil. Com que sentimento recebeste essa distinção?
É curioso porque em todos os outros anos eu nunca tinha entrado. E na minha estreia, foi logo em primeiro lugar. Eu sei que há muitas pessoas muito boas no Brasil também, pela qualidade e até pessoas com mais técnicas que eu, só que de repente faltou um pouco de acreditar em si mesmo entendeu? E eu sempre acreditei, colhi frutos e acabei sendo... Os meus números falam muito alto, como o voto é de popularidade e não há juízes por trás, o DJ mais popular do Brasil hoje sou eu.
 
 
A tua vinda mais cedo para Portugal, deu para conheceres um pouco do nosso país?
Sim, eu dei uma volta por vários sítios e estou apaixonado. É muito porreiro.
 
Tencionas voltar?
Com certeza. Quero voltar e quero comer muito aqui nos restaurantes porque foi a melhor comida que comi na vida.
 
Como descreves a atuação no Where’s The Party em Cascais? Superou as expetativas?
Para ser sincero foi muito difícil... A minha sonoridade, no meio da “EDM” é muito mau para mim. Mas faz parte e nós temos que estar preparados para tudo. Criei muitas expectativas, uma ideia na minha cabeça e acabou por ser mais difícil do que eu imaginava. Nem tudo é assim tão fácil - o que é bom, porque saí da minha zona de conforto, que no Brasil para mim é tudo mais fácil, logo foi um desafio também.
 
Que artistas portugueses de música eletrónica conheces?
O Diego Miranda apenas.
 
Que projetos tens para desenvolver a curto e longo prazo?
A curto prazo vou lançar o meu álbum e a editora. Estamos também a produzir o documentário da minha vida que acho que vai levar um a dois anos para estar no ar, ou seja um projeto a longo prazo.
 
Vais fazer campanha este ano para o Top 100 da DJ Mag?
Estamos a fazer uma campanha muito forte. O ano passado nem apostámos muito e fiquei em 117º lugar.
 
Acreditas portanto na tua estreia no Top 100?
Vamos ver, acredito que sim.
 
Que mensagem queres deixar aos leitores do Portal 100% DJ?
Quero agradecer por me terem recebido tão bem aqui e quero voltar mais vezes, esperando que da próxima vez não me coloquem entre dois DJs de EDM, mas sim no horário certo.
 
Publicado em Entrevistas
Diego Miranda volta a marcar presença no maior evento de música eletrónica à escala planetária. Falamos, obviamente, do festival Tomorrowland, que se realiza nos próximos dois fins-de-semana em Boom, na Bélgica. O DJ e produtor português marcará presença no palco "Generation Smash" no dia 26 de julho, sexta-feira, ao lado de artistas como Bassjackers, Chuckie e ainda a dupla Wolfpack. 

Este ano a responsabilidade é acrescida, pois será o único artista a representar Portugal no festival. "É o meu quarto ano consecutivo no Tomorrowland, por isso sei bem o peso dessa responsabilidade. Infelizmente este ano sou o único português a representar o nosso país o que me deixa bastante triste, até pelos milhares de portugueses que vão estar no evento" confessa Diego Miranda ao Portal 100% DJ.

Um dia depois, a 27 de julho, sábado, Diego viaja diretamente para o Porto, concretamente até ao Parque Oriental da Cidade, local que irá acolher a estreia do Unite With Tomorrowland, que irá recriar o espírito do evento belga sob o tema "Amicorum Spectaculum". Além de Portugal, este evento irá também decorrer em simultâneo em Espanha, Grécia e Malta. Por transmissão via satélite, podemos assistir às atuações de Vini Vici, David Guetta e Dimitri Vegas & Like Mike. Ao vivo, estarão na cabine os DJs Alok, Martin Solveig, Robin Schulz, Carnage, Diego Miranda e Miguel Rendeiro.

Nestes dois eventos em particular, Diego Miranda confessa-nos que espera que o público se divirta ao máximo. "Trabalho com emoções e por isso quero ver o público feliz." Além de muita música nova a solo o DJ português irá ainda apresentar colaborações.

Entre tours pelo mundo e lançamentos de singles, Diego vive um momento alto e incomparável da sua carreira. A semana passada e a convite de Dimitri Vegas & Like Mike atuou no conhecido Ushuaia em Ibiza, e próximos meses podemo-lo encontrar no Rock In Rio Brasil e na Madeira. Entretanto ainda este ano regressa à Ásia em tour. "But the Best is Yet to Come" remata o artista português atualmente posicionado em 2.º lugar no TOP 30 da 100% DJ.
 
Publicado em Tomorrowland
Natural de Viseu, este jovem promessa da música eletrónica, apenas precisa de uns headphones e de um computador portátil para fazer aquilo que lhe dá mais prazer: produzir música.
Reconhece que é um privilegiado por poder trabalhar em conjunto com um dos maiores nomes nacionais - Pete Tha Zouk, com quem está atualmente a produzir o tema “We Are Tomorrow".
A sua música "Layers" foi apoiada por vários artistas, onde também a podemos encontrar nalguns discos da editora Vidisco. É o nome a ter em conta. Quisemos conhecer melhor o seu trabalho. Fomos ao encontro de Deepblue...

 

Como e quando é que a produção musical te despertou interesse?
Quando tinha os meus 16 anos de idade. Nessa altura já praticava o Djing, e comecei a pensar “será que esta música ficaria melhor com esta alteração?”. No dia seguinte, comprei uma revista que trazia um CD com loops. Nesse mesmo dia, comecei a cortar e juntar esses loops de diferentes formas, até chegar ao ponto onde estou agora.

 
'Em que' ou 'No que' te inspiras para produzir uma música?
Normalmente, para a inspiração surgir, faço caminhadas por diferentes locais, aprecio a paisagem e imagino um momento musical para essa situação. Tento representar a paisagem que vejo, através de um conjunto de elementos musicais.
Essa inspiração surge também com diferentes situações que ocorrem ao longo do meu dia e da minha vida.

Por dia, quantas horas perdes em frente ao ‘FL Studio’?
No mínimo duas horas. A minha média é por volta das cinco horas diárias. Sou um viciado pela área, quero sempre aprender mais. É uma paixão.
 
Quando acabas de a produzir, como te sentes? Ficas logo 'pronto para outra'?
Sinto-me feliz por ter conseguido transmitir tudo o que queria numa só faixa. Depois de poucos dias a dar descanso aos ouvidos e à criatividade, estou de volta ao trabalho.
 
Como classificas a tua linha musical?
Considero que a minha linha musical se enquadra dentro de um house progressivo, no entanto mais melódico e alegre, mais divertido.
 
Como classificas a atual produção musical eletrónica em Portugal?
Sem dúvida que está a melhorar significativamente. Cada vez mais há novos talentos a surgir, a produzir muito boa música, e penso que estamos a evoluir num bom sentido, de modo a que Portugal seja mais reconhecido por todo o Mundo.
 
A música 'layers' foi fortemente apoiada por vários artistas. Tinhas noção de que a mesma poderia ter esse grande apoio?
Não. Para mim, a “Layers” era apenas mais uma faixa. Claro que, considerei que a faixa era o meu melhor trabalho até aquela altura, e fiquei contente com o resultado. No entanto, nunca esperei ter apoio de qualquer artista, muito menos de grandes artistas!
 

"(...) Cada vez mais há novos talentos a surgir, a produzir muito boa música, e penso que estamos a evoluir num bom sentido, de modo a que Portugal seja mais reconhecido por todo o Mundo."

 
Sabemos que estás a co-produzir um tema com Pete tha Zouk. Consideras-te um privilegiado por poder trabalhar com um TOP DJ Português?
De certa forma considero-me privilegiado, mas no entanto não me considero superior a ninguém. É uma sensação excelente, que me proporciona uma enorme felicidade e orgulho, pois é um sinal que o meu trabalho está a ser reconhecido, cada vez mais.

Qual foi o tema que te deu mais prazer de produzir até agora? E porquê? Algum motivo especial?
Sem dúvida que o tema que mais prazer me deu de produzir, foi o “We Are Tomorrow” com o Pete Tha Zouk. Nós os dois juntámo-nos, conseguimos sincronizar as nossas ideias, e criámos algo com um sentimento enorme, que revela toda a nossa paixão pela música. Esta faixa transmite uma mensagem, e nós conseguimos transmiti-la exactamente da maneira que queríamos!
 
Os teus temas têm estado em diversas colectâneas. Consideras, de certa forma, que a editora Exklusive também está a ser a tua ‘rampa’ de lançamento?
Sim, sem dúvida. A Exklusive foi um ponto de partida e evolução, tive um grande apoio da parte deles, que se esforçaram bastante com a publicidade do meu trabalho.
 
Em termos de marketing, na tua opinião, o digital está a ter mais ‘força’ que o físico?
Na minha opinião o digital veio para ficar, e fico contente por isso. O digital é um meio excelente tanto para divulgação do trabalho dos produtores, como para o público. É uma forma mais fácil de atingir o público, e é muito mais simples para os ouvintes, que têm acesso a música nova de forma mais fácil e mais rápida. O YouTube é uma ferramenta excelente.

Com quem gostarias, de um dia partilhar a cabine?
Não tenho nenhum desejo em especial nesse aspecto. Já tive o prazer de a partilhar com o Pete Tha Zouk, e sem dúvida que foi o momento com mais paixão que alguma vez vivi!

O que podemos esperar de Deepblue a curto prazo?
Tenho uma grande surpresa para partilhar com o público. E claro, também haverá novos temas e remisturas.

O que é para ti, um 100% DJ?
Um 100% DJ, é aquele que, quando sobe a uma cabine, se entrega de corpo e alma ao que faz, transmitindo todo o seu amor e a sua paixão sobre a música.
 
Publicado em Entrevistas
Miguel Machado, conhecido no meio como Mike The Axe, teve a sua primeira máquina fotográfica aos 12 anos. Depois de um curso de jornalismo na ESCS e de fotografia profissional na ETIC, em Lisboa, começou a trabalhar com os Ninja Kore. Além do começo na área, o fotógrafo revelou nesta entrevista exclusiva quais os artistas que mais gostou de fotografar, bem como uma caricata história de meter os olhos em bico. Houve ainda tempo para deixar algumas dicas a quem queira seguir os seus passos.
 
Como começou a tua história no mundo da fotografia ligada à música eletrónica?
Curiosamente foi durante uma aula quando estava na Faculdade de Ciências de Lisboa. Em 2012, estava na universidade e na altura estava na aula de Biologia Genética quando um colega e grande amigo meu na altura me perguntou: "Queres vir a Sesimbra acompanhar-me numa audição de piano para uma banda, os Ninja Kore?". Ao que respondi: "Why not?", e fomos. É importante referir também que na altura a tirar o curso de Fotografia Profissional na ETIC. Mas naquela época a fotografia, para mim era apenas um complemento para vir a ser um fotógrafo de natureza para a National Geographic, ou pelo menos esse era o plano. Quando chegámos à audição, fiquei imediatamente amigo do Bruno Mixtec e em simultâneo intrigado pela possibilidade de viajar com bandas, aplicando o meu conhecimento fotográfico e artístico nesse mundo. Porém, foi apenas no segundo dia do Optimus Alive de 2012 que decidi que a fotografia de música electrónica era uma carreira possível e que me iria trazer felicidade, além de sucesso pessoal e profissional. Tudo isto devido a um telefonema de última hora (5 minutos depois de receber o meu diploma de Fotografia Profissional da ETIC) que recebi do Bruno a convidar-me para fotografá-los no Alive. O momento em que pisei o palco foi quando simplesmente soube que "era isto".

Que festivais e artistas já fotografaste?
É difícil fazer uma lista completa, sem se tornar tedioso para quem ler este artigo. Mas resumindo, direi os festivais e artistas em que tive maior prazer em trabalhar e que me deram mais feedback para o meu projeto. Começando pelos festivais, fotografei o MEO Sudoeste, NOS Alive, Melhores do Ano, Screamout Fest (Tokyo, Japão), o ADE (Amsterdam Dance Event , Holanda), DreamHack (Suécia) e DreamLand (Bremen, Alemanha). Sobre os artistas que já fotografei: The Prodigy, Steve Aoki, Hardwell, OVDS (Taiwan), Ninja Kore, KURA, Karetus, Zardonic, entre outros.

Que história caricata podes contar sobre um dos teus trabalhos?
Como deves imaginar, há imensas. Mas é uma boa questão e a resposta é uma história muito importante para mim, pois deu me a última confirmação em como sou realmente bom no que faço e que devia continuar. No ano de 2015, tive a felicidade de conhecer um artista venezuelano que habita nos EUA, chamado Zardonic. Conheci-o no Hardclub (Porto) numa festa que estava fotografar e naturalmente surgem aquelas conversas de backstage onde lhe mostrei as fotografias que tirei à sua actuação. De imediato ficámos amigos e me agendou uma sessão fotográfica em Lisboa para um presskit que ele precisava na altura. Fizemos a sessão, jantámos e fomos beber copos para o Cais. Um mês depois fui para o Japão em tour com Ninja Kore e numa das sessões de autógrafos numa loja de discos (Tower Records), notei algo que me encheu de alegria: a banca que tinha o top 3 de álbuns de música electrónica mais vendidos estavam 2 álbuns, os quais tinham as minhas fotografias não só a anunciá-los, como nos álbuns em si! Os álbuns eram de Ninja Kore e Zardonic! Sendo que o álbum do que estava em 1 era o álbum do Skrillex. Senti uma motivação enorme que até hoje se mantém, e um profundo desejo de trabalhar para que um dia faça a capa de um álbum do top 1 mundial.
Tenho uma regra que criei onde não pesquiso o artista antes de o fotografar: se não o conhecer, só oiço o seu trabalho no concerto (se gostar no concerto certamente irá para o meu Spotify).

Que artistas gostaste mais de fotografar?
Não consigo dizer com honestidade quem gostei mais fotografar, porque o que eu gosto de fotografar é o espectáculo. A fotografia é uma arte muda. A luz, a dimensão do espectáculo, a vibe do público, o estado emocional do artista, entre outros factores, são a base da felicidade de um fotógrafo e não a música ou a personalidade do artista. Se queres que seja honesto, tenho uma regra que criei onde não pesquiso o artista antes de o fotografar: se não o conhecer, só oiço o seu trabalho no concerto (se gostar no concerto certamente irá para o meu Spotify). Pode parecer presunçoso ou desleixo, mas a realidade é que havendo uma separação entre o 'gostar' do artista (da sua música e ser fã, o lado emocional) e o lado técnico, traz outra dimensão ao meu trabalho e às fotografias. Na minha perspetiva isto acontece porque quando avanças sem expectativas, não crias um juízo de valor inicial que irá limitar a tua visão, em vez disso descobres as entrelinhas que o músico demonstra, enleias-te num puzzle único de espaço e tempo, finalmente criando uma ligação entre o espectáculo e as fotografias, sentindo a alma do momento. E a resolução desse puzzle é o que gosto mais de fazer. Portanto, para responder à questão: os puzzles que gostei mais de resolver foram Steve Aoki no MEO Spot em Portimão (2013) e Prodigy no NOS Alive (2014) . Esses foram os momentos que descobri o puzzle desses artistas.

Que material fotográfico aconselhas para um jovem fotógrafo que queira seguir os teus passos? E algumas dicas?
O que tenham à mão, honestamente. Com a evolução tecnológica, todos (eu incluído) achamos que o material faz o fotógrafo e queremos sempre mais. Não é que seja 100% falso. Existe alguma verdade neste estereótipo, mas na minha opinião para um iniciante o mais importante é usar a primeira máquina que tenha à mão e usar. Digo isto porquê? Porque na fotografia, todas as máquinas usam os mesmos principios e alguém que faz muito no ínicio com pouco, aprende muito mais do que alguém que comece pelo melhor. E quando evoluir e passar para a proxima máquina ficará sempre um passo à frente de quem começou em grande.

Que eventos e artistas que mais gostarias de fotografar?
Da minha bucket list faltam-me Gorillaz (banda) e o Dominator (Festival). Gorillaz porque acho que nao vale a pena alongar me muito. Todo o show visual e o conceito formam um puzzle lindo de descobrir 'live'. E claro, o Dominator: um festival de música eletrónica muito pesada que apresenta um público que aparenta mais simples e menos cansativo do que festivais de vários dias/semanas, mas são 24 horas que parecem 10 dias!

Já trabalhas há algum tempo na fotografia acompanhando os Ninja Kore. Conta-nos como começou e como está a ser a experiência.
Como começou contei na minha primeira resposta. Mas como está a ser? Honestamente essa questão tem diversas partes. Dissecando-as uma a uma aquilo que posso dizer é que são uma família. Não seriam família se não tivesse problemas. Todas as familias os têm. Mas, e aqui há um grande "mas": é por sermos familia que tudo o que fazemos vem de um amor e dedicação extrema. O resultado final é o que está à vista de todos. 
 

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Com o setor paralisado devido à pandemia de Covid19, um grupo de profissionais da área do entretenimento decidiu reunir-se e criar, desta feita, a Associação Portuguesa do Entretenimento. Com objetivos claros, este novo movimento associativo pretende representar profissionais a custo zero e já tem iniciativas pensadas para serem desenvolvidas a curto prazo.  Nesta entrevista exclusiva ao Portal 100% DJ, falámos com Ricardo Silva, representante e Presidente da Associação, onde nos explicou a quem se destina a APENT e alguns dos projetos pensados, em particular de apoio aos DJs e produtores de música eletrónica.
 
O que é a APENT e a quem se destina?
A APENT - Associação Portuguesa do Entretenimento é uma Associação sem fins lucrativos, criada para representar todo o setor profissional do entretenimento. Desde músicos, DJs, empresas e profissionais do audiovisual, performers, agentes culturais, artísticos e turísticos, produtores e organizadores de eventos, etc. Não pretendemos deixar ninguém de fora, no entanto, excluímos áreas como o teatro, cinema e televisão visto serem áreas com especificidades diferentes das que levaram à criação desta Associação.
 
Quais foram as motivações que levaram à criação da Associação? 
Todos nós falamos dos problemas, dificuldades, falta de representatividade do setor e ausência de soluções durante muito tempo e apesar de haver várias Associações ou Movimentos, são todos demasiado específicos, com pouca representatividade associativa ou com interesses adjacentes a pequenos grupos profissionais. Devido a esta situação pandémica que atravessamos e devido a tudo o que mencionei, seria a altura certa para a constituição de uma Associação onde não houvesse qualquer outro interesse (daí a ser sem fins lucrativos) que não seja o de dotar os profissionais do setor - os associados - de meios que possam fazer face às dificuldades imediatas que a pandemia trouxe e podermos falar a uma só voz com o Governo, instituições e organizações que tutelam ou têm influência no papel fundamental que desempenhamos para o país e para os portugueses. 
 
Quem são as pessoas que compõem a Direção da Associação? 
Não é segredo nenhum e será do conhecimento de todos. Somos mais de uma dezena de profissionais do setor, desde músicos, agentes, produtores e organizadores de eventos, brand managers, etc., e não pretendemos nenhum protagonismo. A Associação é e será dos associados e todos com os mesmos direitos e deveres. Os sócios fundadores são apenas um grupo que tomou a iniciativa porque alguém a precisava de ter. Não somos diferentes de nenhum associado. Entramos com um espírito de missão, dando o nosso contributo que tem sido extremamente exigente e será numa fase inicial devido a tudo o que envolve a criação de uma associação, capacitá-la de uma estrutura física, logística e com capacidade financeira para ser sustentável, sendo a mesma sem fins lucrativos, sem capitais próprios e regida pelas regras, legislação e fiscalização do associativismo. Estatutariamente e para se poder constituir uma Associação, alguém teria de avançar. Foi este grupo que teve iniciativa e disponibilidade, mas após o primeiro mandato somos obrigados pelas regras do associativismo a efetuar eleições e seguir a legislação própria. Além disso duvido que algum dos órgãos sociais pretenda continuar porque o trabalho que estamos e iremos ter, condiciona a nova vida pessoal e profissional. Estamos todos aqui com espírito de missão e esperamos que depois do nosso primeiro passo, haja outros que o continuem em prol de todos nós.
 
Não havendo investimento e sendo sem fins lucrativos, como estão a pensar gerir a Associação? 
É essa a pergunta chave e seguramente um dos motivos para nunca ter surgido uma Associação com estas características. De momento, são os órgãos sociais que estão a custear todas as despesas e obviamente sem qualquer tipo de retorno ou apoio porque a Associação não tem verbas. As verbas de qualquer Associação resultam da quotização dos sócios que ficará suspensa até o sector ter retomado a atividade normal, dos apoios que eventualmente possam surgir por parte das entidades públicas, de donativos e de projetos e atividades próprias que possam executar. Como referi, é esta equipa que está a custear, contribuir e irá trabalhar para que possamos ajudar e deixar um legado para todos os associados do sector. 
 
Já há projetos e iniciativas pensadas? 
Sim, inúmeras. Apesar da constituição da Associação só aparecer agora, este é um trabalho que tem meses e já temos inúmeras iniciativas pensadas, programadas e imenso trabalho feito, além de parcerias, contactos, protocolos e benefícios programados para todos os associados.
 

Para os DJs e produtores de música eletrónica, além dos benefícios gerais, está a ser desenvolvido um projeto que irá trazer um incremento direto nos seus rendimentos (...)

 
Pode revelar alguns? 
Serão todos revelados com a transparência que uma Associação é obrigada a ter. Algumas revelações que posso deixar, visto estarem concluídas ou em fase de conclusão,w, tais como seguros de vida e acidentes de trabalho que são obrigatórios para exercer a atividade, através de descontos ou atribuição direta, apoios sociais porque ninguém irá passar fome numa fase em que não tem rendimentos ou viu reduzida a sua atividade, disponibilidade direta de inúmeros produtos ou serviços com descontos ou diretamente, apoio em projetos próprios onde a Associação ajuda os associados a desenvolver ou criar, acesso a instalações culturais ou da própria sede que pretendemos seja um espaço multiusos aberto para todos aqueles que o queiram usar e muitos outros que estamos a preparar e iremos dando conta à medida que vamos tendo desenvolvimentos. Volto a referir que a Associação é dos associados e só faz sentido se estiver sempre disponível e acessível aos profissionais do setor. Inclusive qualquer iniciativa, projeto ou ideias que os associados tenham ou pretendam realizar em nome da Associação e em prol do setor, haverá total disponibilidade e abertura para poderem realizar ou contribuir no que entenderem. 
 
Especificamente para os DJs há alguma coisa pensada? 
Para os DJs e produtores de música eletrónica, além dos benefícios gerais, está a ser desenvolvido um projeto que irá trazer um incremento direto nos seus rendimentos e que a seu tempo será revelado. O setor abrange várias áreas com especificidades diferentes e queremos trazer para discussão o que os profissionais de cada área pretendem para que todos juntos possamos encontrar soluções, sendo que um dos problemas principais está relacionado com a ausência de legislação sobre a profissão. Um dos pontos que teremos todos de discutir será o de encontrar uma forma de que apenas os DJs possam executar o serviço que lhes compete e não qualquer pessoa com um software ou hardware que o faça ilegalmente. Com isto não estou a falar de se criar pagamentos de licenças, "inventar" carteiras profissionais ou um novo imposto em cima do que os DJs já fazem através das suas contribuições ou dos pagamentos que quem os contrata já faz nos seus espaços ou eventos que realiza, mas sim algo similar ao que existe noutros países onde a profissão de DJ é reconhecida como qualquer outra. Será um dos imensos assuntos a debater e terá de ser com o contributo dos associados, porque serão eles a decidir qual o melhor caminho e a Associação apenas fará o que os associados pretendem porque é deles a Associação. 
 
Quando é que haverá mais informações e como se podem inscrever na Associação? 
Estamos neste momento em fase final da constituição da Associação (já autorizada) e temos mais uns dias para concluir alguns processos pendentes com o Ministério da Cultura que é quem tutela o setor e por inerência a Associação e os seus associados. As inscrições já se encontram abertas no site www.apent.pt (sem joia ou pagamento de quotas) para os novos associados, sendo que temos já cerca de 5 mil associados que vão "migrar" de outras associações.  A melhor forma de estarem a par de todas as novidades é seguirem a nossa página de Facebook onde iremos atualizando as informações. Aproveito, desde já, para agradecer ao Portal 100% DJ pelo apoio que tem dado na promoção e divulgação desta área especifica do nosso sector. 
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Vando Camarinha tem 28 anos e depois de conquistar o território nacional, começa agora a dar cartas no mundo da música eletrónica a nível internacional, através de imagens capturadas por si, no momento certo. Natural do Porto e formou-se em Multimédia pelo Instituto Superior da Maia, unindo assim várias das suas paixões: design gráfico, vídeo e fotografia. Fica a conhecer melhor a sua personalidade e trabalho através da entrevista que lhe fizemos.

Como começou a tua história no mundo da fotografia ligada à música eletrónica? 
Foi há 5 anos. Eu trabalhava na noite como fotógrafo e o meu melhor amigo veio à discoteca nessa noite e acabou por me fazer a pergunta: “Vando já que gostas tanto de fotografar, porque não apostas em festivais de música?”. A partir daí comecei a pesquisar sobre alguns trabalhos de alguns fotógrafos profissionais na área dos festivais e com alguns contactos que tinha fui convidado a fazer os meus primeiros festivais. Estava um pouco nervoso no início porque não sabia onde me ia meter! Mas a partir desse momento foi ‘sempre a abrir’. Adoro a fotografia de ambiente festivaleiro, adoro música eletrónica e esses dois temas juntos é perfeito para mim e para o que eu faço!

Que festivais e artistas já fotografaste? 
Portugal: MEO Sudoeste, EDP Beach Party, Melhores do Ano, RFM Somnii, Mega Hits Kings Fest, I’ am Hardwell. Internacionais Inox Park Paris e Elektric Park Festival. Artistas: Dannic, Hardwell, Martin Garrix, Bob Sinclar, Laidback Luke, Dimitri Vegas & Like Mike, Sebastian Ingrosso, Showtek, DVBBS, Thomas Gold, Lost Frequencies, Alesso, Pete tha Zouk, Kura, Nervo, Don Diablo, Bassjackers ,Tujamo, entre outros.

Que história caricata podes contar sobre um dos teus trabalhos?
Tenho várias, mas uma que recordo mais foi quando estava a fotografar as NERVO em Paris e no momento em que ia a sair do palco, acabei por cair de cu no chão! No momento senti-me um pouco envergonhado porque tinha todas as pessoas a olhar para mim e porque foi o primeiro festival que fiz internacionalmente. Como devem calcular, as pessoas começaram-se a rir e eu com a minha calma toda disse-lhes que era uma coisa normal quando se ama o que se faz! 

Que artista gostaste mais de fotografar? 
Kura foi sem dúvida um dos que mais gostei de trabalhar. Para além de humilde, foi das pessoas que mais apostou em mim e que me deu força para continuar a fazer mais e mais neste ramo! 
 
Que material fotográfico aconselhas para um jovem fotógrafo que queira seguir os teus passos? E algumas dicas?
De material fotográfico aconselho para os iniciantes desta modalidade, a Canon 550D ou Canon 700D. Para iniciar é perfeita para praticar. 
Pesquisando, inovando e tendo sempre uma open mind, isso é a melhor dica que podem ter. Não se deixem intimidar por ninguém, sejam simples, humildes, idealizem, concretizem e principalmente sejam unidos.

Quais os eventos e artistas que mais gostarias de fotografar?
Ultra Music Festival e Tomorrowland.
 

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Nos últimos meses a pandemia de COVID-19 tem condicionado o nosso dia-a-dia. Nada é feito como antes. Há regras para tudo e o afastamento social é prioritário. Não foi preciso muito para o sector dos eventos parar. Fechou literalmente portas e tirou o sustento de milhares de profissionais, quer sejam eles artistas, promotores, empresas de audiovisuais e multimédia. Até 30 de setembro a realização dos festivais de música está também suspensa, à espera de melhores dias. Adivinha-se uma recuperação demorada e alguns festivais poderão deixar de existir, uma vez que este ano não existe qualquer fonte de receita. De forma a entendermos tudo o que se está a passar neste “ecossistema” que sobrevive da proximidade e interação de todos, falámos com Ricardo Bramão, diretor da APORFEST, a Associação Portuguesa de Festivais de Música. Falou-nos das suas preocupações, dos eventos que já foi obrigado a cancelar e da reunião que teve com o governo.
 
Também na Aporfest tiveram de adiar o Talkfest e os Iberian Festival Awards. Que fatores tiveram em conta nesta decisão? 
Tivemos que adiar os eventos precisamente na semana em que tudo se despoletou. Era algo que já estávamos a preparar, mas tínhamos um plano B, pois o evento ia realizar-se num local de maior dimensão, na FIL. Portanto, se não fosse possível realizar num local que tivesse tanta gente, tínhamos de ter um plano B. Direcionamos o evento para outro local, mantendo todas as datas previstas, só que depois algumas entidades internacionais já não poderiam vir, muito público estrangeiro também, o próprio staff começava a ficar preocupado. Todas estas situações ditaram o adiamento do evento. Tínhamos o evento todo estruturado e os prémios à espera de serem entregues. O nosso intuito até há bem pouco tempo era realizar uma edição totalmente igual daquela que estava prevista, mas obviamente que vamos ter de alterar algumas coisas perante a atualidade. O mundo dos eventos mudou e nesta situação todos vão planear e realizar as suas coisas de forma diferente, portanto o Talkfest também tem de se alterar e adaptar. 

Na sua próxima edição, em Outubro, que alterações podem vir a sofrer o Talkfest e os Iberian Festival Awards?
Tudo aquilo que temos vai sempre adaptando-se. No Talkfest vamos discutir a atualidade e inserir novas temáticas. Até aqui sempre privilegiámos muito a parte física e a presença das pessoas, mas o Talkfest altera-se perante a atualidade e aquilo que faz mais sentido de um ano para o outro. É uma questão de adaptação e nós também temos de nos adaptar, a situação assim o exige. A gala, essa sim, possivelmente para o ano não se vai realizar, pois este ano também não há festivais, ou se se celebrar, será de uma forma totalmente diferente porque os festivais que vão existir, serão também eles diferentes. É algo que ainda estamos a pensar. Vai ser um ano de exceção.
 

Quais são as maiores preocupações dos promotores dos festivais?
Esta situação está a fazer com que todos os promotores estejam expectantes sobre aquilo que é possível fazer. Todos têm vontade de fazer algo perante as condições sanitárias que serão impostas.
Nesta área os artistas também não estão a atuar. Inicialmente a questão do online funcionou, mas hoje os artistas já perceberam que esse formato não pode ser eternamente gratuito, se não estamos a gerar no público um hábito que depois não conseguimos voltar para trás. A mesma coisa que se os festivais ou outros eventos fossem gratuitos, depois não conseguimos que que o público pague e valorize um bilhete. Portanto, têm de ser criadas novas formas de rentabilidade do artista, do promotor, dos media, que permitam todo este ecossistema sobreviver e se adaptar. Infelizmente esta situação aconteceu, como aconteceu a crise de 2008. Foi após essa crise que se deu o grande boom dos festivais. Já passámos quase duas crises e há outras gerações que não passam nenhuma, mas quem conseguir superar esta, vai ter muito mais defesas e muito mais forma de conseguir ser bem-sucedido no futuro. O que se fez de início a nível da cultura ou daquilo que foi anunciado, relativamente às linhas de financiamento que iam apoiar os artistas, isso pouco ou nada se viu. Na verdade ou ainda não surgiu ou aquilo que aconteceu, não foi como foi dito. Posso dizer que vou apoiar os artistas, mas se nada acontecer, se nada for feito, essas palavras caem em saco roto. Existe muito esse sentimento. Há muitas questões a nível dos eventos que temos vindo a lutar, nomeadamente para os festivais e promotores terem mais benefícios quando retomarem as suas ações, por exemplo no pagamento de direitos de autor, direitos conexos, etc. São essas questões que queremos que sejam analisadas. Todos querem começar a arregaçar as mangas, mas uma linha de crédito significa isso mesmo: um crédito, um novo endividamento para quem já está endividado. Portanto, será muito difícil, apesar de perceber que não pode ser sempre uma linha de financiamento a fundo perdido. Nós por exemplo perdemos algumas questões de viagens, alojamentos e outras despesas que não conseguem ser recuperadas, porque mesmo que o nosso evento ocorra em outubro, temos de montar novamente uma máquina. São custos que não conseguem ser retirados, ou seja, se me derem apoios, se eu ver mais-valias nalguma questão, consigo mitigar alguns custos que vou ter de uma edição que não tem a sua rentabilidade como as outras. Há de facto muita discussão nisto, falamos de uma área em que as empresas quase só têm um colaborador ou sócio-gerente e portanto também não podem ser colocadas em layoff como outras empresas que têm 100, 200, 500 colaboradores. Há muito esta questão e esta área que vive muito da presença física. Isto serviu para esta área estar mais coletiva do que nunca, para estar junta, mas acho que há aqui um grande caminho a percorrer, não só por parte dos próprios profissionais como pelo governo. Verificamos que esta questão também ao ser dos artistas e dos promotores era uma área que se calhar não estava tão profissionalizada como deveria estar e era altura de pensarmos nisso já, e não como foi até aqui. Se estivéssemos preparados há uns anos não estaríamos nesta situação.
 

"Até que ponto vamos viver da mesma forma que vivíamos antes os festivais, até que ponto vamos estar à vontade para estar com pessoas que não nos são conhecidas e fazer o mesmo tipo de comportamentos (...)"


É um facto que esta foi a primeira área a parar...
Os eventos foram claramente os primeiros a parar, porque foi o primeiro receio. Certo é, e disso não há dúvidas - vai ser a última a ser relançada como deve ser. Porque uma coisa é nós sermos profissionais e querermos produzir os nossos eventos, outra coisa é irmos enquanto público. Até que ponto vamos viver da mesma forma que vivíamos antes os festivais, até que ponto vamos estar à vontade para estar com pessoas que não nos são conhecidas e fazer o mesmo tipo de comportamentos ou não que se fazia antes e que distinguia esta área, e isso sim, acho que vai demorar muito e não serão meses, mas talvez anos, até voltarmos a poder ter esses comportamentos. 

Que tipo de apoio estão os promotores a pedir? 
Já tivemos vários pedidos, nomeadamente informativos, jurídicos e algumas questões sociais, ou seja, de situações de alguma carência a nível pessoal e profissional em que o nosso fundo social pôde ser despoletado para suprimir uma parte dessas questões. 

Quantos festivais já foram cancelados e/ou adiados? 
Até ao momento 46 festivais foram cancelados e 14 adiados.

Considera que há festivais em risco de não se realizarem no próximo ano?
Não se realizarem no próximo ano e não se realizarem nunca mais. Por vezes quando falamos de certos pequenos festivais em que estão no limite, é muito difícil retomar a seguir, tendo aqui um ano de paragem, não só porque muitos desses festivais vivem com pouca receita, mas também muito pelo amor à camisola. Vimos portanto que há alguns festivais que vão ter muita dificuldade e poderão não acontecer. Sei até de alguns casos que muito dificilmente vão retomar, porque antes de acontecer esta situação, já tinham uma situação difícil.
 
Como está a questão da venda de bilhetes? Houve quebra de bilhetes vendidos desde que se registou um maior número de casos em Portugal?
Houve de facto uma grande quebra nos bilhetes. Por exemplo na See Tickets - com quem trabalho - não se vende bilhetes desde há dois meses. Aquilo que devia ser uma ótima altura de venda para eventos como o Rock in Rio, o Alive e outros festivais, hoje, simplesmente não existe. Porque o público também não sabe o que vai acontecer. Não é, não gostar ou gostar de um determinado evento. É não saber se se pode ir ou não da mesma forma. Porque pode-se gostar muito de um festival mas se soubermos que a experiência que vai ser oferecida vai ser diferente, possivelmente pode perder-se o interesse em estar presente nesse festival. 

Relativamente ao reembolso dos bilhetes, a APORFEST concorda com aquilo que foi aprovado em Assembleia da República?
Concordamos com a maioria do projeto-lei apresentado tendo aproveitado este momento para propor algumas melhorias e criar uma base de sustentabilidade futura ao setor e todos os seus profissionais. Sabemos que as operações dos festivais correm um grande risco e que é necessário algum dinheiro, se não, não conseguem realizar-se. Mas há exceções. Por exemplo o Primavera Sound de Espanha não esperou pela questão governamental para poder devolver o dinheiro e deu um sinal ao seu público. Assumiu o risco e quis dar já o reembolso de forma a não matar já o evento no futuro. 
 

Tudo aquilo que está previsto este ano, é para existir no próximo. Será como um 'replicar' tudo para o próximo ano.

 
Vai ser difícil manter os já anunciados cartazes para o próximo ano?
Acho que não vai ser tão difícil, porque o sector claramente parou. Para todas as entidades foi quase como um ano que não existisse. Tudo aquilo que está previsto este ano, é para existir no próximo. Será como um "replicar" tudo para o próximo ano.

Os festivais mais mediáticos deixaram em aberto uma decisão final até ser aprovado o decreto-lei. Ou seja, davam a entender nos seus comunicados que os eventos não estavam totalmente cancelados quando já se sabia qual o desfecho...
Foi para no fundo poderem tirar uma decisão com base em fundamento governamental, que é a maior entidade responsável por todos nós. Apesar de se adivinhar a decisão, é agora uma informação que passa a estar vinculada e baseada numa entidade governamental que torna mais forte e credível a decisão. 

Todos os festivais de verão estão cancelados?
Não sei se serão todos, mas quanto maior for o festival, maior é a probabilidade dele não acontecer este ano. Aquilo que está a ser feito por grande parte de todos os promotores, é encontrarem soluções que possam ser paralelas aos festivais, como showcases e outras ações que surgirão este ano. Os festivais como os conhecemos não irão existir, mas vão haver ações que os possam substituir, perante as recomendações da DGS, em salas, com lugares marcados, etc.

No entanto, não faz sentido chamarmos festival a um evento numa sala...
É por isso que este ano irão surgir conceitos novos e diferentes que certamente vão singrar para o próximo ano. Vão conseguir tornar-se fortes este ano e crescer no próximo. Será um trabalho que todos vão claramente otimizar. 

Nas últimas semanas multiplicam-se as iniciativas online nas redes sociais. Existe alguma que queira destacar? 
Não acompanhei muitas. Fizeram-me sentido algumas como o Festival Liv(r)e que celebrou o 25 de abril com concertos e doações. Mas também não podemos chamar "festival" a algo que foi produzido em casa, que não tem técnicos de som, de luz, etc. Por isso é que considero que vão aparecer outros fenómenos não se chamando festival, e a componente online passa a ser fundamental num festival para conteúdos extra, conteúdos premium, para backstages. Penso que a partir de agora também aprendemos que o online é muito importante ser um "plus" que nos vai ligar a um festival, mas nada substitui a experiência ao vivo. 

 

DR

Numa fase pós COVID-19, que tipo de medidas pode ou deve um festival impor ao público? 
Vai haver um cuidado cada vez maior no planeamento. Por exemplo verificar a temperatura corporal das pessoas que entram num festival, estar atento a mais sinais perante situações de possível propagação de um vírus. A questão da segurança no seio dos próprios festivais será mais tida em conta e isso vai fazer com que existam mais custos associados ao festival, mas obviamente que serão para evitar uma situação negativa. Da mesma forma que os promotores se protegeram e adaptaram quando foi a questão do terrorismo. Houve mais interligações com as entidades de segurança e isso vai ser sempre necessário. Acho que haverá mais cuidados com o público, a questão da temperatura corporal, ter acrílicos de proteção, o espaçamento entre o próprio público, vão aparecer câmaras térmicas e várias soluções que podem ser aplicadas ou não pelo promotor. Importa é perceber quais serão obrigatórias e regulamentadas. 


As medidas de desconfinamento apresentadas pelo governo propõem que as salas de espetáculos reabram a 1 de junho com lugares marcados e lotação reduzida. Compensa aos promotores realizar espetáculos com estas condicionantes? 
Todos vão ter que ceder e o artista vai ter que ganhar menos, porque também está a comunicar para menos pessoas. O promotor vai ter uma menor rentabilidade, os custos da sala também têm de ser reajustados, portanto tudo tem de ser ajustado num cariz de exceção. Vai ter que se apostar menos nos audiovisuais e quem aluga salas terá de ter porventura menos receita e o promotor pensar que vai ter menos garantias de bilhética. É importante que haja uma concordância entre todos para ter o possível e ser melhor do que nada.
 

"Todos vão ter que ceder e o artista vai ter que ganhar menos, porque também está a comunicar para menos pessoas. O promotor vai ter uma menor rentabilidade, os custos da sala também têm de ser reajustados (...)"


A redução de lugares significa aumento no preço dos bilhetes?
Acho que os preços não podem aumentar e se pudessem teriam de ser mais baixos. Na perspetiva do público, não posso sentir a mesma adrenalina se não estou com o mesmo número de público ou até mesmo com uma pessoa ao meu lado. A somar a isso está o poder de compra que não será o mesmo de costume. Aumentar o preço dos bilhetes não é aceitável nesta fase. Mas também depende, pois há eventos que já têm um valor elevado nos bilhetes e esta poderá ser uma oportunidade para o público valorizar mais o artista que tem à frente. Por outro lado, possivelmente eventos que antes eram gratuitos podem agora ter 2 a 5 euros de entrada.

A APORFEST foi uma das entidades ouvidas pelo governo. Como correu esse encontro e quais as principais ideias retiradas?
O encontro foi positivo e notou-se uma clara perceção por parte de todos os grupos parlamentares daquilo que são as especificidades do setor. Acreditamos que o projeto-lei pode ser melhorado e a partir daqui serem trabalhadas mais-valias para o sector como a criação de um fundo de garantia para todos, com o intuito que alguma situação análoga no futuro tenha menos incidência no sector.

O que gostaria de acrescentar?
Estão a ser meses penosos e com mais trabalho do que pensaríamos, mas sentimos que as pessoas querem estar juntas no Talkfest em outubro. Nestes últimos meses não temos trabalhado tanto na ótica do associado, mas sim para uma área que queremos que não feche, que gostamos e que muitas das vezes levamos com muito amor à camisola. Neste momento não há tanto a questão do associado. É trabalhar em conjunto para depois podermos estar cá e diferenciar-nos por isso.
 
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