Diretor Ivo Moreira  \  Periodicidade Mensal
quarta, 05 abril 2017 19:07

DJing no feminino

Sendo esta a minha primeira crónica para a 100% DJ, não podia deixar de abordar o tema que mais me é questionado e, na realidade, sei que muitos querem ver a minha opinião exposta de uma forma mais coerente e concreta:
ser DJ no feminino.
 
É certo que as mulheres no mundo do djing são uma minoria se formos a comparar com o género masculino. É um facto e os números falam por si comprovando isso mesmo. Mas o porquê desta realidade? Na minha opinião e sendo eu uma DJ “feminina” passo a expor o meu ponto de vista e experiência.
 
Para uma mulher, pode eventualmente ser mais fácil ganhar notoriedade, na maioria das vezes devido à aparência, mas assim também como por outros motivos, o grande problema surge quando se pretende manter uma carreira sólida e duradoura com respeito no mercado.
 
Sempre achei que neste campo uma mulher tem que trabalhar o dobro para alcançar metade do reconhecimento de um artista masculino. Posso dizer que senti isso no início da minha carreira e ainda hoje sinto. Contudo, sinto-me também otimista com a progressão deste assunto e acho que as coisas estão a mudar de uma forma mais positiva. 
 
O número feminino a fazer parte dos ‘headlines’ de grandes eventos aumenta a cada dia que passa, coisa que não se via com tanta frequência na altura que comecei, há praticamente 18 anos. Nessa altura desde o meu primeiro gig notei que de facto tinha algo a meu favor mas também tinha muito trabalho pela frente para mostrar precisamente que tinha vindo para ficar, assim como essencialmente levava a música a sério e essa era a minha verdadeira paixão e razão de estar atrás de uma cabine.
 
Quem me conhece sabe que não era nem sou muito de ligar demasiado às aparências. Umas sapatilhas, calças de ganga, uma t-shirt, as minhas malas e estou pronta para a fazer a festa! Contudo, assim como no masculino tem que haver uma atenção extra quando subimos a um palco, obviamente.
 
O meu trajeto começou por trabalhar numa loja de discos (Bimotor), onde todo o contacto que tive com a música que chegava diariamente ajudou a refinar a qualidade das minhas atuações assim como a criar um grande background de conhecimento na cultura eletrónica.
 
Durante os primeiros anos percorri Portugal de norte a sul, altura em que apenas tocava vinyl. Tive o privilégio de conhecer pessoas fantásticas que acreditaram no meu talento, apostaram em mim e contribuíram para o sucesso que posso dignamente afirmar que tenho. Gravei várias compilações, percorri imensas cidades pelo mundo inteiro onde obtive força e inspiração para tudo o que fui construíndo posteriormente até aos dias de hoje, onde orgulhosamente vejo alguns dos meus ‘sonhos’ se realizarem como é o caso de ter a minha própria editora, Digital Waves.
 
Contudo, tenho consciência que é um compromisso árduo e longo mas que vai no caminho certo e nos dias de hoje passa essencialmente pela continuação do trabalho de estúdio que tenho vindo a desenvolver.
 
Resumidamente, no meu caso em concreto e por isso falo da minha experiência e percurso, posso-me honrar de ter colegas de profissão que dizem: “a Sheila joga no campeonato dos homens.”. Aqui sem dúvida que ainda presenciamos uma diferenciação que todos sabemos que existe, e não podemos negar, mas assim sendo e até esta questão ser extinta, pois defendo que a música não tem sexo, só posso admitir que me sinto satisfeita e orgulhosa pelo facto de reconhecerem e respeitarem o meu trabalho
 
Miss Sheila
DJ
www.facebook.com/djmisssheilapt
Publicado em Miss Sheila
sexta, 29 maio 2020 22:08

Indústria da noite VS Pandemia

Nesta minha crónica para a 100% DJ decidi não falar do foco principal que normalmente guia a ideologia desta plataforma, mas faço-o muito por achar que nesta altura as duas acabam inevitavelmente por estar interligadas, ao mesmo tempo que peço desde já desculpa aos leitores pela extensão da mesma. 

Desde o princípio do mês de Março que o nosso país, bem como o resto do mundo tem sofrido de uma forma absolutamente inesperada com uma pandemia assassina e muito calculista que tem matado indiscriminadamente um pouco por todo o mundo. Na altura, o confinamento geral acabou por ser a decisão mais correcta, causando danos imediatos na nossa sociedade e comércio, bem como na nossa indústria, a nocturna, que como todos sabemos vive constantemente numa situação periclitante e de constante luta pela sobrevivência. É evidente que factores como o distanciamento social e todos os cuidados que nós, como cidadãos, tivemos que começar a adoptar, imediatamente fizeram perceber que os negócios de diversão nocturna iriam imediatamente ser os mais afectados, e com todo o sentido. 

A verdade é que cumprimos o nosso papel e, sem qualquer tipo de indicações ou apoios de qualquer espécie, fomos até, por iniciativa própria, os primeiros a compreender que era hora de cerrar os punhos e lutar contra um inimigo invisível. Os dias foram passando, a pandemia foi sendo controlada, o nosso país e Governo foi tido como exemplo lá fora e lentamente foram começando a ser dados passos para que lentamente pudéssemos todos voltar à normalidade, mesmo que condicionados e sendo obrigados, como é lógico, a ter em linha de conta que o problema não tinha desaparecido, mas sim controlado. 

Sector a sector, muito cuidadosamente, foram sendo abertas as portas das vidas de milhares de empresários, que puderam pelo menos olhar para o futuro com uma perspectiva mais animadora. Até aqui tudo bem, até nos termos começado a aperceber que esta mesma esperança não iria ser dada a todos, tendo inclusivamente os bares sido passados do sector de restauração e bebidas, onde sempre "viveram", para um sector invisível que até aos dias de hoje ainda não conseguimos muito bem perceber qual é. Numa primeira fase abriria a indústria que teria que abrir, e bem, e os bares e discotecas nem sequer eram tópico de conversa, quanto muito com uma previsão, mas na altura achei que tal era perfeitamente compreensível. Seguiu-se a segunda fase de desconfinamento, abrindo já o sector de restauração e bebidas, de onde os bares foram retirados como que por magia, e mesmo que com regras e restrições de horários lá tivemos cafés e restaurantes a ter a possibilidade de funcionar, sendo mais uma vez o sector noturno ignorado e sem qualquer tipo de informação relativamente ao futuro. Nesta altura, já os empresários lutavam contra a situação de ausência de qualquer tipo de apoio ou pelo menos uma perspectiva que daria uma luz ao fundo de um túnel muito escuro.
 

É verdade que faltará muita organização para se conseguir criar uma força que realmente tenha um peso suficiente para que pelo menos sejamos considerados, e isso é sem dúvida culpa nossa (...)


É verdade que faltará muita organização para se conseguir criar uma força que realmente tenha um peso suficiente para que pelo menos sejamos considerados, e isso é sem dúvida culpa nossa, se calhar passamos tempo demais a trabalhar e não devíamos, mas isso não significa que, devido a isso, tenhamos que continuar a ser ignorados quase em forma de desprezo ao ponto de serem absolutamente inexistentes as palavras "sector nocturno" nos comunicados do nosso primeiro-ministro, à excepção da única vez em que foi confrontado directamente por um orgão de comunicação social, a TSF, tendo o mesmo até parecido ter ficado bastante incomodado ao ponto de apenas dizer que se a indústria nocturna tivesse que ficar encerrada durante o Verão, iria ficar e isso não iria ser problema nenhum. 

Quando tomei conhecimento deste comentário, na minha opinião de uma irresponsabilidade política absolutamente inexplicável, dei por mim a analisar a situação actual, na qual observo alguns café e restaurantes que têm que encerrar às 23 horas, a funcionar ilegalmente até horários permitidos aos bares, a oferecerem serviços de bar sem terem qualquer tipo de especialização para isso, e numa altura em que até já se fala em levantar grande parte das restrições a este tipo de estabelecimentos, muitos deles continuam a não mostrar qualquer tipo de preocupações com as regras da Direção Geral de Saúde e a laborarem numa perspectiva bastante animadora, até porque se tivermos em linha de conta que uma boa parte da população portuguesa se encontra em "tele-trabalho", várias vezes conseguiremos facilmente afastar o cenário de pandemia dos nossos pensamentos ao andar na rua, tal é a descontração com que vemos as pessoas a retomarem as suas vidas de uma forma absolutamente normal, ao ponto de poderemos imaginar até que estamos em pleno Verão, notando-se um afluxo a esplanadas, cafés e restaurantes absolutamente anormal e até surpreendente para a data, na minha opinião, isto tudo para não falar na proliferação de festas ilegais, algumas que contaram já com mais de 100 pessoas como já me foi relatado por vários colegas de norte a sul do país e onde até, segundo a comunicação social, já aconteceram violações. 
 

Cada um civicamente acaba por ser responsável pela sua conduta, e irá sofrer, ou não, as consequências das suas atitudes (...)


Até aqui infelizmente tudo bem, cada um civicamente acaba por ser responsável pela sua conduta, e irá sofrer, ou não, as consequências das suas atitudes, mas ao voltarmos um pouco atrás reparamos num pequeno pormenor que me parece que estará a passar ao lado da vista de todos. Então, e o sector nocturno, como está no meio disto tudo? Absolutamente esquecido, com senhorios, empresários, bartenders, DJs, músicos, funcionários, marcas de bebidas, pequenos e grandes distribuidores e todos os que dependem desta indústria absolutamente entregues à sua sorte e, pior que tudo, a sentir na pele uma discriminação e desprezo sem comparação num Estado Democrático, ao mesmo tempo que assistem a esta série de acontecimentos que parecem estar a passar ao lado da opinião pública.

Os bares não podem abrir, mas os restaurantes e cafés trabalham o nosso mercado, as discotecas não podem abrir mas o festival do Avante não pode deixar de ser feito, as salas de espectáculos têm limitações do tamanho de 20m2 mas os aviões não têm restrições porque os passageiros apenas olham para a frente, ou seja, resumidamente, a cultura e a diversão nocturna não poderão nunca ser equacionados porque apenas não temos direito e somos um factor gravíssimo de risco. E será que ninguém pensa que talvez conseguíssemos dar mais garantias de segurança do que o café da esquina, onde toda a gente se abraça e faz de conta que tudo isto passou? E será que as discotecas não fariam um melhor trabalho de segurança do que uma qualquer garagem da Amadora? E o que fazemos aos milhares de artistas que ganhavam a vida a causar lazer e descontração a todas estas pseudo-figuras nas suas pausas de trabalho no Verão onde já eram imprescindíveis, para lhes dar música, fazer cocktails ou simplesmente os servir, o que fazemos aos milhares de funcionários altamente especializados que cada vez mais engrandeciam a qualidade de serviço do nosso país ao ponto de colocar Portugal como um dos mais apetecíveis destinos turísticos do mundo? O que fazemos aos milhares de espaços que anualmente enchiam os cofres do Estado com milhões de Euros em impostos apesar de serem constantemente bombardeados com impostos, taxas e licenças completamente desajustadas e algumas até inconstitucionais. 

Já não basta sermos preteridos em relação a um qualquer café ou esplanada que há anos que só sabe o que é servir cafés, tostas-mistas ou refrigerantes, ou a uma qualquer garagem ou anexo de acesso duvidoso, onde não existe qualquer tipo de segurança, não só contra o Covid mas também contra a nossa própria integridade física?
 

A pior coisa que poderemos algum dia sentir como cidadãos contributivos e activos dentro da economia do nosso país é sermos constantemente postos de lado, ao ponto de nem contarmos para uma terceira fase, e última de desconfinamento.


A pior coisa que poderemos algum dia sentir como cidadãos contributivos e activos dentro da economia do nosso país é sermos constantemente postos de lado, ao ponto de nem contarmos para uma terceira fase, e última de desconfinamento. O tratamento tem que ser igual para todos, cada sector tem que trabalhar para o seu mercado, porque é precisamente para isso que está habilitado, e um estado de direito não pode nunca dar a entender que devido a interesses políticos, existem prioridades e não-prioridades, a isto se chama viver num estado democrático. Ou se abre ou se fecha tudo, conforme os interesses não é boa política. 
Onde está o dinheiro dos nossos impostos de que finalmente tanto precisamos para conseguirmos superar isto? É que agora precisamos dele, e não pode haver desculpas. Acho também que está na altura de darmos o nosso grito de revolta, espalhando a nossa revolta um pouco por todo o país, até porque, ou muito me engano, ou não me parece que esta situação vá ter algum tipo de alteração nos tempos mais próximos, até porque à hora que escrevo esta crónica recebo a notícia de que por exemplo os cinemas vão abrir com total liberdade em termos de ocupação, já para não falar dos aviões não vão ter também qualquer tipo de restrições e até da festa do Avante, que vai ter que ir para a frente. E como ficamos nós, bares e discotecas deste país? Provavelmente iremos ter que deixar de existir...

Para terminar, e como um artista que já levou o nosso país a todo o mundo, e como empresário que já há muitos anos contribui arduamente para o sistema financeiro do nosso país, sempre sem falhar, até porque tal não me é permitido, ao contrário do oposto, sinto que o meu país está a falhar comigo, com os meus colegas artistas e com os meus colegas empresários, e isto é simplesmente inadmissível, diria mesmo que é uma vergonha pandémica! 

A realidade é esta, nós para eles não contamos para nada, a não ser para entregar os impostos, e isto é uma postura de país de terceiro mundo completamente inaceitável em pleno Século XXI. Está na altura de darmos uso à nossa voz, até porque como já percebemos, a comunicação parece claramente estar em sincronia com esta ostracização em relação a esta situação, ou muito me engano ou estamos prestes a ser o único sector a nível nacional que irá continuar encerrado.
 
Carlos Vargas
Publicado em Carlos Vargas
Todos falavam da iminência de uma nova crise, no final de 2019 era prognóstico que no ano seguinte era certo que uma crise económica nos iria bater à porta. Ninguém ligou, qual 1.º prémio do Euromilhões, que todos pensam que só sai aos outros, a crise veio por forma de uma pandemia que nos confinou todos em casa, que desacelerou a economia a velocidades perto do ralenti, fechou quase todos setores de atividade, foi democrática e ninguém estava preparado.

A noite foi das primeiras a fechar portas, mesmo antes do governo decretar o seu encerramento, já muitos cancelavam eventos e outros fechavam mesmo portas. Foi a primeira a fechar e, apesar dos esforços dos empresários desta indústria, parece estar a ficar para o fim sem data marcada para abrir portas. 

E que noite podemos nós encontrar? Como serão as discotecas e os bares adaptados a esta nova realidade? Tenho pensado muito neste assunto e não se admirem se aquilo que irei agora escrever seja diferente do que já tenha escrito no passado, mas a realidade é que, em virtude das informações e desinformações que tenho recebido, ao longo deste tempo de pandemia, tenho tido um comportamento quase bipolar e muitas vezes prefiro reduzir-me ao silêncio.

A pergunta é simples, é possível, com todas as restrições abrir uma discoteca ou um bar? Sem dúvida, todos os espaços podem abrir e, acima de tudo, têm o direito de abrir, coloquem todas as restrições, imponham as regras, exequíveis claro, mas permitam que cada empresário tome a decisão de abrir ou não, se pode e tem condições para abrir ou não, porque os seus clientes, os utentes da noite também têm o direito de escolher se vão ou não comparecer na noite. 

A palavra de ordem é "bom-senso", por parte de todos, os empresários e os utentes. Porque a realidade é esta: ou nos portamos bem ou, à imagem do ocorrido da Febre Espanhola, uma segunda vaga será catastrófico, por isso "juizinho". 

Tudo é possível, com peso e medida. Todos de máscara na noite? Será possível projetar uma noite onde todos estarão de máscara? Com certeza, até digo mais, pode ser muito divertido, com a certeza que a pista de dança saberá bem melhor. Covid-vos a dançar... Boa noite!
 
Zé Gouveia
Publicado em Zé Gouveia
terça, 01 abril 2014 16:16

(Sem título)

Escrever nunca é fácil.
Sobretudo quando se trata de uma primeira vez: os temas escorregam, misturam-se e nem sempre à velocidade certa.
Andei com dúvidas. Queria falar sobre o Djiing no feminino. Não, quero falar das novas sonoridades. Não, quero falar da noite no geral. E, afinal, quero só contar uma história.
 
Hoje quando me sentei na minha Workstation, chuva de primavera a bater na janela, gata com fome, assuntos por resolver, era um dia que começava como os outros. Vi os mails, abri o Facebook e entre os posts delirantes de um 1 de Abril cinzento a noticia da morte de Frankie Knuckles. 
 
Pus o Your Love a tocar.
Homenagem pequena. Era eu também assim, pequena, quando aprendi a gostar de House Music. A minha entrada na rádio tratou de me afinar o ouvido, de me mostrar sonoridades que estavam longe dos meus hábitos e que tinham essa capacidade. A de me levar para longe.
 
Quando, anos depois, pensei que poderia ser uma musical contadora de histórias: ele estava lá. Referencia, reverência. Inspiração. Intocável.
Tal e qual está agora. Ah, a p*ta da insustentável leveza da vida. 
Lugar-comum, tanta verdade nunca antes dita: hoje ficamos mais pobres. Mas depois não. Porque se é o imaterial que nos enriquece, então temos hoje mais de estrela do que pó. Numa House Music pura, bonita, cheia de bom feeling. Pode ser que já não se ouça. Tanto melhor porque é coisa que se sente.
 
Como sempre, para sempre: obrigada pela inspiração. São breves linhas, as tais difíceis de escrever. Mas são a única coisa breve da tua partida, porque o que nos deixas é muito maior do que algum dia poderias imaginar. Há legados que não morrem. Mesmo assim, esta poderia ser uma mentira de 1 de Abril.
See you on the dancefloor, godfather.

 

Publicado em Mariana Couto
domingo, 03 julho 2022 21:57

O barman, o bar e o cocktail

Na viragem do século quando me iniciei por estas lides (da forma certa, pois já o tinha feito anos antes mas sem a formação adequada) a ideia de um cocktail era uma bebida azul, verde ou vermelha servida num copo triangular, mau e servido apenas em hotéis ou "night clubs".

Não podia estar pior conotado. Lentamente foi-se alastrando o Mojito e a Caipirinha em muitos restaurantes, bares e apoios de praia pelo país.

Eu costumo dizer na brincadeira que foi preciso os espaços brasileiros/de rodízio "abrirem os olhos" à restante restauração para perceberem que pelos padrões internacionais de restauração (dos espaços simples/cool ao fine dinning), a recepção ao cliente faz-se encaminhando-o para o bar ou na falta do mesmo, sugerir na mesa um cocktail para iniciar a refeição.

A lufada de ar fresco na área há mais de 20 anos foi dada por Paulo Ramos e a sua Cocktail Academy, passado algum tempo pela abertura do Cinco Lounge com o Dave, pela chegada da "febre" do Gin tónico vinda de Espanha (febre - entre aspas porque ainda dura e não vai ser substituída por nenhuma bebida) pela abertura do Red Frog com o Emanuel Minez e o Paulo Gomes (um bar na lista dos 100 melhores do mundo por mais de uma vez).

E desculpem-me a falta de modéstia mas também pela criação de uma feira de bar, restauração e hotelaria em Portugal: o Lisbon Bar Show. Desde 2014, durante alguns dias do ano em Maio temos a visita dos maiores gurus de todo o mundo nesta área. Não termina aqui a lista e continuam a abrir bares muito interessantes por todo o país (e não só em Lisboa).

E onde fica o barman/bartender em tudo isto?

Alguns começaram, além de visitar o Lisbon Bar Show, a deslocarem-se também a feiras da especialidade noutros países. Outros também a frequentar masterclasses de experts e tirar as mais variadas formações por cá e no estrangeiro. Foram surgindo mais escolas de bar, Cocktail Team, Black Pepper and Basil, Ás de Copos, Bartending Project, Mr & Ms Bartender, e outros. A nível estadual penso que apenas existem cursos técnico profissionais onde concluem o 12.º ano e frequentam apenas meia dúzia de horas de bar.

E espaços para contratar estes profissionais? Para lhes dar a devida remuneração depois de alguns (muitos nalguns casos) euros investidos na sua carreira? Alguns tiveram 2/3 dias de formação e acham-se já muito preparados. Por outro lado nunca a procura excedeu a oferta tanto como este ano. Bares, hotéis, restaurantes, espaços de praia, nunca vi tantos pedidos de barmen como este ano.

Mas estarão a levantar um pouco a parada? E as condições?
Se isso fosse uma realidade não via tantos "colegas" a vender casas em imobiliárias.
E os barmen?
Quando alguma entidade se esforça para pagar acima da média será que percebem o que é o termo "dar o litro"? Ou gostam mais da expressão: "Deixa andar isto não é meu, nem do meu pai"?

Seja de que forma for, 2022 vai ser um Verão quente.
 
Alberto Pires 
Criador da Mojito Bar Catering desde 2006 e Lisbon Bar Show desde 2014 
Publicado em Alberto Pires
terça, 12 novembro 2019 22:06

Quanto vale o "TOP 100 DJs" da DJ Mag?

No passado dia 19 de Outubro foram revelados os resultados de mais um "DJ Mag Top 100 DJs" e mais uma vez, com polémica. Os irmãos Thivaios mais conhecidos por Dimitri Vegas & Like Mike ganharam pela segunda vez (a primeira tinha sido em 2015) e voltaram novamente as acusações de "marketing agressivo" e "caça ao voto" para o "Top 100" da revista inglesa. Já em 2015 foram acusados de que o seu management tinha contratado uma vasta equipa de promotoras para visitar vários eventos onde eles actuavam que, de iPad's na mão com a página aberta e já preenchida com o nome da dupla na votação do Top 100 da revista, pediam o voto a quem estava no evento. Essa equipa da promotoras chegou mesmo a andar por todo o festival Tomorrowland em 2015 (festival co-produzido pela ID&T, empresa que representa a dupla Belga), com os famosos iPad's a pedir o voto para a dupla e não permitindo votar em outros nomes quando alguém lhes dizia que Dimitri Vegas & Like Mike não eram os seus artistas favoritos e queriam votar noutros nomes.
 
Já em 2013 a dupla levantou alguma polémica quando teve uma subida fantástica no "Top 100" da revista Inglesa, passando do lugar 38 em 2012 para a sexta posição em 2013 quando em 2011 tinham entrado pela primeira vez para a posição 79. De 2011 a 2013 tiveram uma subida de 73 lugares no "Top 100" da DJ Mag e tudo devido, segundo algumas pessoas ligadas ao meio, a uma política muito agressiva de marketing direcionado (quase) exclusivamente a pedir o voto para a lista da revista inglesa.

É certo que o "Top 100" da DJ Mag sempre esteve envolto em algumas polémicas, mesmo quando a votação era feita através do envio dos cupões da revista por correio. Fui assinante da revista durante cerca de 20 anos e lembro-me de ler algumas críticas que diziam que já nessa altura a revista "aconselhava" os artistas a fazerem publicidade nas suas páginas como forma de atingir os potenciais votantes e de artistas como Paul Van Dyk, Ferry Corsten e Armin Van Buren (que lideraram a tabela durante vários anos) reconhecerem que gastavam entre 10.000 a 15.000 libras ao ano em publicidade na revista inglesa.

Com o aparecimento das redes sociais a relação dos artistas com o público alterou-se totalmente, passou a ser mais directa, mais pessoal, e as suas campanhas de marketing começaram a usar os "social media" para chegar mais facilmente ao seu público alvo, deixando de usar quase exclusivamente as páginas das revistas especializadas para o fazer. De qualquer forma, o "Top 100" da revista inglesa continua a ser a sua principal fonte de receitas, quer através da publicidade no formato físico, quer na sua página web e tornou-se numa das principais referências de quem contrata artistas para grandes eventos e festivais especialmente de EDM, nas suas varias vertentes, representando uma subida de cachet muito importante para quem colocar ao lado do seu nome a indicação "#1 DJ Mag Top 100 DJs", representando por isso muito dinheiro. Logicamente os artistas/managers apercebendo-se disso, começaram a usar todos os meios ao seu dispor para chegar ao mais alto possível da tabela, sabendo que isso lhes pode acrescentar um valor importante ao seu cachet.
 
O "Top 100" da revista inglesa continua a ser a sua principal fonte de receitas, quer através da publicidade no formato físico, quer na sua página web e tornou-se numa das principais referências de quem contrata artistas para grandes eventos e festivais.

Há no entanto algumas diferenças entre os artistas de topo sobre a maneira como encaram a sua posição neste "Top 100". Enquanto alguns (como Dimitri Vegas & Like Mike, entre outros) gastam verdadeiras fortunas em campanhas online a pedir o voto e em publicidade, há outros que referem que "nunca pediram, nem vão pedir o voto para este tipo de votações". Ainda recentemente Martin Garrix o disse numa entrevista, apesar de ter sido o número um, três anos consecutivamente, 2016, 2017 e 2018.


É um facto que muitos dos artistas da chamada electrónica "não comercial", mesmo aqueles que entram na lista, dizem não dar importância a este "Top 100 DJs" (muitos deles até o ridicularizam, especialmente nos últimos anos) mas o que é certo, é que a sua posição na tabela da revista inglesa influência muito alguns mercados na hora de decidir a contratação para alguns dos eventos/clubes mais importantes. 

A Ásia e o Brasil são dos locais que mais olham para o "Top 100" da DJ Mag, são dois mercados enormes e que representam muito dinheiro para os artistas. Por esse motivo, para muitos deles, especialmente os do circuito mais "mainstream", estar no "Top 100" ou não estar, pode alterar significativamente o valor que vão facturar ao longo do ano, e por isso apostam muito na publicidade nas redes sociais (e não só) para pedir o voto ao seu público para os ajudar a subir o mais alto possível sabendo que isso vai subir consideravelmente o cachet em muitos locais.

Uma das acusações que mais ouço e leio ao "Top 100" da DJ Mag é que deixou de ser um top de DJs para ser um concurso de popularidade, onde (quase) qualquer pessoa pode entrar desde que aposte numa campanha de marketing agressiva e junto dos mercados certos. Mas a realidade é mesmo essa, o "Top 100" da revista britânica há muito que não é um "Top 100 DJs" (apesar do nome) mas sim uma tabela de popularidade dos artistas! Esse é o erro de muita gente que ainda teima em ver este top como uma lista dos melhores DJs e produtores, quando na minha opinião há muito que não o é. Especialmente com o aparecimento do EDM, com todos os milhões (em facturação e em pessoas) que envolve anualmente, o "Top 100 DJs" é uma tabela dos artistas mais populares, com mais seguidores nas redes sociais e que participam nos eventos com mais repercussão mediática, que nestes últimos anos têm sido os eventos de música electrónica mais "mainstream".
 
Mas a realidade é mesmo essa, o "Top 100" da revista britânica há muito que não é um "Top 100 DJs" (apesar do nome) mas sim uma tabela de popularidade dos artistas!

Obviamente a popularidade dos artistas também vem do seu bom trabalho, dos seus bons sets nos grande eventos/clubes, do sucesso dos seus temas na rádio, nas listas de vendas, etc. Pelo menos deveriam ser esses os factores mais importantes, na minha opinião, para a popularidade do artista. Mas o certo é que se todo esse bom trabalho que o artista faz, nas várias vertentes, não for bem divulgado, à escala global, este não atinge a popularidade que necessita para um dia poder entrar numa lista como o "Top 100 DJs". Por isso, na minha opinião, há muitos anos que este "Top 100 DJs" é um concurso de popularidade e é assim que o devemos ver.  (Os meus parabéns ao Kura e ao meu amigo Diego Miranda pelas posições #40 e #55).


Talvez para calar um pouco as críticas que sempre aparecem quando são divulgados os 100 nomes do "Top 100 DJs" a revista inglesa criou em 2018 o "Alternative Top 100 DJs" com a colaboração da maior loja online, o Beatport. Esta lista é feita com base nas votações do "Top 100 DJs" normal juntamente com as vendas dos temas dos artistas no Beatport e para muitos é a "verdadeira" lista dos melhores DJs e produtores do momento. Para mim é sem duvida o "Top 100" que melhor reflecte quais os artistas mais destacados dentro da música electrónica nos seus vários estilos (com toda a subjectividade que uma lista deste género pode ter) uma vez que contam também os números de vendas dos seus temas e não só a votação dos fans. 

Por cá e felizmente com muito menos polémica está a decorrer até dia 20 de Novembro a votação para o "Top 30" da 100% DJ. Para apoiarem os vossos artistas favoritos basta escolherem 4 nomes e votar online em www.top30deejay.pt. Já faltam só 8 dias para terminarem as votações!
 

Carlos Manaça

DJ e Produtor

www.facebook.com/djcarlosmanaca

 

(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)

Publicado em Carlos Manaça
E aqui estamos nós, quase um ano e meio depois. É realmente uma prova de fogo esta pela qual nos estão a fazer passar. Milhares de live streamings nas redes sociais a custo zero depois, a vida e futuro dos DJs e de todos os que estão ligados ao setor nocturno permanece uma verdadeira incógnita. 

Cada vez mais uma incerteza, esta profissão tende em se manter viva à conta de todo um novo circuito, constituído por restaurantes e esplanadas dos mesmos, a fazer o nosso trabalho por aquilo que nos quiserem dar. Se antes já não era uma forma de sustento fácil, agora acabamos por ficar entregues nas mãos de um sector que obviamente não tem o mesmo grau de profissionalismo que permitiria a este sector artístico a dignidade mínima para poder exercer o seu trabalho, mas que neste momento tem a faca e o queijo na mão. A realidade é que dou por mim a não querer pensar muito naquilo que poderá vir a ser o futuro da minha profissão, pelo simples facto de não saber se existirá um. 

Completamente ignorados por quem governa e toma decisões no nosso país, acaba por ser frustrante olhar para trás e relembrar todo o passado recente, que envolveu sacrifícios e muito trabalho, mas que no presente não serve absolutamente para nada. Cada vez mais parece que o desejo de quem toma as decisões é passar a designar como restauração apenas os restaurantes, os grandes beneficiados com esta pandemia, uma vez que parecem ser, cada vez mais, os grandes meninos queridos do Governo. 

Pintados como os bichos papões de tudo o que de mal acontece neste país, mesmo sendo os únicos que se encontram encerrados desde o início de todo este enredo, sim, porque o insulto que nos fizeram, ao equipararem os bares e discotecas a meros cafés como forma de podermos trabalhar sem condições nenhumas para a nossa área vai ficar para a história, os bares e discotecas continuam a ser objecto de uma tentativa de aniquilação colectiva sem precedentes num estado de direito, sendo que a única coisa que podemos fazer é assistir de uma forma quase tortuosa, à destruição do trabalho de milhares de pessoas, sejam elas artistas, proprietários, profissionais de bar ou seguranças, entre muitos outros. 

A perseguição das forças policiais, com ameaças de autos de contra-ordenação  e discursos agressivos como se estivessem a falar com criminosos, apenas uma mão cheia de minutos depois do horário "permitido" por lei, torna-se não só insultuoso, mas cada vez mais revoltante, fazendo-nos sentir como marginais, mas daqueles que pagam as suas contas, impostos, seguranças sociais e todas as suas obrigações como qualquer português, tirando os da elite, é claro. 

É com muita tristeza que vejo que temos um Governo que não percebe que ao fecharmos o nosso sector em Março de 2020, o fizemos em prol da saúde pública, para bem de todos os portugueses, perdendo com isso milhares e milhares de Euros, perdendo basicamente a nossa independência financeira. Sim, nós fizemos um favor ao país, esta é a verdade! Semana após semana apenas a esperança nos vai mantendo lúcidos o suficiente, para podermos apenas continuar a ter mais esperança, enquanto assistimos a uma Europa toda a devolver a vida aos nossos colegas de sector. Ainda bem para eles, nada de confusões, mas é decepcionante perceberes que estás num país que não sabe reconhecer todos os sacrifícios que foram feitos por ele.

Assistimos a eventos políticos, privados e para a Europa ver onde tudo lhes é permitido, enquanto o nosso sector tem que permanecer quieto e sem se poder queixar muito. Muito sinceramente custa-me um pouco a perceber o porquê desta discriminação e autêntica indiferença, nenhum outro sector passou por semelhante situação na nossa sociedade. À hora que escrevo este texto, já nem me consigo lembrar da última vez que passei música, nem sei se alguma vez voltarei a passar, mas aquilo que sei com toda a certeza é que agora compreendo um pouco melhor tudo o que o meu avô me contava acerca dos tempos da ditadura em Portugal. A pior coisa que, como seres humanos podemos sentir, é realmente sentirmo-nos ostracizados, marginalizados e absolutamente condicionados naquilo que são os nossos direitos básicos como seres humanos. 

É triste olhar para este belo país que é Portugal e vê-lo tão feio, tão descolorido e mau. Enfim, ainda temos a nossa esperança, a esperança que um dia iremos acordar e todo este pesadelo terá desaparecido... ou não!
 
Publicado em Carlos Vargas
terça, 10 novembro 2015 00:03

Top 100 DJs: como deverias chegar ao topo

 
Começo por felicitar os dois Portugueses que se mantiveram no TOP 100 - mais um ano em que Portugal está, e bem, representado no top e a na minha opinião o Diego Miranda (#58) e o Kura (#61) são os DJs/Produtores nacionais (do circuito 'comercial') que mais trabalharam a nível internacional este último ano e por isso fico feliz ao ver que o seu trabalho foi recompensado.
 
Analisando a DJ MAG, é preciso ter em atenção que de há uns cinco, seis anos para cá se tornou um top de popularidade versus investimentos e que, dentro de todos os estilos de música e de DJing, na minha opinião, apenas incide dentro do comercial - até porque são esses os DJs que fazem campanhas de votação. Não vemos os DJs do 'underground' (Exemplo: Seth Troxler, Jamie Jones, Dubfire, etc - só para referir alguns, dentro das centenas de excelentes produtores e DJs) preocupados com as votações nem a fazer campanha. Alguns até fazem comentários a ridicularizar o top, mas se não fazem 'campanha', acabam por ser ultrapassados por outros, se calhar não tão bons DJs ou produtores. Claro está que, para muitos DJs, o lugar que ocupa na DJ MAG representa mais ou menos concertos ao longo do ano e ainda um aumento ou diminuição de cachet.
 

O lugar que ocupa na DJ MAG representa mais ou menos concertos ao longo do ano e ainda um aumento ou diminuição de cachet.

 
Esta premiação é um negócio para a DJ MAG e possivelmente é o que sustenta a revista, já que toda a gente a conhece mas contam-se pelos dedos as pessoas que algum dia a abriram, folhearam ou compraram. Como o voto é feito através do Facebook, criaram uma base de dados dos votantes com todas as preferências que o Facebook partilha. Inclusive, surgiram rumores por parte de alguns DJs internacionais que a DJ MAG exige a compra de uma página de publicidade para poder figurar no top.
 
Na minha opinião, a forma mais justa de avaliar quem deveria estar no top 100 da DJ MAG seria com uma contagem de venda de bilhetes ao longo do ano, número de músicas vendidas aliado à performance enquanto DJ - mas como isso é praticamente impossível e a DJ MAG é por votação, vão sempre haver surpresas nos resultados e discordâncias no público em geral, que não imagina as jogadas de bastidores que são feitas, mas ainda assim, ficam revoltados. Para mim este não é um top real do panorama mundial de DJs e produtores de todos os estilos, fica-se apenas no circuito 'comercial' - como o top do resident advisor (que se calhar o pessoal do 'comercial' não conhece) também não é um top real porque se foca em DJs do 'underground'. Ambos valem o que valem.
 
Em relação aos últimos resultados da DJ MAG, no que fui acompanhando nas diversas redes sociais, o que me quis parecer foi que o sentimento de revolta foi superior aos anos anteriores - é normal que o público em geral esteja surpreendido com os resultados da votação, uma vez que muitos artistas reconhecidos internacionalmente não lideram a tabela e ficaram em posições mais distantes do topo ou nem sequer entraram no top 100. O top 20 não me faz confusão e nele figuram os artistas que previa, independentemente das posições. Os resultados mais surpreendentes são os do meio da tabela com artistas consagrados em posições muito longe do top 50 e a perder o lugar para DJs que não têm esse reconhecimento, quer no meio artístico quer junto do público. Hoje em dia os resultados não são um reflexo real do sucesso e trabalho em produção musical, vendas de bilheteira, número de plays, tops de vendas de música ou de performance de palco. 
 
Dan Maarten
Publicado em Daniel Poças
sexta, 04 janeiro 2013 22:23

DJ Mumy

 
Assumo que tenho 20 minutos para escrever esta crónica. São 15:49h e combinei entregar os bebés às 4 horas na minha mãe (já me vou esticar no atraso que pode comprometer o resto do dia, tipo comboio de dominó em que uma peça leva todas as outras a cair. Sim é assim tão grave!...).
 
De seguida vou rapidamente para casa escolher o kit da noite e fazer a mini mala de fim-de-semana, dar uma "limpeza" às músicas das pens, confirmar se os phones estão ou não OK e ainda tenho que ir buscar uns novos à Pioneer - que têm andado meio "perros", talvez já da quilometragem feita em parceria comigo aí pelas estradas de Portugal -, fazer um rápido download de 2 temas novos que comprei no beatport, ligar ao pessoal do evento - para combinar umas boleias, as horas e os locais do encontro quando chegar o hotel de hoje, rezar para que o meu carro se aguente sem soluços de maior durante 270 kms - que tem estado com os problemas eléctricos típicos dos seus já quase 200 mil kms de rodagem. E que rodagem!
 
Chegar, ligar à "vovó" Clara, saber como estão os pirralhos, dar a indicação "tim tim por tim tim" dos truques para o Afonso papar a sopa de cenoura que fiz antes de sair de Lisboa - que o puto anda agora armado em caprichoso -, tomar um duche maravilha (estes momentos nos hotéis têm, neste momento da minha vida um sabor muito especial, porque podem demorar um pouco mais do que 5 minutos), pintar as unhas de vermelho nos "entretantos" e enquanto secam as ditas e os meus caracóis "enremoinhados", dar uns beijinhos ao meu namorado que felizmente me tem acompanhado por estar de licença parental - já que eu sou patroa de mim de mim própria -, voltar a ligar para saber do sono e do banho, organizar o line-up e dar uma última vista de olhos no computador, fazer o eyeliner, ligar para todos os quartos para confirmar que todos estão no lobby do hotel às nove e meia (sim este evento também "é meu" organizo-o e faço a assessoria), descer perfumada e airosa, já com a certeza de que o anti-cerne cobre bem as olheiras de vários meses de noites com menos horas de sono do que me apeteciam realmente... e de me sentir pelo menos 1 ou 2 noites por semana giraça e catita.
 

"Agora és Mãe. Passaste a ser eterna! E assim, lhes dedico a vida e assim lhes dedico os meus sets, e assim lhes dedico a minha força, paciência, inspiração e dinamismo!"

 
As noites em que a Mãe vira DJ, RP, figura pública ou afim. Eu gosto. Mas também gosto dos dias sem sono, em que refilo pela falta de tempo, em que o Afonso Luz e a Matilde Estrela se tornam prioridade entre os meus trabalhos no estúdio, os meus textos e músicas no computador, o meu blog, as minhas reuniões. Os dias e também as noites... em que as calças largas e as t-shirts tiram o lugar ao salto agulha e ao top glamouroso e em que a sopa de cenoura cuspida em cima de mim sabe bem melhor que o meu Jameson-Ginger Ale de sábado à noite.
 
Bem, eu falei em 20 minutos. São agora 16:12. Hora de seguir para a vida airada. Hora de começar a azáfama profissional do fim-de-semana, despir uma capa, vestir a outra e curtir a outra parte da vida. No fundo, não há bem "outra parte", percebo eu agora. Ser mãe é isso mesmo. Sejas DJ, empresária, actriz, contabilista, agricultora ou até dona de casa. Ser Mãe está-te no coração. E estejas onde e como estiveres, eles - os teus filhos, O Afonso e agora a Matilde que nasceu só há 2 meses... estão contigo, no teu coração e na tua cabeça que , no fundo continua a ser a mesma de sempre. A diferença é que a palavra "Multitasking" passa agora mesmo a fazer sentido. Se antes eu me sentia tantas pessoas e versões de mim mesma... agora acrescento a versão mais importante: a de ter um filho.
 
Como me disse há tempos uma amiga: Agora és Mãe. Passaste a ser eterna! E assim, lhes dedico a vida e assim lhes dedico os meus sets, e assim lhes dedico a minha força, paciência, inspiração e dinamismo!
 
Agora vou-me pisgar. Estou mesmo super atrasada.
 
E... se faz favor, aqueles que não entendem esta vida por mim escolhida (e adora criticar...), peço que, por 2 segundos imaginem a ginástica que faço para manter acesos os amores da minha vida. Ser Mulher com M grande, em toda a sua plenitude e ainda tentar "competir" com os "espécimes" masculinos que se dedicam só ao trabalho... pode ser uma batalha não ganha nesse palco... mas acreditem que o é no da vida. Porque... me sinto realizada por conseguir, "ir a todas" com muito amor e dedicação.
 
E que tal começar o ano com esta premissa?
 
 
Rita Mendes
Publicado em Rita Mendes
quarta, 07 novembro 2012 21:04

Música...

 
Em 1990 o meu Ser despertou para uma nova tendência musical que invadia as rádios e pistas de dança em Portugal. Era muito novinho, mas lembro-me do fascínio que tais obras em mim provocaram. Eram momentos mágicos, deitado à noite a ouvir programas de rádio, gravações de cassetes, os primeiros vinis, etc., de música completamente diferente, nova, original, inteligente, cheia de sentido!
Tudo isso fez com que o sonho se apoderasse de mim. "É isto que quero, é o meu sonho!!"
Pois bem, durante 22 anos, aos poucos o meu sonho concretizou-se, eu sou o que sonhei ser, mais até talvez do que sonhava nesses tempos... Mas... E há sempre um mas...
 
Esta é uma crónica diferente, diferente das que se lê aqui, pois é intima, pessoal, mais até um desabafo. Vou falar da tristeza que sinto pela não compreensão e maus tratos que essa música e cultura que mudou o meu Ser à 22 anos sofre nos dias de hoje.

Estamparam recentemente a sigla EDM (Electronic Dance Music) para definir uma arte que já conta com mais de 30 anos de história. Estamparam porque a música de dança tornou-se extremamente rentável e como em tudo, tem que se criar uma marca à volta. Mas... Apenas chamam EDM a certos estilos musicais o que me confunde, levando a pensar que há estilos que são menosprezados, postos de lado, quando a arte é a mesma, e muitas vezes o intuito dessas obras muito mais genuíno. Um Deep House por exemplo não é uma faixa produzida electronicamente?? Ou um DJ de Deep House não rende tanto em termos monetários como um DJ de Electro, será isso? Pois bem, o conceito de EDM está então errado. Música electrónica é muito mais que Electro. Faz-me uma certa confusão existir uma definição de um todo, que define apenas uma parte que é neste momento a mais rentável. Lamentável.
 

Apenas chamam EDM a certos estilos musicais o que me confunde, levando a pensar que há estilos que são menosprezados, postos de lado, quando a arte é a mesma


Outra questão passa pelo que as redes sociais (mais concretamente FACEBOOK), abriram. As portas do RIDÍCULO! Parece que ter muitos "amigos" no Facebook vale não só entrar no TOP 100 da DJ Mag, como também se se quiser, editar uma música, remix, etc. É que muitas labels e artistas, a troco de "Likes", fazem "contests" a torto e a direito, sendo os vencedores os mais votados. É tudo muito bonito, não fosse aqui o caso por em questão a qualidade musical, pois ser um "Facebookiano famoso" não significa um bom produtor musical.
Nestes últimos tempos ouvi verdadeiras barbaridades e atentados musicais acabarem vencedores de alguns desses "contests"... É deveras preocupante que uma rede social consiga que editoras prestigiadas ponham de lado talento em troca de publicidade grátis, até porque "Likes" e votos na Internet podem ser forjados, mais grave até, comprados.

Adiante...

Não vou comentar o assunto Warm Up pois já o fiz na minha primeira crónica, mas reforço a ideia dessa mesma, que não sendo um Warm Up numa discoteca em que o residente tem mesmo que estar "calmo" em prol do bom funcionamento da casa, num festival o mesmo se passa. As pessoas vão estar ali horas e à uma da manhã, o primeiro ou o antes do cabeça de cartaz tem que ser contido. Ninguém lhe pede para passar Deep House, mas há várias maneiras inteligentes de conseguir um seguimento musical lógico com os vários artistas. Arrisca-se a brilhar aquela hora e quando entrar o cabeça de cartaz (supondo que é mesmo um dos bons), as pessoas já o esqueceram. E não, não queimou ninguém, queimou-se apenas a ele, aos olhos dos colegas e não contribuiu para a "festa", massacrando o público com música que se calhar não era para aquela hora, ou podia-se guardar, ou noutros casos, até nem tocar, se é que me faço entender. Trabalho de casa deve-se fazer, ter musica para várias horas também. Há casos de ser um DJ de um estilo/método de trabalho, etc, específico, e aí é o trabalho dele, ponto. Se a vontade é ser um DJ mainstream, tem que se conhecer e saber mais do que o TOP 100 do Beatport.

Posto isto, penso que está feita a confusão necessária para o ponto seguinte que tem a vêr com a falta de organização musical que reina no nosso país. É que hoje em dia não existem linhas musicais, chegando até ao ridiculo de quando estão mais que 2 DJs a tocar no mesmo evento, ouvirem-se as mesmas musicas repetidamente, dando a parecer que apenas existe um universo de 20 ou 30 musicas. Isto é RIDICULO! É inadmissivel que TOP DJs não arrisquem ou toquem música nova, eduquem, divulguem, surpreendam as pessoas. Eu lembro-me de ir ouvir TOP DJs e no fim pensar, "bem, que set foi este, saí daqui surpreendido, com novos horizontes. Que brutalidade!!".
 

Se a vontade é ser um DJ mainstream, tem que se conhecer e saber mais do que o TOP 100 do Beatport

 
Ouvir TOP DJs neste momento é já um cliché! Bootlegs com faixas rock/pop conhecidas nas quebras para o público cantar quando o DJ baixa o som, e/ou o TOP 10 geral do Beatport ou 100 do Progressive. Sem comentar um novo tipo de mistura que o MICROFONE trouxe… Claro que cada um sabe de si, mas penso que certos estatutos têm que ser mais, muito mais do que são agora e muitos até já foram. É que há valores em causa que alimentavam durante alguns meses muitas famílias Portuguesas. Se me vendem o TOP, quero ouvir TOP. E arrastar pessoas, já vi muita festa temática arrastar bem mais que um "TOP".

Dito isto, resta-me deixar aqui umas questões para reflexão. Porque não se unem os nossos "TOP" DJs como fizeram por exemplo os Holandeses? Será porque temos vários "Numero 1 Nacional" e eles não se entendem? Eu já tentei mais que uma vez uma junção entre vários artistas mas a resposta sempre foi negativa. Penso que a motivação neste momento é apenas monetária, levando a que cada artista queira única e exclusivamente ser "O PROTAGONISTA" e "O Nº1 NACIONAL".  Rótulos são rótulos e penso que um artista deve respirar a arte, vivê-la, deixar ela sim, ser a protagonista principal. Chega a ser "chato" os apelos desesperados que se vêem nas redes sociais, ora para votos, ora para "Likes" ou mesmo os "Posts" a roçar o infantil para as páginas do Facebook terem actividade.

Penso que todos devíamos reflectir um pouco e tentar olhar para o passado que tão bonito foi, e não estragarmos uma arte/cultura que tanto passou para ver a luz do dia, mas que assim que aqui chegou, foi prostituída…

Um bem haja a todos os colegas e profissionais do meio. Ao público, e a todos os que gostam de MÚSICA!
 
Massivedrum
www.facebook.com/massivedrum.official
Publicado em Massivedrum
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