Diretor Ivo Moreira  \  Periodicidade Mensal
terça, 10 novembro 2015 00:03

Top 100 DJs: como deverias chegar ao topo

 
Começo por felicitar os dois Portugueses que se mantiveram no TOP 100 - mais um ano em que Portugal está, e bem, representado no top e a na minha opinião o Diego Miranda (#58) e o Kura (#61) são os DJs/Produtores nacionais (do circuito 'comercial') que mais trabalharam a nível internacional este último ano e por isso fico feliz ao ver que o seu trabalho foi recompensado.
 
Analisando a DJ MAG, é preciso ter em atenção que de há uns cinco, seis anos para cá se tornou um top de popularidade versus investimentos e que, dentro de todos os estilos de música e de DJing, na minha opinião, apenas incide dentro do comercial - até porque são esses os DJs que fazem campanhas de votação. Não vemos os DJs do 'underground' (Exemplo: Seth Troxler, Jamie Jones, Dubfire, etc - só para referir alguns, dentro das centenas de excelentes produtores e DJs) preocupados com as votações nem a fazer campanha. Alguns até fazem comentários a ridicularizar o top, mas se não fazem 'campanha', acabam por ser ultrapassados por outros, se calhar não tão bons DJs ou produtores. Claro está que, para muitos DJs, o lugar que ocupa na DJ MAG representa mais ou menos concertos ao longo do ano e ainda um aumento ou diminuição de cachet.
 

O lugar que ocupa na DJ MAG representa mais ou menos concertos ao longo do ano e ainda um aumento ou diminuição de cachet.

 
Esta premiação é um negócio para a DJ MAG e possivelmente é o que sustenta a revista, já que toda a gente a conhece mas contam-se pelos dedos as pessoas que algum dia a abriram, folhearam ou compraram. Como o voto é feito através do Facebook, criaram uma base de dados dos votantes com todas as preferências que o Facebook partilha. Inclusive, surgiram rumores por parte de alguns DJs internacionais que a DJ MAG exige a compra de uma página de publicidade para poder figurar no top.
 
Na minha opinião, a forma mais justa de avaliar quem deveria estar no top 100 da DJ MAG seria com uma contagem de venda de bilhetes ao longo do ano, número de músicas vendidas aliado à performance enquanto DJ - mas como isso é praticamente impossível e a DJ MAG é por votação, vão sempre haver surpresas nos resultados e discordâncias no público em geral, que não imagina as jogadas de bastidores que são feitas, mas ainda assim, ficam revoltados. Para mim este não é um top real do panorama mundial de DJs e produtores de todos os estilos, fica-se apenas no circuito 'comercial' - como o top do resident advisor (que se calhar o pessoal do 'comercial' não conhece) também não é um top real porque se foca em DJs do 'underground'. Ambos valem o que valem.
 
Em relação aos últimos resultados da DJ MAG, no que fui acompanhando nas diversas redes sociais, o que me quis parecer foi que o sentimento de revolta foi superior aos anos anteriores - é normal que o público em geral esteja surpreendido com os resultados da votação, uma vez que muitos artistas reconhecidos internacionalmente não lideram a tabela e ficaram em posições mais distantes do topo ou nem sequer entraram no top 100. O top 20 não me faz confusão e nele figuram os artistas que previa, independentemente das posições. Os resultados mais surpreendentes são os do meio da tabela com artistas consagrados em posições muito longe do top 50 e a perder o lugar para DJs que não têm esse reconhecimento, quer no meio artístico quer junto do público. Hoje em dia os resultados não são um reflexo real do sucesso e trabalho em produção musical, vendas de bilheteira, número de plays, tops de vendas de música ou de performance de palco. 
 
Dan Maarten
Publicado em Daniel Poças
quarta, 08 outubro 2014 22:28

Teremos sempre Paris

Parece que já lá vai, sem ter chegado verdadeiramente.
Foi um verão atípico que aqueceu pelos motivos menos evidentes e que teve como acendalha uma loira fleumática.
 
É curioso porque recordo, nítida e claramente, de ouvir o Bernardo Macambira falar nisto: "devíamos era trazer a Paris Hilton a Portugal!"
Na altura, a sex tape da loiríssima herdeira do império Hilton era mais importante que qualquer #bendgate. Brejeirice à parte.
 
Por outro lado, no éter e no clubbing vivíamos uma gloriosa época de bons beats e criatividade. As "presenças na noite" eram coisa de um género de Verão interior feito de decotes e de saias muito curtas.
 

Do outro lado da barricada, com a mesma irada tinta, imprimem-se notas para pagar um cachet que se acredita milionário.

 
Devem ter passado muitas estações, muitas modas que nunca foram compridas, até esta em que acordamos com o anúncio da presença de Paris Hilton em Portugal enquanto DJ. 
 
Correm rios de tinta: as redes sociais espumam-se em opiniões várias. Do outro lado da barricada, com a mesma irada tinta, imprimem-se notas para pagar um cachet que se acredita milionário.
 
Imagino o Macambira a rir. Dou por mim a pensar o quão legítima é esta transformação.
 
Conforme os DJs evoluíram para prestações nas quais se evidenciam enquanto verdadeiros entretainers, as "presenças" também tiveram de se reinventar para continuar a ter trabalho. 
 
Já sei: "A Paris Hilton não precisa". Pois, pois não: mas precisa de olear a máquina da fama que faz com que não precise. Presença habitual nos melhores clubs do mundo, Paris a Empreendedora conseguiu encontrar a forma certa de continuar a fazer dinheiro. Se é DJ, se é de esperar um set inovador, surpreendente?
 
Mas é por isso que alguém "vai ver" a Paris Hilton? A expressão está lá: "ver", que ouvir é outra coisa.
 
Afinal, ainda que separadas por um oceano de dinheiro, não há todo um segmento no mercado nacional que está na cabine para - essencialmente - ser visto?
 
Teremos sempre Paris. A dar o mote.
 
Até porque música é amor, mesmo em tempo de guerra digital.

 

Publicado em Mariana Couto
sexta, 04 janeiro 2013 22:23

DJ Mumy

 
Assumo que tenho 20 minutos para escrever esta crónica. São 15:49h e combinei entregar os bebés às 4 horas na minha mãe (já me vou esticar no atraso que pode comprometer o resto do dia, tipo comboio de dominó em que uma peça leva todas as outras a cair. Sim é assim tão grave!...).
 
De seguida vou rapidamente para casa escolher o kit da noite e fazer a mini mala de fim-de-semana, dar uma "limpeza" às músicas das pens, confirmar se os phones estão ou não OK e ainda tenho que ir buscar uns novos à Pioneer - que têm andado meio "perros", talvez já da quilometragem feita em parceria comigo aí pelas estradas de Portugal -, fazer um rápido download de 2 temas novos que comprei no beatport, ligar ao pessoal do evento - para combinar umas boleias, as horas e os locais do encontro quando chegar o hotel de hoje, rezar para que o meu carro se aguente sem soluços de maior durante 270 kms - que tem estado com os problemas eléctricos típicos dos seus já quase 200 mil kms de rodagem. E que rodagem!
 
Chegar, ligar à "vovó" Clara, saber como estão os pirralhos, dar a indicação "tim tim por tim tim" dos truques para o Afonso papar a sopa de cenoura que fiz antes de sair de Lisboa - que o puto anda agora armado em caprichoso -, tomar um duche maravilha (estes momentos nos hotéis têm, neste momento da minha vida um sabor muito especial, porque podem demorar um pouco mais do que 5 minutos), pintar as unhas de vermelho nos "entretantos" e enquanto secam as ditas e os meus caracóis "enremoinhados", dar uns beijinhos ao meu namorado que felizmente me tem acompanhado por estar de licença parental - já que eu sou patroa de mim de mim própria -, voltar a ligar para saber do sono e do banho, organizar o line-up e dar uma última vista de olhos no computador, fazer o eyeliner, ligar para todos os quartos para confirmar que todos estão no lobby do hotel às nove e meia (sim este evento também "é meu" organizo-o e faço a assessoria), descer perfumada e airosa, já com a certeza de que o anti-cerne cobre bem as olheiras de vários meses de noites com menos horas de sono do que me apeteciam realmente... e de me sentir pelo menos 1 ou 2 noites por semana giraça e catita.
 

"Agora és Mãe. Passaste a ser eterna! E assim, lhes dedico a vida e assim lhes dedico os meus sets, e assim lhes dedico a minha força, paciência, inspiração e dinamismo!"

 
As noites em que a Mãe vira DJ, RP, figura pública ou afim. Eu gosto. Mas também gosto dos dias sem sono, em que refilo pela falta de tempo, em que o Afonso Luz e a Matilde Estrela se tornam prioridade entre os meus trabalhos no estúdio, os meus textos e músicas no computador, o meu blog, as minhas reuniões. Os dias e também as noites... em que as calças largas e as t-shirts tiram o lugar ao salto agulha e ao top glamouroso e em que a sopa de cenoura cuspida em cima de mim sabe bem melhor que o meu Jameson-Ginger Ale de sábado à noite.
 
Bem, eu falei em 20 minutos. São agora 16:12. Hora de seguir para a vida airada. Hora de começar a azáfama profissional do fim-de-semana, despir uma capa, vestir a outra e curtir a outra parte da vida. No fundo, não há bem "outra parte", percebo eu agora. Ser mãe é isso mesmo. Sejas DJ, empresária, actriz, contabilista, agricultora ou até dona de casa. Ser Mãe está-te no coração. E estejas onde e como estiveres, eles - os teus filhos, O Afonso e agora a Matilde que nasceu só há 2 meses... estão contigo, no teu coração e na tua cabeça que , no fundo continua a ser a mesma de sempre. A diferença é que a palavra "Multitasking" passa agora mesmo a fazer sentido. Se antes eu me sentia tantas pessoas e versões de mim mesma... agora acrescento a versão mais importante: a de ter um filho.
 
Como me disse há tempos uma amiga: Agora és Mãe. Passaste a ser eterna! E assim, lhes dedico a vida e assim lhes dedico os meus sets, e assim lhes dedico a minha força, paciência, inspiração e dinamismo!
 
Agora vou-me pisgar. Estou mesmo super atrasada.
 
E... se faz favor, aqueles que não entendem esta vida por mim escolhida (e adora criticar...), peço que, por 2 segundos imaginem a ginástica que faço para manter acesos os amores da minha vida. Ser Mulher com M grande, em toda a sua plenitude e ainda tentar "competir" com os "espécimes" masculinos que se dedicam só ao trabalho... pode ser uma batalha não ganha nesse palco... mas acreditem que o é no da vida. Porque... me sinto realizada por conseguir, "ir a todas" com muito amor e dedicação.
 
E que tal começar o ano com esta premissa?
 
 
Rita Mendes
Publicado em Rita Mendes
domingo, 03 julho 2022 21:57

O barman, o bar e o cocktail

Na viragem do século quando me iniciei por estas lides (da forma certa, pois já o tinha feito anos antes mas sem a formação adequada) a ideia de um cocktail era uma bebida azul, verde ou vermelha servida num copo triangular, mau e servido apenas em hotéis ou "night clubs".

Não podia estar pior conotado. Lentamente foi-se alastrando o Mojito e a Caipirinha em muitos restaurantes, bares e apoios de praia pelo país.

Eu costumo dizer na brincadeira que foi preciso os espaços brasileiros/de rodízio "abrirem os olhos" à restante restauração para perceberem que pelos padrões internacionais de restauração (dos espaços simples/cool ao fine dinning), a recepção ao cliente faz-se encaminhando-o para o bar ou na falta do mesmo, sugerir na mesa um cocktail para iniciar a refeição.

A lufada de ar fresco na área há mais de 20 anos foi dada por Paulo Ramos e a sua Cocktail Academy, passado algum tempo pela abertura do Cinco Lounge com o Dave, pela chegada da "febre" do Gin tónico vinda de Espanha (febre - entre aspas porque ainda dura e não vai ser substituída por nenhuma bebida) pela abertura do Red Frog com o Emanuel Minez e o Paulo Gomes (um bar na lista dos 100 melhores do mundo por mais de uma vez).

E desculpem-me a falta de modéstia mas também pela criação de uma feira de bar, restauração e hotelaria em Portugal: o Lisbon Bar Show. Desde 2014, durante alguns dias do ano em Maio temos a visita dos maiores gurus de todo o mundo nesta área. Não termina aqui a lista e continuam a abrir bares muito interessantes por todo o país (e não só em Lisboa).

E onde fica o barman/bartender em tudo isto?

Alguns começaram, além de visitar o Lisbon Bar Show, a deslocarem-se também a feiras da especialidade noutros países. Outros também a frequentar masterclasses de experts e tirar as mais variadas formações por cá e no estrangeiro. Foram surgindo mais escolas de bar, Cocktail Team, Black Pepper and Basil, Ás de Copos, Bartending Project, Mr & Ms Bartender, e outros. A nível estadual penso que apenas existem cursos técnico profissionais onde concluem o 12.º ano e frequentam apenas meia dúzia de horas de bar.

E espaços para contratar estes profissionais? Para lhes dar a devida remuneração depois de alguns (muitos nalguns casos) euros investidos na sua carreira? Alguns tiveram 2/3 dias de formação e acham-se já muito preparados. Por outro lado nunca a procura excedeu a oferta tanto como este ano. Bares, hotéis, restaurantes, espaços de praia, nunca vi tantos pedidos de barmen como este ano.

Mas estarão a levantar um pouco a parada? E as condições?
Se isso fosse uma realidade não via tantos "colegas" a vender casas em imobiliárias.
E os barmen?
Quando alguma entidade se esforça para pagar acima da média será que percebem o que é o termo "dar o litro"? Ou gostam mais da expressão: "Deixa andar isto não é meu, nem do meu pai"?

Seja de que forma for, 2022 vai ser um Verão quente.
 
Alberto Pires 
Criador da Mojito Bar Catering desde 2006 e Lisbon Bar Show desde 2014 
Publicado em Alberto Pires
 
É desde o ano 2012, que as crónicas de opinião têm assumido um importante lugar de destaque no Portal 100% DJ, ou não fosse este, um espaço assinado por ilustres figuras do panorama noturno nacional.
 
Não querendo fugir à regra, nem tão pouco defraudar os nossos leitores, este ano voltamos em força no que diz respeito ao sublime painel de cronistas que prontamente aceitaram o nosso convite para as Crónicas deste ano. É um orgulho para nós, e ficamos mesmo com um sorriso de orelha a orelha.
 
A destacar na nossa grelha de 2014 temos o facto de continuarmos com a nossa "mulher-dos-sete-ofícios" - Rita Mendes. Este ano, coube-lhe abrir "as hostes", onde já nos brindou com a sua novíssima crónica, abordando o assunto dos estilos musicais dos DJs. "Qual é o teu estilo, DJ?". Outra renovação que também nos orgulha imenso, é a do Ricardo Silva, rosto da DWM-D World Management. Também o DJ e produtor português Massivedrum, volta a juntar-se este ano ao ilustre painel.
 
Destacamos ainda o regresso de Mariana Couto às lides da escrita de opinião na nossa plataforma e a fusão do DJ Rusty e da dupla FunkYou2 à Agência EUROPA, que, desta feita, disponibilizará a opinião dos seus DJs. Motivos mais que suficientes para acompanhares todos os meses, as crónicas de opinião do Portal 100% DJ, 365 dias ao ritmo da noite.
 
Publicado em 100% DJ
 
Não me identifico com a grande maioria da música produzida por David Guetta, sobretudo porque desprezo o caráter industrial que as suas produções assumiram. São músicas produzidas em série, num estúdio que mais parece uma fábrica "fordista", que visam apenas conservar, a todo o custo, a sua notoriedade, numa indústria cada vez mais efémera e em que a música assume um relevo cada vez menor, sendo apenas uma das muitas variáveis em jogo. Há muitos anos que a música vazia de David Guetta, pura e simplesmente, não me toca.
 
Dito isto, e pondo os gostos de parte, fico sempre incrédulo quando vejo os inúmeros boatos que sobre ele circulam na Internet. O último li-o no Wunderground, um portal irlandês dedicado à arte e música underground, carregado de mexericos e artigos falsos que apenas servem para ridicularizar alguns artistas e capitalizar leitores rancorosos - para os mais incautos, foi deste mesmo portal que saiu a notícia, também falsa, de que Axwell se iria retirar da indústria musical.
 
Estes artigos teriam piada se os leitores percebessem claramente de que se trata de escrita humorística - como acontece, por exemplo, com o Inimigo Público. O problema é que, ao incluir a informação verdadeira e falsa no mesmo saco, o Wunderground gera a confusão e induz os leitores em erro. Para além de o artigo ser uma sátira evidente, repleto de episódios inverosímeis e caricaturais, faz uma alusão a um post no Twitter de Guetta que nunca existiu.
 
Mas o que mais me espantou nesta história, e que acabou por ser a principal razão por que se multiplicaram os sites que mencionaram o assunto, foi o facto de Frankie Knuckles e David Morales, pioneiros do House e referências incontornáveis dos primeiros produtores de música eletrónica portuguesa - entre os quais eu me incluo -, terem contribuído para amplificar o equívoco, ao comentarem, no site da rádio online americana Coco.fm, um artigo falso como se fosse verdadeiro. Aquilo que não passava de um artigo satírico passou a ser visto como notícia.
 
Conclusão: passadas algumas horas, dezenas de sites referiam a polémica e milhares de pessoas em todo o mundo prontificavam-se a crucificar Guetta, com comentários que exalavam ódio e ressentimento. Porquê? Sobretudo, porque, influenciados por uma campanha na Web que visa ridicularizá-lo, não gostam da música que ele passa e produz. Não querendo fazer de advogado do diabo, posso dizer que já o vi a pôr música antes de ele ter atingido o estatuto que hoje tem e, apesar de não ser a minha praia musical, até o achei eficaz e competente. Alguns colegas meus dizem o mesmo. Para mim, a qualidade de um DJ não é medida pelo estilo de música que ele toca.
 

Às vezes, sinto-me numa cena em que estamos todos à espera da machadada final, uma espécie de "Dance Music Sucks" (...)

Não gostar de David Guetta, é uma coisa; enxovalhá-lo e linchá-lo publicamente, utilizando o boato como modus operandi, é outra muito diferente. Os fins não justificam os meios. No final do dia, é toda a música de dança que perde, que fica cada vez mais dividida e, por isso mesmo, enfraquecida. Às vezes, sinto-me numa cena em que estamos todos à espera da machadada final, uma espécie de "Dance Music Sucks", num remake do conhecido episódio protagonizado por Steve Dahl que simbolizou o fim da era Disco.
 
Para além de ter tornado patente a crispação e a divisão que hoje existem entre duas diferentes correntes de música de dança, uma mais underground e outra mais mainstream, este episódio serve para nos relembrar de que é necessário sermos especialmente prudentes quando lemos online. Se nem tudo o que aparece em revistas e jornais é verdadeiro, imagine-se na Internet, que não passa pelo crivo jornalístico ou de gente preparada para rever o material publicado.
 
"Como disse o antigo primeiro-ministro britânico James Callaghan, 'uma mentira pode dar a volta ao mundo antes de a verdade conseguir calçar as botas'. Nunca tal foi tão verdade quanto com a acelerada, destravada e desgarrada cultura da blogosfera da atualidade"1.
 
1Andrew Keen, O Culto do Amadorismo
 
Alex Santos
Publicado em Alex Santos
quarta, 21 fevereiro 2018 21:15

Fala quem sabe

A noite nacional é uma pálida imagem da de décadas anteriores, o número de espaços noturnos que mantêm a porta aberta está reduzido à contagem com os dedos de uma mão, em tempos, não tão longínquos, precisávamos dos dedos dos pés para os contar.

Durante a década de 90, em Lisboa, vimos abrir espaços como cogumelos, mais e maiores, a meio da década abriam as Docas de Santo Amaro de Alcântara, alguns metros mais à frente, abria um quarteirão com o Dock’s, Blues Café, Kings&Queens e o filho mais novo e também o mais pequeno, o Indochina, abria o Lux, espaços que se juntavam aos já existentes Plateau, Kremlin, Kapital, corria-se a Av. 24 de Julho com bares porta sim porta não, até chegarmos a Alcântara e encontrarmos o Alcântara-Mar e o Benzina, havia o Bairro Alto onde milhares circulavam pelas ruas. A maioria dos espaços tinham um dia por semana e, ao fim-de-semana, bastava abrir a porta que a enchente era garantia, a estatística falava em mais de 100.000 utentes da noite Lisboeta.

Foram anos de loucura e de abundância, o tempo das vacas gordas, de norte a sul, os empresários tinham um sorriso de orelha a orelha e os bolsos cheios, os deles e de quem para eles trabalhavam. Chegamos então a 2018 e o que temos? Uma fatia bem fina desse bolo. E qual a razão desta desertificação? Os empresários e os clientes trocam acusações, as redes sociais estão carregadas de opiniões, na maioria de treinadores de bancada. Fala-se do ambiente, da música, da falta de qualidade, será? Vamos a factos, Portugal deverá passar dos actuais 10,3 milhões de habitantes para apenas 7,5 milhões em 2080, de acordo com as projecções da população residente do Instituto Nacional de Estatística, devemos cair dos 10 milhões já a partir de 2031, ou seja, dentro de 14 anos. Qual o target dos espaços noturnos? Que idade tinham aquela centena de milhares de pessoas que saíam nos anos 90 e ainda no início do século XXI? Pois é, 18-30 anos, são esses os mais noctívagos, os mais disponíveis para sair, a partir dos 30 anos casam, têm filhos, a vida muda, com as obrigações riscam a vida noturna da lista das suas rotinas. Juntando aos dados demográficos, temos que juntar os culturais, as alterações que os avanços tecnológicos provocaram, quem não recorda que a rua era a nossa segunda casa? E a noite? No Verão era todos os dias, no resto do ano a sexta-feira e o sábado eram sagrados. Mas para as novas gerações não, a noite não é sagrada, e a casa é hoje palco de campeonatos de jogos nas mais modernas consolas de jogos, de maratonas de séries de televisão gravadas nas box’s ou extraídas em downloads ilegais, noites acompanhadas por álcool mas comprado barato num qualquer supermercado.

Concluindo, com estes dados, depressa chegamos à conclusão que a classe etária que tentamos aliciar está diminuída, a manta ficou cada vez mais curta, para uma casa encher a outra fica vazia, não há público. Muitos não aguentaram a instabilidade e fecharam portas, outros abrem somente para eventos e ainda há os teimosos que derretem dinheiro como se tivessem numa mesa de jogo à espera que a sorte vire, mas não vira, porque a sorte é só parte da razão do sucesso, uma pequena parte, a maior é o saber, o conhecimento, as capacidades de gestão, tudo características ausentes na maioria dos que se encontram no comando dos melhores espaços noturnos, mas essa é outra história.
 
Assinado: A Gerência.
 
Zé Gouveia
Publicado em Zé Gouveia
sexta, 09 fevereiro 2018 21:24

Recap da música electrónica

Um novo ano começou e aceitei, mais uma vez, o convite da 100% DJ para deixar alguns artigos de opinião para os leitores/utilizadores deste portal que tem prestado um serviço de informação isento e de qualidade sobre a indústria da música electrónica em Portugal. 

Não tenho a presunção de achar que sou um conhecedor profundo ou um "visionário" do que se irá passar no futuro mas lanço o desafio a quem não leu artigos de opinião anteriores e publicados neste portal para que percebam um pouco que há sinais que surgem e que quem trabalha neste meio consegue sentir e prever mudanças e que na altura foram alvo de imensas críticas. 

Tive o privilégio de assistir ao início do aparecimento da música electrónica em Portugal e aos primeiros DJs que ousaram agarrar nos "martelinhos" e fazer uma carreira. Sinto a tristeza inerente de ter visto muitos deles desaparecer devido ao aparecimento das novas tecnologias, ao "facilitismo" da produção musical onde tudo passou a ser "informatizado" e as "máquinas" foram metidas para um canto e onde um PC, um teclado e uns programas informáticos bastam para que saia uma obra musical. 

Na ultima década assistimos a uma autêntica "epidemia" de novos DJs e produtores musicais que julgaram que tinham encontrado o "El Dorado" na música electrónica. 

Deixo uma pergunta: 
- Onde estão 80% desses DJs que apareceram do nada e desapareceram mais rápido do que surgiram?

Poucos, muito poucos, são os DJs que surgiram nos últimos cinco anos e que continuam no mercado. Apenas permaneceram aqueles que souberam adaptar-se às mudanças (leiam os artigos anteriores que mencionei) e outros que souberam profissionalizar-se. Continuamos a ter os "velhinhos" e aqueles que fizeram uma carreira (mais de 10 anos no mercado) como referência e a manterem a indústria em movimento por um único motivo... quiseram uma carreira e deram atenção ao mais importante - A Música. 

A música electrónica (seja qual for o estilo) não é diferente de outro tipo de música qualquer. Tivemos o "boom" da Kizomba e assistimos à sua queda. Temos agora o Hip Hop em alta  e que está a cometer o mesmo erro que a Kizomba. Tenho a certeza que daqui a uns anos vamos todos olhar para trás e só conseguimos lembrar-nos de meia dúzia de nomes que marcaram estes estilos e que vão continuar no mercado no futuro. Façam esse exercício para a Kizomba e vejam se conseguem dizer 10 nomes de artistas portugueses ou que estivessem no mercado português, quando foram mais de uma centena que percorreram palcos e clubes deste país. 

A música electrónica sofreu (está a sofrer) o mesmo "problema". Está a haver a triagem natural do mercado. Quer pela qualidade, quer pela "oferta vs procura". 

Olhem para esta indústria como um negócio, para vocês como um produto e para música como arte. Só assim poderão ter sucesso. Querer vender arte (leia-se múisica) sem a divulgar, dificilmente haverá quem a queira comprar. Tenham um produto (leia-se DJ + Música) que seja apetecível ser adquirido e para isso é preciso olhar para a indústria como um negócio. 
Se não pensares desta forma ou quiseres apenas ser "um artista", lembra-te que os maiores artistas só tiveram reconhecimento depois de falecerem... 
A escolha é tua...
 

Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
sexta, 08 novembro 2019 18:27

O Tio estava lá

Lembro-me perfeitamente da 1a vez que entrei no Kremlin, devia ter praí uns 15 anos ou seja foi há cerca de 30, e só lá entrei porque o meu Pai conhecia o responsável pela contabilidade do espaço, informação que quando chegou ao meu conhecimento me fez iniciar uma pressão gigante sobre o meu progenitor até conseguir que ele ligasse para o seu amigo de modo a meter-me lá dentro.

Eu já tinha ouvido falar do Kremlin, os relatos das suas noites estavam espalhados nas páginas de alguns jornais que me entravam em casa nessa altura, como o Independente e o Expresso, mais uma vez pelas mãos do meu Pai, portanto a minha curiosidade era muita. Não era a primeira vez que eu entrava numa discoteca, eu pertenço a uma geração nascida nos anos 70 que cresceu num ambiente onde era normal levar os filhos à "boite", lembro-me de ser bastante novo e dançar em discotecas, bares e festas particulares onde pais e filhos partilhavam a pista de dança, mas o Kremlin era um espaço diferente desses, sobretudo pela música que passava.

Foi ali que ouvi pela primeira vez House e Techno, estilos carinhosamente apelidado de "Música às bolinhas" mas que incendiavam a pista de dança de uma maneira que o Rock não fazia, com mais êxtase e sensualidade, mal sabia eu que ali nas Escadinhas da Praia estava a assistir ao início de uma revolução na noite em Portugal, pouco tempo depois abriu o Alcântara-Mar, onde eu também só entrava devido aos conhecimentos do meu Pai e aí então a coisa explodiu, os relatos das festas que ali se passavam espalhavam-se não só pela cidade e arredores mas por todo o país e de um momento para o outro, ali no inicio dos anos 90, uma geração de DJs e produtores de eventos tratou de implantar uma cultura que já há alguns anos se tinha implantado na Europa e Estados Unidos.

Nomes como Tó Pereira, Luís Leite, XL Garcia, Jiggy, Tó Ricciardi, Mário Roque, António Cunha, Beto Perino, Chumbinho, entre tantos outros foram a vanguarda que levou os novos sons e conceitos de festa aos 4 cantos do país fosse em discotecas ou raves, fosse em armazéns ou em Castelos, a primeira vaga da música de dança em Portugal foi gigantesca e quem a viveu guarda-a na memória como algo excitante, mágico e de certa forma irrepetível. 

Hoje em dia a cultura da música de dança é muitas vezes o Mainstream, e nada de mal há nisso, cada vez mais são os artistas de música de dança que têm o maior destaque em festivais, festas e até arraiais. A paisagem sonora mudou muito e eu fui um dos privilegiados que assistiram à génese dessa mudança, graças ao meu Pai que muitas portas ao longo da vida abriu para mim. Hoje em dia, e por um acaso do destino, sou eu por vezes a atração em alguns destes espaços onde se dança em Portugal, também isso agradeço ao meu Pai que, tal como eu, adorava dançar e esse gene que me passou é sem dúvida uma das coisas mais importantes para o meu bem-estar nos dias que correm. Obrigado Pai, onde quer que estejas, o Sal Grosso que vou espalhando também é teu.
 
Jel
Publicado em Jel
terça, 31 maio 2016 23:04

Vale a pena continuar a fazer música?

De vez em quando esta pergunta surge-me nas muitas horas em que estou em estúdio, a produzir/misturar/ masterizar novos temas. Vale mesmo a pena perder tantas horas no “bunker” a produzir novas músicas que, muito a custo, chegam aos DJs/Produtores aos quais eu quero que cheguem, ou até mesmo ao público que eu acho que vai ouvir/tocar os meus temas? É uma pergunta pertinente...
 
Já se sabe que hoje em dia, as vendas de música online descem de ano para ano. Pelo menos é o que dizem os distribuidores/lojas online aos artistas/editoras, e em parte deve ser verdade porque pelo que ouço, a maior parte da malta mais nova (e não só...) nem sequer se dá ao trabalho de ir às lojas legais comprar os temas, que na sua maior parte custam entre 1.50 e 2.50 consoante sejam novidades ou não. Procuram nas páginas de descarga gratuita, procuram no Youtube e tentam fazer o “download”, entre outros métodos. Há até algumas páginas que disponibilizam os temas por “megabyte” ou seja, pagas por quantidade de informação que descarregas e não por tema/álbum individualmente. Escusado será dizer que nenhuma parte desse dinheiro chega aos artistas/editoras...
 
Lembro-me de quando começaram as vendas online (o Beatport abriu em 2004), ainda se vendiam bastantes discos em vinil. No caso da Magna Recordings, eram os suficientes para podermos pagar toda a produção dos discos seguintes aos artistas e ainda sobrava algum para pagarmos as despesas. Na altura dizia-se que com a venda online, os nossos temas iam passar a ser vendidos em todo o lado, de uma forma mais prática, e que não iriamos ter todas as despesas do processo de fabricação dos discos em vinil, que eram muitas. Era sempre um risco grande editar um disco em vinil porque os custos de produção eram altos.
 
Essa teoria até foi correcta durante algum tempo. As edições em vinil e em digital existiram em simultâneo durante algum tempo e a venda em formato digital complementava a dos discos em vinil. Até que o medo que as pessoas tinham em ser apanhadas a fazer download ilegal dos temas, desapareceu. Com o avanço das velocidades de descarga, essa situação chegou aos jogos, aos filmes, aplicações, a praticamente tudo.
Sinceramente ainda pensei que quando os downloads ilegais chegaram aos filmes e aos jogos, finalmente algo iria ser feito para controlar essa situação, uma vez que já não era só a indústria musical que estava ameaçada mas sim várias indústrias de entretenimento que representam milhares de milhões de dólares.
Estava enganado.
 

Infelizmente (ou talvez não) não sou dos produtores que demoram 4 horas a fazer uma música.

 
E chegámos aos dias de hoje. Milhares de músicas são editadas todos os dias nas várias lojas online que existem. O avanço da tecnologia e consequente descida de preço do equipamento, provocou que cada vez mais pessoas se dedicassem à produção de música, seja ela electrónica ou não. Obviamente isso é positivo, mas essa situação provocou uma “avalanche” de música. Claro que no meio de milhares de temas, há muitos em que a qualidade não é a melhor, o que torna cada vez mais difícil encontrar “aquele” tema que vai fazer a diferença no “set”.¬ Por isso, cada vez é mais difícil um bom tema ter algum destaque nas lojas online. Há várias maneiras “menos convencionais” para colocar um tema nos charts de vendas do Beatport, praticamente todas passam por comprar as próprias músicas para que estas subam nos charts de vendas e tenham visibilidade. Eu recuso-me frontalmente a ter que pagar para isso! 
 
 
É verdade que para ter visibilidade hoje em dia há que editar muitos temas, e que a maior parte desses temas cheguem aos charts de vendas. É isso que (pelo menos em teoria) te vai ajudar a ter mais “gigs”. É um facto que se queres realmente ter destaque a nível Internacional, terás que ter temas que se destaquem lá fora. Mas RECUSO-ME a ter que pagar para que isso aconteça! Se uma música minha entrar num top de vendas, óptimo, se não entrar, óptimo também. Claro que se não entrar vai chegar a menos pessoas, até porque com a quantidade de temas que saem todos os dias, uma das “táticas” para comprar música é ouvir o que está nos charts. Eu próprio faço isso quando compro música.
 
Infelizmente (ou talvez não) não sou dos produtores que demoram 4 horas a fazer uma música. Vejo muitos a dizer no Facebook “mais uma música terminada, em 4 horas!!”. Claro que com os “packs” de “samples” que há à venda é relativamente fácil fazer um tema, em 4 horas, só a juntar “samples”. Mas sinceramente esse não é o meu conceito. Obviamente não tenho nada contra quem consegue (e alguns fazem-no muito bem!) fazer um tema em 4 horas, mas o meu processo é mais lento, e passa por alterar muito dos “samples” que uso nos temas, acrescentar os meus “baixos”, os meus efeitos, etc. É um processo lento de criação que provavelmente eu deveria “acelerar” para ser mais produtivo, para ter mais temas/remisturas no mercado e assim ter mais possibilidades de chegar aos charts de vendas.
 

Não há nada melhor que levarmos o nosso tema novo a “testar” a um club/evento.

 
Cada vez que a pergunta do título desta Crónica me aparece e a dúvida me ocorre, a resposta também me aparece em seguida: SIM, vale a pena “perder tempo” a fazer música! Não há nada melhor que levarmos o nosso tema novo a “testar” a um club/evento e que este funcione muito bem, o público “salte” e que a “pista” se manifeste efusivamente, mesmo não sabendo que tema é, nem quem é o seu autor. É uma sensação única que “apaga” logo todos os “problemas” que surgiram na sua criação, todas as “frustrações”, todos os “test mixes”, todas as alterações que fizemos e que não estavam bem. Mas todo esse (no meu caso, longo) processo contribuiu para o resultado final!
 
Por isso se realmente querem ir mais longe na vossa carreira como DJ, o meu conselho é: mesmo naqueles momentos em que mandaram as vossas demos para 50 editoras e nenhuma respondeu, mandaram o vosso tema novo para os vossos DJs favoritos e nenhum deles respondeu, não desistam! Insistam, ouçam e comparem os temas que mais gostam com os vossos e vejam onde podem melhorar. Se conseguirem fazer isso, mais cedo ou mais tarde, a vossa oportunidade vai chegar. Acreditem nisso!
 
Carlos Manaça
 
(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)
Publicado em Carlos Manaça
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