Diretor Ivo Moreira  \  Periodicidade Mensal
 
É desde o ano 2012, que as crónicas de opinião têm assumido um importante lugar de destaque no Portal 100% DJ, ou não fosse este, um espaço assinado por ilustres figuras do panorama noturno nacional.
 
Não querendo fugir à regra, nem tão pouco defraudar os nossos leitores, este ano voltamos em força no que diz respeito ao sublime painel de cronistas que prontamente aceitaram o nosso convite para as Crónicas deste ano. É um orgulho para nós, e ficamos mesmo com um sorriso de orelha a orelha.
 
A destacar na nossa grelha de 2014 temos o facto de continuarmos com a nossa "mulher-dos-sete-ofícios" - Rita Mendes. Este ano, coube-lhe abrir "as hostes", onde já nos brindou com a sua novíssima crónica, abordando o assunto dos estilos musicais dos DJs. "Qual é o teu estilo, DJ?". Outra renovação que também nos orgulha imenso, é a do Ricardo Silva, rosto da DWM-D World Management. Também o DJ e produtor português Massivedrum, volta a juntar-se este ano ao ilustre painel.
 
Destacamos ainda o regresso de Mariana Couto às lides da escrita de opinião na nossa plataforma e a fusão do DJ Rusty e da dupla FunkYou2 à Agência EUROPA, que, desta feita, disponibilizará a opinião dos seus DJs. Motivos mais que suficientes para acompanhares todos os meses, as crónicas de opinião do Portal 100% DJ, 365 dias ao ritmo da noite.
 
Publicado em 100% DJ
segunda, 19 março 2018 19:36

O que fiz para estar onde estou

A música é o que nos faz ser DJs? 

Todos sabemos que hoje a indústria da música eletrónica atravessa um período de mudança - o que é bom para uns e maus para outros. Em todas as formas de arte há tendências, o público segue-as e dependemos do público para "vingar" neste ramo. A música tem um período de consumo muito mais rápido se comparado a anos passados. Não me quero alongar nesta questão, mas há forma de contornar isso? 

A minha carreira de DJ/Produtor começou há 6 anos atrás. Nunca imaginei poder trabalhar com grandes artistas, nem lançar em grandes editoras como Lokosound ou Revealed. Para mim era sem dúvida algo muito distante, sobretudo olhando para o estado do mercado: muito saturado de demasiada informação desnecessária e com escassez de música. Será que se perdeu o que realmente me fez passar horas agarrado ao computador? 

Já tive muitos fracassos, e já ouvi muitos “nãos” e ainda acontece - porque acontece a todos - mas as “derrotas musicais” não se superam com uma foto no Instagram, nem tão pouco com likes. De certo que sobe a auto-estima e que alivia o processo de focagem noutro passo. 

Estou a dar a minha opinião, não quero discordar de ninguém que diz o contrário. Claro que todos nós sabemos que as redes sociais têm um peso enorme na carreira de um artista e que hoje talvez até tenham mais peso do que a própria música. Isso não significa que precisamos de deixar de ser produtores para ser modelos - a música, como já disse, é e sempre será o mais importante. 

"Não digo que as redes sociais devem ser postas de parte, porque eu mesmo não as ponho (precisamos delas para promover o nosso trabalho e dar-nos a conhecer ao público), estou a dizer que a maneira mais fácil de não sermos postos de parte é não por de parte a música." 

 

É importante ter um Manager/Agente? Ou será mais importante ter uma equipa?

Uma das lições mais importantes que aprendi ao longo destes anos em que sigo no ramo da música, é a que temos de ser nós a “bater com a cabeça” para ver o que está mal e com quem não devemos trabalhar. 

Eu trabalhei desde sempre com o Miguel. O Miguel não é agente, nem manager, não tem formação na área: trabalha em restauração. Mas a vantagem de trabalhar com o Miguel é que ele me conhece: as fraquezas, as forças, os dias bons e maus. E o mais importante é que ele acredita tanto no "ZINKO" como eu. Por isso acredito solenemente que a formação de uma equipa forte, com base na credibilidade do projecto e na confiança mútua é um ponto-chave para tudo funcionar.

Hoje em dia sou agenciado, sim, e tenho alguém "do outro lado". Tratamo-nos como equipa, delineamos estratégias e caminhos para chegar onde queremos. Mesmo que não consigamos, amanhã tentamos novamente. 

Quem quer que escolham para a vossa equipa nunca tratem a pessoa como alguém que está a trabalhar para vocês, mas sim que está a trabalhar convosco. A importância de ter um manager ou agente passa a não ter nexo se não se tratarem como equipa. "Nenhum treinador consegue ganhar campeonatos sem jogadores", é uma mensagem simples, mas que para mim faz toda a diferença. Eu sei quem não estaria onde estou agora, talvez até mesmo a escrever um texto de opinião, se não tivesse uma equipa a trabalhar comigo. 


Enviar Promos

A parte mais importante do artista passa obviamente pela música. Podemos cada vez mais potenciar a mesma e fazê-la chegar aos ouvidos de quem queremos. O envio de promos é algo muito importante no momento em que temos uma "nova música", mas é importante termos um método adequado e prático para o fazer.
 
Alguns pontos que tenho notado quando recebo as promos no meu e-mail.
 
1 - Apresentação 
Acho que ninguém gosta de ser abordado sem uma apresentação do que vai ouvir antes - nome, idade, país, breve descrição -, mas não é preciso alongar ao ponto de escrever uma biografia inteira. Artistas como Hardwell, Afrojack, ou Martin Garrix não estão minimamente interessados se vocês têm uma casa à beira-mar, ou se o vosso cão se chama "Rex". Uma breve descrição e o link da música chega perfeitamente. 

2 - Links
Nenhum artista dos que falei há pouco vai fazer download do vosso ficheiro, por isso acho que o mais prático será enviar um link privado de Soundcloud com download activo, ou link de Dropbox. A falta de pré-escuta é um ponto crucial para a música não ser ouvida. Passados 5 ou 6 emails com anexo, o que enviarem será considerado spam,  perdendo-se boas oportunidades de serem ouvidos, porque a vossa música podia estar boa.

3 - Música
Têm de estar certos de que o que estão a enviar é o melhor que conseguem. Nunca sabemos se o artista a quem enviamos a promo vai ouvir ou não. Por isso é óbvio que um ponto que todos devem considerar é que músicas inacabadas, sem mix/master, entre outros problemas, provavelmente não vão ter feedback ou se tiverem não vai ser o que gostariam de ouvir. Isso faz com que nós fiquemos desmotivados.

Processo Criativo / Mixing e Mastering
Neste tópico certamente não há muito para dizer, pois cada um tem o seu formato de trabalho e as suas manias. Não vou falar de nada que quem faz música não saiba, contudo acho importante referir alguns pontos. Não são precisas colunas topo de gama para fazer música. Não é preciso um estúdio de milhares de euros, não é preciso um teclado midi super atual e cheio de controladores, pois a maior parte das minhas músicas foram feitas de fones, teclado do computador sentado na mesa da minha cozinha. 

É tudo uma questão de conforto. Ter um espaço organizado é o ponto, não tem de ser o espaço nem a altura, acho que naquele momento tem de se estar completamente focado no que se está a fazer - esse é o truque -, obviamente que um bom computador e um bom equipamento ajuda, mas não é o mais importante. O mais importante é sim conseguir passar a ideia da cabeça para o software. 

A música não tem tempo para se fazer, eu tenho músicas com dois anos que sofreram alterações durante esse espaço de tempo até ter o produto final com que me sinto satisfeito. A minha faixa “Footprint” em colaboração com o “Tong Apollo” saiu em novembro de 2017, a ideia da música ficou pronta ainda em 2016. Mudámos tudo, 4 drops diferentes até chegarmos ao resultado final. Já a “Guaraná” demorou três dias a ser feita e consegui assiná-la numa das maiores editoras do mundo. O que importa na realidade é a ideia. Claro que uma ideia bem executada só tem a ganhar. 

Tentar fazer algo diferente não é nada fácil, eu sei disso, sei que fazer algo num estilo muito ouvido - Big Room, por exemplo - mas que não soe genérico é complicado. As labels procuram cada vez mais ideias novas, para criar tendências, algo novo, que não se ouve no mercado. É isto que chama a atenção dos A&R´s, a meu ver é tudo uma questão de ideias e alguma sorte. 

Depois existe a segunda parte, talvez das coisas mais importantes, pode parecer que não faz diferença, mas faz: o Mix/Master é algo que vai finalizar a música. Por vezes sem darmos conta é o que falta, aquele pormenor que não sabemos o que é.  Eu pago esse serviço: https://wiredmasters.co.uk/. Não sou profissional da área, ainda estou a aprender e a pouco e pouco é algo que se vai encaixando no ouvido, pois também tem a ver com o gosto de cada um. 

Sei que é um entrave para muita gente, porque são preços que não são acessíveis a todos, e por isso é aconselhável que o investimento seja numa música que valha a pena, porque como disse há pouco faz toda a diferença.

Gostava mesmo muito que este texto ajudasse a malta, isto é só a minha opinião. Não fiz nem mais nem menos que outros artistas, eu trabalho assim e estou a partilhar alguns dos meus métodos com vocês. Todos os erros de que falei acima eu já os cometi. Não me arrependo de forma alguma, serviram para aprender e a acreditar cada vez mais na minha música. Todos os dias trabalho nisto porque acredito. Espero que vocês partilhem este pensamento. Assim será muito mais fácil que nós, amantes de música, tenhamos um maior sucesso e que levemos o nosso país fantástico além-fronteiras pelo que mais gostamos de fazer.
 
Zinko
Publicado em Zinko
terça, 16 março 2021 22:12

Oportunidade perdida?

O mundo parou e Portugal não foi excepção, levando a uma paragem forçada da Cultura, da indústria da música electrónica e aos DJs em particular que ficaram privados das suas actuações junto do público, trazendo novamente a debate a ausência total de reconhecimento profissional e regulamentação para o exercício da profissão. 

Se é verdade que estamos a falar de uma arte, também é verdade que a arte tem de ser remunerada e quem a faz precisa de viver como qualquer outro profissional de outra área qualquer, no entanto há imensos DJs a "teimar" em como está tudo bem e com opiniões diferentes quando há quem realmente queira alterar esta situação e que tenha "sentido na pele" a ausência do reconhecimento profissional numa altura em poderiam ter chegado apoios culturais se houvesse fundamentação para essa reivindicação legítima de quem contribui para a economia do País e para a Cultura. 

É verdade que a comunidade DJ Portuguesa está "escaldada" com o aparecimento de associações que não os representa mas não podemos continuar a assistir a que "nomes maiores ou menores" deste sector sejam reconhecidos pelo seu trabalho e pelo que deram ou dão em prol desta indústria e que estejam literalmente a passar fome porque há uma "carolice" e falta de união entre os profissionais portugueses. 

Não há necessidade de "obrigar" ninguém a tirar cursos, pagar licenças (como já tentaram fazer) ou fazer testes como se isso validasse o que é um DJ. 
Falo de haver um reconhecimento profissional, uma categoria profissional específica onde possamos ter dados de quantos somos, quem somos, quanto representamos no PIB Português e onde haja alguém que possa apoiar toda uma classe e elucidar dos Milhões de euros que estão a ser perdidos em direitos de autor (para os produtores), direitos conexos (que desconfio que nenhum DJ esteja a receber) e que haja apoios sociais em alturas que eles são necessários como a altura em que estamos a viver à mais de 1 ano. 

Não há culpados desta situação mas há responsáveis e essa responsabilidade recai em todos os que vivem e trabalham nesta indústria (onde assumo a minha quota parte da responsabilidade) mas espero que esta não seja uma "oportunidade perdida" e que de uma vez por todas possamos juntar todos aqueles que queiram debater e encontrar soluções na procura do bem comum desta área artística que é menosprezada e até discriminada pela própria Cultura. 

Não podemos deixar fugir esta oportunidade porque quando tudo voltar ao normal, todos iremos esquecer o que estamos a passar e só quando houver algo similar iremos lembrar-nos do que poderíamos ter feito e será tarde demais. 

Não faças deste mau momento mais uma oportunidade perdida.
 
Ricardo Silva
Agente Artístico, Empresário e Presidente APENT
Publicado em Ricardo Silva
sexta, 05 abril 2013 14:50

Mudam-se os tempos, muda-se o respeito

 
Passo bastante tempo em estúdio e esse facto permite-me estar também atento ao que se passa nas redes sociais e internet. Ora algo que me tem vindo a intrigar nos últimos tempos, é a tremenda falta de respeito e facilidade com que os mais novos (talentosos ou não) artistas, tratam os mais velhos (maior parte com "cartas mais que dadas").

Eu compreendo o entusiasmo de alguns jovens, que conseguindo "imitar" a sonoridade de alguns artistas internacionais, são colocados em pedestais por amigos "facebookianos", que sendo igualmente joviais, não medem a "crítica exageradamente positiva".
 
Todos sabemos que colocar um preview musical no facebook leva a que 90% dos comentários sejam positivos, por razões óbvias. Ora essa situação não demonstra a realidade do talento artístico. Pelo menos no caso dos jovens. Mas acontece que estes jovens "artistas" ficam deslumbrados e pensam que podem argumentar, criticar e achar que apenas o que fazem está correcto e é bom.

Esta é uma situação grave. O respeito é um dos alicerces da inteligência e bem-estar entre "nós", seres pensantes.


Presenciei, recentemente uma bárbara situação em que um importantíssimo produtor foi "gozado", criticado e "escovado", até ao limite. Por quem?! Pois, aí é que está! Por quem ainda não mostrou/provou nada. Por quem ainda não tem sequer argumentos de "venda" artística e acima de tudo, e mais grave, por quem, ao pé de quem criticou é muito pequenino.

Esta é uma situação grave. O respeito é um dos alicerces da inteligência e bem-estar entre "nós", seres pensantes. Opiniões são opiniões, e todos somos livres de as ter, de as dar. Mas a crítica, a crítica é algo diferente e quando é dada com malícia, torna-se falta de respeito.

Gozar um artista que até já pouco tem a almejar, vindo de quem tem ainda tudo a almejar, é sinceramente e desculpem a expressão, mentecapto!

Estes "jovens" esquecem-se que editar uma música nos dias de hoje, não tem sequer um terço do valor que era editar há dez anos atrás. Porquê? Porque hoje em dia não tem custos, porque hoje é facílimo chegar às editoras, porque hoje, se "te enganares" num release, dois dias depois podes lançar uma nova. Porque hoje o risco para as editoras é quase nulo. E porque hoje, hoje até o youtube te ensina a "criar um hit"!
Com isto não significa que o talento tenha deixado de existir, porque existe e bastante, mas esse, esse não precisa de anos para "dar o salto" e afirmar.

Tentar subir uns degraus, difamando o mais velho é feio e no facebook, todos vêem!

Penso que colocar os pés bem assentes no chão e olhar o futuro com entusiasmo e "ganas" é o melhor caminho para os jovens, mas sempre a respeitar o próximo e o mais velho, pois esse, foi o que abriu portas para o "sonho"!
 
 
Publicado em Massivedrum
terça, 04 julho 2017 22:50

Algarve: destino de festa

A noite algarvia é um tema recorrente na minha vida, perguntam-me frequentemente por ela – como é? Como está? E por aí em diante – especialmente quando vou em tour para o Brasil, país irmão e cheio de curiosidade pela cena portuguesa.
 
Nasci e cresci no Algarve, e com mais de 20 anos como DJ foi no Algarve que tive as primeiras oportunidades da minha carreira. Essas oportunidades aconteceram em espaços que fazem hoje parte da história e são referências quando se fala da dance scene nacional. A primeira de todas foi como DJ residente do bar Mitto, em Albufeira, que se tornou lugar de visita obrigatória para todos as pessoas influentes na noite de Lisboa e Porto que iam sempre lá no início da noite. Com a palavra a passar e uma clientela conhecedora da música e do meio, o meu trabalho no Mitto resultou num convite para tocar em algumas noites do Capítulo V, um club único, com um glamour e uma clientela selecionada a dedo, e que não voltou a repetir-se na cena nacional.
 
Algum tempo depois, em 1998, fui convidado para ser DJ residente da Locomia, que vivia os seus anos de ouro que ficaram inscritos na história da electrónica nacional. Ali, na cabine com vista para a Praia de Santa Eulália, pude tocar com praticamente todos os nomes de referência da dance scene mundial tanto do techno (que fazia as festas de sexta-feira), como do house (aos sábados). Partilhar a cabine com vultos como Deep Dish, Erick Morillo, David Morales, Richie Hawtin, Jeff Mills, ou Frankie Knuckles, entre muitos outros.
 
O Mitto, o Capítulo V e a Locomia foram as minhas escolas musicais, naquelas cabines aprendi tudo sobre a arte de ser DJ, da comunicação com o público ao trabalho de fazer, com ele, uma viagem musical e, em última instância como a política musical constrói uma casa.
 
Escrever sobre o Algarve sem mencionar a Páscoa é quase impossível. No final dos anos 90 e início dos anos 2000, as férias da Páscoa eram obrigatórias ser passadas no Algarve. Nessa altura do ano as casas do Norte do país assentavam arraiais no Algarve e havia uma sucessão louca de festas com nomes nacionais e internacionais de referência. Vejo as festas à tarde na piscina da Locomia como a pré-história dos sunsets de hoje. Recentemente tive oportunidade de rever o Little Louie Vega, e não é que ele se recordava de lá estar a atuar com Masters at Work?
 

Vejo o fenómeno dos sunsets como uma alternativa muito saudável e inclusiva – permite que todos, independentemente da idade, possam frequentar a festa.

 
O que nos ficou desses tempos em que a Páscoa era no Algarve, e não num Spring break na costa espanhola, foram os sunsets. Apesar desta perda para Espanha – e os operadores turísticos deviam pensar em relocalizar as celebrações dos finalistas para o Algarve – tudo se tem vindo a transformar, e surgem novos espaços que apesar de existirem apenas 20 a 30 noites entre Julho e Agosto, trazem novidades a cada noite enriquecendo a cena nacional.
 
Vejo o fenómeno dos sunsets como uma alternativa muito saudável e inclusiva – permite que todos, independentemente da idade, possam frequentar a festa. Por ser durante o dia e porque as pessoas que estão na praia são “seduzidas” pela música que os DJs tocam em alguns espaços nas mais diversas praias algarvias. As pessoas acabam por se agrupar perto destes "beach points", e ficam a dançar e a curtir até para lá das 22h.
 
As festas nos barcos também eram, e continuam a ser, muito procuradas. Apesar de terem uma vertente e um público mais alternativo são momentos únicos e espetaculares que o Algarve continua a oferecer. Aqui destaco as que participei com a subida pelo Rio Guadiana em que o barco que fazia a travessia de pessoas pra Espanha, saía de Vila Real de Sto. António, e regressava ao final das tardes de verão.
Fui acompanhando sempre muito de perto as tendências e mudanças dos mais variados espaços no Algarve, como algarvio de gema, e há muitos anos que realizo um sunset em parceria com o grupo No Solo Água, que começou em Vilamoura e em 2011 ganhou a designação por que ficaria conhecido até hoje: Infinity Sunset by Pete Tha Zouk.
 
Na segunda edição, ainda em Vilamoura, decidi saltar de paraquedas e aterrar numa praia da Falésia repleta de gente, 18 mil pessoas segundo as contas oficiais, e depois de aterrar fui conduzido à cabine onde toquei mais de 5 horas de set. Foi algo único, com a adrenalina no máximo, e absolutamente inesquecível na minha carreira de DJ.
Este ano marquem a data de 13 de Agosto nas vossas agendas, porque o Infinity Sunset by Pete Tha Zouk acontece no No Solo Agua da Marina de Portimão, com entrada gratuita e permitida a todos, para que juntos possamos fazer uma grande festa a dança na areia ou com os pés dentro de água. Até lá!
 
Pete Tha Zouk
Publicado em Pete Tha Zouk
terça, 09 agosto 2016 23:26

Música feita em Portugal

É de mim, ou este é um dos (últimos) anos que mais música portuguesa se ouve nas rádios e mais artistas portugueses se vêm em festivais? Era uma pergunta retórica, não é de mim, é mesmo verdade, felizmente. 
Seja música cantada em português, artistas que cantam em português ou música feita e cantada por portugueses mas cantadas em outras línguas. Não me faz grande diferença a língua em que a música é cantada, para ser sincero - nem podia, sendo eu uma pessoa que faz música cantada em Inglês - o que me interessa é que cada vez mais se ouve música feita por portugueses.

Ouve-se muita música feita por portugueses nas rádios nacionais que nada fica a dever aos artistas internacionais.

 
Acredito que a música portuguesa, na sua generalidade, está a mudar e a passar uma boa fase. Desde o house à música pop, passando pelo fado. Este verão já tive a oportunidade de estar em diversos eventos onde a música portuguesa era o foco principal dos cartazes e fiquei admirado com as milhares de pessoas que se deslocaram para ver os artistas portugueses a actuar. Desde os mais novos aos mais velhos. 
 
Sem querer mencionar nomes de artistas, é impossível não referenciar a Carminho e a Ana Moura, porque se hoje o fado é ouvido pelos mais jovens, deve-se a toda a criatividade e trabalho que elas e a equipa delas tiveram ao criar um fado, de certa forma, mais contemporâneo, dando uma nova dimensão ao nosso Património Imaterial da Humanidade.
Falar também acerca dos nossos produtores musicais, que estão a subir a fasquia cada vez mais. Ouve-se muita música feita por portugueses nas rádios nacionais que nada fica a dever aos artistas internacionais. O que depois se reflecte nos cartazes dos grandes festivais nacionais, que estão repletos de artistas nacionais, alguns deles como cabeças de cartaz. 
A Música Portuguesa está de boa saúde e recomenda-se!
 
Dan Maarten
Publicado em Daniel Poças
Numa Indústria cada vez mais articulada e direccionada para um serviço facilitista e de personalização praticamente nula, o trabalho e preponderância do DJ acaba por ser cada vez mais refém da necessidade dos clubes ou discotecas, que devido ao facto de terem que apresentar lucros e resultados imediatos, se vêem muitas vezes obrigados a desvirtuar toda a sua ideologia musical a troco de trabalho. Outrora expoentes máximos com direito a palavra de ordem dentro daquilo que era a motivação que levava os seus clientes a uma qualquer pista de dança do nosso país, vemo-nos actualmente sem qualquer espaço de manobra para podermos de alguma forma contribuir para um trabalho mais qualitativo, sustentado e educativo dentro daquilo que seria o cenário ideal para uma evolução nocturna que na minha opinião iria a médio prazo elevar a qualidade da noite portuguesa.
 
A ironia das ironias acaba por ser o endeusamento e proliferação que cada vez mais está na moda de tentar esconder o óbvio, que é o decréscimo qualitativo da noite, com a vinda de artistas internacionais que começam novamente a visitar o nosso país e os nossos clubes, o que apesar de considerar sem dúvida bastante positivo, contrasta em absoluto com o total desprezo com aquilo que seria certamente um dos pilares dessa mesma evolução pretendida, os DJs nacionais, nomeadamente os residentes na verdadeira acepção da palavra. Não falo dos residentes a que chamo de "fast-food", termo que não pretendo conotar de forma alguma com um sentido pejorativo, até porque muitas vezes acaba por ser a única forma que muitos deles têm de manter um posto de trabalho que na maioria das vezes nem lhes permite assumir uma profissão a tempo inteiro, tal é a desvalorização que advém das suas próprias opções de carreira, mas sim dos verdadeiros DJs residentes, que felizmente, quais Gauleses no tempo dos Romanos, ainda vão resistindo bravamente na tentativa de criar tendências, sendo a prova disso mesmo quatro ou cinco espaços no nosso país que conseguem apresentar uma coerência, qualidade e consistência dignas de serem elogiadas.

Mal ou bem, para se oferecer um serviço é necessário que este tenha sustentação para nele podermos investir e faze-lo desenvolver (...)

 
Logicamente que podem ser bravos mas não chegam, uma vez que as modas, para passarem a tendências precisam de ser massificadas, algo que dificilmente irá acontecer nos próximos tempos, na minha opinião, dentro do lado mais qualitativo do nosso mercado. Os verdadeiros profissionais da música, os residentes que criavam as tendências da pista, permitindo assim aos convidados terem a liberdade de se exprimirem sem qualquer tipo de condicionalismos, são cada vez mais uma espécie em vias de extinção, e sinceramente penso que aqui reside um dos principais focos do problema. Claro que, paralelamente a tudo isto, teremos também de ter a capacidade de analisar o lado mais cerebral desta temática, também ela de certa forma compreensível e com uma palavra a dizer naquele que é o ponto de vista do negócio e investimento, do qual posso também, como músico, produtor, DJ e também há já um par de anos empresário nocturno, ter alguma autoridade para falar, uma vez que acabo por estar dos dois lados. Actualmente não é fácil de todo sustentar um investimento com alicerces em romantismos e ideologias de elite. Mal ou bem, para se oferecer um serviço é necessário que este tenha sustentação para nele podermos investir e faze-lo desenvolver, e esse investimento apenas será possível se a equação final que tanto influencia toda esta realidade for positiva, caso contrário os problemas deixam de existir porque muito provavelmente o projecto também terá o mesmo caminho.
 
Estas duas vertentes da nossa indústria, que terão certamente pontos de defesa bastante válidos da parte dos dois lados, acabam por se esbater naquilo que é a dura realidade de um mercado muito pequeno, bem fechado e de fácil propensão a criar modas "convenientes", que resultam para todos os intervenientes neste mercado menos para os directos, que são os próprios espaços e os artistas, neste caso em particular os DJs, com as regras do jogo a serem ditadas pelos muitos canais, muitos deles sem qualidade informativa e de pesquisa, que temos ao dispor dos media para espalhar o que mais lhes convém, deixando aqui de imperar o aspecto qualitativo para começar a dominar o lado financeiro e de lucro directo, o que prejudicando os DJs e a Indústria da Noite, é sem dúvida nenhuma o que alimenta todo este mercado. E aí teremos mais uma vez que ser realistas e concordar, até porque o movimento mais underground (ou menos mainstream) será sempre o mais prejudicado, por ser o que menos hipótese de visibilidade e lucro dá.
 

(...) cabe a cada um de nós, artistas, quer seja em vinyl, com computadores, pens ou o que for, ter a responsabilidade de saber onde queremos estar (...)

 
Voltando ao romantismo, costumo dizer que antigamente os artistas faziam a indústria, e que um dos principais problemas da conjuntura actual que vivemos hoje em dia é que os papéis se inverteram e quem faz os artistas é a indústria, mas aqui com uma grande diferença, que é o facto de os artistas criarem a indústria com o poder da sua música, enquanto que a indústria não cria os artistas com base no poder da música, mas sim em resultados, e logicamente que do ponto de vista da arte no seu estado mais puro, essa não é nem nunca será uma equação de sucesso do ponto de vista musical. É no entanto, e não poderia deixar de fazer este apontamento, de louvar a proliferação de movimentos mais Underground e nada virados para massificações, lucros ou equações financeiras imediatas, mas sim exclusivamente assentados na qualidade e romantismo, e que com os seus próprios meios conseguem cada vez mais implementar qualidade e alternativa para quem sai à noite, muitas vezes apenas para desfrutar de tudo o que de bom a música tem para oferecer, até porque não nos poderemos nunca esquecer que existe e continuará a existir um enorme número de clientes da noite, que continuam avidamente à espera pelo DJ que os vai surpreender e levar onde nenhuma rádio ou estratégia de mercado conseguirá levar, e isso não há indústria mecanizada que consiga diluir.
 
O caminho a seguir é este, muito ao encontro do que já vi muitas vezes lá fora, uma vez que o lado cerebral irá continuar a crescer, devido à própria evolução da nossa sociedade, apesar de não podermos de forma alguma desprezar o lado mais romântico da noite, que irá também continuar a crescer proporcionalmente, o que faz com que o equilíbrio se mantenha dentro do desequilíbrio, e cabe a cada um de nós, artistas, quer seja em vinyl, com computadores, pens ou o que for, ter a responsabilidade de saber onde queremos estar e qual é o nosso papel dentro deste inevitável equilíbrio.
 
Carlos Vargas
Publicado em Carlos Vargas
quarta, 08 outubro 2014 22:28

Teremos sempre Paris

Parece que já lá vai, sem ter chegado verdadeiramente.
Foi um verão atípico que aqueceu pelos motivos menos evidentes e que teve como acendalha uma loira fleumática.
 
É curioso porque recordo, nítida e claramente, de ouvir o Bernardo Macambira falar nisto: "devíamos era trazer a Paris Hilton a Portugal!"
Na altura, a sex tape da loiríssima herdeira do império Hilton era mais importante que qualquer #bendgate. Brejeirice à parte.
 
Por outro lado, no éter e no clubbing vivíamos uma gloriosa época de bons beats e criatividade. As "presenças na noite" eram coisa de um género de Verão interior feito de decotes e de saias muito curtas.
 

Do outro lado da barricada, com a mesma irada tinta, imprimem-se notas para pagar um cachet que se acredita milionário.

 
Devem ter passado muitas estações, muitas modas que nunca foram compridas, até esta em que acordamos com o anúncio da presença de Paris Hilton em Portugal enquanto DJ. 
 
Correm rios de tinta: as redes sociais espumam-se em opiniões várias. Do outro lado da barricada, com a mesma irada tinta, imprimem-se notas para pagar um cachet que se acredita milionário.
 
Imagino o Macambira a rir. Dou por mim a pensar o quão legítima é esta transformação.
 
Conforme os DJs evoluíram para prestações nas quais se evidenciam enquanto verdadeiros entretainers, as "presenças" também tiveram de se reinventar para continuar a ter trabalho. 
 
Já sei: "A Paris Hilton não precisa". Pois, pois não: mas precisa de olear a máquina da fama que faz com que não precise. Presença habitual nos melhores clubs do mundo, Paris a Empreendedora conseguiu encontrar a forma certa de continuar a fazer dinheiro. Se é DJ, se é de esperar um set inovador, surpreendente?
 
Mas é por isso que alguém "vai ver" a Paris Hilton? A expressão está lá: "ver", que ouvir é outra coisa.
 
Afinal, ainda que separadas por um oceano de dinheiro, não há todo um segmento no mercado nacional que está na cabine para - essencialmente - ser visto?
 
Teremos sempre Paris. A dar o mote.
 
Até porque música é amor, mesmo em tempo de guerra digital.

 

Publicado em Mariana Couto
Pág. 13 de 13