Diretor Ivo Moreira  \  Periodicidade Mensal
São uma das duplas mais reconhecidas em Portugal e com mais ligações ao nosso país. ‘Nuestros hermanos’ Chus & Ceballos estão de volta a território nacional para duas atuações únicas, onde irão apresentar o seu mais recente álbum de originais “Nomadas”. O Portal 100% DJ esteve à conversa com Chus e Pablo Ceballos numa entrevista exclusiva, onde foram abordados vários assuntos de interesse como o nosso país, a sua editora Stereo Productions, o Iberican Sound e o presente e futuro da música eletrónica internacional.
 
 
O que podemos esperar das vossas próximas atuações em Portugal?
É com muito prazer que regressamos às pistas de dança portuguesas. Sempre tivemos grande sucesso no nosso país “hermano” pela proximidade do nosso som e as nossas raízes ibéricas. Desta vez estamos em digressão com o nosso álbum “Nomadas”, que mistura o caraterístico groove do Iberican Sound com melodias e sonoridades mais Deep. O reflexo na pista é uma explosão de ritmo para não parar de dançar. Uma viagem percorrida através do House e do Techno com a particular presença dos nossos bem conhecidos ‘Drums’. 
 
A noite portuguesa ficou fortemente marcada pela influência da Stereo Productions e do chamado Iberican Sound há alguns anos atrás. Que recordações guardam dessa época?
Foi realmente uma época muito especial na nossa carreira. Grandes recordações guardamos na nossa cabeça e muitas grandes noites que partilhámos com o magnífico público português. Foi também uma época onde tivemos a oportunidade de conhecer grandes talentos da cena underground portuguesa que sempre apoiaram o nosso som, tal como o DJ Vibe, Rui da Silva, Carlos Manaça, entre outros. Ficamos muito contentes ao comprovar que Portugal está a voltar às suas raízes musicais.
 
Preferem atuar enquanto dupla ou a solo? Porquê?
Nos primeiros anos da nossa carreira partilhávamos ambas facetas. Atuávamos tanto a duo como a solo, mas com os anos vimos que o impacto era maior enquanto dupla e fazia todo o sentido que os nossos fãs desfrutassem na cabine as grandes malhas que produzíamos em estúdio. 
 
Falem-nos um pouco sobre o vosso mais recente álbum “Nomadas”.
“Nomadas” é o resultado de muitos anos de experiência, de maturação do nosso som e, portanto, de evolução também. Um ano antes de terminar o álbum tivemos a magnífica oportunidade de atuar no festival Burning Man, que se realiza no deserto de Black Rock no estado de Nevada nos Estados Unidos da América. Foi uma experiência que nos mudou completamente, 'life-changing experience' mesmo. Proporcionou-nos o foco ideal para concretizar um projeto de álbum de originais que estava na nossa 'bucket list’ há alguns anos. É sem dúvida um grande passo na nossa carreira e o princípio de uma nova etapa para Chus & Ceballos. 
 
Como prevêem o mundo da música eletrónica nos próximos 10 anos?
Se olharmos para atrás, nos últimos 10 anos muita coisa tem mudado positivamente. É difícil prever uma coisa assim mas a lógica indica que continuaremos a desfrutar de música electrónica por muitos mais anos. Como tudo, a evolução, a aparição de novas tecnologias e as novas tendências vão marcar o caminho a percorrer. A nossa intenção é sempre acompanhar os desenvolvimentos e manter a nossa identidade. É fundamental para qualquer artista. 
 

a música de dança não é uma moda mas sim um modo de vida, um movimento cultural e uma filosofia universal.

 
Contem-nos a importância de Portugal para a vossa carreira, nomeadamente as atuações de DJ Chus na discoteca Kadoc.
Chus: Fui residente da Kadoc durante a década de 90, uma era dourada para a dance music mundial. Foi uma grande escola para mim e uma ‘ponte’ para o mercado americano onde tantos êxitos temos colecionado. Portugal era considerado um paraíso da musica eletrónica e pela cabine da Kadoc passaram as melhores lendas do house e techno mundial. Quando cresces rodeado de tanta qualidade, o resultado não pode ser outro: mais qualidade e, daí o nosso Iberican Sound, fruto da influência de estilos que existiam naquela época em Espanha e Portugal. Tanto a Kadoc como Portugal, para mim, tornaram-se nos maiores pilares da minha carreira. 
 
Sabemos que têm uma grande amizade com o DJ e produtor português Carlos Manaça e juntos já viveram momentos inesquecíveis. Qual é a vossa opinião sobre a carreira de Manaça?
O Carlos é um grande profissional com muitos anos de experiência. Um verdadeiro mestre para nós e um exemplo de dedicação e de devoção pela música de dança em Portugal. Ficamos muito orgulhosos de ver que continua em grande e com o poder de mexer as melhores pistas de dança portuguesas. O seu carisma faz com que o público acompanhe sempre as festas onde ele atua, sempre sinónimo de qualidade. Desejamos muitos anos de vida para o senhor Carlos Manaça.
 
Que país tem o maior volume de compras de músicas e produções da Stereo Productions?
Sempre tivemos um apoio sólido e forte no mercado Ibérico. Tanto Espanha como Portugal têm sido a grande base da Stereo ao longo dos anos e com a nossa expansão para o mercado americano, como o Canadá e Estados Unidos da América, tem crescido exponencialmente, tornando-se num dos nossos principais seguidores. Por proximidade cultural, todos os países latinos com grande presença em comunidades na América do norte, as compras têm crescido também nos últimos anos em países como México, Venezuela, Colômbia, Argentina, entre outros.   
 
Ultimamente a Stereo Productions tem aceite novos talentos?
A nossa política foi sempre essa: apoiar e descobrir novos talentos, artistas com uma filosofia semelhante à nossa, com ligações culturais, com paixão pela música de qualidade. Foram muitos os artistas que já passaram pela nossa editora. Neste momento, estamos focados num novo talento espanhol, natural de Sevilha e chamado Rafa Barrios, que tem desenvolvido um excelente trabalho, tanto de produção como de DJ, com presença ativa nos melhores eventos e festivais de Espanha e recentemente dos Estados Unidos da América. São muito poucos os artistas com que já fizemos B2B e o Rafa é um deles. Estamos a desenvolver este novo conceito, que já foi apresentado em Miami e que vamos voltar a repetir no club Space de Nova Iorque no final deste mês de abril com o evento ‘Iberican Republica’.
 
Que novidades podem revelar sobre o futuro da vossa carreira e da vossa editora?
Estamos num excelente momento, tanto a nível discográfico como artístico. O calendário da Stereo para este ano está praticamente preenchido com lançamentos semanais e compilações para celebrar os principais eventos onde a Stereo tem marcado presença como o BPM Festival de Playa del Carmen, Miami Music Week, Barcelona Off Sonar Week, Amsterdam Dance Event e Ibiza com o nosso álbum anual “Balearica”, entre outros. Temos também agendado para o final do ano um novo álbum titulado “Iberican Republica”. Nos últimos três anos muita coisa tem mudado na Stereo, para o bem, obviamente. Neste momento temos uma grande equipa de profissionais a trabalhar em sintonia com o nosso foco na expansão do som ibérico, dos brand events e os Stereo showcases. A dupla está mais forte do que nunca. Divertimo-nos com o nosso trabalho e este é o melhor dos prémios.  
 

o House e o Techno, que são estilos para um público exigente e adulto.

 
Que opinião têm sobre o panorama musical português?
Portugal foi uma grande referência para nós. Um país onde fomos sempre bem recebidos e onde passámos grandes momentos, marcados na nossa memória para sempre. Com a aparição da chamada ‘EDM’, as coisas mudaram bastante. Os gostos das novas gerações e a maneira de consumir a música eletrónica também mudou. São ciclos inevitáveis que ajudam, por outro lado, a expandir a cultura eletrónica. É sempre bom saber que esse novo público que a ‘EDM’ tem captado, agora está a evoluir e a crescer musicalmente e está a consumir outro tipo de música mais madura e sofisticada, tal como o House e o Techno, que são estilos para um público exigente e adulto. Este proceso tem acontecido não só em Portugal como em todo o planeta. O importante é saber-nos adaptar e evoluir, sem esquecer a nossa própria identidade. Portugal é um país com grande tradição cultural. A música de dança e o nosso património e com o trabalho dos profissionais, o legado ficará garantido. 
 
Que mensagem gostariam de deixar aos leitores e seguidores do Portal 100% DJ?
Devem-se sentir uns sortudos por fazer parte de um país com tanta história na dance music. Um verdadeiro legado de qualidade inquestionável com grandes figuras que dedicaram o seu trabalho e paixão pela música de dança. Apareçam neste fim de semana nas nossas festas em Aveiro e Viseu. Será um grande reencontro com o país que tanto nos deu e que tanto nos inspirou. Vamos celebrar da melhor maneira e defender que a música de dança não é uma moda mas sim um modo de vida, um movimento cultural e uma filosofia universal.  
 
Publicado em Entrevistas
Nos últimos meses a pandemia de COVID-19 tem condicionado o nosso dia-a-dia. Nada é feito como antes. Há regras para tudo e o afastamento social é prioritário. Não foi preciso muito para o sector dos eventos parar. Fechou literalmente portas e tirou o sustento de milhares de profissionais, quer sejam eles artistas, promotores, empresas de audiovisuais e multimédia. Até 30 de setembro a realização dos festivais de música está também suspensa, à espera de melhores dias. Adivinha-se uma recuperação demorada e alguns festivais poderão deixar de existir, uma vez que este ano não existe qualquer fonte de receita. De forma a entendermos tudo o que se está a passar neste “ecossistema” que sobrevive da proximidade e interação de todos, falámos com Ricardo Bramão, diretor da APORFEST, a Associação Portuguesa de Festivais de Música. Falou-nos das suas preocupações, dos eventos que já foi obrigado a cancelar e da reunião que teve com o governo.
 
Também na Aporfest tiveram de adiar o Talkfest e os Iberian Festival Awards. Que fatores tiveram em conta nesta decisão? 
Tivemos que adiar os eventos precisamente na semana em que tudo se despoletou. Era algo que já estávamos a preparar, mas tínhamos um plano B, pois o evento ia realizar-se num local de maior dimensão, na FIL. Portanto, se não fosse possível realizar num local que tivesse tanta gente, tínhamos de ter um plano B. Direcionamos o evento para outro local, mantendo todas as datas previstas, só que depois algumas entidades internacionais já não poderiam vir, muito público estrangeiro também, o próprio staff começava a ficar preocupado. Todas estas situações ditaram o adiamento do evento. Tínhamos o evento todo estruturado e os prémios à espera de serem entregues. O nosso intuito até há bem pouco tempo era realizar uma edição totalmente igual daquela que estava prevista, mas obviamente que vamos ter de alterar algumas coisas perante a atualidade. O mundo dos eventos mudou e nesta situação todos vão planear e realizar as suas coisas de forma diferente, portanto o Talkfest também tem de se alterar e adaptar. 

Na sua próxima edição, em Outubro, que alterações podem vir a sofrer o Talkfest e os Iberian Festival Awards?
Tudo aquilo que temos vai sempre adaptando-se. No Talkfest vamos discutir a atualidade e inserir novas temáticas. Até aqui sempre privilegiámos muito a parte física e a presença das pessoas, mas o Talkfest altera-se perante a atualidade e aquilo que faz mais sentido de um ano para o outro. É uma questão de adaptação e nós também temos de nos adaptar, a situação assim o exige. A gala, essa sim, possivelmente para o ano não se vai realizar, pois este ano também não há festivais, ou se se celebrar, será de uma forma totalmente diferente porque os festivais que vão existir, serão também eles diferentes. É algo que ainda estamos a pensar. Vai ser um ano de exceção.
 

Quais são as maiores preocupações dos promotores dos festivais?
Esta situação está a fazer com que todos os promotores estejam expectantes sobre aquilo que é possível fazer. Todos têm vontade de fazer algo perante as condições sanitárias que serão impostas.
Nesta área os artistas também não estão a atuar. Inicialmente a questão do online funcionou, mas hoje os artistas já perceberam que esse formato não pode ser eternamente gratuito, se não estamos a gerar no público um hábito que depois não conseguimos voltar para trás. A mesma coisa que se os festivais ou outros eventos fossem gratuitos, depois não conseguimos que que o público pague e valorize um bilhete. Portanto, têm de ser criadas novas formas de rentabilidade do artista, do promotor, dos media, que permitam todo este ecossistema sobreviver e se adaptar. Infelizmente esta situação aconteceu, como aconteceu a crise de 2008. Foi após essa crise que se deu o grande boom dos festivais. Já passámos quase duas crises e há outras gerações que não passam nenhuma, mas quem conseguir superar esta, vai ter muito mais defesas e muito mais forma de conseguir ser bem-sucedido no futuro. O que se fez de início a nível da cultura ou daquilo que foi anunciado, relativamente às linhas de financiamento que iam apoiar os artistas, isso pouco ou nada se viu. Na verdade ou ainda não surgiu ou aquilo que aconteceu, não foi como foi dito. Posso dizer que vou apoiar os artistas, mas se nada acontecer, se nada for feito, essas palavras caem em saco roto. Existe muito esse sentimento. Há muitas questões a nível dos eventos que temos vindo a lutar, nomeadamente para os festivais e promotores terem mais benefícios quando retomarem as suas ações, por exemplo no pagamento de direitos de autor, direitos conexos, etc. São essas questões que queremos que sejam analisadas. Todos querem começar a arregaçar as mangas, mas uma linha de crédito significa isso mesmo: um crédito, um novo endividamento para quem já está endividado. Portanto, será muito difícil, apesar de perceber que não pode ser sempre uma linha de financiamento a fundo perdido. Nós por exemplo perdemos algumas questões de viagens, alojamentos e outras despesas que não conseguem ser recuperadas, porque mesmo que o nosso evento ocorra em outubro, temos de montar novamente uma máquina. São custos que não conseguem ser retirados, ou seja, se me derem apoios, se eu ver mais-valias nalguma questão, consigo mitigar alguns custos que vou ter de uma edição que não tem a sua rentabilidade como as outras. Há de facto muita discussão nisto, falamos de uma área em que as empresas quase só têm um colaborador ou sócio-gerente e portanto também não podem ser colocadas em layoff como outras empresas que têm 100, 200, 500 colaboradores. Há muito esta questão e esta área que vive muito da presença física. Isto serviu para esta área estar mais coletiva do que nunca, para estar junta, mas acho que há aqui um grande caminho a percorrer, não só por parte dos próprios profissionais como pelo governo. Verificamos que esta questão também ao ser dos artistas e dos promotores era uma área que se calhar não estava tão profissionalizada como deveria estar e era altura de pensarmos nisso já, e não como foi até aqui. Se estivéssemos preparados há uns anos não estaríamos nesta situação.
 

"Até que ponto vamos viver da mesma forma que vivíamos antes os festivais, até que ponto vamos estar à vontade para estar com pessoas que não nos são conhecidas e fazer o mesmo tipo de comportamentos (...)"


É um facto que esta foi a primeira área a parar...
Os eventos foram claramente os primeiros a parar, porque foi o primeiro receio. Certo é, e disso não há dúvidas - vai ser a última a ser relançada como deve ser. Porque uma coisa é nós sermos profissionais e querermos produzir os nossos eventos, outra coisa é irmos enquanto público. Até que ponto vamos viver da mesma forma que vivíamos antes os festivais, até que ponto vamos estar à vontade para estar com pessoas que não nos são conhecidas e fazer o mesmo tipo de comportamentos ou não que se fazia antes e que distinguia esta área, e isso sim, acho que vai demorar muito e não serão meses, mas talvez anos, até voltarmos a poder ter esses comportamentos. 

Que tipo de apoio estão os promotores a pedir? 
Já tivemos vários pedidos, nomeadamente informativos, jurídicos e algumas questões sociais, ou seja, de situações de alguma carência a nível pessoal e profissional em que o nosso fundo social pôde ser despoletado para suprimir uma parte dessas questões. 

Quantos festivais já foram cancelados e/ou adiados? 
Até ao momento 46 festivais foram cancelados e 14 adiados.

Considera que há festivais em risco de não se realizarem no próximo ano?
Não se realizarem no próximo ano e não se realizarem nunca mais. Por vezes quando falamos de certos pequenos festivais em que estão no limite, é muito difícil retomar a seguir, tendo aqui um ano de paragem, não só porque muitos desses festivais vivem com pouca receita, mas também muito pelo amor à camisola. Vimos portanto que há alguns festivais que vão ter muita dificuldade e poderão não acontecer. Sei até de alguns casos que muito dificilmente vão retomar, porque antes de acontecer esta situação, já tinham uma situação difícil.
 
Como está a questão da venda de bilhetes? Houve quebra de bilhetes vendidos desde que se registou um maior número de casos em Portugal?
Houve de facto uma grande quebra nos bilhetes. Por exemplo na See Tickets - com quem trabalho - não se vende bilhetes desde há dois meses. Aquilo que devia ser uma ótima altura de venda para eventos como o Rock in Rio, o Alive e outros festivais, hoje, simplesmente não existe. Porque o público também não sabe o que vai acontecer. Não é, não gostar ou gostar de um determinado evento. É não saber se se pode ir ou não da mesma forma. Porque pode-se gostar muito de um festival mas se soubermos que a experiência que vai ser oferecida vai ser diferente, possivelmente pode perder-se o interesse em estar presente nesse festival. 

Relativamente ao reembolso dos bilhetes, a APORFEST concorda com aquilo que foi aprovado em Assembleia da República?
Concordamos com a maioria do projeto-lei apresentado tendo aproveitado este momento para propor algumas melhorias e criar uma base de sustentabilidade futura ao setor e todos os seus profissionais. Sabemos que as operações dos festivais correm um grande risco e que é necessário algum dinheiro, se não, não conseguem realizar-se. Mas há exceções. Por exemplo o Primavera Sound de Espanha não esperou pela questão governamental para poder devolver o dinheiro e deu um sinal ao seu público. Assumiu o risco e quis dar já o reembolso de forma a não matar já o evento no futuro. 
 

Tudo aquilo que está previsto este ano, é para existir no próximo. Será como um 'replicar' tudo para o próximo ano.

 
Vai ser difícil manter os já anunciados cartazes para o próximo ano?
Acho que não vai ser tão difícil, porque o sector claramente parou. Para todas as entidades foi quase como um ano que não existisse. Tudo aquilo que está previsto este ano, é para existir no próximo. Será como um "replicar" tudo para o próximo ano.

Os festivais mais mediáticos deixaram em aberto uma decisão final até ser aprovado o decreto-lei. Ou seja, davam a entender nos seus comunicados que os eventos não estavam totalmente cancelados quando já se sabia qual o desfecho...
Foi para no fundo poderem tirar uma decisão com base em fundamento governamental, que é a maior entidade responsável por todos nós. Apesar de se adivinhar a decisão, é agora uma informação que passa a estar vinculada e baseada numa entidade governamental que torna mais forte e credível a decisão. 

Todos os festivais de verão estão cancelados?
Não sei se serão todos, mas quanto maior for o festival, maior é a probabilidade dele não acontecer este ano. Aquilo que está a ser feito por grande parte de todos os promotores, é encontrarem soluções que possam ser paralelas aos festivais, como showcases e outras ações que surgirão este ano. Os festivais como os conhecemos não irão existir, mas vão haver ações que os possam substituir, perante as recomendações da DGS, em salas, com lugares marcados, etc.

No entanto, não faz sentido chamarmos festival a um evento numa sala...
É por isso que este ano irão surgir conceitos novos e diferentes que certamente vão singrar para o próximo ano. Vão conseguir tornar-se fortes este ano e crescer no próximo. Será um trabalho que todos vão claramente otimizar. 

Nas últimas semanas multiplicam-se as iniciativas online nas redes sociais. Existe alguma que queira destacar? 
Não acompanhei muitas. Fizeram-me sentido algumas como o Festival Liv(r)e que celebrou o 25 de abril com concertos e doações. Mas também não podemos chamar "festival" a algo que foi produzido em casa, que não tem técnicos de som, de luz, etc. Por isso é que considero que vão aparecer outros fenómenos não se chamando festival, e a componente online passa a ser fundamental num festival para conteúdos extra, conteúdos premium, para backstages. Penso que a partir de agora também aprendemos que o online é muito importante ser um "plus" que nos vai ligar a um festival, mas nada substitui a experiência ao vivo. 

 

DR

Numa fase pós COVID-19, que tipo de medidas pode ou deve um festival impor ao público? 
Vai haver um cuidado cada vez maior no planeamento. Por exemplo verificar a temperatura corporal das pessoas que entram num festival, estar atento a mais sinais perante situações de possível propagação de um vírus. A questão da segurança no seio dos próprios festivais será mais tida em conta e isso vai fazer com que existam mais custos associados ao festival, mas obviamente que serão para evitar uma situação negativa. Da mesma forma que os promotores se protegeram e adaptaram quando foi a questão do terrorismo. Houve mais interligações com as entidades de segurança e isso vai ser sempre necessário. Acho que haverá mais cuidados com o público, a questão da temperatura corporal, ter acrílicos de proteção, o espaçamento entre o próprio público, vão aparecer câmaras térmicas e várias soluções que podem ser aplicadas ou não pelo promotor. Importa é perceber quais serão obrigatórias e regulamentadas. 


As medidas de desconfinamento apresentadas pelo governo propõem que as salas de espetáculos reabram a 1 de junho com lugares marcados e lotação reduzida. Compensa aos promotores realizar espetáculos com estas condicionantes? 
Todos vão ter que ceder e o artista vai ter que ganhar menos, porque também está a comunicar para menos pessoas. O promotor vai ter uma menor rentabilidade, os custos da sala também têm de ser reajustados, portanto tudo tem de ser ajustado num cariz de exceção. Vai ter que se apostar menos nos audiovisuais e quem aluga salas terá de ter porventura menos receita e o promotor pensar que vai ter menos garantias de bilhética. É importante que haja uma concordância entre todos para ter o possível e ser melhor do que nada.
 

"Todos vão ter que ceder e o artista vai ter que ganhar menos, porque também está a comunicar para menos pessoas. O promotor vai ter uma menor rentabilidade, os custos da sala também têm de ser reajustados (...)"


A redução de lugares significa aumento no preço dos bilhetes?
Acho que os preços não podem aumentar e se pudessem teriam de ser mais baixos. Na perspetiva do público, não posso sentir a mesma adrenalina se não estou com o mesmo número de público ou até mesmo com uma pessoa ao meu lado. A somar a isso está o poder de compra que não será o mesmo de costume. Aumentar o preço dos bilhetes não é aceitável nesta fase. Mas também depende, pois há eventos que já têm um valor elevado nos bilhetes e esta poderá ser uma oportunidade para o público valorizar mais o artista que tem à frente. Por outro lado, possivelmente eventos que antes eram gratuitos podem agora ter 2 a 5 euros de entrada.

A APORFEST foi uma das entidades ouvidas pelo governo. Como correu esse encontro e quais as principais ideias retiradas?
O encontro foi positivo e notou-se uma clara perceção por parte de todos os grupos parlamentares daquilo que são as especificidades do setor. Acreditamos que o projeto-lei pode ser melhorado e a partir daqui serem trabalhadas mais-valias para o sector como a criação de um fundo de garantia para todos, com o intuito que alguma situação análoga no futuro tenha menos incidência no sector.

O que gostaria de acrescentar?
Estão a ser meses penosos e com mais trabalho do que pensaríamos, mas sentimos que as pessoas querem estar juntas no Talkfest em outubro. Nestes últimos meses não temos trabalhado tanto na ótica do associado, mas sim para uma área que queremos que não feche, que gostamos e que muitas das vezes levamos com muito amor à camisola. Neste momento não há tanto a questão do associado. É trabalhar em conjunto para depois podermos estar cá e diferenciar-nos por isso.
 
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É conhecido pelo seu carisma e talento notável. Destaca-se por ser dos produtores nacionais com maior projecção além-fronteiras.
A mítica discoteca "Bauhaus", onde teve residência artística, foi o local onde aprendeu a lidar não só com vários estilos de público, mas também com vários registos musicais.
"Russian Guitar", - editado na altura pela Kaos Records - foi o primeiro tema original a constar do seu portfólio. Nesta entrevista exclusiva, Kura confessou no que se inspira quando produz música, adiantou que tem nos planos a médio prazo, a criação da sua própria editora, e falou-nos da grande volta que deu a sua carreira desde que integra a agência WBD Management.
O conhecido DJ e Produtor comentou ainda o término do colectivo sueco "SHM", do qual fez o warm-up no passado dia 18 de dezembro, e lançou os seus desejos para 2013, afirmando que "quero tocar mais vezes lá fora e fazer mais festivais". Para Kura, só se tem sucesso com "trabalho, dedicação e paixão".
 
 
Em que momento da tua vida tomaste a importante decisão: "É isto que quero seguir!"?
Quando deixei de ser DJ residente. Foi aí que percebi que podia viver da música, que podia fazer aquilo que mais gosto, a 100%.

A residência na conhecida discoteca "Bauhaus", foi de certa maneira o teu primeiro contacto com o público?
Não, antes disso já tinha tido várias experiências em outros clubes e bares, mas foi o espaço que me ensinou a lidar com vários estilos de público e vários registos musicais.

Já este ano fizeste a tua primeira tour no Brasil. Como foi a experiência?
Foi incrível, superou completamente as minhas maiores expectativas. Ter a oportunidade de tocar em clubes como o "Pacha" ou a "Posh", e num ambiente de Sunset no "Café de La Musique" de Jureré, renovou o meu entusiasmo de fazer mais e melhor. O Brasil é realmente um país maravilhoso e a música electrónica está em grande nos clubes! Foi sem dúvida uma grande experiência que espero repetir em breve.

Tens um novo tema chamado "Undefeatable" que resulta de uma colaboração com a cantora holandesa Noubya, e que marca o teu regresso a produções mais vocalizadas desde o "Follow Your Dreams". Como é que este tema aconteceu?
Penso que a diversidade é uma mais-valia para qualquer produtor musical, e creio que é importante ser capaz de produzir um tema com uma estrutura de uma canção como o “Undefeatable”. Não o fiz sozinho, contei com o Benjamin e a Noubya na parte da escrita da letra e penso que o todo resultou muito bem. Tenho recebido um feedback extraordinário e a música tem estado a ser muito bem recebida tanto pelos DJs como pelas rádios. Mas como a diversidade é mesmo importante, saiu no passado dia 16 de janeiro, o meu segundo tema pela editora alemã Tiger Records, o “Odyssey”, que é mais direccionado para a pista.

O que consideras mais importante para se ter sucesso?
Trabalho, dedicação e paixão.
 

É muito gratificante receber emails com a aprovação e validação do nosso trabalho por aqueles que mais admiramos.


Qual a música que te deu mais prazer a produzir e porquê?
Como nos últimos tempos tenho produzido muita música torna-se difícil eleger uma única, mas recordo-me, por exemplo, de ter feito o meu tema "Galaxy" em 5 horas, numa madrugada de Inverno, não conseguia ir dormir sem acabar o tema.

O que te inspira quando produzes?
Pessoas, lugares, emoções, outros produtores, momentos...

Em média, quanto tempo demoras a produzir uma música?
Depende, pode demorar 5, 6 horas... ou meses/anos.

Já te passou pela cabeça fundar uma editora?
Claro que sim, é algo que vou fazer a médio prazo. Sempre foi um dos meus objectivos ter a minha editora, editar principalmente os meus temas, mas também fazer um trabalho que considero muito importante de apoio a novos talentos.
 
As tuas produções recebem sempre feedback de nomes importantes...
É uma grande honra para mim. Toda a gente tem os seus ídolos e eu já tive a sorte de alguns deles tocarem os meus temas. É muito gratificante receber emails com a aprovação e validação do nosso trabalho por aqueles que mais admiramos.

A incursão na agência WBD Management alterou a tua carreira? Em que aspectos?
Alterou sem dúvida. A WBD acabou por complementar uma grande lacuna na minha carreira, que era a comunicação e gestão da minha marca. Sempre tratei de tudo sozinho, e com o crescimento do meu nome, as coisas ficaram fora de controlo. Já estava a prejudicar o meu processo criativo por ter de estar a gerir marcação de datas, newsletters, etc. Tenho realmente que agradecer todo o trabalho que a WBD tem feito comigo até agora, tem sido muito importante para o meu crescimento. Além da parte profissional que tem sido muito positiva, acabei também por conhecer pessoas fantásticas e esse é o grande segredo da WDB enquanto agência. São pessoas apaixonadas pelo que fazem, trabalham com gosto, e quando assim é não é difícil de se obter sucesso.

Tiveste o privilégio de tocar no warm-up do espetáculo dos Swedish House Mafia em Lisboa. Qual é a tua opinião sobre o facto de eles terminarem o projecto?
Todos os projectos têm eventualmente um fim. Eu acho que eles acabaram por elevar o nome "Swedish House Mafia" a algo que nunca ninguém vai esquecer, e mais vale sair de cena no topo do que acabar no esquecimento, e acho que se trata disso também. A grande vantagem é que eles vão continuar a solo, e cada um deles é realmente único naquilo que faz, são três indivíduos iluminados, tanto na produção como na vertente de DJ. Pode atribuir-se 80% de tudo o que se faz em música electrónica neste momento a estes três senhores. É algo realmente único e especial..

Na tua opinião, faz falta alguma coisa na noite portuguesa? O quê?
Na minha opinião, faz falta uma maior aceitação à música de dança menos comercial e sistemas de som em condições.

Acima de tudo os meus planos passam sempre por surpreender os meus fãs e dar a conhecer o meu trabalho a um número cada vez maior de pessoas.

 
Tens algum comentário a fazer relativamente à nomeação que o Portal 100% DJ fez, dos 10 DJs/Produtores que se destacaram em 2012?
Fiquei bastante satisfeito com essa distinção e desde já agradeço à 100% DJ que também tem vindo a fazer um trabalho único na divulgação do que melhor se faz por Portugal.

Que planos tens para este novo ano?
Em 2013 vou continuar a trabalhar todos os dias para fazer mais música e abordar outros estilos, quero tocar mais vezes lá fora e fazer mais festivais. Acima de tudo os meus planos passam sempre por surpreender os meus fãs e dar a conhecer o meu trabalho a um número cada vez maior de pessoas. Espero continuar a fazê-lo.

Que mensagem gostarias de deixar aos leitores e fãs?
Espero que continuem a acompanhar o meu trabalho, tanto nas redes sociais como nas minhas actuações. É muito importante para mim receber o vosso feedback - ajuda-me a crescer como profissional. Agradeço todo o carinho e apoio que me têm dado até agora, são vocês que me motivam todos os dias para trabalhar ainda mais, mesmo quando as coisas não correm bem. Obrigado a todos!
 
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Com um percurso musical de 20 anos, Massivedrum é detentor de uma das mais sólidas carreiras a nível nacional no que à música de dança eletrónica diz respeito. O seu tempo divide-se entre o DJing e a produção musical, entre remixes e originais que tem a possibilidade de os lançar nas suas duas editoras. O seu mais recente tema chama-se “Hero” e conta com a colaboração com uma das maiores vozes da house music: Shawnee Taylor. Com várias presenças no estrangeiro, não só em clubs como também em grandes festivais, é um nome que figura constantemente nas playlists de rádios e DJs de todo o planeta, elevando desta feita o seu estatuto profissional.

Em entrevista exclusiva ao Portal 100% DJ, Massivedrum fala na primeira pessoa sobre a sua carreira, as faixas produzidas, opina sobre o cenário atual da música eletrónica e revela pormenores interessantes dos próximos trabalhos que tem na manga.

 

Existe algum segredo para deter uma carreira sólida com quase 20 anos?
Eu penso que existe e tem vários nomes. Trabalho árduo, sacrifícios, dedicação, mas também uma característica muito importante: amar incondicionalmente o que se faz e ser fiel à sua arte e identidade. 
 
Quais as principais mudanças que marcaram estes teus últimos anos de carreira?
Penso que os meus últimos anos de carreira foram marcados pela mudança de um Massivedrum adolescente para um mais adulto. Mudei muito musicalmente. Passei a preocupar-me muito mais com a musicalidade das minhas produções do que há uns anos atrás, em que pensava única e exclusivamente na pista. Hoje em dia penso muito mais no que a faixa pode provocar no íntimo das pessoas, na sua longevidade e acima de tudo, na sua musicalidade. Acho que é algo que acontece com o tempo, com naturalidade.  
 
Quais são as três melhores palavras que a definem?
Trabalho, sacrifício e dedicação.
 

Passei a preocupar-me muito mais com a musicalidade das minhas produções do que há uns anos atrás (…)

 
Qual foi a música que mais prazer te deu a produzir e porquê?
É uma questão um pouco ingrata. Tenho várias. Costumo destacar a “Fingerprint”, porque foi uma faixa produzida para exteriorizar alguns fantasmas e sentimentos negativos que assolaram a minha vida na altura. Foi uma época que tive bastantes problemas e dificuldades e foi naquela faixa que me refugiei. É um exato espelho do meu estado de espírito na altura. Foi um grito de revolta. Depois, existe o remix que fiz para os Kentphonik, “Hiya Kaya”, que recordo-me que 90% das pessoas a quem disse que iria fazer o remix oficial, me aconselharam a não fazê-lo. Bem, segui o meu instinto e em conjunto com o DJ Fernando fizemos o que ficou ao ouvido de todos. Deu-me bastante prazer. Este ano, a faixa em conjunto com a Shawnee Taylor passou a fazer parte deste lote. Era um sonho antigo. Encheu-me o coração!
 
O teu novo tema “Hero” tem a participação de uma das maiores vozes da house music, Shawnee Taylor. Como surgiu esta colaboração?
Bem, eu passo a semana em estúdio, ora a produzir remixes, ora a produzir originais. Esta colaboração surgiu de um instrumental que tinha, e tanto eu como o meu agente achámos que poderia agradar à Shawnee. O contato foi feito, ela pediu para ouvir e o resultado está à vista. Foi algo muito natural. Para mim não muito, pois senti-me um miúdo com cinco anos a quem dão doces! 
 
Alguns dos temas cantados por Shawnee Taylor, como “Live Your Life” ou “Devontion”, influenciaram esta tua nova produção?
Não, pois como respondi antes, o instrumental já existia. Produzi porque o senti naquela altura assim. Não tinha um propósito, poderia até ter sido aproveitado para um remix. Mas, eu e o meu agente sentimos algo nele e como a Shawnee era um desejo antigo, avançou-se dessa maneira.
 
 
Já remisturaste temas para grandes nomes como Bob Sinclar, Axwell ou Chus & Ceballos. Há algum segredo ou uma regra a ser respeitada quando se faz um remix para um artista?
Eu por norma não sigo. Há duas maneiras de editar remixes. Ou o artista te contrata para o fazeres ou fazes e envias para o artista. Existem sim, diferenças entre estes dois casos. No primeiro, o artista contrata-te porque a tua sonoridade no momento agrada-lhe e ele quer um remix teu dentro desse estilo. No segundo caso, fazes algo que sentes, mesmo sendo diferente do que te carateriza e envias para o artista. Se ele gostar, edita. Felizmente tem-me corrido bem nos dois casos.
 
Em 2013 escreveste na crónica "From a Paradise Called Portugal", para o Portal 100% DJ, que a crítica especializada dizia que era 'in' ouvir um disco de dança nacional. Achas que no futuro vamos dançar ao som de um disco de dança português com orgulho?
Quero acreditar que sim. Foram realmente tempos que deixam saudades. A união artística era fantástica e conseguiu-se mesmo isso. Quando entrava uma faixa nacional, era a loucura, um orgulho. Acredito que isso será possível de novo, mas muito terá de mudar no panorama musical nacional. Há um longo caminho ainda a percorrer.
 
Quem consideras a grande revelação da música eletrónica nacional e internacional?
Se olharmos para os nomes fortes da dance scene nacional, já nenhum é revelação. Não sei quem é ou será, a grande revelação, mas quem for, será numa altura complicada. A nível internacional, apareceram muito bons artistas neste último ano, mas por norma não gosto de destacar ninguém, pois o que para mim interessa é a música num todo. Destacar alguém num estilo pode negligenciar outro alguém num estilo diferente. Para mim, distinções nesta arte, que é tão vasta, são um pouco injustas.
 
No teu entender existe união e respeito na música eletrónica em Portugal? O que mudarias?
Tenho uma frase muito simples para esse assunto: Menos queixas, mais trabalho. Mais respeito, mais valores morais. Se tudo isto existisse, a união, o respeito e a valorização global apareceriam naturalmente. É um assunto delicado porque em Portugal, a própria indústria não é saudável, está corrompida e quando assim é, só os artistas não chegam para a mudar. 
 
Atualmente és tutor de duas editoras. O que te levou à criação das mesmas?
Foi algo que acho que é natural num DJ/Produtor. Havia muita música minha que eu não conseguia editar. Assim, criei uma label minha, a NewLight Records. Acabava por poder editar o que me apetecesse e era algo que podia servir para expandir o meu nome. Na altura não esperava que viesse a ter nomes tão sonantes como Blasterjaxx, D-Rashid, Bryan Dalton, Carlos Silva, Rancido, Praia Del Sol, Mavgoose & Quinn entre tantos outros. Cheguei a ter releases que foram número um em França, Bélgica e Holanda. O que começou com muita descontração acabou por se tornar num caso sério. Recentemente abri uma sub-label, mais virada para o Deep-House, Tech-House, Future House, etc. Recebia muitas promos boas mas que não encaixavam na linha da NewLight, por isso, decidi abrir a sub-label.
 
Em conjunto com Dan Maarten, assinas um novo radioshow da Mega Hits intitulado “The Future Is Now”. Na tua visão como vai ser o futuro da música eletrónica?
Penso que é difícil prever o futuro de algo que pode evoluir a cada hora. A música eletrónica desde o seu início estava “condenada” a andar de braço dado com a evolução. O conceito deste radioshow, tal como o nome indica “Future Is Now”, é tentar mostrar o que poderá vir a ditar o futuro, mas é sempre uma incógnita. Na minha opinião, a indústria vai dar uns passos atrás, pois perdeu-se muito o conceito musical na música de dança. É preciso recuar para moldar um futuro que possa semear nas gerações futuras a ideia de que sim, ainda vale a pena estudar e aprender a tocar instrumentos…
 

A indústria vai dar uns passos atrás, pois perdeu-se muito o conceito musical na música de dança.

 
Que novidades podes revelar sobre o futuro da tua carreira?
Em termos de djing, este ano vou voltar à Holanda e ao seu grande festival de verão, o Latin Village. Vou marcar presença também num grande festival em Toulouse, França, num cartaz que conta com nomes como The Cube Guys, Franky Ricardo, Gregor Salto, Roul & Doors, entre outros. Também já muito em breve, estarei no Sumol Summer Fest e a já obrigatória passagem pelos grandes festivais do nosso paraíso, os Açores. Em termos de produção, tenho remixes a sair em breve para as lendas do French-House, os Superfunk, que este ano vão atuar no Tomorrowland. A par do remix, temos também uma colaboração em mãos. Vou editar também o remix para o super-clássico dos Hardsoul com Ron Carroll, “Back Together”. Quanto a originais, já estou a trabalhar o “follow up” single desta minha colaboração com a Shawnee Taylor, “Hero” e tenho para breve a edição de um tema na Safe Music dos Deepshakerz. Mas acima de tudo, continuar a trabalhar, pois é isto que me faz feliz.
 
Que mensagem gostarias de deixar aos leitores do Portal 100% DJ?
Que continuem fiéis a este fantástico portal, pois está sempre em cima do acontecimento. Conteúdos muito ricos e informação séria são as principais qualidades. Queria também deixar uma mensagem de apelo para que consumam mais música electrónica nacional, pois temos muita qualidade. E um obrigado a todos que seguem o meu trabalho! 
Publicado em Entrevistas
Vando Camarinha tem 28 anos e depois de conquistar o território nacional, começa agora a dar cartas no mundo da música eletrónica a nível internacional, através de imagens capturadas por si, no momento certo. Natural do Porto e formou-se em Multimédia pelo Instituto Superior da Maia, unindo assim várias das suas paixões: design gráfico, vídeo e fotografia. Fica a conhecer melhor a sua personalidade e trabalho através da entrevista que lhe fizemos.

Como começou a tua história no mundo da fotografia ligada à música eletrónica? 
Foi há 5 anos. Eu trabalhava na noite como fotógrafo e o meu melhor amigo veio à discoteca nessa noite e acabou por me fazer a pergunta: “Vando já que gostas tanto de fotografar, porque não apostas em festivais de música?”. A partir daí comecei a pesquisar sobre alguns trabalhos de alguns fotógrafos profissionais na área dos festivais e com alguns contactos que tinha fui convidado a fazer os meus primeiros festivais. Estava um pouco nervoso no início porque não sabia onde me ia meter! Mas a partir desse momento foi ‘sempre a abrir’. Adoro a fotografia de ambiente festivaleiro, adoro música eletrónica e esses dois temas juntos é perfeito para mim e para o que eu faço!

Que festivais e artistas já fotografaste? 
Portugal: MEO Sudoeste, EDP Beach Party, Melhores do Ano, RFM Somnii, Mega Hits Kings Fest, I’ am Hardwell. Internacionais Inox Park Paris e Elektric Park Festival. Artistas: Dannic, Hardwell, Martin Garrix, Bob Sinclar, Laidback Luke, Dimitri Vegas & Like Mike, Sebastian Ingrosso, Showtek, DVBBS, Thomas Gold, Lost Frequencies, Alesso, Pete tha Zouk, Kura, Nervo, Don Diablo, Bassjackers ,Tujamo, entre outros.

Que história caricata podes contar sobre um dos teus trabalhos?
Tenho várias, mas uma que recordo mais foi quando estava a fotografar as NERVO em Paris e no momento em que ia a sair do palco, acabei por cair de cu no chão! No momento senti-me um pouco envergonhado porque tinha todas as pessoas a olhar para mim e porque foi o primeiro festival que fiz internacionalmente. Como devem calcular, as pessoas começaram-se a rir e eu com a minha calma toda disse-lhes que era uma coisa normal quando se ama o que se faz! 

Que artista gostaste mais de fotografar? 
Kura foi sem dúvida um dos que mais gostei de trabalhar. Para além de humilde, foi das pessoas que mais apostou em mim e que me deu força para continuar a fazer mais e mais neste ramo! 
 
Que material fotográfico aconselhas para um jovem fotógrafo que queira seguir os teus passos? E algumas dicas?
De material fotográfico aconselho para os iniciantes desta modalidade, a Canon 550D ou Canon 700D. Para iniciar é perfeita para praticar. 
Pesquisando, inovando e tendo sempre uma open mind, isso é a melhor dica que podem ter. Não se deixem intimidar por ninguém, sejam simples, humildes, idealizem, concretizem e principalmente sejam unidos.

Quais os eventos e artistas que mais gostarias de fotografar?
Ultra Music Festival e Tomorrowland.
 

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Após uma atuação carregada de boa energia no Mega Hits Kings Fest no passado sábado, em Lisboa, Kura concedeu uma entrevista exclusiva ao Portal 100% DJ. O DJ e produtor português foi o primeiro a subir ao palco e logo se disponibilizou para nos receber no seu camarim ainda em modo “rescaldo” emotivo, por estar a tocar para a maior sala de espetáculos do país. 
 
A primeira digressão pela Ásia, as novas produções, a entrada no Top 100 e o futuro da sua carreira foram os temas de conversa desta entrevista, onde são reveladas diversas novidades em primeira mão para os leitores da única plataforma em Portugal, 365 dias ao Ritmo da Noite.
 
 
Acabas de sair do palco de um grande evento no Meo Arena. Como descreves a tua atuação no Mega Hits Kings Fest e a receção do público?
Foi muito positiva. Não estou habituado a fazer sets tão pequenos, mas tive uma preparação. Estava com algum receio de ser tão cedo e o primeiro a tocar, mas a receção das pessoas foi incrível e passou muito rápido.
 
No início do teu set as pessoas estavam eufóricas e gritavam o teu nome. Como é que te sentes com este tipo de manifestações?
Normalmente sou muito calmo, mesmo antes de tocar, a pressão não me costuma afetar. Já passei por alguns momentos de dificuldade em termos de gig - acontecer alguma coisa ao material no momento -, mas não cedo à pressão. Naqueles 30 segundos antes de entrar, se ouvir as pessoas a gritar o meu nome, o coração bate mais forte e realmente sinto “estou aqui, é a sério!”. Só me apercebo segundos antes de entrar e quando oiço o público. É um misto de grande alegria.
 
É intimidatório?
Não! Fico quase emocionado e dá-me grande vontade logo de subir e começar a tocar. Não fico nervoso.
 
Vais ter uma tour na Ásia... 4 datas que passam por clubs como o X2 em Jakarta, o Sky Garden em Bali e depois vais até Xangai e Pequim, ao Lynx e 8mm, respectivamente. Estás preparado?
Sim, a primeira grande tour fora do país. Já tive várias datas fora, mas não uma tour bem estruturada e tanto tempo fora. Vão ser quatro datas nos melhores clubes equipados com leds, co2, etc. Nunca estive tanto tempo fora de casa, vai ser uma experiência e será a confirmação se isto é mesmo o que quero fazer para o resto da minha vida.
 

Estou atento ao que as pessoas escrevem e dizem sobre mim, seja positivo ou negativo.

 
Existem rumores nas redes sociais sobre a tua presença em grandes eventos, como o Ultra, o Tomorrowland, etc. Que comentário merece este assunto?
Obviamente que fico feliz. Estou atento ao que as pessoas escrevem e dizem sobre mim, seja positivo ou negativo. Tenho a plena consciência do que me é possível. Percebo o que as pessoas dizem na internet e é um facto que me apontam para esses festivais. Agora claramente tem de ser desenvolvido outro tipo de trabalho promocional para eu “merecer” esse lugar. Se formos a ver há artistas com menos notoriedade que lá estão. Mas quando for, eu quero que essa presença seja merecida e que não seja talvez por um contato, uma amizade, ou por outra coisa que possa influenciar a minha presença lá. Sinceramente já tive fases em que duvidava - seria impensável estar nesses palcos. Mas hoje em dia acredito que vai acontecer, é uma questão de tempo. Pelo menos vou justificar isso com trabalho. Se alguma vez tiver que acontecer é porque será justo. 
 
Vamos ver-te nesses palcos em 2015?
Eu gostava. Pode ser que sim - já esteve mais longe. 
 
 
Qual foi o gig que mais te marcou este ano?
É difícil escolher, mas aponto a Nova Era Beach Party e o Meo Sudoeste. Na Nova Era Beach Party eu estreei o “Collide” e recordo-me que criou-se ali uma energia especial à volta da música e, apesar da chuva, ninguém se foi embora - foi muito bom. Já o Meo Sudoeste foi também uma surpresa porque comecei num horário complicado - à hora de jantar. Comecei com cerca de duas mil pessoas, meia hora depois já estavam umas 15 mil, aumentando gradualmente até chegarmos a umas 40 mil. Foi muito especial, porque o público estava muito entusiasmado e interativo. 
 
Este ano tiveste uma notícia bombástica em Outubro: alcançaste o número 42 no Top 100 da DJ Mag. Como é que recebeste esta notícia?
Foi uma surpresa tanto em termos de posição como de figurar no ranking. Quando decidimos estar presentes tinha alertado a minha equipa que seria difícil, e eu acreditava menos do que eles, mas avancei. Dias antes sai o leak, e percebemos que poderia realmente figurar na lista, mas achei que poderia ser “tanga”. Não estava à espera, no próprio dia foi uma grande alegria mas não fiquei deslumbrado com isso. Para as pessoas que votaram em massa acredito que isto seja também uma vitória. Perceber que estás a apostar num artista nacional, e depois ser parte do feito de ele conseguir estar numa posição de destaque a nível internacional, e que o nosso país seja dignificado de alguma forma nesta área em que somos poucos ainda - estamos a começar a abrir o caminho a nível internacional... acho que para as pessoas também foi uma grande felicidade. No meu caso fiquei muito contente mas com os pés na terra e sabendo que foi mais um começo, uma porta que se abriu.
 
É um orgulho representar Portugal no mundo?
Sim, é incrível mesmo. Também temos outro Português no Top100, o Diego Miranda, e podia haver mais, sem dúvida. Por exemplo, se o Pete Tha Zouk tivesse pedido às pessoas para votar, acredito que facilmente lá estaria - as pessoas também têm um grande carinho por ele. Acho - e tenho algum orgulho nisso - que nós estamos a fazer parte deste elenco de portugueses que está a “abrir caminho” para os outros mais jovens, que daqui a cinco ou seis anos vão estar na minha posição. Nós, os DJs portugueses somos responsáveis para criar essas condições e oportunidades para nós próprios e para aqueles que vão surgir. Acredito que daqui a um ano ou dois vamos ter outros dois, três nomes - vejo essa possibilidade. 
 

Quero ser o primeiro DJ português 'a solo' a tentar esgotar uma sala.

 
Que projetos e novidades tens para 2015?
Ainda este ano, vou editar um tema na Revealed, editora do Hardwell, vai sair a 29 de dezembro. É um tema que ele tem tocado muito nos espetáculos. Tem resultado muito bem e está a ser falado, o que me deixa muito satisfeito. Poder editar novamente na Revealed é algo que eu já estava a trabalhar há algum tempo para poder conseguir, porque não é fácil.
Em 2015, planeio fazer os meus próprios eventos. Estamos a trabalhar nisso, saber se é possível, se as pessoas realmente querem que isso aconteça. A minha ideia é fazer mais festas com a minha marca e em sítios maiores. Para já, estamos a considerar Porto, Lisboa e no Verão o sunset. Quero ser o primeiro DJ português “a solo” a tentar esgotar uma sala. O objetivo é fazer coisas diferentes que nunca tenham sido feitas e provar que é possível. Talvez haja muita gente que dúvida, mas cabe-me a mim e aos outros DJs provar o contrário e fazer outras coisas mais arriscadas e é isso que vou fazer.
 
Um álbum de originais é um objetivo próximo?
Tenho muita música nova e trabalho bastante. Não consegui ainda reunir o lote de músicas necessárias a nível de qualidade que me agrade o suficiente para lançar um álbum. Até porque quero que ele seja mais diversificado, que tenha uma música vocal, quero que tenha temas que me caraterizem, um pouco mais fortes e coisas mais emotivas, ou seja, quero que as pessoas possam ver outro lado de mim. Acredito que num espaço de dois, ou menos anos, isso seja possível e esteja na rua esse projeto. 
 
E há alguma colaboração de sonho que gostarias que figurasse nesse álbum?
Sim, o Hardwell seria uma delas. Será sempre aquele artista que eu gostaria de colaborar. Também com Alesso, Steve Angello, Nicky Romero - artistas que eu aprecio bastante e que faria todo o sentido estarem no meu álbum, mas primeiro tenho de criar uma relação de amizade com eles. 
 
Que mensagem queres deixar aos leitores do Portal 100% DJ?
Que continuem a visitar assídua e mais frequentemente, se possível, o Portal 100% DJ, que tem bons conteúdos e bem escritos. Às vezes o problema dos blogues de música de dança é que escrevem mal, e os conteúdos ficam um pouco pobres. Mas para quem quer realmente perceber o que é que se passa, e como é que as coisas acontecem, em termos de eventos e em termos mais profissionais, vocês cobrem realmente esse tipo de informação.
 
Publicado em Artistas
sábado, 12 setembro 2015 22:46

Alok: "O meu berço foi a música eletrónica"

Chama-se Alok e é um dos nomes da atualidade da música eletrónica brasileira, que mais destaque tem alcançado a nível internacional com atuações no Rock In Rio Las Vegas e em várias edições das famosas festas das cores Happy Holi. Depois de ser considerado como o DJ e produtor mais popular da terra do carnaval pela House Mag, o artista estreou-se em Portugal na edição de Cascais da Where’s The Party by Carlsberg. O Portal 100% DJ esteve à conversa com Alok numa entrevista exclusiva, acompanhada pelas filmagens do seu novo documentário, onde os temas destacados na mesma foram a sua carreira, o nosso país e o cenário da música eletrónica no Brasil.
 
 
O facto dos teus pais serem DJs influenciou a tua escolha desta profissão?
Com certeza. Eu nasci neste meio eletrónico. O meu berço foi a música eletrónica e os meus pais inspiraram-me muito e ainda inspiram.
 
Porque decidiste criar a tua própria editora “Up Club Records”?
Porque acho que há muitas pessoas talentosas por aí e muitas vezes não conseguem demonstrar o seu trabalho, porque não se conseguem encaixar ou adequar-se ao formato das editoras. A editora é aberta para todos os tipos de criatividade - o que importa é a criatividade, nós não rotulamos nada. É mais uma porta e uma oportunidade para as pessoas poderem mostrar o seu trabalho e não serem influenciados pelas editoras a criar a música que eles querem.
 
Que novos talentos tens debaixo de olho?
Há muito bom talento. É o caso de um rapaz chamado Illusionize - ele está a “rebentar”. Existe também o Dazzo, ele já toca há muitos anos, mas está agora a ter destaque. Também comecei a ver vários nomes novos que nunca tinha ouvido falar e vou fazer o lançamento. Possivelmente irei divulgar no melhor momento, depois de toda a parte burocrática, contrato, etc…
 

A editora é aberta para todos os tipos de criatividade - o que importa é a criatividade, nós não rotulamos nada.

 
Tens viajado em digressão por quase todo o Brasil. Qual é a tua visão do cenário da música eletrónica no país?
No Brasil, estamos a viver agora um momento de maior ascensão. Começamos a apercebermo-nos que as crianças hoje estão muito inseridas na música eletrónica e isso é algo inédito, porque anteriormente as pessoas só se inseriam na música eletrónica a partir dos 18 ou 19 anos.
 
Nos últimos meses, o Brasil tem recebido grandes e importantes festivais de música eletrónica, como é o caso do Tomorrowland, onde também atuaste. Qual foi a sensação de estar na cabine do Main Stage, daquele que é considerado o melhor festival do mundo?
Foi a realização de um sonho e não poderia ter sido melhor. Realmente foi o melhor gig da minha vida. Abriu portas a muitas coisas positivas na minha carreira, e bem... o Tomorrowland é um fenómeno, não é? Fiquei muito feliz por fazer parte desse palco e dividi-lo com grandes nomes.
 
Tencionas atuar na edição da Bélgica?
Este ano não, somente no TomorrowWorld, nos Estados Unidos da América.
 
Sabemos que o teu nome significa luz. Consideras a luz uma fonte de inspiração para as tuas produções?
Nunca tinha parado para pensar, mas pode-se dizer que sim.
 
Foste considerado pela House Mag como o DJ número 1 do Brasil. Com que sentimento recebeste essa distinção?
É curioso porque em todos os outros anos eu nunca tinha entrado. E na minha estreia, foi logo em primeiro lugar. Eu sei que há muitas pessoas muito boas no Brasil também, pela qualidade e até pessoas com mais técnicas que eu, só que de repente faltou um pouco de acreditar em si mesmo entendeu? E eu sempre acreditei, colhi frutos e acabei sendo... Os meus números falam muito alto, como o voto é de popularidade e não há juízes por trás, o DJ mais popular do Brasil hoje sou eu.
 
 
A tua vinda mais cedo para Portugal, deu para conheceres um pouco do nosso país?
Sim, eu dei uma volta por vários sítios e estou apaixonado. É muito porreiro.
 
Tencionas voltar?
Com certeza. Quero voltar e quero comer muito aqui nos restaurantes porque foi a melhor comida que comi na vida.
 
Como descreves a atuação no Where’s The Party em Cascais? Superou as expetativas?
Para ser sincero foi muito difícil... A minha sonoridade, no meio da “EDM” é muito mau para mim. Mas faz parte e nós temos que estar preparados para tudo. Criei muitas expectativas, uma ideia na minha cabeça e acabou por ser mais difícil do que eu imaginava. Nem tudo é assim tão fácil - o que é bom, porque saí da minha zona de conforto, que no Brasil para mim é tudo mais fácil, logo foi um desafio também.
 
Que artistas portugueses de música eletrónica conheces?
O Diego Miranda apenas.
 
Que projetos tens para desenvolver a curto e longo prazo?
A curto prazo vou lançar o meu álbum e a editora. Estamos também a produzir o documentário da minha vida que acho que vai levar um a dois anos para estar no ar, ou seja um projeto a longo prazo.
 
Vais fazer campanha este ano para o Top 100 da DJ Mag?
Estamos a fazer uma campanha muito forte. O ano passado nem apostámos muito e fiquei em 117º lugar.
 
Acreditas portanto na tua estreia no Top 100?
Vamos ver, acredito que sim.
 
Que mensagem queres deixar aos leitores do Portal 100% DJ?
Quero agradecer por me terem recebido tão bem aqui e quero voltar mais vezes, esperando que da próxima vez não me coloquem entre dois DJs de EDM, mas sim no horário certo.
 
Publicado em Entrevistas
O DJ português Steven Rod encontra-se em Miami, com várias atuações marcadas durante a semana da música eletrónica, em clubes como Ora, D-A Vila Downtown, Ocean’s Tem Ocean Drive e Seaspice. Estivémos à conversa com o artista acerca da cidade norte-americana, do espírito da Miami Music Week e da sua carreira.
 
Já atuaste em Miami por várias vezes, quase já é a tua segunda casa. Além de boa energia, o que consideras importante transmitir ao público durante estes cinco dias?
Sim é verdade, já são alguns anos a atuar em Miami e podem acreditar que cada vez mais me sinto em casa, tem sido uma caminhada fantástica. Na semana do Miami Music Week, a maior parte das pessoas vem para cá com o espírito de festa, à procura de grandes eventos com os melhores artistas do mundo! Toca-nos a nós que estamos em cima dos palcos dar um grande show e acima de tudo fazer algo que ninguém está à espera, apresentar temas novos e fazer com que as pessoas passem realmente um bom momento. Nesta semana, Miami está repleto de várias culturas, pessoas de todas as partes do mundo e é sem dúvida fantástico podermos mostrar o que tenho vindo a trabalhar ao longo deste tempo.
 
Na área dos eventos o que encontras em Miami que não existe e fazia falta em Portugal?
O clima! O ambiente tropical. Cada evento é uma experiência, cada evento ensina-nos algo diferente e na verdade eu penso que é a vontade que as pessoas têm de ouvir uma boa sessão. Sinto que aqui vão a um evento e esperam ouvir algo diferente, têm vontade de ouvir o que o DJ tem para lhes mostrar. Não vou dizer que nunca senti isso em Portugal, já senti mas gostava de ver ainda mais esse espírito no meu país. Acredito que no futuro isso vai acontecer. Gostava também que este tipo de eventos em clubes começassem mais cedo, como aqui em Miami.
 
Atuar no Ultra Music Festival é uma meta que pretendes alcançar?
Sem dúvida! Todos sonham em subir ao palco do Ultra Music Festival em Miami. Já alcancei tantas coisas na minha vida que até eu mesmo pensava que nunca iria lá chegar... Porque não continuar a trabalhar para conseguir isso?! 
 
Qual é a sensação de representar Portugal na Miami Music Week?
A sensação é muito boa e torna-se ainda melhor quando sentes o apoio do público português, seja daqueles que estão por cá ou os que me seguem diariamente nas minhas redes sociais. É brutal, muito satisfatório ver e reconhecer portugueses nos eventos onde estou a atuar!
 
Que novidades a curto prazo podes desvendar a cerca da tua carreira?
Felizmente como em todos os anos vou ter o calendário repleto de grandes eventos em Portugal e também em outros países. O início de 2018 foi absolutamente incrível e assim vai continuar! Há também umas colaborações com um artista nacional e outra com um grande internacional e espero que o prazo seja mesmo curto para poder relevar o trabalho que tenho vindo a fazer.
 
Que mensagem gostarias de deixar aos leitores e seguidores do Portal 100% DJ?
Continuem a apoiar a música eletrónica em Portugal e nunca deixem de marcar a vossa presença nos eventos que são produzidos no nosso país. Temos muita qualidade e podemos ser o melhor party people do mundo!
 
Publicado em Entrevistas
terça, 27 dezembro 2011 22:27

"Survivor" da música electrónica

Carlos Manaça é aquilo a que se chama de um “survivor” da música electrónica. Já conta com quase 25 anos de carreira, o que o torna bastante inspirador para muitos. O «efeito Manaça» na noite nacional e internacional, tal como a sua carreira, tem vindo a aumentar de ano para ano. Mais participações, mais eventos, mais produções, mais, mais e muito mais.

 

Depois de tantos anos e tanto sucesso, actualmente, qual é a sua opinião acerca dos eventos que se produzem por cá?
Infelizmente, depois de todos os grandes eventos, com grandes nomes, que já tivemos em Portugal, neste momento contam-se pelos dedos os que acontecem durante o ano. É a consequência de alguns produtores terem exagerado na quantidade de eventos que realizaram durante um período em Portugal. Agora estamos a pagar o preço desse exagero. É certo que as condições económicas também são diferentes, mas naquela altura houve um exagero, quer ao nível da quantidade de eventos, quer o nível dos cachets que foram pagos. Mas também acho que o pior já passou e que agora os produtores de eventos fazem melhor as contas ao que vão necessitar para terem um bom evento, coisa que por vezes, antes não acontecia.
 
Ser ‘DJ residente’ é uma etapa crucial na vida de um DJ?
Ser ‘DJ residente’, na minha opinião, faz parte da aprendizagem de um DJ. Se calhar as novas gerações não dão o devido valor a ser ‘DJ residente’, mas o certo é que permite aprender a gerir melhor uma sessão, uma noite, num club ou numa festa. Não digo que seja imprescindível, mas que ajuda muito, lá isso ajuda.

Em termos de produções, como está a correr o panorama da sua editora “Magna Recordings”?
Infelizmente a Magna Recordings neste momento, tal como quase todas as editoras deste tipo, passa por um momento complicado, a nível de vendas. O “feedback” que temos das nossas edições é bastante bom, na nossa ultima edição (MAGNA 045D, D-Formation & Carlos Manaca “Underground”) tivemos comentários excelentes de muitos “Top DJ’s” Internacionais, mas depois isso não se reflecte nas vendas. As pessoas acham que não faz mal fazer downloads sem pagar, aliás acho que já dão como dado adquirido que a música é grátis. Infelizmente, acho que do ponto de vista legal, os governos já não vão fazer nada para alterar essa situação. Os downloads ilegais afectaram e afectam muitos postos de trabalho, quer na música, quer nos jogos e filmes, mas acho que neste momento já não há volta atrás.
 
altAvizinha-se algum projecto de agenciamento? E projectos futuros que tencione realizar?
A nível de agenciamento em Portugal, de momento não, até porque, na minha opinião, sendo Portugal um país tão pequeno e trabalhando eu há tantos anos directamente com os clubs e promotores, não faz muito sentido. Talvez em 2011 haja novidades a nível de agenciamento mas a nível Internacional, aí sim, há muita coisa que me falta fazer.
Quanto a projectos futuros há alguns. Várias colaborações em estúdio ainda pendentes devido à dificuldade de conciliar agendas, que penso vão acontecer em 2011.
 
Ainda continua a viver em Madrid, Espanha? Conte-nos como foi essa sua passagem pelo curso de “Audio-Engineering” na conceituada Escola Inglesa “School Of Audio Engineering” (SAE).
Sim, continuo em Madrid e de momento não há planos para voltar a Portugal. O curso na SAE foi muito importante, em muitos aspectos técnicos, alguns dos quais eu só tinha algumas noções. Depois do curso fiquei com muita da teoria que necessitava para melhorar as minhas produções, é sem duvida uma das melhores escolas de áudio, com o melhor material para praticar. Trabalhei com muito material que só via nas revistas especializadas de áudio, e isso é bastante bom para qualquer aluno que queira melhorar os seus conhecimentos.
 
Já tocou ao lado de grandes figuras internacionais da noite. Tem alguma preferência? E em termos de técnica, qual o seu DJ favorito?
Sim, já toquei com inúmeros DJ’s, alguns em mais do que uma ocasião, ao longo de todos estes anos. Na realidade não tenho um preferido, tenho vários, conforme o seu estilo. Um deles é o Danny Tenaglia por aquilo que me influenciou em 1996 quando tocou pela primeira vez em Portugal (no Rocks Club, em Vila Nova de Gaia) onde eu era residente, e que me fez estar 9 horas a controlar as luzes, ao lado dele na cabine. Foi impressionante, quer para mim, quer para muitos outros DJ’s que ali estavam e realmente influenciou a nossa visão musical, a partir desse dia.
Mas há mais pessoas que me influenciaram em todo o meu trajecto como DJ, desde o Tó Pereira (DJ Vibe) ao Luís Leite, passando por Roger Sanchez, Laurent Garnier, Carl Cox, Victor Calderone, Masters At Work, todos diferentes, cada um no seu estilo.
 
Portugal enfrenta o problema da pirataria, onde a partilha de ficheiros de música pela Web é ilegal. No entanto, é bastante vulgar irmos a uma discoteca e vermos o respectivo DJ acompanhado do seu ‘Mac’ e recheado de todo o tipo de música. Não acha um bocado irónico esses mesmos DJ’s a lutarem por algo que eles dizem não estar correcto, e no entanto eles também o fazem? Qual é a tua opinião?
Esse é um ponto que me desagrada profundamente. Já é grave o problema do público em geral fazer os downloads para ouvir em casa ou no carro, mas faze-los para ganhar dinheiro com eles, como fazem alguns DJ’s, parece-me duplamente grave. Porque estão a ganhar dinheiro com o trabalho dos outros, e isso não lhes parece mal.
Nem mesmo que os temas custem um euro, ou à volta disso. Por isso, o problema não é o preço, como alguns diziam do preço do vinil, mas sim a mentalidade. E isso, infelizmente, parece-me que não vai mudar.
 

"(...) Aos DJ’s, o meu conselho, é que toquem aquilo que realmente sentem e evitem ir “atrás” do DJ “a” ou “b”, porque isso, a longo prazo, não compensa."

 
Se tivesse que produzir um evento, qual seria o local escolhido? Dê-nos um exemplo do line-up que gostava de apresentar.
Sinceramente já produzi alguns eventos, entre 1993 e 1994, e em 1999 (a apresentação da minha loja de música na altura, World Music Porto) que correram muito bem, mas neste momento, não tinha disponibilidade nem física nem mental para o fazer. Se tivesse mesmo que o fazer, escolhia uma praia, de preferência deserta, onde não incomodasse ninguém, e traria alguns dos nomes que referi como influências, numa festa que começaria de tarde e acabaria de manhã.
O projecto 100% DJ tenta sempre dar a conhecer novos talentos da noite portuguesa. Alguns conselhos quer de DJ, quer de produtor, que queira partilhar?
Acho que o mais importante é que acreditem em vós próprios e que trabalhem e pesquisem bastante. Hoje em dia, com a Internet, é muito mais fácil aceder à informação, quer a nível do “djing” quer a nível da produção. Aos DJ’s, o meu conselho, é que toquem aquilo que realmente sentem e evitem ir “atrás” do DJ “a” ou “b”, porque isso, a longo prazo, não compensa.

Quando foi a primeira vez que ouviu falar do projecto 100% DJ? Qual a sua opinião sobre o mesmo? Alguma crítica?
A primeira vez que ouvi falar foi em 2008, quando actuei no Estremoz Moda. É difícil, estando em Madrid, ter acesso a toda a informação sobre a divulgação da música electrónica em Portugal. Na minha opinião, os projectos que divulgam o nosso trabalho, são extremamente importantes, porque dão a conhecer aquilo que fazemos e permitem estarmos mais em contacto com o público em geral. Por isso, o  projecto “100% DJ” tem todo o meu apoio!
Publicado em Entrevistas
O testemunho foi-lhe dado pelo seu pai, também DJ. Atuou pela primeira vez na cidade da Guarda e foi precisamente aí que decidiu traçar o caminho concreto daquilo que pretendia fazer. O fascínio pela música eletrónica foi crescendo e hoje apresenta uma carreira sólida, fruto de grande dedicação e procura por fazer mais e melhor. A produção musical também faz parte da sua vida. Já lançou inúmeros sucessos musicais em editoras de prestígio a nível mundial e outras tantas novidades que estão a ser preparadas. Na primeira pessoa, Pedro Carrilho em entrevista ao Portal 100% DJ.
 
Como se deu a tua incursão na música eletrónica?
Na década de 80 o meu pai realizava trabalho de DJ num clube local e, graças a isso, tive contacto privilegiado com discos dos mais variados géneros musicais, funk, pop, disco, rock ou qualquer estilo que tocasse em discoteca, alguns bastante exclusivos que apenas conseguíamos adquirir no país vizinho. A experiência do vinil foi-me sendo transmitida dessa forma e é então natural que, na década de 90, eu já consumisse regularmente compilações de música eletrónica com sonoridades mais house-music. Nessas coletâneas fascinava-me o conceito de mistura do DJ... a forma como se cruzavam e conjugavam as faixas, era super interessante e uma novidade para mim, pois até então não tinha acesso a qualquer equipamento profissional. Apenas "devorava" aqueles CDs sem grande conhecimento e levado unicamente pelas sensações que a música me proporcionava.

Foi então a partir dessa altura que começaste a ganhar gosto pelo Djing...
Correto. Por altura do ano 2000 comecei a pesquisar mais sobre a arte de DJ e as suas origens, bem como a tecnologia disponível para o efeito. Logicamente o acesso à informação era limitado, comprava livros e revistas em português, inglês ou espanhol e comecei a integrar-me em "comunidades" como a Dance Club, Danceplanet, MK2 ou Bimotor, onde já era possível obter boa informação e debater ideias com pessoas mais experientes. Foi nessa altura que surgiu o interesse pela vertente da produção de música, no entanto o processo de aprendizagem era manifestamente mais lento. 

Ainda te recordas da primeira atuação?
A minha primeira atuação foi na matiné de um bar da minha cidade natal, a Guarda. O responsável deu oportunidade a mim e a outro colega, também ele um aficionado de música eletrónica. Levámos o nosso material e, logicamente, a excitação era grande por ser o primeiro local onde tínhamos um público que estava ali para nos ouvir. A partir daí tracei o caminho que vemos habitualmente no mercado do DJing: fui amealhando contactos, praticando regularmente e conseguindo atuações em festas fora da cidade.
 


Depois de toda essa curiosidade, passaste para a produção musical.
Sim, foi tudo sensivelmente no mesmo período. Pesquisava imenso sobre as matérias e softwares de estúdio, tentando conjugar tudo com a vida de estudante. Procurava toda essa informação apenas por querer perceber como trabalhavam os profissionais, ainda sem almejar uma carreira. Este processo era bastante mais lento do que é nos dias de hoje, pois não havia muitos artistas locais com quem pudesse contactar e aprender. As coisas tomaram um rumo mais frenético a partir de 2005, o ano em que surgiram as minhas primeiras edições discográficas. No início era surpreendente ver o meu nome nas lojas, revistas e variadíssimas charts de house-music. Comecei rapidamente a ser requisitado para entrevistas e remisturas de artistas estrangeiros e fui, dessa forma, criando o percurso de DJ/Produtor mais sério e profissional.
 
Das inúmeras faixas que já produziste, tens alguma mais especial? Porquê?
Confesso que é difícil escolher uma faixa em toda a discografia. Dos primeiros anos de produção, destaco talvez a primeira de todas as faixas. O tema intitulava-se "Niagara" e teve ainda edição em vinil pela Stereo Productions. No lado A figurava o meu tema original e, no lado B, a versão de DJ Chus. Para mim foi um boom, pois fui seguidor assíduo do trabalho do Chus durante uma década, foi um artista que me influenciou imenso e com quem tive o privilégio de conversar e trocar ideias algumas vezes. Na altura foi surreal perceber que ele me tinha proporcionado aquela oportunidade. O primeiro disco foi deveras especial!

É quase o sonho de qualquer produtor musical...
Sem dúvida! Tive a sorte de conseguir diversas edições em vinil. Agora é algo mais difícil mas, na altura, era a norma e havia uma filtragem melhor por parte das editoras. Hoje em dia, os artistas - e os ouvintes - queixam-se da saturação do mercado, da quantidade imensurável de música que sai diariamente... não há tanto "controlo de qualidade" e cuidado na seleção por parte de muitas labels. Na altura a editora tinha de acreditar na faixa, ela tinha de encaixar no conceito, caso contrário não apostavam porque os custos de produção e distribuição eram manifestamente maiores e perdia-se dinheiro em edições "menos boas". No entanto acredito que, presentemente, a qualidade de produção nas boas editoras está muito superior e isso é algo transversal a todos os géneros.
 
Atualmente tens algum artista com quem gostarias de fazer uma colaboração musical?
Neste momento estou a adorar todos os trabalhos de CID, Throttle, Steff da Campo, Dave Winnel, Tujamo, Jonas Blue, Plastik Funk, Ummet Ozcan, TV Noise ou Sunnery James & Ryan Marciano. Seria um prazer poder colaborar com qualquer um deles.

Já lançaste faixas em grandes editoras como a Defected ou a Spinnin Records. Queres deixar algumas dicas a novos talentos em relação ao contacto com estas labels prestigiadas?
Quando alguém que ainda está em iniciação me pergunta como pode levar a sua música a editoras de renome, aconselho sempre a não ter pressa. Mais tarde ou mais cedo a qualidade de produção vai subir de nível e a pessoa perceberá quando chega a altura de contactar uma boa label ou publisher. Grande parte dos "novos talentos" acabam por se desmotivar e sentir alguma frustração por não obterem as respostas que pretendem quando, na realidade, a qualidade ainda não é suficiente para tal. Têm de ser mais perfecionistas e tomar mais atenção aos detalhes. Nunca foi tão fácil colaborar e obter feedback de outros produtores, aproveitem isso a vosso favor.
 
A rapidez com que a informação passa também pode influenciar a que as pessoas tenham pressa...
Sem dúvida, é talvez o fator principal. O meu próprio email de promos é caótico (risos). Já tive a oportunidade de visitar conhecidas editoras holandesas (Spinnin, Armada, Mixmash, etc.) onde privei com alguns A&R e verifiquei que, apesar das ótimas equipas que estão a trabalhar, há alguma dificuldade em gerir a enorme quantidade de música que chega diariamente. Arrisco a dizer que metade do que recebem simplesmente não se enquadra na editora, não é "fresh" e é até - muitas vezes - demasiado amador. As redes sociais têm os seus lados positivos mas levam também a que estes novos talentos se sintam facilmente deslumbrados e influenciados pela vida de rockstar que os seus ídolos retratam no Instagram ou pela transmissão de eventos extraordinários como o Tomorrowland ou UMF.

Quando estás a produzir, quais são as tuas inspirações?
Depende um pouco do tipo de projeto em que estou a trabalhar, mas diria que o público e a emoção de apresentar o trabalho ao vivo são sempre a maior inspiração. Sou influenciado por outros artistas e editoras, logicamente que utilizo imenso a internet para tentar perceber o que é trendy e até, por vezes, "samplar" algo interessante. Evito entrar em estúdio se não tiver ideias, prefiro escutar alguns DJ sets e referências, numa espécie de brainstorming. O produto final resulta sempre desse turbilhão de influências misturadas com o meu estilo habitual de produção. Nos últimos anos, o suporte e feedback que vai surgindo por parte de grandes nomes internacionais também têm um papel importante no processo de produção. Nomes como Fatboy Slim, Fedde Le Grand, Ummet Ozcan, Lucas & Steve, Sunnery James & Ryan Marciano, Jonas Blue, Tujamo, Mike Williams, Gregor Salto, Dannic, Firebeatz ou Kryder (entre muitos outros) têm surgido a tocar as minhas faixas em DJ sets ou radio shows e essa componente ajuda-me também a perceber o que está a funcionar melhor para eles e quais as ideias que poderei colocar de parte.
 

 
Com que género musical te identificas mais ou te sentes mais à vontade a trabalhar?
No início, o house com influências mais tribal e groovy foi o género que produzi mais e com o qual sempre trabalhei com relativa facilidade. Atualmente, fruto das mudanças que surgiram na scene internacional nos últimos 10 anos, sinto que se quebraram imensas barreiras e que quase todos produtores estão a cruzar mais géneros e arriscar cada vez mais. Tenho feito alguns trabalhos com influências future house, future bounce e até pop. Penso que é difícil encontrar hoje um artista de eletrónica que apresente apenas um só estilo na sua discografia ou DJ sets. 
 
Lecionas também formação na área da produção musical. Consideras importante esta troca de conhecimentos e experiências?
Sem dúvida. A formação leva-me a explorar e progredir muito mais a componente de produtor, para lá do entusiasta de home-studio que era há uns anos. É uma atividade muito gratificante que proporciona um contacto constante com outros profissionais da área e com artistas dos mais variados géneros e raízes musicais. Tudo isto faz com que os meus horizontes estejam sempre abertos e consiga explorar/leccionar diferentes vertentes da produção musical. Aliado a isso tenho também trabalhos e parcerias com gente do hip hop, rock, TV, mix & mastering, etc. Estive inclusivamente em Moçambique a dar formação na área durante quase 6 meses. São experiências deveras inesquecíveis!
 
Consideras que em Portugal ainda existem muitas pessoas interessadas em aprender a fazer música eletrónica?
Existem cada vez mais pessoas interessadas em produção e tecnologias de música, de um modo geral. Há diversas escolas espalhadas pelo país mas a informação que encontramos online poderá  fazer com que alguns entusiastas apostem menos nessa formação. A web não veio, de modo nenhum, descredibilizar as escolas, no entanto, muitos dos possíveis formandos não vão investir em horas de curso uma vez que podem obter online muita informação semelhante. Mas não tenho dúvidas que toda a área do audio-visual está em crescimento no nosso país e as escolas continuam com imensa procura.
 
Achas que existe espaço para novos artistas?
Sim. Há espaço para novos artistas, novos eventos. O mercado da música eletrónica é deveras abrangente (não é só "a noite") e por isso vai sempre haver espaço para novos acts e sonoridades, até porque estamos a atravessar um período em que há uma procura muito acentuada de artistas de eletrónica em grandes festivais, eventos académicos, etc. Nos diversos países onde já atuei, praticamente todos consideram que o mercado deles está igualmente saturado. Partilho um pouco dessa opinião, mas penso também que o mercado acaba sempre por filtrar os que são bons - e ficam durante muitos anos - em detrimento dos que vieram apenas exercer a atividade sem qualquer visão e profissionalismo. Compreendo que seja arriscado para um evento apostar em nomes desconhecidos e menos "seguros", mas quero acreditar que os bons artistas vão sempre conseguir conquistar essas oportunidades.

O que é que achas que deveria mudar na cena nacional e internacional da música eletrónica? Consideras que existe algo que deva mudar?
Essa é a million-dollar-question. Gostava, honestamente, que a música fosse mais uma meritocracia e não tanto um jogo de interesses e business. No entanto, esse não é o mundo em que vivemos e diria até que essa adaptação constante às novas tendências é um desafio que serve de motor na dance scene. No DJing encontro alguns colegas desagradados pela dificuldade que há em poder tocar a música deles nas casas de Portugal, mas qualquer profissional da área sabe que as trends são algo cíclico e por isso é necessário adaptar-se ou encontrar o seu nicho. Há, atualmente, uma componente muito forte de música latina e funk a tomar conta do mundo e das charts. Contudo, vemos grandes artistas internacionais incorporarem essas sonoridades nos seus DJ sets. Fazem-no não apenas por ser trendy, mas principalmente para mostrar a versatilidade da música eletrónica. Eu gosto desse desafio e vejo isso como uma forma diferente de jogar com um DJ set. 
Em relação a eventos, gostava imenso de ver no nosso país um maior número de DJs dos estilos/editoras com as quais me identifico. Os festivais de Verão são importantíssimos para manter Portugal no mapa da electrónica e trazem-nos grandes artistas dos mais variados registos (The BPM Festival, RFM Somnii, Boom, EDP Beach Party, Rock in Rio, e outros). No entanto, são poucos os clubs que apostam em internacionais durante a "época baixa" e acredito que o público quer (e merece) um pouquinho mais.

Como foi a experiência do RFM SOMNII no ano passado?
Adorei o ambiente do festival, foi uma experiência muito gratificante. Tenho acompanhado todas as edições e, felizmente, mantenho o contacto com os DJs da RFM Rich & Mendes, a quem deixo um especial agradecimento por tanto apoiarem e tocarem a minha música. Eles consideraram que a minha sonoridade encaixava no evento e acabei então por fazer o warm-up para Blasterjaxx, Timmy Trumpet, San Holo e Laidback Luke.
 

Entraste diretamente para o 18.º lugar no TOP 30 do Portal 100% DJ do ano passado. Qual é a tua opinião sobre este tipo de distinções e que palavras de agradecimento gostarias de deixar em quem votou em ti?
Antes de mais tenho de agradecer aos colegas, leitores, fãs e amigos que votaram e que me ajudaram a chegar a este TOP 30. Fiquei muito agradado com esta distinção que foi, no fundo, o culminar de um ano muito positivo na minha carreira, a nível de gigs nacionais, internacionais e apoio de alguns dos grandes DJs do mundo. Parabéns à 100% DJ por esta iniciativa.

Que novidades sobre a tua carreira nos próximos tempos podes revelar?
A nível de colaborações com estrangeiros, tenho novos trabalhos com Nicola Fasano e Dennis Cartier (Tomorrowland). Dos nacionais há duas novas faixas com Pedro Cazanova e Club Banditz, embora ainda sem datas de lançamento definidas. Há também uma remistura oficial para o grande Shaggy e outra para um DJ internacional que não poderei ainda revelar. Tenho ainda um outro projeto muito desafiante, em que apresento um live-show junto com dois músicos em palco: violino (Mr. Vlalen) e percussão (Guitos). A forma como vamos tocar é pouco vista em Portugal, acreditamos que o conceito será bem recebido.
 
Queres enviar uma mensagem para os leitores?
Continuem a dar todo o vosso apoio às plataformas de música eletrónica, pois são projetos como este que nos ajudam a crescer e divulgar o que de melhor se vai fazendo no nosso país.  
Um grande obrigado a todos os que seguem o meu trabalho - na cabine ou nas redes sociais - e me transmitem tanta motivação. Saudações musicais.
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