Diretor Ivo Moreira  \  Periodicidade Mensal
terça, 10 novembro 2015 00:03

Top 100 DJs: como deverias chegar ao topo

 
Começo por felicitar os dois Portugueses que se mantiveram no TOP 100 - mais um ano em que Portugal está, e bem, representado no top e a na minha opinião o Diego Miranda (#58) e o Kura (#61) são os DJs/Produtores nacionais (do circuito 'comercial') que mais trabalharam a nível internacional este último ano e por isso fico feliz ao ver que o seu trabalho foi recompensado.
 
Analisando a DJ MAG, é preciso ter em atenção que de há uns cinco, seis anos para cá se tornou um top de popularidade versus investimentos e que, dentro de todos os estilos de música e de DJing, na minha opinião, apenas incide dentro do comercial - até porque são esses os DJs que fazem campanhas de votação. Não vemos os DJs do 'underground' (Exemplo: Seth Troxler, Jamie Jones, Dubfire, etc - só para referir alguns, dentro das centenas de excelentes produtores e DJs) preocupados com as votações nem a fazer campanha. Alguns até fazem comentários a ridicularizar o top, mas se não fazem 'campanha', acabam por ser ultrapassados por outros, se calhar não tão bons DJs ou produtores. Claro está que, para muitos DJs, o lugar que ocupa na DJ MAG representa mais ou menos concertos ao longo do ano e ainda um aumento ou diminuição de cachet.
 

O lugar que ocupa na DJ MAG representa mais ou menos concertos ao longo do ano e ainda um aumento ou diminuição de cachet.

 
Esta premiação é um negócio para a DJ MAG e possivelmente é o que sustenta a revista, já que toda a gente a conhece mas contam-se pelos dedos as pessoas que algum dia a abriram, folhearam ou compraram. Como o voto é feito através do Facebook, criaram uma base de dados dos votantes com todas as preferências que o Facebook partilha. Inclusive, surgiram rumores por parte de alguns DJs internacionais que a DJ MAG exige a compra de uma página de publicidade para poder figurar no top.
 
Na minha opinião, a forma mais justa de avaliar quem deveria estar no top 100 da DJ MAG seria com uma contagem de venda de bilhetes ao longo do ano, número de músicas vendidas aliado à performance enquanto DJ - mas como isso é praticamente impossível e a DJ MAG é por votação, vão sempre haver surpresas nos resultados e discordâncias no público em geral, que não imagina as jogadas de bastidores que são feitas, mas ainda assim, ficam revoltados. Para mim este não é um top real do panorama mundial de DJs e produtores de todos os estilos, fica-se apenas no circuito 'comercial' - como o top do resident advisor (que se calhar o pessoal do 'comercial' não conhece) também não é um top real porque se foca em DJs do 'underground'. Ambos valem o que valem.
 
Em relação aos últimos resultados da DJ MAG, no que fui acompanhando nas diversas redes sociais, o que me quis parecer foi que o sentimento de revolta foi superior aos anos anteriores - é normal que o público em geral esteja surpreendido com os resultados da votação, uma vez que muitos artistas reconhecidos internacionalmente não lideram a tabela e ficaram em posições mais distantes do topo ou nem sequer entraram no top 100. O top 20 não me faz confusão e nele figuram os artistas que previa, independentemente das posições. Os resultados mais surpreendentes são os do meio da tabela com artistas consagrados em posições muito longe do top 50 e a perder o lugar para DJs que não têm esse reconhecimento, quer no meio artístico quer junto do público. Hoje em dia os resultados não são um reflexo real do sucesso e trabalho em produção musical, vendas de bilheteira, número de plays, tops de vendas de música ou de performance de palco. 
 
Dan Maarten
Publicado em Daniel Poças
terça, 12 novembro 2019 22:06

Quanto vale o "TOP 100 DJs" da DJ Mag?

No passado dia 19 de Outubro foram revelados os resultados de mais um "DJ Mag Top 100 DJs" e mais uma vez, com polémica. Os irmãos Thivaios mais conhecidos por Dimitri Vegas & Like Mike ganharam pela segunda vez (a primeira tinha sido em 2015) e voltaram novamente as acusações de "marketing agressivo" e "caça ao voto" para o "Top 100" da revista inglesa. Já em 2015 foram acusados de que o seu management tinha contratado uma vasta equipa de promotoras para visitar vários eventos onde eles actuavam que, de iPad's na mão com a página aberta e já preenchida com o nome da dupla na votação do Top 100 da revista, pediam o voto a quem estava no evento. Essa equipa da promotoras chegou mesmo a andar por todo o festival Tomorrowland em 2015 (festival co-produzido pela ID&T, empresa que representa a dupla Belga), com os famosos iPad's a pedir o voto para a dupla e não permitindo votar em outros nomes quando alguém lhes dizia que Dimitri Vegas & Like Mike não eram os seus artistas favoritos e queriam votar noutros nomes.
 
Já em 2013 a dupla levantou alguma polémica quando teve uma subida fantástica no "Top 100" da revista Inglesa, passando do lugar 38 em 2012 para a sexta posição em 2013 quando em 2011 tinham entrado pela primeira vez para a posição 79. De 2011 a 2013 tiveram uma subida de 73 lugares no "Top 100" da DJ Mag e tudo devido, segundo algumas pessoas ligadas ao meio, a uma política muito agressiva de marketing direcionado (quase) exclusivamente a pedir o voto para a lista da revista inglesa.

É certo que o "Top 100" da DJ Mag sempre esteve envolto em algumas polémicas, mesmo quando a votação era feita através do envio dos cupões da revista por correio. Fui assinante da revista durante cerca de 20 anos e lembro-me de ler algumas críticas que diziam que já nessa altura a revista "aconselhava" os artistas a fazerem publicidade nas suas páginas como forma de atingir os potenciais votantes e de artistas como Paul Van Dyk, Ferry Corsten e Armin Van Buren (que lideraram a tabela durante vários anos) reconhecerem que gastavam entre 10.000 a 15.000 libras ao ano em publicidade na revista inglesa.

Com o aparecimento das redes sociais a relação dos artistas com o público alterou-se totalmente, passou a ser mais directa, mais pessoal, e as suas campanhas de marketing começaram a usar os "social media" para chegar mais facilmente ao seu público alvo, deixando de usar quase exclusivamente as páginas das revistas especializadas para o fazer. De qualquer forma, o "Top 100" da revista inglesa continua a ser a sua principal fonte de receitas, quer através da publicidade no formato físico, quer na sua página web e tornou-se numa das principais referências de quem contrata artistas para grandes eventos e festivais especialmente de EDM, nas suas varias vertentes, representando uma subida de cachet muito importante para quem colocar ao lado do seu nome a indicação "#1 DJ Mag Top 100 DJs", representando por isso muito dinheiro. Logicamente os artistas/managers apercebendo-se disso, começaram a usar todos os meios ao seu dispor para chegar ao mais alto possível da tabela, sabendo que isso lhes pode acrescentar um valor importante ao seu cachet.
 
O "Top 100" da revista inglesa continua a ser a sua principal fonte de receitas, quer através da publicidade no formato físico, quer na sua página web e tornou-se numa das principais referências de quem contrata artistas para grandes eventos e festivais.

Há no entanto algumas diferenças entre os artistas de topo sobre a maneira como encaram a sua posição neste "Top 100". Enquanto alguns (como Dimitri Vegas & Like Mike, entre outros) gastam verdadeiras fortunas em campanhas online a pedir o voto e em publicidade, há outros que referem que "nunca pediram, nem vão pedir o voto para este tipo de votações". Ainda recentemente Martin Garrix o disse numa entrevista, apesar de ter sido o número um, três anos consecutivamente, 2016, 2017 e 2018.


É um facto que muitos dos artistas da chamada electrónica "não comercial", mesmo aqueles que entram na lista, dizem não dar importância a este "Top 100 DJs" (muitos deles até o ridicularizam, especialmente nos últimos anos) mas o que é certo, é que a sua posição na tabela da revista inglesa influência muito alguns mercados na hora de decidir a contratação para alguns dos eventos/clubes mais importantes. 

A Ásia e o Brasil são dos locais que mais olham para o "Top 100" da DJ Mag, são dois mercados enormes e que representam muito dinheiro para os artistas. Por esse motivo, para muitos deles, especialmente os do circuito mais "mainstream", estar no "Top 100" ou não estar, pode alterar significativamente o valor que vão facturar ao longo do ano, e por isso apostam muito na publicidade nas redes sociais (e não só) para pedir o voto ao seu público para os ajudar a subir o mais alto possível sabendo que isso vai subir consideravelmente o cachet em muitos locais.

Uma das acusações que mais ouço e leio ao "Top 100" da DJ Mag é que deixou de ser um top de DJs para ser um concurso de popularidade, onde (quase) qualquer pessoa pode entrar desde que aposte numa campanha de marketing agressiva e junto dos mercados certos. Mas a realidade é mesmo essa, o "Top 100" da revista britânica há muito que não é um "Top 100 DJs" (apesar do nome) mas sim uma tabela de popularidade dos artistas! Esse é o erro de muita gente que ainda teima em ver este top como uma lista dos melhores DJs e produtores, quando na minha opinião há muito que não o é. Especialmente com o aparecimento do EDM, com todos os milhões (em facturação e em pessoas) que envolve anualmente, o "Top 100 DJs" é uma tabela dos artistas mais populares, com mais seguidores nas redes sociais e que participam nos eventos com mais repercussão mediática, que nestes últimos anos têm sido os eventos de música electrónica mais "mainstream".
 
Mas a realidade é mesmo essa, o "Top 100" da revista britânica há muito que não é um "Top 100 DJs" (apesar do nome) mas sim uma tabela de popularidade dos artistas!

Obviamente a popularidade dos artistas também vem do seu bom trabalho, dos seus bons sets nos grande eventos/clubes, do sucesso dos seus temas na rádio, nas listas de vendas, etc. Pelo menos deveriam ser esses os factores mais importantes, na minha opinião, para a popularidade do artista. Mas o certo é que se todo esse bom trabalho que o artista faz, nas várias vertentes, não for bem divulgado, à escala global, este não atinge a popularidade que necessita para um dia poder entrar numa lista como o "Top 100 DJs". Por isso, na minha opinião, há muitos anos que este "Top 100 DJs" é um concurso de popularidade e é assim que o devemos ver.  (Os meus parabéns ao Kura e ao meu amigo Diego Miranda pelas posições #40 e #55).


Talvez para calar um pouco as críticas que sempre aparecem quando são divulgados os 100 nomes do "Top 100 DJs" a revista inglesa criou em 2018 o "Alternative Top 100 DJs" com a colaboração da maior loja online, o Beatport. Esta lista é feita com base nas votações do "Top 100 DJs" normal juntamente com as vendas dos temas dos artistas no Beatport e para muitos é a "verdadeira" lista dos melhores DJs e produtores do momento. Para mim é sem duvida o "Top 100" que melhor reflecte quais os artistas mais destacados dentro da música electrónica nos seus vários estilos (com toda a subjectividade que uma lista deste género pode ter) uma vez que contam também os números de vendas dos seus temas e não só a votação dos fans. 

Por cá e felizmente com muito menos polémica está a decorrer até dia 20 de Novembro a votação para o "Top 30" da 100% DJ. Para apoiarem os vossos artistas favoritos basta escolherem 4 nomes e votar online em www.top30deejay.pt. Já faltam só 8 dias para terminarem as votações!
 

Carlos Manaça

DJ e Produtor

www.facebook.com/djcarlosmanaca

 

(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)

Publicado em Carlos Manaça
quarta, 22 fevereiro 2017 22:02

Preparação e pesquisa de músicas

 

Assunto muito discutido. A pesquisa de músicas torna-se a cada dia, o ponto crucial para o DJ profissional. Assim sendo, uma pesquisa mais apurada acaba aumentando a qualidade do desempenho do DJ e, ainda por cima, pode fazer a diferença entre o sucesso ou não de um gig.
 
Outra virtude da pesquisa é a possibilidade de clarear os caminhos do set e distanciá-lo o máximo possível daquele lugar comum, onde se encontram as faixas sob as categorias patrocinadas ou as famosas “Top 10”, “Top 100”, etc. 
 
Categorias essas que, em grande parte, estão em evidência, pois (como o próprio nome diz) foram financiadas de alguma maneira. Ou seja, para se destacar, o profissional deve se acostumar com a corrida incessante em busca de novidades que, pratiquem a coexistência entre o gênero que mais o retrata e a surpresa de tocar uma faixa pouco conhecida ou até mesmo exclusiva.
 
A introdução desta crónica sugere a não banalização da profissão de DJ, já que grande parte das pessoas (clientes) que frequentam as festas e clubes não tem nenhum tipo de conhecimentos.
 
Nada mais injusto, uma vez que a função principal do DJ é a de levar a boa música, a cultura e as sensações transmitidas pelo seu set.
 
Seguindo para a parte que realmente interessa... A pesquisa.
 
É de conhecimento geral que grande parte da matéria-prima do DJ, a música, encontra-se na internet. Seja lançamento, seja uma track de um ano atrás ou aquele clássico que marcou a década de 80, a probabilidade de se encontrar tal conteúdo em formato digital supera os 95%. 
 

(...) a probabilidade de se encontrar tal conteúdo em formato digital supera os 95%.

 
Sendo assim, pode-se levantar a grande questão: Como ser diferenciado em um nicho de mercado competitivo em que, mais da metade dos interessados são incluídos digitalmente e possuem os mesmos recursos?
 
Na minha opinião a resposta para tal pergunta é simples e direta: DEDICAÇÃO
 
Quanto maior a dedicação, maior será a chance de aumentar o grau de temas novos nas suas music lists.
 
Algumas Dicas
O levantamento dos artistas que mais agradam o ouvido do DJ é um bom primeiro passo. 
 
Frequentar a página do produtor, estar sempre atento ao seu trabalho e segui-lo em redes sociais é uma vertente interessante, pois faz com que os lançamentos dessas pessoas cheguem mais rapidamente até o pesquisador mais assíduo. O objetivo aqui é simplesmente vigiar de perto os lançamentos, produções e remixes dos que o DJ considerar como melhores produtores.
 
Seguindo a questão acima, duas hipoteses interessantes. A primeira será a pesquisa sobre um registo musical. Esse registo reúne músicas que tenham algo em comum, então se um lançamento do produtor de preferência daquele DJ o agradou naquele momento, há uma ampla facilidade de ele apreciar os lançamentos adicionais e demais produtores daquele mesmo registo musical, ampliando, assim, a rede de produtores que o artista seguia até então.
 

Procurar discos nas lojas espalhadas pelo país (já muito poucas) é uma alternativa palpável e confiável.

 
A segunda hipótese é o aumento da notoriedade de um recurso interessante que alguns sites oferecem, conhecido como “quem comprou esta faixa, também comprou…”, isto significa que podemos comprar e encontrar a mesma música e mais as apontadas, isto é, a avaliação dessas outras faixas tornou-se iminente, uma vez que dois artistas de, aparentemente, mesmo gosto musical, se encontraram.
 
Pode não ser de conhecimento geral, mas existem lançamentos de faixas exclusivas em vinil, o que pode tornar um set extremamente distintivo com relação aos demais, uma vez que nem todos os DJs são entusiastas dos 12’’. Contudo, o profissional pode – e deve – adquirir o vinil e utilizar-se das técnicas digitais atuais para converter a faixa e conseguir exibi-la ao público de maneira digital, mesmo entendendo-se que essa técnica pode decrescer a qualidade com que a música foi gravada.
 
Mantendo a abordagem tecnologica, porém distanciando um pouco da originalidade, atualmente existem aplicativos que têm por objetivo identificar músicas. Daí, se o DJ escutar um trecho de uma track, basta habilitar esses softwares para obter um retorno do produtor e nome da mesma. Muito se contesta a respeito de aplicações como essas, porém poderá ser mais um meio de pesquisa. Exemplo: Shazam
 
Por fim, conclui-se que o DJ deve estar a par de toda e qualquer mídia social existente. Sites como o Facebook, MixCloud, SoundCloud, entre outros, devem ser visitados constantemente, pois neles podem aparecer sons novos, ímpares e que encaixem no repertório do artista.
 
Abandonando a era digital, ainda existem opções para os DJs.
 
Procurar discos nas lojas espalhadas pelo país (já muito poucas) é uma alternativa palpável e confiável também. A obtenção de raridades nestes locais é completamente exequível e, vale frisar novamente.
 
O trabalho exigirá dedicação!
 
Publicado em Divenitto
quinta, 28 maio 2015 19:35

Soundcloud: o princípio do fim?

Quem se lembra do MySpace? Grandes artistas foram descobertos, muitos temas, álbuns apareceram no MySpace e foram assinados em Major Labels. Com o evoluir dos tempos, o site acabou por ficar obsoleto porque não acompanhou a rápida evolução da internet e outros serviços semelhantes apareceram e acabaram por o substituir. 
 
Um deles foi o SoundCloud, que nos últimos 5 anos foi uma das principais, se não a principal plataforma de divulgação de música e onde foram descobertos vários artistas e outros tantos promovidos à exaustão.
 
A par com a evolução do SoundCloud, a pirataria também ganhou proporções gigantescas e hoje em dia é sabido que a venda de música já não é aquilo que outrora foi, no entanto, o investimento nos artistas por parte das labels não parou de existir ou diminuiu. Pelo contrário, como hoje em dia é mais fácil fazer música com um computador, é preciso investir ainda mais para garantir que os artistas e as musicas têm a visibilidade necessária.
 
Um utilizador frequente do SoundCloud sabe que por lá se encontra imensa música “gratuita” e, na verdade, há mais bootlegs e mashups do que temas originais (ou havia), o que faz com que as labels não vendam os temas originais. E mesmo que as músicas não estejam em free download, sabe-se que há sempre meios de contornar isso e o público em geral consegue fazer mais rápido um download pirata para ouvir no carro (não interessa a qualidade da música) do que comprar um tema.
 

O SoundCloud como o conhecemos está a acabar e não interessa se pagas um serviço premium ou não.

 
Quando foi anunciada a parceria entre o SoundCloud e a Zefr, uma das plataformas líder de mercado de gerencia de direitos e royalties, que é responsável por identificar os temas no YouTube e consequentemente entregar os direitos e royalties às labels, pensou-se que iam terminar os famosos “takedowns” no SoundCloud porque as editoras iriam finalmente poder ganhar dinheiro com os temas que iriam sendo colocados no SoundCloud e que seria implementado o mesmo sistema de publicidade paga que o YouTube. No entanto, o resultado foi outro: nessa semana os artistas revoltaram-se contra o SoundCloud porque os “takedowns” foram gigantescos e até chegaram a nomes como Martin Garrix, que viu os seus temas originais serem removidos.
 
O SoundCloud como o conhecemos está a acabar e não interessa se pagas um serviço premium ou não. Os mix sets, bootlegs e mashups estão a ser apagados diariamente e, é o que vai continuar a acontecer a curto-médio prazo.
 
Apesar do SoundCloud ter pago mais de 2 milhões de dólares em publicidade aos seus parceiros, a Sony afirma que não ganha dinheiro suficiente e é quem está a criar mais problemas.
 
Sabemos que o SoundCloud tem uma audiência mensal de cerca 350 milhões de utilizadores e que, apesar de tudo, ajudou a desenvolver e a lançar artistas como a Lorde, promover artistas do meio como o Drake, Miguel e mesmo a Beyonce e ainda a descobrir outros tantos. Mas o que se passa é, ao mesmo tempo que os artistas precisam de exposição, as labels precisam de ser pagas pela música e enquanto o SoundCloud não pagar aquilo que as labels acham justo, a situação vai-se manter como está e vamos continuar a ver os takedown’s diários e a revolta dos artistas. 
Inclusive a Sony já retirou temas de grandes artistas como Adele, Miguel e Hozier; e sabe-se também que as negociações entre os dois falharam por falta de acerto monetário. 
Um serviço que outrora foi feito a pensar nos artistas, hoje em dia é controlado pelas editoras.
 
Como o SoundCloud é um dos principais “fornecedores” de musica dos blogs, sites e redes sociais, pela sua fácil integração, a pergunta que eu faço é: quanto tempo falta para aparecer um sério concorrente do SoundCloud e que o destrone, como aconteceu com o MySpace?
 
Dan Maarten
Publicado em Daniel Poças
domingo, 02 novembro 2014 22:26

O fim do EDM

Um novo ciclo da música electrónica está a terminar. Nunca consegui perceber esta "história" do EDM e a confusão sobre o que é realmente. As letras EDM significam Electronic Dance Music mas ficou claramente conotado com o Progressive e Big Room. 
 
Este título que dei ao artigo de opinião (fim do EDM) não é algo que possa ser levado à letra. É óbvio que não vai acabar mas nota-se claramente que deixará de ter o impacto que tem tido nos últimos anos. O EDM passará a ser um estilo musical que muito poucos DJ’s e Produtores terão sucesso ao estar conotados com o mesmo. Os clubes e discotecas já deixaram de contratar como contratavam os DJ’s que tocam este estilo porque perceberam que o EDM é algo que "exige" uma produção, é necessário um "espírito de festival", não é dançável (que é o que se pretende num clube ou discoteca) e que, apesar de movimentar milhares de fãs, foi (está) a ser explorado até à exaustão. 

Os clubes e discotecas já deixaram de contratar como contratavam os DJ’s que tocam este estilo porque perceberam que o EDM é algo que "exige" uma produção (...)

 
Vou fundamentar as minhas palavras. Um clube/discoteca retira os seus dividendos da venda de bebidas (percentagem mais elevada) e um percentual mais baixo do valor das entradas. O público (leia-se clientes) está mal acostumado e já não aceitam o que era normal, até há meia dúzia de anos, onde eram feitas "triagens" na porta dos clubes e onde passámos a ter dezenas de promotores a vender pulseiras ou ingressos e a haver "guest lists". Grande parte dessas verbas que são pedidas "para entrar" já não são para o estabelecimento mas sim para as equipas de promotores e RP's, deixando apenas a venda de bebidas como retorno para a casa. Se o retorno vem da venda de bebidas, volta a ser necessário que o estilo de música permita que os clientes estejam o maior tempo possível dentro dos estabelecimentos, os DJ’s consigam "ler uma pista" e ter "altos e baixos" na sua actuação para enviar as pessoas ao bar, tenham um determinado tipo de cliente que queira dançar, ouvir música, tenha qualidade no atendimento e que não esteja "aos saltos", a levar com confetis no seu copo, levar encontrões ou com uns miúdos aos saltos e a pisarem tudo o que esteja em meio metro quadrado e onde vá realmente para um clube/discoteca e não para um festival ou casa de espectáculos. 
 
É justamente nos festivais onde o EDM não vai "morrer" e onde continuará a arrastar os fãs. No entanto, acho que consegui passar a mensagem do porquê do EDM e em especial os DJ’s que o tocam terem uma tendência para desaparecer. A quantidade de DJ’s que seguiu a tendência do EDM tornou a oferta bem maior que a procura e com esta mudança (óbvia e objectiva), - bem como a saturação e exploração excessiva deste estilo - vai trazer dissabores a muita desta nova escola de DJ’s que surgiu nos últimos anos. 
 
Outros sinais claros que vão sendo transmitidos pelo mercado são os que vêm da indústria discográfica e das rádios. Ainda há dias terminou o ADE e essa mensagem clara (que define a nível mundial) veio também da Holanda. As discográficas não querem continuar a apostar num estilo musical esgotado e as que apostam são as que não estão acessíveis ao comum dos DJ’s e onde os seus interesses são com os artistas que elas próprias agenciam ou adquiriram exclusivos. Casos como o Nicky Romero e até o próprio Hardwell são um exemplo e vamos ouvir produções sem aquela "agressividade" do EDM puro.
 
Temos em Portugal o único DJ/Produtor que vingou (e continuará a vingar) com este estilo musical - o Kura - porque foi quem se destacou da concorrência e conseguiu moldar a sua imagem e sonoridade, deixando claro que o seu objectivo era para o mercado Internacional. Editar pela Revealed, Protocol, Armada ou Ultra é mais do que suficiente para fundamentar as minhas palavras e para que se perceba que a única maneira de seres reconhecido num estilo musical destinado a massas e a festivais é se tiveres uma projeção internacional (o que traz reflexos no seu país, como é óbvio).
 
Deixo aqui uns parêntesis em relação ao Kura para que esta malta nova perceba uma coisa. O Kura não está aqui à meia dúzia de anos. Começou como todos os grandes DJ’s, a trabalhar à noite (ainda sem ser DJ), "engoliu muitos sapos", tocou por trocos, foi criticado, trabalhou anos a fio a acreditar e a fazer aquilo que pretendia e só ao fim de uma década é que atingiu o patamar em que está. Quem pensa que faz uma faixa e que vai ter alguém a trabalhar por ele ou que vai ter um "hit" e tornar-se uma estrela, lamento desiludir mas isso nunca vai acontecer. 
 
"Os sonhos não têm pernas mas tu tens, por isso corre atrás deles" mas não julgues que isso aparece de um ano para o outro. Num próximo artigo de opinião irei escrever sobre o trajecto e as dificuldades que os TOP DJ’s portugueses tiveram para chegar ao patamar onde estão. 
 

Sim... o EDM está a "morrer" (para alguns) mas a musica electrónica nunca esteve tão bem como está actualmente.

 
Não querendo fugir ao tema deste artigo e porque há muito para escrever sobre ele e estas linhas são poucas para isso, vou deixar a minha recomendação a todos os que entraram nesta industria à pouco tempo. 
 
Pesquisem o que está a ser vendido actualmente na indústria discográfica, oiçam o que as rádios estão a difundir e a apostar, pesquisem o que está a surgir lá fora e antecipem a vossa produção e os vossos registos o mais rápido possível. A Portugal chega tudo com algum "delay" e se conseguirem começar já a ser identificados com o "futuro", as vossas hipóteses de chegarem mais longe na vossa carreira aumenta. Caso o vosso objectivo seja seguir o estilo de música que gostam ou trabalhar para um "nicho" de mercado e esperar que o mesmo seja apetecível ao mercado, preparem-se para ter imenso trabalho e esperar vários anos e mesmo assim nada garante que venham a ser um DJ com sucesso. 
 
Vou terminar com um pensamento muito próprio. Ser DJ é uma arte, ser produtor é algo que até podes saber como fazer, mas podes não ter o "dom" para isso. Eu também sei jogar futebol mas quando cheguei à idade dos séniores, não consegui jogar profissionalmente e receber por isso (no entanto sabia jogar futebol). Ser DJ ou Produtor não é para todos. É uma profissão como outra qualquer com o acréscimo que tens de ter talento e tens de trabalhar imenso. Só o trabalho não chega, teres talento e não trabalhares também não te faz chegar a lado nenhum e na larga maioria das vezes, o trabalho árduo até vale mais que o talento natural que possas ter. 
 
Sim... o EDM está a "morrer" (para alguns) mas a musica electrónica nunca esteve tão bem como está actualmente. Resta saber qual é o novo caminho que esta indústria vai seguir e se vamos voltar a ter um novo ciclo com estilos já existentes.

 

Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
quinta, 14 janeiro 2016 22:10

Precisamos de mais carreiras e menos hits

Nos últimos dois ou três anos a música portuguesa tem observado um tremendo crescimento. Os artistas nacionais - talvez mais do que nunca - partilham hoje o palco principal dos grandes festivais portugueses ombro a ombro com os mais prementes artistas internacionais. Nas rádios, se a batalha começou enviesada, mercê da imposição das tão faladas quotas de música portuguesa, hoje em dia é no mínimo injusto afirmar que a música portuguesa só consegue manter a sua presença nas principais tabelas de hits por via dessas mesmas quotas. A música portuguesa está melhor do que nunca e deve, antes de mais, a si própria este sucesso. 
 
Lembro-me de há pouco mais de três anos ter assistido em pleno Talkfest a um presidente de uma Federação Académica desafiar os seus colegas a “ter a coragem” de construir um cartaz para uma “grande queima” com base em artistas nacionais, de forma a justificar a constante aposta em artistas internacionais. Quase como se apostar em música portuguesa fosse sinónimo de insucesso de bilheteira. Ora esta lógica, como prova o mercado actual, transfigurou-se completamente. Basta analisar, a título exemplificativo, os cartazes das principais “queimas” do país no último ano para chegar a algumas conclusões interessantes: Em Lisboa a quota de artistas lusófonos é cerca de 95%, no Porto de 84% e Coimbra nos 90%. 
 
Estes números não devem obviamente ignorar outros factores como a tremenda escalada de preços da grande generalidade dos artistas internacionais nos últimos anos - e neste contexto, é incontornável pensarmos no caso da tão falada bolha do EDM, cujos principais artistas subiram de tal forma os cachets que pressionaram os promotores a aumentar o preço dos bilhetes, resultando em shows com cada vez menos público.
 

(…) há anos atrás ‘cantar em inglês’ era garantia de um sucesso mais rápido, hoje em dia é exactamente o oposto.

 
Ainda assim, é iniludível concluir que existe, de facto, mercado e público para consumir música portuguesa. E não é difícil perceber porquê. O poder da língua na nossa cultura é inestimável. Não só falamos e pensamos em português, como sentimos em português. E é por isso que, se há anos atrás “cantar em inglês” era garantia de um sucesso mais rápido, hoje em dia é exactamente o oposto. “Cantar em inglês” significa competir com os maiores do mundo. Significa competir com Calvin Harris, com Rihanna, com David Guetta, com Beyoncé, com Paul McCartney. Significa jogar um jogo que não é o nosso sempre na casa do adversário. Soa a falso, a fabricado. E é exactamente o contrário do que o nosso público, ávido de coisas novas e autênticas procura.
 
No entanto, chegou a altura de repensar e dar o próximo passo: pensar numa estratégia de mercado concertada. E é nesse plano que a música portuguesa ainda se encontra num estado de insipiência. É preciso ainda profissionalizar muitas áreas como a comunicação, o marketing e essencialmente o management. Precisamos de mais carreiras e menos hits. Mas acima de tudo, precisamos que o talento e criatividade desta nova geração de músicos seja acompanhado em igual proporção por estrategas que lhes façam justiça. A rádio, o público e os artistas estão prontos. Falta a indústria adaptar-se. Esperemos que rápido.
 
DJ e Produtor
Publicado em Hugo Rizzo
Todos falavam da iminência de uma nova crise, no final de 2019 era prognóstico que no ano seguinte era certo que uma crise económica nos iria bater à porta. Ninguém ligou, qual 1.º prémio do Euromilhões, que todos pensam que só sai aos outros, a crise veio por forma de uma pandemia que nos confinou todos em casa, que desacelerou a economia a velocidades perto do ralenti, fechou quase todos setores de atividade, foi democrática e ninguém estava preparado.

A noite foi das primeiras a fechar portas, mesmo antes do governo decretar o seu encerramento, já muitos cancelavam eventos e outros fechavam mesmo portas. Foi a primeira a fechar e, apesar dos esforços dos empresários desta indústria, parece estar a ficar para o fim sem data marcada para abrir portas. 

E que noite podemos nós encontrar? Como serão as discotecas e os bares adaptados a esta nova realidade? Tenho pensado muito neste assunto e não se admirem se aquilo que irei agora escrever seja diferente do que já tenha escrito no passado, mas a realidade é que, em virtude das informações e desinformações que tenho recebido, ao longo deste tempo de pandemia, tenho tido um comportamento quase bipolar e muitas vezes prefiro reduzir-me ao silêncio.

A pergunta é simples, é possível, com todas as restrições abrir uma discoteca ou um bar? Sem dúvida, todos os espaços podem abrir e, acima de tudo, têm o direito de abrir, coloquem todas as restrições, imponham as regras, exequíveis claro, mas permitam que cada empresário tome a decisão de abrir ou não, se pode e tem condições para abrir ou não, porque os seus clientes, os utentes da noite também têm o direito de escolher se vão ou não comparecer na noite. 

A palavra de ordem é "bom-senso", por parte de todos, os empresários e os utentes. Porque a realidade é esta: ou nos portamos bem ou, à imagem do ocorrido da Febre Espanhola, uma segunda vaga será catastrófico, por isso "juizinho". 

Tudo é possível, com peso e medida. Todos de máscara na noite? Será possível projetar uma noite onde todos estarão de máscara? Com certeza, até digo mais, pode ser muito divertido, com a certeza que a pista de dança saberá bem melhor. Covid-vos a dançar... Boa noite!
 
Zé Gouveia
Publicado em Zé Gouveia
segunda, 03 junho 2013 19:59

O que fazer e o que mudar

Aceitei o desafio da 100% DJ para poder dirigir algumas palavras a todos os leitores/visitantes.
Escolher o tema para esta primeira crónica foi complicado. Não por não haver inspiração, mas porque há tanto para falar e dizer sobre a música, DJs, produtores e noite Portuguesa. 
 
Para quem não me conhece, sou o responsável pela DWM e representamos vários DJs e produtores Nacionais e fazemos o seu management.
Vou partilhar convosco alguns pensamentos e experiência adquirida em 20 anos de mercado. 
 
Em primeiro lugar, já é tempo de se mudar mentalidades entre DJs e produtores. Em Portugal em vez de se pensar em "crescer" profissionalmente, prefere-se deitar abaixo os colegas de profissão. Se olharmos para países como a Holanda ou a Suécia, vemos o quanto estamos errados. Não é a denegrir um colega que o nosso trabalho sai valorizado. Especialmente na produção, é altura de puxarmos uns pelos outros para conquistar o mercado Internacional. Portugal tem muitos e bons produtores que não são valorizados porque existe esta "guerrilha interna" onde ninguém ajuda ninguém e o "falar mal" é muito mais fácil. Todos os produtores sofrem com isto e não há quem saia beneficiado. 

Não é a denegrir um colega que o nosso trabalho sai valorizado. Especialmente na produção, é altura de puxarmos uns pelos outros para conquistar o mercado Internacional.

 
Dentro da produção, há algo que tem de ser interiorizado. Quem produz (independentemente do estilo) tem de perceber para quem a sonoridade é destinada. Vejo muitos produtores a lançarem faixas Afro, Latinas, com sonoridades Brasileiras, vocais em Português e que depois não compreendem porque é que não têm datas Internacionais ou não vendem as suas produções. O motivo é fácil de perceber. São estilos musicais destinados ao mercado interno, PALOP's, Brasil e comunidades Lusas. 
 
Não estou a dizer com isto que não o devem fazer, apenas pretendo que compreendam que é um produto esgotado, limitado geograficamente e pouco "consumido" quando se trata de vendas musicais. Ou conseguem produzir algo "fresh" e com um estilo muito próprio, ou estarão a produzir algo com limitações e muita concorrência. 
 
Ainda dentro da produção, outro erro recorrente é a produção excessiva de sonoridades mais "clubbing" onde a concorrência Internacional é feroz. Para esta situação é essencial editarem numa label Internacional que promova convenientemente a vossa faixa. Editar num "depósito" de faixas ou numa label Nacional, é apenas um capricho. A vossa música por mais qualidade que tenha, não chega como promo aos Top DJs Internacionais (que são quem a pode projectar ao ser tocada), não é divulgada, não há seguidores da label onde editam a faixa para a poderem ouvir (e comprar), etc.
 
 
Quais são as alternativas? 
Como é que se pode projectar a música e abrir portas para as actuações?
 
Chegamos a um ponto que muitos rejeitam e teimam em não aceitar. A Promoção. 
Quer gostem ou não, hoje em dia é essencial terem imensos Likes, Followers, Subscribers, etc. Se não querem investir, falam mal de quem paga anúncios publicitários, não investem em vídeo e imagem e julgam que só a música vai ser suficiente, então nunca vão sair do patamar onde estão. 
Se a vossa música não chega ao público e profissionais, se a quiserem oferecer (free download) mas não têm seguidores ou têm muito poucos, como é que alguém sabe do vosso trabalho se a informação não chegou ao destinatário?
 

Tirem da ideia que vão produzir uma faixa que vai ser um Hit se não tiverem uma máquina à vossa volta para projectar a vossa música.

Podem não saber como o fazer ou a melhor forma de executar. Afinal de contas, são DJs/produtores e não têm obrigação de saber alguma coisa de Marketing. Neste caso, recorram a profissionais. Contactem um management (que vão ter de pagar, não julguem que há alguém que vai trabalhar de borla), falem com um PR (Public Relations) que vos coloque a música nas rádios, "disparem" newsletters, etc., e mentalizem-se que para colher, têm de semear. 
 
Não existe nenhum produtor actualmente que tenha ganho notoriedade sem ter efectuado investimento em Marketing. Tirem da ideia que vão produzir uma faixa que vai ser um hit se não tiverem uma máquina à vossa volta para projectar a vossa música. 
 
 
Então e os DJs?
 
O DJ como o conhecíamos acabou. Sim... acabou. Quem conseguiu atingir patamares elevados, foi porque andou (anda) há muitos anos no mercado. Actualmente o DJ mudou. Com as novas tecnologias tornou-se fácil passar musica (o que para mim, por si só, não faz um DJ). 
 
Situações como tocar durante 5 ou 6 horas seguidas, saber "ler a pista" ou saber baixar a intensidade musical para os clientes irem ao bar consumir e agarrar a pista novamente, são coisas que os actuais DJs não sabem fazer. Foi incutida uma ideia diferente do que é na realidade um DJ, principalmente quando todos pensam em tocar num palco para milhares de pessoas, quando o lugar do DJ é numa cabine a fazer aquilo que sabe (ou sabia) fazer melhor que ninguém. 
 
Um DJ era um "educador musical". Hoje em dia, ninguém quer ser educado porque a Internet dá-lhe tudo para ele escolher por si e é influenciado pelo que ouve na rádio ou na TV. O DJ actual tem de mentalizar-se que tem de optar. Ou toca um estilo muito próprio e fica sujeito à aceitação do mercado e dos clubes que aceitam essa sonoridade, ou "regressa às origens" e é um executante musical que tem de tocar para o que o publico quer ouvir. 
 
Muitos estarão a pensar que vêm DJs a tocar em palcos para milhares de pessoas em Festivais por todo o mundo. Sim, é verdade, mas se virem bem, ou são DJs/produtores que vão para passar a sua música ou ficaram conhecidos por uma determinada faixa ou então são DJs com muitos anos de experiência que ganharam a sua notoriedade há anos atrás. 
 
Actualmente não há um único profissional que seja apenas DJ que nos últimos 6/7 anos tenha atingido a ribalta. Principalmente para os novos DJs que todos os dias aparecem, tirem da ideia que por saberem misturar com um software e passarem as músicas dos SHM, Avicii ou Hardwell, que isso irá levar-vos a algum palco Internacional ou atingir um patamar elevado.
 

Um DJ era um "educador musical". Hoje em dia, ninguém quer ser educado porque a Internet dá-lhe tudo para ele escolher por si e é influenciado pelo que ouve na rádio ou na TV.

O meu conselho para todos os DJs que agora surgiram, é o de procurarem uma residência para trabalhar. Se realmente é como dizem e argumentam (que a música é a vossa vida, o vosso sonho, etc.) vivam então a música como ela tem de ser vivida e principalmente pensem no que realmente querem. Se o que querem é ser um Hardwell, Avicii, Skrillex ou Carl Cox (seja qual for o estilo) sigam o vosso sonho por causa da música e nunca pela fama, dinheiro, prestigio, sexo, copos, etc. porque para atingirem um patamar elevado, não basta ter vontade, qualidade e sorte. Precisam de muito investimento financeiro, "padrinhos", contactos, imenso trabalho e mesmo assim nada é garantido. 
 
Por hoje é tudo e há muito mais para falar, mas o texto já vai longo.
 
Lembrem-se que a oferta é muita e a procura é pouca. Vivam um sonho mas não criem ilusões e valorizem os outros profissionais e principalmente os Portugueses, porque só dando as mãos, podemos sair para o Mundo que é um mercado muito maior que este País no cantinho da Europa.
 
Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
quarta, 19 abril 2017 19:19

Portugal, país de oportunidades

Numa altura em que o "mercado dos DJs" atravessa uma nova fase, as oportunidades para os novos artistas são mais que muitas. Acabo de chegar das viagens de finalistas e do Festival do Secundário onde dezenas de DJs tiveram a sua oportunidade de mostrar o seu trabalho. 
 
Muito se fala da falta de apostas em novos talentos mas a realidade é que existe uma crescente oferta no mercado que, a meu ver, é tudo menos benéfica para quem está a dar os primeiros passos. São criadas falsas ilusões que inflamam o ego e criam expectativas erradas nos novos DJs. Actuar para centenas ou milhares de pessoas em início de carreira é o maior erro que alguém pode cometer se não tiver "cabeça" para perceber que ninguém estava presente nesses eventos para os ver/ouvir e onde já existe um público com disposição para ouvir uma determinada sonoridade.
 
A desilusão e a revolta é o que se segue. Muitos destes DJs ficaram a pensar que tudo é fácil, tudo vai acontecer sem esforço e que o telefone ou o mail vão receber contactos. Não podiam estar mais errados. 
 
Em todos os anos que trabalhei com DJs, já tive oportunidade de efectuar marcações para praticamente todos os grandes palcos Nacionais e com artistas diferentes. Todos eles (DJs) tiveram de perceber que não é uma actuação que os vai catapultar e manter no mercado. Assim que uma actuação termina, todos têm de ter a noção que estão "desempregados" até à próxima actuação e que há trabalho para ser feito. Não é por terem actuado no Rock In Rio, Sudoeste, Expofacic, Queima das fitas ou numa viagem de finalistas que a sua carreira está lançada e consolidada. 
 
Quantos DJs e Produtores tiveram "hits" ou tocaram nos melhores palcos e clubes nacionais e de um momento para o outro desapareceram? Basta pensarmos um pouco e encontramos uma "mão cheia" de grandes nomes que "desapareceram" do mercado. 
 
Todas as semanas recebo pedidos de novos DJs a "reclamar" por oportunidades. Todos eles esquecem-se que as oportunidades não surgem com a marcação de uma actuação e que o que estão a pedir só pode partir deles próprios. Cada novo DJ/artista tem de criar e procurar a sua "oportunidade" e ela não está numa actuação num palco ou cabine. 
 
A oportunidade que procuram está na sua capacidade de trabalho, empenho, investimento e perseverança. É o próprio DJ/artista que tem de criar à sua volta um grupo de pessoas que o sigam, que o queiram ouvir e que apreciem o seu trabalho. Quando tiver alguém que pague para o ver/ouvir, garanto que haverá quem o contacte para actuar porque isto é um negócio. 
 
Esqueçam aquelas palavras do "amo o que faço", "ser DJ é uma arte", "a minha musica é boa mas ninguém a houve porque não toca na radio", etc. 
As produtoras, editoras, rádios, TVs, etc. vivem e conseguem manter as portas abertas com dinheiro e não com "amor, arte e boas intenções". 
 
Sim... Portugal é um País de oportunidades mas não há quem trabalhe de borla. A indústria musical e do entretenimento precisa de novos talentos e "sangue novo". Ninguém está disposto a investir tempo e dinheiro em alguém que ainda não provou que esse investimento vai dar retorno. 
 
A "oportunidade" tem de ser criada. Não é com uma agência/agente ou investidor que essa oportunidade vai surgir. Tem de partir do DJ/artista e não basta ter qualidade (ou achar que tem). É preciso investimento de tempo, dinheiro, trabalho e perseverança para se conseguir atingir os objectivos.

Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
quinta, 07 abril 2016 14:37

Trabalhar com a música electrónica

Neste primeiro artigo de opinião de 2016, resolvi escrever sobre a "Pedra Filosofal" do novo Milénio - A Musica Electrónica. 
 
Tudo começou com o aparecimento dos DJs aos grandes palcos mundiais, com a especulação criada pelos Países Nórdicos da Europa e com o Marketing agressivo da indústria musical virada para o mercado electrónico. 
De um momento para o outro, os DJs eram as novas estrelas mundiais e tudo o que era "miúdo" quis ser DJ. Todos aqueles que não sabiam fazer mais nada, viram na profissão de DJ uma alternativa para fazerem alguma coisa, encher os bolsos e ter notoriedade e reconhecimento (pelo menos nas suas cabeças). 
O facilitismo em ser DJ era (é) tanto, que tudo o que era gente neste País foi DJ. Ias a um reality show e no dia a seguir eras DJ. Aparecias na TV, viravas DJ. Eras RP? Porque não ser DJ? Etc, etc. 
 
Rapidamente apareceram em Portugal a partir de 2009/2010 uns largos MILHARES de DJs mas tal como apareceram, também desapareceram e perceberam que afinal a "galinha dos ovos de ouro" não era o que parecia. 
Pelo caminho, muitos deles sonharam que, devido ao facilitismo, havia outros negócios que os fariam enriquecer com a música electrónica. Foram os anos em que toda a gente era produtor musical e abriram centenas de editoras discográficas. Ia tudo enriquecer com a venda da música mas, mais uma vez, não resultou...
 
Os Portugueses sempre foram "casmurros" e não desistem facilmente. Toda a gente tinha de conseguir enriquecer com a música electrónica. Mas como? 
Foi a altura dos agentes/agências de artistas. Tudo era agente artístico neste país. Ganhavam-se comissões de cachets de 40 euros só para poderem dizer que eram agentes ou que estavam no meio... Rapidamente viram que também não era este o caminho e chegámos aos últimos anos e à nova "descoberta" de como enriquecer com esta indústria - PRODUTOR DE EVENTOS. 
Hoje em dia está na moda ser Produtor de Eventos. Se é verdade que há muitos que se dão bem, a ganância deixa de lado a larga maioria de quem quer entrar neste meio. Se um evento corre bem, querem logo fazer outro no dia a seguir (dá sempre mau resultado). Se correu bem a primeira vez e as escolhas artísticas, dia, local, equipa de trabalho, etc. foi bem escolhida, no evento a seguir já dão tudo como garantido e o prejuízo é a única garantia que conseguem ter. 
 
Tudo isto é "Ser Português". Somos (ou tentamos) ser sempre mais espertos que os outros num país com 10 milhões de habitantes, uma mentalidade retrógrada quando comparada com países como a Holanda ou Alemanha, onde temos um mercado interno muito curto, com pouca expressão mundial na música electrónica mas onde tentamos furar como podemos. 
 
Os primeiros parágrafos deste texto deram-te a impressão de uma crítica rude da minha parte. 
A ideia foi essa mas o objectivo era outro. 
 
AINDA BEM que somos assim. Que apareçam DJs, RPs, Produtores de música, Produtores de eventos, Discográficas e tudo o que esteja ligado a esta indústria da musica electrónica. É o próprio mercado que irá encarregar-se de fazer uma triagem entre o "bom e o mau", quem fica e quem sai, quem vence e quem sai derrotado.    
O que realmente é mau é não haver "sangue novo", ideias novas, investimentos diversificados e que haja pessoas a errar. Os erros são sempre aprendizagem e em Portugal temos aprendido muito. 
 

Quem trabalha ou quer trabalhar neste meio, tem de perceber que a própria música electrónica está em constante mudança (…)

 
Um novo ciclo da música electrónica está a entrar. Os "nichos" estão a voltar a ser mainstream e os gostos do público já não são o que alguns diziam que era impingido pelas rádios e TV. O público escolhe o que quer e ninguém impinge nada nos dias que correm. A diversidade de comunicação e o fácil acesso à informação, não permite condicionalismos extremos seja a quem for. 
 
Agarrem no Ipod ou na "cloud" de um miúdo da Preparatória ou do Secundário e vejam o que ele lá tem para ouvir... Tem música que "Parte-me o pescoço" e a seguir um "hardcore" que me parte a cabeça, seguido do Justin Bieber, alternando com Hip Hop do Sam The Kid, Xeg e Dillaz e a seguir remata com Trap e acaba com Hardwell ou uma faixa do Anselmo Ralph, enquanto tem um set de Carl Cox que ouve todos os dias a caminho da escola. 
 
Quem trabalha ou quer trabalhar neste meio, tem de perceber que a própria música electrónica está em constante mudança e que já não é apenas aquela sonoridade a 4 tempos, compassada e com uns Kicks, Drops e uns Claps. É necessária uma adaptação aos novos tempos e por isso é que entrar gente nova no mercado é sempre essencial para esta indústria sobreviver. 
 
Que venha mais gente para este mercado e quem olhar para ti como concorrência ou falar mal de ti, é sinal que estás a fazer as coisas bem feitas. Precisamos de mais gente com ideias novas e vontade de trabalhar para elevar a fasquia da indústria musical portuguesa e é o próprio mercado que irá definir se és válido ou não para permanecer no meio.   
 
Ricardo Silva
Publicado em Ricardo Silva
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