Diretor Ivo Moreira  \  Periodicidade Mensal
sexta, 10 janeiro 2014 21:35

Qual é o teu estilo, DJ?

 
Falemos dos "estilos". Passam os tempos e cada vez se torna mais difícil defini-los, garanto-vos. Pelo menos definir o que é que este ou aquele DJ toca.
 
São raros, raríssimos os que se conseguiram manter fieis às suas ondas originais. Armin Van Buuren no trance, Carl Cox, Richie Hawtin, Adam Beyer, Marco Carola no tecno, Steve Aoki, Afrojack, Chuckie no electro mais acessível, e pronto, à excepção dos incontornáveis de que não falei (e ainda são alguns pelo mundo fora, "graça a Deus!")... por aí... o resto é tudo uma adaptação do que se ouve agora, do que se quer agora, do que faz mexer as pistas, do que as rádios e playlists online veiculam.
 
Acredito que uma das coisas que mais incomoda um DJ, hoje em dia, é por isso, a pergunta: "Então e qual é o teu estilo?" Irrita, porque todos nós temos, obviamente as nossas preferências. Podemos gostar de minimal, progressivo, tecno, puro house... mas obviamente, que se queremos trabalhar nos dias que correm, temos mesmo que nos adaptar e tentar, fazer a melhor "viagem" possível durante as duas ou três horas normais de um set, MISTURANDO, sim, misturando... estilos, sonoridades e fazendo até o que à partida os puristas te ensinam a não fazer... colar a "bota e a perdigota"... uma de house comercial, seguida de uma "electrozada" e a seguir um techouse bem metido.
 
É obra dura de fazer.  E aqui, a diferença de quem o sabe ou não fazer, tem a ver com o bom senso, o bom gosto, a coerência... dentro do que à partida seria incoerente.
 
É mais isso, do que  passar uma horas seguidinhas das batidas certinhas da onda com que nos identificamos. Porque aí, à partida, sabemos que não falhamos (tecnicamente é mais fácil, claro, porque não há o perigo de "picos" e porque estamos fechados e encantados com o que nos enche as medidas como artistas). Mas, a verdade é que... não falhamos para nós, mas para o pessoal que está lá na frente, a não ser que vá já completamente formatado a ouvir o "nosso som" (ui, e é tão bom quando isso acontece), eles querem é diversidade e que a tal viagem os surpreenda, encha as medida, que as músicas lhes sejam familiares na sua maioria. E até os tais "picos" que às vezes não seriam aquilo que para nós faria sentido... é o que se quer.  E a nós... ai ai… e a nós, DJs de casa cheia, resta a magia (que esperamos ser certeira) de conseguir fazê-lo sábia e energeticamente.
 
Falo por mim, que nunca fui adepta do comercial puro e duro e cada vez mais a ele tenho que recorrer. Porque assim as casas o exigem  (ou só tocaria em mini clubes e bares com cachets baixinhos e onde o público seria muito menor em número que nas discotecas e festas mais massificadas por este país fora) e porque mesmo os "grandes", os internacionais, que em tempos produziram sons que nos ficaram no coração e na memória cada vez mais se dedicam a criar tendências comerciais e que os outros seguem pelo mundo fora.
 
"E é assim que é"... o Amor à música eletrónica, como tudo na nossa sociedade, tem que ser readaptado. Pelo menos a forma de o transmitir. E aí volto de novo aos estilos. "Qual é o teu estilo, DJ?"... Acho que a resposta da maioria, se não é, deveria ser: "O que eu toco? Ou o que eu gosto?".
 

Qual é o teu estilo, DJ? Acho que a resposta da maioria, se não é, deveria ser: "O que eu toco? Ou o que eu gosto?"

 
Amigos... o estilo confunde-se com o local, com a carreira, com a imagem que têm de nós, com o party people que temos à frente, com a hora a que tocamos, com o tipo de evento. Eu, por exemplo, toco desde em eventos corporativos às 4 da tarde até ao pico da hora dos "chalalás" todos comerciais que é às 3 da manhã e até de vez em quando faço um ou outro after em que me estico com o tecno e electro menos acessível.
 
Além de tudo isto... é impressionante constatar as "modas" que tão rapidamente entram e saem de cena. Por exemplo, o ano passado o público mais novo, quase que inexplicavelmente (porque não fazia parte da sua cultura musical, foi sim uma moda passageira) exigia quase lado a lado com os temas comerciais do Avicii, Alesso e afins... o dubsetp para embalar uma noite bem bebida. Este ano que passou... foi o Afrobeat. Para todos. Brancos. Pretos. Na cidade. No interior. Mesmo que não tenham qualquer afinidade com a cultura africana... gostam de afrobeat e mais espantoso ainda... de Kizomba e Kuduro.
Pergunto-me o que virá este ano e que... fará esquecer o que ficou para trás e que já foi apagado no iPod, para ganhar mais espaço para músicas novas?...
 
Falemos de "estilos", comecei assim a minha crónica... Ou não. Falemos então da nova filosofia de DJ. Da forma de adaptação à pista. Da vontade que temos que fazer crescer em nós de continuar a pôr o público a dançar. Da arte que considero perfeito de oferecer "uma para nós" e "duas para o público" e da magia que já raramente acontece, mas que não é, obviamente impossível quando a comunhão entre eles e nós - os DJs - acontece e esta máxima passa a ser: "uma para nós", "uma para eles" ou até mesmo "todas para todos".
 
São noites dessas que ficam na nossa história pessoal e independentemente de ondas, estilos ou géneros são noites dessas que mantêm aceso o nosso amor por esta arte.
 
E... que este ano tenha umas quantas dessas. Desejo-o para mim e para vocês. E assim, nos cruzaremos, aí pelas estradas desse país, de clube em clube, com aquele sorriso de satisfação e realização de que tão bem conhecemos o puro feeling, e é cada vez mais raro.
 
Rita Mendes
Publicado em Rita Mendes
terça, 06 dezembro 2016 22:35

30 Anos

Num dia de Setembro de 1986, depois de ter participado em alguns eventos na escola que frequentava (a Escola Secundária de Santo André, no Barreiro, distrito de Setúbal) e algumas festas particulares, fui até à Discoteca “Os Franceses” (chamava-se assim porque ficava por baixo de uma Sociedade Recreativa chamada “Os Franceses”) para “prestar provas” e assim poder começar a trabalhar ali como DJ residente.
 
Foi uma tarde de muitos nervos, com o gerente, alguns empregados e amigos a ouvir o meu “set” feito ali, em directo, para depois decidirem se eu iria ou não ficar como segundo DJ da Discoteca. Aquele que fazia as folgas do DJ principal e passava os “slows”, a música mais calma que se passava numa determinada altura da noite (ou tarde) e onde as pessoas dançavam agarradas. Dois “pratos” com “pitch” (com sistema de correia, o que os tornava bastante “variáveis”) uma mesa de mistura de dois canais (sem equalizador por canal) e alguns discos de vinil escolhidos pelo gerente foram os instrumentos usados para esta avaliação.
 
Apesar dos nervos, de não conhecer os discos e de não ter monitores na cabine (“luxo” que só apareceria muitos anos mais tarde...) a “audição” correu bem e fui aceite como DJ residente. Foi uma sensação inesquecível para mim! Todas as horas passadas a ouvir (e a gravar em cassetes) os programas “Discoteca”, “Som Da Frente”, “Todos No Top” na RDP-Rádio Comercial (entre outros) tinham valido a pena... O meu primeiro ordenado: 25 contos por mês para trabalhar quartas, quintas, sextas e sábados à noite e domingos à tarde! Hoje seriam 125 euros...
 
Em 2016 ano passaram 30 anos desde este momento. Desde essa altura muita coisa mudou no papel que o DJ desempenha num Club. Em 1986 um DJ era simplesmente mais um empregado da Discoteca, cuja função era passar a música que funcionasse melhor para o público do momento, fosse Pop, Rock, Reggae, ou outro qualquer estilo desde que não se “esvaziasse a pista”. Os discos eram comprados pelas discotecas e não pelos DJ’s, por isso os gerentes (que muitas vezes acompanhavam os DJ’s nas compras) também tinham uma  desde que fosse dançsmente acompanhavam os DJs , Rock, Reggae, ou outro qualquer estilo, desde que fosse dançuma palavra a dizer sobre o estilo de música. Nos dias de hoje é difícil imaginar uma situação destas, certo? Mas era assim que funcionavam a maior parte dos Clubs...
 

O DJ é neste momento um dos ícones, uma das principais referências dentro da música, nas suas várias vertentes e estilos.

 
Hoje em dia o DJ é o artista principal da discoteca/evento. É por ele, pela música que ele “toca” (a aplicação deste termo a um DJ dará para outra crónica...) que as pessoas ali se deslocam. Ou pelo menos é assim na maioria dos casos. O papel que um DJ tem nos dias de hoje não tem nada a ver com o que tinha nos anos 80/90, o seu protagonismo é (quase) total, tendo-se mesmo tornado uma estrela Pop nos últimos anos. Quando nomes como David Guetta, Carl Cox, Richie Hawtin, (entre muitos outros) enchem estádios/pavilhões com milhares de pessoas e têm os seus próprios dias nos maiores festivais de música em todo o planeta, facturando milhões, é toda uma geração que os segue. Os DJ’s são, sem dúvida, dos artistas mais importantes do século XXI. Os cantores do momento querem gravar com os nomes mais importantes, as bandas querem remixes suas, o seu nome aparecer num tema é (praticamente) garantia de sucesso. O DJ é neste momento um dos ícones, uma das principais referências dentro da música, nas suas várias vertentes e estilos. Um exemplo a seguir por muitos.
 
É por isso normal que muita gente queira seguir este caminho. Todo o mediatismo gerado à volta da figura do DJ leva a que muitas pessoas queiram, naturalmente, fazer o mesmo percurso, tentar chegar “lá acima”. As novas tecnologias e o seu fácil acesso (e o baixo preço do equipamento, quando comparado com os preços dos anos 80/90 e 2000) tornaram muito mais fácil o caminho para os novos talentos. É bastante mais fácil para uma pessoa com talento e determinação, mesmo com poucos recursos económicos, conseguir produzir um tema com muita qualidade que tenha sucesso nas rádios e que projecte o seu nome como Produtor, o que leva (na maior parte dos casos) a um aumento das suas actuações como DJ.
 
O “ser DJ” tornou-se por isso um objectivo de muitos, o que em alguns casos provocou reacções menos positivas de pessoas que criticam a “banalização” do papel do Disc Jockey. É verdade que houve (e continuará a haver enquanto o DJ tiver o protagonismo que tem hoje) muitas pessoas que “apanharam o autocarro” (os ingleses têm uma expressão para isso - “jump on the bandwagon”) do DJ’ying e que se aproveitam (ou aproveitaram) desse fenómeno e “de repente” também são DJ’s. É uma situação normal e que não vai acabar tão cedo. Mas também é verdade que esta “massificação” nos trouxe alguns artistas de muito talento que de outra forma nunca poderiam ter chegado ao grande público.
 
Para mim 2016 foi um ano muito especial. Foi o ano em que cumpri 30 anos totalmente dedicados à música, deixando para trás uma (possível) carreira como arquitecto. Uma data que sinceramente nunca pensei em atingir, até porque quando comecei a minha carreira, os DJ’s com mais de 30 anos de idade (salvo raras excepções) já eram considerados “cotas” ou “desactualizados”. Foi também um ano de balanço, de pensar em tudo o que aconteceu ao longo destes 30 anos, em toda a música que me “passou pelas mãos”, em todas as horas, noites, tardes, dias passados em estúdio ou a actuar em algum das centenas de eventos onde participei. Na mudança radical do papel do DJ ao longo destes 30 anos...
 

Sinto-me um privilegiado por ter acompanhado todo este processo e por ainda hoje, creio eu, fazer parte do lote de artistas que impulsionou e impulsiona a “Dance Scene” em Portugal.

 
Tive a sorte de estar nos princípios do “boom” da música de dança em Portugal, ao lado das primeiras editoras a arriscar editar música electrónica “Made in Portugal” (das quais a Magna Recordings fez parte), nos primeiros eventos com DJ’s convidados vindos do estrangeiro a actuar em solo nacional e mais tarde nos primeiros mega-eventos de música de dança em Portugal. Sinto-me um privilegiado por ter acompanhado todo este processo e por ainda hoje, creio eu, fazer parte do lote de artistas que impulsionou e impulsiona a “Dance Scene” em Portugal.
 
2016 foi sem dúvida um dos melhores anos da minha carreira, recebi alguns prémios (entre os quais o da 100% DJ), participei em muitos eventos que me marcaram bastante, tal como os “Melhores do Ano da Radio Nova Era” (Porto) em Abril, onde recebi o Prémio Carreira (totalmente de surpresa...); no mega evento “Rock In Rio” em Maio em Lisboa, onde actuei ao lado de nomes como Carl Cox, DJ Vibe ou Octave One, todos referência para mim enquanto DJ’s/Produtores. Uma noite inesquecível!
 
Foi por isso com muito prazer que no final de Outubro estive no Salão de Plenos da Câmara Municipal do Barreiro para receber uma homenagem aos meus 30 anos de carreira, das mãos do próprio Presidente da Câmara. Foi uma total surpresa para mim que a Câmara Municipal da minha cidade se tivesse dado ao trabalho de organizar essa cerimónia onde estiveram alguns dos meus amigos mais próximos, a minha família mas também alguns meus ex-colegas da Escola Secundaria, pessoas que eu já não via há décadas! Nunca eu iria imaginar que, 30 anos depois de passar tantas vezes a pé em frente à Camara Municipal a caminho dos “Franceses” para ir trabalhar, iria estar ali no Salão de Plenos a receber uma homenagem pelos meus 30 anos de carreira das mãos do próprio Presidente da Câmara!!
 
A minha mensagem é por isso muito simples: acreditem nos vossos sonhos, por mais difíceis que possam parecer, dediquem-se o mais que puderem à música se esta for mesmo a vossa paixão. Não vão por “modas”, tentem “tocar” aquilo que realmente gostam, se puderem entrem também pelo caminho da produção, criem os vossos próprios temas, porque, se o vosso trabalho tiver mesmo qualidade, mais cedo ou mais tarde a vossa oportunidade vai (mesmo) aparecer... Eu (ainda) acredito nisso!
 
Carlos Manaça
 
(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)
Publicado em Carlos Manaça
sexta, 23 janeiro 2015 22:17

Os talibãns dos géneros musicais

 
A guerra dos géneros musicais que hoje em dia se vive na scene é quase tão inútil, descabida e infrutífera como a guerra dos sexos. Discutir se há um género musical superior ou inferior é o mesmo que discutir quem é que é melhor: os homens ou as mulheres. É óbvio que não há géneros musicais superiores ou inferiores e é óbvio que a música evolui, mas o talibanismo musical tem sido a saga da história da música electrónica: pelo menos em Portugal.
 
Comecei a interessar-me a sério pela música electrónica em pleno auge do Iberican Sound, quando o house progressivo era rei e senhor e era totalmente diferente do que é hoje em dia. Os ritmos tribais e étnicos pareciam encaixar na perfeição nas teclas mais dark e atmosféricas. E Portugal tinha uma palavra gigante a dizer na scene internacional. Rui da Silva tinha acabado de chegar a níveis estratosféricos com o tema "Touch Me" e artistas como DJ Vibe ou Carlos Manaça eram dos mais aclamados do mundo inteiro, o que fazia do nosso país: "A Paradise Called Portugal".
 
Depois aconteceu o inevitável quando se espreme uma laranja até à casca. Deixa de haver sumo e passamos para a próxima. E surgiu uma vaga de electro house que trouxe para a ribalta artistas como Trentemoller, Mylo, Tiga, Tiefschvartz e, numa vertente mais comercial, o mais conhecido David Guetta. Eu, que tinha nascido em plena era do tribal house e do house progressivo via esta nova vaga com um quase ódio. Eram os destruidores da minha cultura. Era um miúdo e sem o saber estava a comportar-me como um autêntico "velho do Restelo": acalorado pelo conforto do "mais do mesmo" e aterrorizado com a ideia de mudança. Mas tudo na vida evolui e a história - mesmo que cíclica - escreve-se sempre em frente. Foi então que o maximalismo do electro house e, de certa forma, do tribal house gerou a emergência de uma nova corrente: o minimal techno.

Não estar na redoma de um estilo musical único faz-nos evoluir musicalmente mesmo dentro do nosso estilo musical de origem.

Foi a primeira vez que evoluí a sério e num curto espaço de tempo a minha produção musical. Não estar na redoma de um estilo musical único faz-nos evoluir musicalmente mesmo dentro do nosso estilo musical de origem. Só depois de me dedicar a tentar perceber o conceito, técnicas e elementos do minimal é que consegui, enfim, colocar-me num patamar de produção musical que me satisfazia pessoalmente. 
 
Mas, rapidamente, o minimal techno gerou o ressurgimento com grande pompa e circunstância de um estilo que estava adormecido há demasiado tempo - o techno. Muita gente falava num novo techno com um BPM mais lento e capaz de se fundir facilmente com os estilos que tinha sucedido.
 
E foi com a exaustão desta vaga que começa a surgir o que actualmente se chama de "EDM" muito influenciado primeiramente pelo trabalho do Deadmau5 e da fusão brilhante entre o trance e o house que teve a mestria de fazer na altura certa. Muito do que se fez entre 2008 e 2010 eram reproduções quase intactas de um estilo muito próprio do canadiano. E é nessa senda que surgem os Swedish House Mafia e mais tarde Hardwell e tantos outros.
 
Tudo isto para vos dizer que a música, na minha opinião, é como a história: cíclica e pendular. Precisa de se esgotar, de se deteriorar, de degenerar-se e depois de uma revolução de abanões, e de gente que coloque tudo em causa para voltar a tornar-se interessante. Um exemplo que costumo dar e que acho dos mais interessantes é o dos Beatles. Quem ouvir pela primeira vez o primeiro LP "Please Please Me" e o último "Let it Be" de seguida, certamente achará que se trata de uma banda totalmente diferente. Mas quem ouvir todo o trabalho que está pelo meio e analisar a realidade musical da época rapidamente se apercebe que se tratou de uma profunda e extraordinária evolução. No final da década de 60 lançar temas como "Love me Do" ou "From me To You" já não faziam o mesmo sentido e, neste sentido, não deixa de ser curioso que o álbum que demonstrou de forma mais vincada a evolução musical dos Beatles: "Sgt. Pepper’s Lonelly Hearts Club Band" seja considerado pela Rolling Stone como o "maior álbum de todos os tempos."
 

(…) a música, na minha opinião, é como a história: cíclica e pendular.

 
É por este motivo que fico chocado ao ver os talibãs dos géneros musicais a actuar na internet. Estou a falar directamente para os arautos do underground/tech house e techno que vêm na EDM: "música de carrinhos de choque" e para os talibãs do EDM que só de pensarem na possibilidade de a house music voltar a ganhar terreno em géneros musicais como o "future house" ficam logo com urticária. Foram SEMPRE, mas SEMPRE os que souberam sair e aventurar-se, os que fizeram a scene evoluir e dar o próximo passo. Não estou com isto a dizer que todos devamos agora produzir e consumir todos os géneros musicais, mas somente que não se barriquem atrás do EDM e apedrejem o vosso vizinho que por acaso até gosta é de música latina, tech house, psy trance e vice-versa.
 
E acabo com as palavras do insuspeito Carl Cox: "It's about music! Not one music style is better than the other, not one music style is more truly than the other. The whole thing is based on respect. It's all about respect, respect to the music, respect to the DJ's, respect to the crowd and respect to each other. It's all music, music never separates people!". 
 
Hugo Rizzo
Publicado em Hugo Rizzo
sexta, 09 outubro 2020 22:01

Está quase tudo diferente

Muitos de vocês não me conhecem. Faço produção de eventos e é no backstage e longe das câmaras que me sinto bem.

Fiz parte da criação de alguns projetos e conceitos inovadores e do relançamento de muitos outros - (Flash, Bloop, Ribatexas, I Love Baile Funk, Revende of the 90’s, para vos dar alguns exemplos). Neste momento abraço o projeto H Collective, empresa detentora de alguns destes conceitos e entrei recentemente num novo desafio chamado "Lorosae", um Restaurante/Bar de praia na Costa da Caparica.

Nesta altura do ano normalmente estaria envolvido em duas ou três rentrées de espaços noturnos em Lisboa, só que não. Deveria estar a preparar o lançamento da nova Tour Revenge of the 90's, só que não. Estou com tempo para escrever este artigo de opinião durante o mês de Setembro.

Estamos cansados de não poder trabalhar, a tentar reinventar negócios e formas de estar. Estamos com saudades. Passaram 6 meses desde que o nosso mercado parou e dançar juntos de copo na mão já parece uma coisa do passado.

No início parou mesmo, mas em meados de Julho quando alguns espaços, depois de algumas readaptações, começaram a conseguir fazer algum tipo de eventos com lugares sentados e o devido distanciamento, apareceu uma luz de esperança e o pensamento imediato foi: "isto a pouco e pouco vai arrancar". 

Alguns arregaçaram as mangas e conseguiram dar a volta para abrir, outros não tinham nos seus espaços forma de contornar as coisas para estarem legais nas novas regras. Em tempos tão difíceis foi engraçado ver as pessoas a adaptarem-se a estar depois de um copo ou dois sentadas no mesmo sitio a dançar, à frente da cadeira, a irem ao bar e prolongar a conversa com o barman para poderem estar de pé mais um bocadinho a abanar o corpo em modo dança reprimida.

Durante esta fase assisti com tristeza a pessoas exteriores aos negócios, e até mesmo concorrentes, com empenho em fazer denúncias e prejudicar de forma dramática a possível e lenta retoma.

O mercado da noite e eventos está difícil, praticamente parado, e é tempo de dar os braços, estar unidos e arregaçar as mangas. A concorrência é muita, e mais agora que as pessoas que saem de casa para eventos são ainda menos, mas quanto mais unido estiver o mercado maior a força junto das entidades competentes para um aceleramento da retoma. 

Os eventos e a noite como nós os conhecíamos vão voltar. Até lá muita força para todos porque quando voltarmos não vamos ter mãos a medir.
 
Miguel Cruz
Empresário/Produtor de Eventos
Publicado em Miguel Cruz
quarta, 03 junho 2020 23:04

(Des)governados

Atravessamos momentos únicos da nossa vida e ninguém consegue fazer futurologia. Estamos completamente desgovernados por tudo, por todos e também por nossa culpa por não sabermos antecipar problemas.

Apesar de tudo, há algo que sempre iremos conseguir fazer - adaptação aos novos desafios. 

Existem DJs desde o tempo em que a tecnologia permitiu que uma única pessoa conseguisse "tocar musica gravada" (excluindo o aparecimento das grafonolas) e sempre houve adaptações e mudanças.

Provavelmente, nunca terá havido tantos recursos tecnológicos que permitissem adaptações como existem nos dias de hoje e cabe a cada um de nós pensar e implementar essas adaptações.
 
É certo que todos estamos desgovernados e até desesperados porque a principal fonte de rendimentos de um DJ é por norma as suas actuações e não havendo eventos ou espaços físicos com público para o fazer, as alternativas são escassas. O streaming é a opção lógica mas jamais poderá trazer a rentabilidade, o sentimento, a "magia" das actuações em "contacto" com o público, no entanto não nos podemos esquecer que num passado recente, muitos DJs usavam a rádio para ganhar a notoriedade que têm nos dias de hoje e as diferenças para um streaming são apenas em termos de imagem e suporte em que são transmitidas. 
 

Não tenho a pretensão de imaginar ou prever o futuro deste sector mas tenho a certeza que servirá como triagem para muitos amadores e profissionais ficarem pelo caminho (…)


Não tenho a pretensão de imaginar ou prever o futuro deste sector mas tenho a certeza que servirá como triagem para muitos amadores e profissionais ficarem pelo caminho, deixando a quem tenha perseverança um caminho aberto para o futuro quando esse mesmo futuro voltar a permitir o regresso dos DJs ao seu habitat natural. 

Sim, estamos desgovernados (todo o sector e não apenas os DJs) mas não existem soluções no imediato. 

Nada será como foi e com maior ou menos adaptação, maiores ou menores mudanças, o DJ pode estar "infetado" mas não irá "morrer".
 
Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
terça, 15 março 2016 17:28

Moda de música ou música da moda

Começo por agradecer ao Portal 100% DJ pelo simpático convite de me juntar a esta prestigiada família.
Quando me convidaram para escrever esta crónica, pensei com medo, estando ciente de estar ao lado de tanta gente conhecedora da indústria, que eu não teria expertise suficiente sobre o assunto.
 
Confesso que pensei que deveria fazer como tantos famosos artistas mundiais o fazem… pedir a alguém que escrevesse e eu apenas dava o nome! 
 
Não cedi à tentação e escrevi apenas este texto como um... desabafo!
 
Lembro-me agora de uma troca de opiniões que tive nos finais dos anos 80 com o meu Pai, sobre um estilo musical que estava a dar os primeiros passos em Portugal: o House Music.
 
Nessa altura eu defendia a música gerada e difundida pelo "messias" Mr. Frankie Knuckles e que tinha como elemento característico a batida electrónica sempre acima dos 120 bpm. 
O meu Pai, amante de música e locutor de rádio nas madrugadas da Antena1, não compreendia como era possível alguém ouvir aquilo a que chamava “barulho” e pior... como era possível ainda alguém gostar.
 
Nessa altura, pensava eu: 
- O meu pai está mesmo velho, pois não compreende as novas tendências da música.
 
Hoje, passados anos, quando saio à noite nos principais eventos ou clubes mundiais, penso ao ouvir as músicas da moda:
- Como é possível alguém gostar disto?
 
Acredito que a minha filha pense também como eu há uns anos atrás que o pai coitado, já está velho e não entende nada sobre música moderna. 
 
Estou assustado com esta ideia, confesso! 
 
Será que estou mesmo a ficar velho e sem a capacidade de me atualizar musicalmente?
 
Penso então que talvez ainda haja uma possibilidade de me safar deste meu envelhecimento de actualização musical, peço então a vossa ajuda para refletirem comigo:
 
O agora auto-denominado EDM - (a que eu carinhosamente chamo “Música das Buzinas”). Começa logo pela usurpação de um nome - EDM
 
  • EDM - Electronic Dance Music é toda uma cultura de música de dança e electrónica e não apenas uma categoria dentro da pasta completa do House Music.
 
Aqui começa a minha reflexão sobre o que é a moda de música ou música da moda.
 
  • Nos anos 90 havia um estilo de música (EuroPop), que por tão frequentemente e quase que em exclusivo se ouvir nas feiras populares, até se utilizava a simpática denominação de música “carrinhos de choque”. 
 
A “Música das Buzinas” e enganosamente chamada EDM é na sua generalidade semelhante à música “Carrinhos de Choque”, sendo a sua construção sem grandes alterações na sua génesis musical e a aplicação de apenas modernos retoques de produção de máquinas que não existiam na altura.
 

Fico triste, pois acho que o House Music que eu defendi, se transformou apenas num espectáculo de estrelas Pop(…)

 
PLEASE, onde está então a novidade? Porque é que a música de “carrinhos de choque” era foleira na altura e está agora na moda movimentando milhões de seguidores?
 
A resposta a esta pergunta é quase tão difícil como saber o porquê de os carros brancos nessa altura serem chamados frigoríficos com rodas e agora até eu estar a pensar em ter um?
 
Ainda há pouco tempo, falei com um conjunto de reconhecidos coreógrafos que me disseram que era quase impossível hoje em dia, coreografar espectáculos com a “Música das Buzinas”. 
Então como é possível? Fica então a minha dúvida, se a base da música electrónica é fazer as pessoas dançar, como é possível ser difícil fazer dançar os coreógrafos?
 
Será que quando se diz que a máxima "nada se inventa e tudo se transforma", já esgotou o espírito de imaginar música realmente nova? 
Era necessário pegar em tudo o que era piroso há uns anos atrás, retocar, modernizar tecnologicamente e virar tendência?
 
Fico também rendido, quando me recordo que até eu próprio, no concerto dos Swedish House Mafia no Meo Arena, estava na pista maravilhado com o espectáculo visual e que dei por mim a pensar que a magia que ali estava a acontecer em termos técnicos, não era compatível com a possibilidade de os artistas poderem estar a tocar realmente, pois tudo batia perfeito: as explosões de CO2 com a batida, as imagens com os vídeos e os laser com os refrões que todos cantávamos, mas que isso afinal, ou seja a arte inicial dos artistas, já não era fundamental!
 
Fico triste, pois acho que o House Music que eu defendi, se transformou apenas num espectáculo de estrelas Pop e onde o marketing de comunicação do mundo actual, nos fez perder o gosto e a consciência própria do que realmente gostamos e ensinou-nos ou impingiu-nos a seguir tendências e conceitos que por muito que já tínhamos achado foleiro ou pimbas em determinadas alturas das nossas vidas, agora somos seguidores convictos.
 
Provavelmente eu, estou de facto, velho!
 
João Paulo Lourenço
Publicado em João Paulo Lourenço
domingo, 16 setembro 2018 22:47

Os "ginastas" da Dance Scene

O motivo da minha crónica deste mês vem na sequência de um post de um DJ que li há alguns dias numa das suas redes sociais em que dizia "isto é o que eu faço quando me pedem para tocar EDM" e fazia um gesto com a mão e o dedo do meio erguido dizendo também no mesmo post "I'm a Techno addict!". Como eu tinha a noção que o dito DJ tinha produzido há relativamente pouco tempo temas originais/remixes de EDM que tinha visto à venda no Beatport e que até tinha uma agenda internacional preenchida, fui um pouco atrás na sua rede social e realmente estavam lá os posts relativos a "great EDM Remix", vídeos no estúdio "what a EDM BOMB!", fotos com alguns dos artistas EDM do momento, etc. E fiquei realmente um pouco confuso...
 
O motivo da minha surpresa não é o facto de o DJ em questão ter mudado de estilo. Acho isso perfeitamente normal e faz parte do nosso percurso, quer como artistas, quer como pessoas. O que me faz muita confusão é como certos artistas podem, num momento querer ser os maiores num determinado estilo musical, porque está na moda e quando este deixa de estar na moda já é uma porcaria, já "passou o seu tempo" ou "isto é o que eu faço quando me pedem para tocar...". Essa parte já não entendo. Se até há pouco tempo querias ser o "novo príncipe do EDM", não podes, passado um ano e meio, dois anos, dizer que "isto é o que eu faço quando me pedem para tocar EDM" com um gesto obsceno. Até porque hoje em dia temos a internet que regista tudo o que publicamos, para sempre. E se vais publicar que és um "techno addict" e que "EDM sucks", ao menos apaga os posts anteriores onde dizes que estás a produzir a próxima "bomba EDM" ou que "respiras EDM". É o mínimo que se pode fazer em nome da coerência.
 
Entendo que seja o estilo musical mais "underground" que está na moda, mas ver alguns artistas (e muitas pessoas) que até à bem pouco tempo diziam mal do techno em favor de outros estilos (não só EDM) que agora são "techno addicts" faz-me alguma confusão. 

É verdade que o techno está na moda há já alguns anos e que parece que assim se vai manter durante algum tempo. Obviamente que não tenho nada contra isso até porque toco alguns temas techno nos meus sets, apesar de não ser um DJ cuja base seja esse estilo. Gosto de alguns dos temas que saem neste momento, embora já não seja tão fã da "nova" moda do techno mais rápido (para cima de 130/132 BPMs) que é bastante popular neste momento e que projectou vários DJs para a ribalta nos últimos tempos. Talvez porque, embora para a malta mais jovem seja uma sonoridade nova, alguns dos temas que estão na moda aos meus ouvidos soam-me ao techno que se tocava nos anos 90, inícios de 2000 com alguns sons novos, mas cuja base é bastante parecida e por isso não me soa a "novidade". Mas o certo é que há milhares de pessoas que seguem esse estilo e que enchem pavilhões, clubs, eventos e que para eles é uma sonoridade totalmente nova, coisa que entendo perfeitamente e que respeito totalmente. 

Mas será mesmo necessário que de repente quase toda a gente "viva para o techno", "respire techno" e seja "techno fanatic"? Entendo que seja o estilo musical mais "underground" que está na moda, mas ver alguns artistas (e muitas pessoas) que até à bem pouco tempo diziam mal do techno em favor de outros estilos (não só EDM) que agora são "techno addicts" faz-me alguma confusão. 

Tal como disse antes, obviamente que não tenho nada contra os artistas que mudam de estilo musical, isso faz parte do percurso de vida, da evolução pessoal de cada um, e é uma situação perfeitamente normal. O que me faz confusão é o aproveitamento de alguns em "mudar" para o estilo que está na moda dizendo mal do estilo que lhes deu muito dinheiro a ganhar. Quer publicamente quer em privado. Os Ingleses têm uma expressão para isso, chamam-lhe "jump on the bandwagon".

PS: Recentemente o DJ e produtor de EDM Hardwell comunicou que ia fazer uma pausa nos seus gigs por tempo indefinido para se dedicar a ser "Robbert e deixar de ser Hardwell 24 horas por dia" devido à pressão que isso significava na sua vida pessoal e ao efeito que estava a ter sobre a sua criatividade como artista. O que me levou a ler mais uma vez a crónica anterior que escrevi para a 100% DJ sobre o falecimento de Avicii. A vida de um DJ de topo com uma agenda internacional como Avicii ou Hardwell tinham, não é nada fácil. Felizmente Hardwell percebeu onde estava o seu limite e conseguiu parar a tempo...
 
Carlos Manaça
DJ e Produtor
 
(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)
Publicado em Carlos Manaça
Se estás a tocar e achas que o teu público é mau… és provavelmente tu que estás mal.
 
Não me interpretes mal. Não te estou a dizer que és mau no que fazes, ou que tocas mal. Estou-te simplesmente a dizer que estás no local errado a fazê-lo. Este é um dos primeiros e principais erros de percurso dos DJ’s em início de carreira: lá porque que o teu set funcionou no local A não quer dizer que funcione no local B. O tempo, o espaço e as expectativas do público são factores determinantes para o sucesso da tua prestação. Mas vamos por partes:
 

AS EXPECTATIVAS

 
99% das pessoas que vão a festivais de EDM (Tomorrowland, Ultra, EDC, etc..) vão na expectativa de ouvir EDM. O que aconteceria se num festival em que existe esta expectativa aparecesse lá um DJ que ninguém conhece, com os últimos êxitos do Kizomba e Reggaeton? Provavelmente ficaria para a história no guiness como o tipo que conseguiu mais assobios em simultâneo. O que aconteceria se subitamente num festival de Reggae como o Rototom ou, em Portugal, o MUSA, aparecesse uma banda de Death Metal ? Por acaso esta não sei.. mas era engraçado de se ver o resultado.. Mas já perceberam onde quero chegar. Existem expectativas, as pessoas são rígidas quanto a elas e intolerantes com tudo o que fuja a essas expectativas. Isto é válido para bares, discotecas, sunsets, festivais, afters… tudo!
 

O ESPAÇO

 
O espaço é outro factor determinante na recepção do público a determinado repertório musical. Estás num bar numa praia, pôr do sol, caipirinhas na mão, miúdas giras, um PA que não aguenta assim tanto… e um DJ a tocar dubstep.. faz sentido? Não me parece. Da mesma forma que não faz sentido ouvires Chillout num festival open air com uma mega produção de som e luz. A música adapta-se ao espaço e às suas condições. Não o espaço à música.
 

O TEMPO

 
Ora aqui está um dos factores mais importantes e um dos mais difíceis de gerir. Aqui não existem regras. Só lá vai com experiência e olhos no público. A quantidade de DJ’s que erra neste ponto é avassaladora. Todos os espaços e festivais têm o seu tempo. O tempo em que o público chega ao festival, vai beber uma bebida e conhecer o espaço, se ambienta, ganha mood, ganha espírito e se começa finalmente a libertar. Não há ninguém - nem mesmo o maior party animal do mundo - que chegue a um festival e mal entre seja transportado para um estado em que instantaneamente está aos saltos ou a fazer moches. O público tem um tempo para se ambientar e começar a responder. E da mesma forma tu enquanto DJ também tens que gerir o teu tempo da melhor forma. Se tens 2 horas para actuar e 30 minutos daquelas músicas que deixam toda a gente literalmente a dar o máximo, não as descarregues todas seguidas ou no início da actuação. Mas também não as deixes todas para o fim. Gere-as de forma inteligente.
 
Por isso se tocas EDM e te metem num bar que todas as noites vai corrido a Kizomba e Reggaeton, estás mal tu - que foste ao engano -, está mal o bar - que te contratou para ires tocar -, mas nunca está mal o público. Há público mais frio ou mais quente a reagir. Mas nunca há mau público. Dizermos que “o público é que não sabe o que é bom” é só o maior erro e a maior falta de humildade que podemos ter enquanto profissionais e o princípio do fim de muitas carreiras promissoras, até porque são poucos - pelo menos em Portugal - os que se podem orgulhar de dizer: este espaço encheu e estas pessoas estão todas aqui por minha causa: eu toco o que quero.
 
Em suma, há expectativas, espaços e tempo para tudo. Se conseguires gerir estes factores da melhor forma, é meio caminho andado para seres bem sucedido.
 
DJ e Produtor
Publicado em Hugo Rizzo
domingo, 02 dezembro 2012 21:59

Back in the club, the story

Este mês resolvi dar a conhecer todo o processo que atravessei para criar, desenvolver e acabar o nosso novo tema "Back In The Club". A faixa foi apresentada pela primeira vez, ao vivo, na 'MEGA HITS Kings Fest' no Campo Pequeno em Lisboa, a 27 de Outubro. A ideia de fazer um tema com o Dani (Daniel Fontoura) começou após o ter visto a cantar num karaoke, no Cruzeiro MEGA HITS que participámos em maio de 2011 - fiquei impressionado com a voz dele e gostei muito de o ouvir cantar. Nesse momento, o meu primeiro pensamento foi: "Vou ter que fazer uma música com ele". Começámos a conversar sobre essa possibilidade e de como poderíamos avançar para a música e mal cheguei ao estúdio, a primeira coisa que fiz foi selecionar todos os esboços que tinha guardados no disco do meu iMac, até que cheguei àquele que usei para o "Back In The Club".
 
Lembro-me que esse tema começou pelo verso, uma melodia simples e ao mesmo tempo alegre, que estivesse de alguma forma relacionada com o nosso estado de espírito, com aquilo que os FY2 – The Party Rockers apresentam no seu estilo de set, mas acima de tudo, algo que nos divertisse e que nos desse prazer construir. Desenvolvi um pouco a ideia, sequenciei a música de forma a ser algo "apresentável" para o Dani poder opinar e ter uma base sólida para começar a construir a melodia vocal e a letra. Claro que ao longo de todo o processo criativo, várias mudanças foram acontecendo: desde mudar toda a estrutura rítmica (pelo menos duas vezes), trocar vários elementos, acrescentar e retirar beats - mas tudo isto faz parte do processo criativo e da busca pela "batida perfeita".
A meio do tema, percebi que a ajuda de um compositor seria bem-vinda e que iria tornar a faixa mais interessante melodicamente. Foi aí que conheci o Miguel Amorim. Um jovem músico, compositor e produtor que me fez ver certas coisas de forma diferente e com quem, para além da relação de amizade, mantive uma relação de trabalho constante em diferentes áreas dentro da música! O Miguel veio desempatar algumas coisas e resolver certas "equações" musicais que serviram como a "cereja no topo do bolo" - e verdade seja dita, a união faz a força e quantas mais boas pessoas tivermos ao nosso lado para nos ajudar, apoiar e aconselhar, melhor!
 

(...) Mas o que interessa é que façam algo e que trabalhem, não deixem as ideias de músicas gravadas no telemóvel ou mesmo na cabeça - exteriorizem e materializem!

 
Depois do Dani concluir a letra e a melodia vocal, gravámos alguns takes "experimentais" daquilo que poderia ser a voz no tema e fomos reconstruindo a música de forma a se adequar que nem uma luva à voz. Uma vez o instrumental finalizado, fomos para estúdio gravar a voz. Depois, basicamente, foi substituir os takes gravados no meu "home studio" pelos novos que gravámos e a música estava pronta para enviar para o Engenheiro de Som que iria misturar e masterizar o tema.
 
Por intermédio do Miguel Amorim, conheci o José Diogo Neves, um músico, produtor e Engenheiro de Som fantástico, com uma capacidade de aprendizagem fora de série (e uma paciência de aço para ouvir todos os meus devaneios) e que acabou por misturar e "masterizar" o tema – e que, a par com o Miguel, se tornou meu amigo e hoje em dia, basicamente, fazemos os três parte de uma equipa e temos a nossa "cena" juntos onde estamos em constante ligação e a trabalhar em conjunto! Após alguns ajustes e experimentações ao vivo, chegámos ao resultado final - que podem ouvir em algumas das principais rádios nacionais!
 
Eu sei que toda a gente tem a sua forma de criar e começar uma música - seja pela linha de baixo, pela parte rítmica ou pelo refrão - whatever - mas o que interessa é que façam algo e que trabalhem, não deixem as ideias de músicas gravadas no telemóvel ou mesmo na cabeça - exteriorizem e materializem! E acima de tudo, nunca desistam dos vossos sonhos!
 
 
Daniel Poças
FY2 - The Party Rockers
Publicado em Daniel Poças
quinta, 10 julho 2014 22:20

Agente ou não? Eis a questão

 
Ter ou não ter um agente ou um manager? Acho que essa é a questão de tantos DJs, a partir de certa altura. Os prós e os contras existem, dependendo da direção que se quer seguir, a de continuar a ser "o amiguinho" dos donos das festas e dos clubes (aqui também há vantagens e desvantagens) ou a de tentar profissionalizar a coisa no mercado, que, como o português, pouco ou nada é "profissionalizável" (lol)... e com que pena digo eu isto... assumo que acredito muito pouco em algumas empresas de eventos, que tantas vezes nem coletadas estão... enfim, mas isso já é outra praia... porque também os há, os idóneos e com essa mão cheia de gente dá mesmo gosto trabalhar.
 
Ter ou não ter um agente ou um manager? Das duas uma: ou quando as coisas não estão a correr bem e se precisa de um input de carreira ou então porque as coisas correm tão bem e as solicitações são tantas que se precisa de alguém que faça a sua gestão como de deve ser.
 
Sim... para profissionalizar a coisa, ter um agente é um "must", mas os agentes são mesmo isso... "a-gente". E aqui, há, como em tudo, gente "da boa" e gente "da má". Por isso, este passo é de extrema importância para um DJ ou qualquer outro artista - sei de histórias de extrema empatia e sei de outras que acabaram em lutas de cão e gato daquelas à séria...
 
Ter uma pessoa que nos represente pode ser condicionante para a consolidação da nossa carreira ou para o fracasso da mesma. 
 
Para mim, estas serão as exigências que qualquer DJ tem que ter atenção para que um "namoro" passe a "casamento": A imagem dele(a) tem que ter a ver necessariamente com a do artista. Ele(a) será um pouco como o cartão-de-visita do mesmo. Imaginem um metaleiro a tratar dos teus gigs de DJ de house... não liga pois não?!
 

Imaginem um metaleiro a tratar dos teus gigs de DJ de house... não liga pois não?!

Terá sempre que ficar bem assente, em conversas quase formais para que não se desfoquem, se a direção que o artista deseja para a sua carreira e a que o agente/manager está a estruturar correspondem aos mesmos desejos (imaginem um estar na onda dos sunsets e o outros vendê-lo para afters.)
 
Um agente pode negociar valores e um DJ, nunca deve ir por trás e renegocia-los (nem que isso, nos corroa por dentro...)
 
Um agente deve orientar o agenciado, mas a última palavra deverá ser sempre do DJ (há quem prometa mundos e fundos… mas a vida é nossa e daqui a um ano ou dois, se o agente já cá não estiver, o seu "legado" mantém-se e muitas vezes a imagem criada nessa época também, nunca nos esqueçamos disso)
 
Por fim, deixem-me só dizer que ter um agente e ter um manager não é a mesma coisa. Um agente "vende", faz "booking", trabalha com o material que existe, é um "flirt" na tua vida. Um manager é quase como um novo membro da família. Normalmente quando estão empenhados e são bons no que fazem, são quase como uma sombra de ti mesmo. Ajudam-te a construir uma imagem específica, criam situações quando não as há, são criativos a arranjar trabalhos, vivem-te e respiram-te. São raros. Mas existem. Encontrá-los é que não é fácil. Muitas vezes, pagar-lhes... também não.
 
Como em tudo, quem é bom merece a nossa confiança, mas todo o cuidado é pouco, principalmente para alguém, que, como eu e outros, já temos um caminho percorrido e um nome criado na praça. Quantos "agentes" julgam que encontraram a "galinha de ovos de ouro" e depois o trabalho afinal no terreno não é tão fácil como acreditavam ser e passamos de "bestiais a bestas" num ápice... não, cruzes credo! Desses cá não queremos! Mas aqui entre nós... já me calharam uns quantos oportunistas no caminho e que depois não são de fácil desapego.
 

(...) esta questão é tal e qual como numa relação amorosa, pode ser um pau de dois bicos: Ou uma prisão e foco de tensão, ou um descanso e sensação de companheirismo e foco.

 
Ter visibilidade pública é um "acepipe" muito grande para alguns passarões, tenham cuidado. Mas não desmotivem. Olhem para mim, ao fim de algumas relações falhadas, encontrei a minha "alma gémea". Não, não dormimos juntas, nem damos beijinhos na boca, mas partilhamos ideais, sonhos criativos, temos elasticidade suficiente para ir criando estratégias de acordo com as exigências do mercado e… sinto-me acompanhada o que é tão bom para uma pessoa como eu. Nunca gostei de caminhar sozinha mas também estou tão queimada com as "más companhias" que o destino me foi oferecendo ao longo dos anos, que encontrar a pessoa certa é uma bênção.
 
Ter ou não ter um agente ou um manager? Então cá vai: para mim, esta questão é tal e qual como numa relação amorosa, pode ser um pau de dois bicos: Ou uma prisão e foco de tensão, ou um descanso e sensação de companheirismo e foco. Resta-me desejar-vos sorte na escolha da pessoa que vos acompanha e no percurso da vossa carreira.
 
Beijinhos eletrónicos e cheios de boas vibes! ;)
 
Rita Mendes
Publicado em Rita Mendes
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