Diretor Ivo Moreira  \  Periodicidade Mensal
quarta, 10 setembro 2014 22:27

O que é um DJ 'open format'?

Muitas pessoas perguntam-me o que é um DJ de "Open Format", como tal, decidi escrever esta crónica para poder esclarecer essa dúvida persistente sobre este "novo" formato de DJ.
 
A indústria musical tem evoluído de uma forma bastante sólida, já lá vão os tempos em que um artista de Rock só fazia Rock, e um artista de Hiphop, só fazia Hiphop. Nos dias que correm são cada vez mais as fusões entre estilos musicais, o que é óptimo, porque assim conseguimos alcançar um maior leque de pessoas e explorar várias vertentes. Um grande exemplo que podemos ter, é o facto de David Guetta ter "pegado" em várias estrelas do Hiphop, Rnb, Pop e com isto ter feito hits atrás de hits e chegado a mais público!
 
Para mim isto só prova que a música não tem limites, e muito menos tabus só porque o artista “X” fez uma música num género diferente do que é habitualmente conhecido...
 
Às vezes temos que ser ousados e ter coragem para arriscar, só assim é que se marca a diferença, esta é minha opinião não só como DJ mas como produtor também, pois não gosto de produzir um só género musical nem de estar "preso" a um catálogo musical "monocromático"!
 
O DJ "Open Format" (que é o meu caso) usa essa versatilidade musical. É um DJ multi-géneros porque não está vinculado a um só género musical, e quem me vê a atuar sabe que gosto de explorar um set de A a Z, Comercial? Underground? Rock, EDM, Dubstep e música de rádio? Pois bem, na altura certa há espaço para tudo, e não há nada melhor do que ter um público satisfeito depois de ouvirem (como diz o meu manager) um set à lá "DJ Roleta" (ahahah)! 
 
Ainda a reboque do meu modus operandi, passei recentemente pela necessidade de "voltar às origens" deixando o computador de lado sempre que a cabine o permite.

Nos dias que correm são cada vez mais as fusões entre estilos musicais (...)

 
Como DJ e depois de vários anos a tocar com o Traktor, decidi explorar o sistema pendrive com o Rekordbox. Confesso que o “desmame” está a custar um pouco, porque a minha carreira como DJ, como todos sabem, começou no hiphop/scratch, e o Traktor na altura foi o meu melhor amigo (eheh). O desafio do pendrive foi vantajoso por um lado, e desvantajoso por outro... Vantajoso porque acabam as dores de cabeça de chegar a um club e ter de montar computador, cabos, placa de áudio, etc, etc, muitas das vezes (quando tocava com vinyl) tinha de montar um setup à parte (mesa, pratos, traktor...) e na maioria das vezes as cabines não tinham espaço, e aí improvisava-se um palco... Era o chamado "ganda filme" cada vez que ia tocar. 
 
Essa é uma das vantagens do pendrive - rápido e eficaz... uma pessoa chega ao club com uma bolsinha para os fones e a pen, e está feito, sem ter que andar com a mochila do computador atrás e todo o equipamento envolvente. Neste momento vamos com um avanço de 10-0 pen vs traktor, mas calma ainda faltam as desvantagens.
 
Pois bem, para mim as desvantagens do pendrive são poucas, mas ainda assim dão alguma "dor de cabeça" coisa pouca, atenção. Uma delas é o motor de busca muito limitado (no computador basta escrever e aparece tudo... Já para não falar no display que é bem maior), sim porque nós, os DJs de “Open Format” temos muita música e às vezes viramos rapidamente de música e nunca temos um set definido, o que me obriga a ter 10x mais organização no pendrive do que no computador, para depois não "andar aos papéis" perdido em dezenas e dezenas de pastas e playlists na hora de tocar. A última desvantagem (não por culpa do pendrive) é o facto de nem todos os clubs possuírem CDJ 2000/CDJ 2000 Nexus, e aí tenho sempre que recorrer ao traktor! Nesse aspecto os CDJ 2000 Nexus e o pendrive são o "casal ideal" para mim, DJ de “Open Format” e Scratch. 
 
São estes os pros e contras dos diferentes sistemas, que espero ter dado a conhecer um pouco mais desta vertente e também do meu lado "pessoal" no que toca à minha forma de tocar. Um bem-haja a todos, e continuem a divertir-se com muita música. 
 
Instagram: @rustymusik
Publicado em Rusty
domingo, 17 setembro 2017 19:54

A máquina atrás do artista

Da minha objectiva este é um tema que já foi em certos aspectos mencionado, mas nunca abordado na sua plenitude. Mediante o meu ponto de vista singular esta é uma questão muito importante numa carreira artística, independentemente do género musical, pois para além de todo o trabalho efetuado pelo artista, é não menos importante o papel de quem o trabalha em conjunto, divulga e impulsiona, originando consequentemente todo o sucesso e fruto de um trabalho de equipa.
 
Numa era em que as tecnologias assumem cada vez mais um papel fundamental na divulgação do trabalho desenvolvido, neste caso por um profissional no ramo da música, não podemos de forma alguma descurar por exemplo quem faz a gestão de calendário (booker), "management" ou "advise" artístico, criação e elaboração de conteúdos, assim como quem se responsabiliza pela devida atualização de algumas das mais importantes redes sociais como o Facebook, Instagram ou Twitter.
 
Estes cargos ou responsabilidades, como queiram chamar, geram tempo livre para alguém como eu poder continuar a criar com a "cabeça livre" de todas estas preocupações "cibernéticas" e simplesmente focar-se na criação e atuações ao vivo. Obviamente que a maioria destas questões finais anteriormente deliberadas, são provenientes da minha palavra e aprovação final, contudo isso não coloca em causa a importância da "máquina" que trabalha comigo.
 
Faço parte de uma agência (Next Bookings), onde felizmente sinto todas as posições desde o "Manager" ao "Booker", passando pelos artistas gráficos (Feel Creations-Atelier Multimédia) até à contabilidade em perfeita harmonia, até nos dias mais difíceis… sim, porque nem sempre é tudo tão simples como parece.
 
Uma vez li um artigo em destaque numa revista mundialmente conceituada e dedicada ao ramo da eletrónica, onde mencionavam que um DJ atualmente tinha de ser: Relações Publicas, "Booking Agent", Designer, Programador Web, Profissional das Redes Sociais, Herói de Merchandising, etc… pode parecer algo exagerado, de facto até concordo… mas não se tivermos uma boa "máquina".
 
Resumidamente, se reunirmos os profissionais indicados de cada área específica e necessária na nossa equipa, aliados obviamente, ao nosso talento individual enquanto artistas, o resultado final será visível com sucesso e satisfação.

Miss Sheila
DJ
www.facebook.com/djmisssheilapt
Publicado em Miss Sheila
quinta, 07 abril 2016 14:37

Trabalhar com a música electrónica

Neste primeiro artigo de opinião de 2016, resolvi escrever sobre a "Pedra Filosofal" do novo Milénio - A Musica Electrónica. 
 
Tudo começou com o aparecimento dos DJs aos grandes palcos mundiais, com a especulação criada pelos Países Nórdicos da Europa e com o Marketing agressivo da indústria musical virada para o mercado electrónico. 
De um momento para o outro, os DJs eram as novas estrelas mundiais e tudo o que era "miúdo" quis ser DJ. Todos aqueles que não sabiam fazer mais nada, viram na profissão de DJ uma alternativa para fazerem alguma coisa, encher os bolsos e ter notoriedade e reconhecimento (pelo menos nas suas cabeças). 
O facilitismo em ser DJ era (é) tanto, que tudo o que era gente neste País foi DJ. Ias a um reality show e no dia a seguir eras DJ. Aparecias na TV, viravas DJ. Eras RP? Porque não ser DJ? Etc, etc. 
 
Rapidamente apareceram em Portugal a partir de 2009/2010 uns largos MILHARES de DJs mas tal como apareceram, também desapareceram e perceberam que afinal a "galinha dos ovos de ouro" não era o que parecia. 
Pelo caminho, muitos deles sonharam que, devido ao facilitismo, havia outros negócios que os fariam enriquecer com a música electrónica. Foram os anos em que toda a gente era produtor musical e abriram centenas de editoras discográficas. Ia tudo enriquecer com a venda da música mas, mais uma vez, não resultou...
 
Os Portugueses sempre foram "casmurros" e não desistem facilmente. Toda a gente tinha de conseguir enriquecer com a música electrónica. Mas como? 
Foi a altura dos agentes/agências de artistas. Tudo era agente artístico neste país. Ganhavam-se comissões de cachets de 40 euros só para poderem dizer que eram agentes ou que estavam no meio... Rapidamente viram que também não era este o caminho e chegámos aos últimos anos e à nova "descoberta" de como enriquecer com esta indústria - PRODUTOR DE EVENTOS. 
Hoje em dia está na moda ser Produtor de Eventos. Se é verdade que há muitos que se dão bem, a ganância deixa de lado a larga maioria de quem quer entrar neste meio. Se um evento corre bem, querem logo fazer outro no dia a seguir (dá sempre mau resultado). Se correu bem a primeira vez e as escolhas artísticas, dia, local, equipa de trabalho, etc. foi bem escolhida, no evento a seguir já dão tudo como garantido e o prejuízo é a única garantia que conseguem ter. 
 
Tudo isto é "Ser Português". Somos (ou tentamos) ser sempre mais espertos que os outros num país com 10 milhões de habitantes, uma mentalidade retrógrada quando comparada com países como a Holanda ou Alemanha, onde temos um mercado interno muito curto, com pouca expressão mundial na música electrónica mas onde tentamos furar como podemos. 
 
Os primeiros parágrafos deste texto deram-te a impressão de uma crítica rude da minha parte. 
A ideia foi essa mas o objectivo era outro. 
 
AINDA BEM que somos assim. Que apareçam DJs, RPs, Produtores de música, Produtores de eventos, Discográficas e tudo o que esteja ligado a esta indústria da musica electrónica. É o próprio mercado que irá encarregar-se de fazer uma triagem entre o "bom e o mau", quem fica e quem sai, quem vence e quem sai derrotado.    
O que realmente é mau é não haver "sangue novo", ideias novas, investimentos diversificados e que haja pessoas a errar. Os erros são sempre aprendizagem e em Portugal temos aprendido muito. 
 

Quem trabalha ou quer trabalhar neste meio, tem de perceber que a própria música electrónica está em constante mudança (…)

 
Um novo ciclo da música electrónica está a entrar. Os "nichos" estão a voltar a ser mainstream e os gostos do público já não são o que alguns diziam que era impingido pelas rádios e TV. O público escolhe o que quer e ninguém impinge nada nos dias que correm. A diversidade de comunicação e o fácil acesso à informação, não permite condicionalismos extremos seja a quem for. 
 
Agarrem no Ipod ou na "cloud" de um miúdo da Preparatória ou do Secundário e vejam o que ele lá tem para ouvir... Tem música que "Parte-me o pescoço" e a seguir um "hardcore" que me parte a cabeça, seguido do Justin Bieber, alternando com Hip Hop do Sam The Kid, Xeg e Dillaz e a seguir remata com Trap e acaba com Hardwell ou uma faixa do Anselmo Ralph, enquanto tem um set de Carl Cox que ouve todos os dias a caminho da escola. 
 
Quem trabalha ou quer trabalhar neste meio, tem de perceber que a própria música electrónica está em constante mudança e que já não é apenas aquela sonoridade a 4 tempos, compassada e com uns Kicks, Drops e uns Claps. É necessária uma adaptação aos novos tempos e por isso é que entrar gente nova no mercado é sempre essencial para esta indústria sobreviver. 
 
Que venha mais gente para este mercado e quem olhar para ti como concorrência ou falar mal de ti, é sinal que estás a fazer as coisas bem feitas. Precisamos de mais gente com ideias novas e vontade de trabalhar para elevar a fasquia da indústria musical portuguesa e é o próprio mercado que irá definir se és válido ou não para permanecer no meio.   
 
Ricardo Silva
Publicado em Ricardo Silva
quinta, 14 maio 2020 10:22

Não tenham medo de fazer música

Não, não vou falar do atual tema que tanto assombra o nosso trabalho, de nome COVID-19. Não vou falar em números, perdas, ganhos ou datas de quando tudo pode voltar ao normal. Hoje vou falar do que realmente nos une: a música. 

Nestas últimas semanas como tenho tido mais tempo, como todos nós, tenho estado a trabalhar muito em produções novas, e por isso até decidi trabalhar num EP. Algo que já queria há algum tempo, mas devido a outros trabalhos, atuações, lançamentos, etc., a que tive de dar prioridade, ainda não me tinha debruçado sobre o "assunto". Isto para dizer que acho fascinante a capacidade que nós temos para ser criativos quando temos algum tempo, tempo que sobra até... Deixo uma pequena mensagem direcionada para a malta, que, como eu, está dias inteiros agarrada ao computador a fazer música. 

Não tenham medo de explorar, de fazer Rock, Kizomba, Fado ou Hip-Hop. Não tenham medo de criar coisas novas e tirar o melhor partido deste dom que temos, que é o de criar música. Vamos deixar o "EDM" descansar um pouco. Acreditem, faz falta. Temos de "mudar de ares" para conseguirmos fazer o que gostamos cada vez melhor. Tentem samplar, gravar a vossa voz, gravem instrumentos, instalem plugins random, explorem outros meios de produção. Toquem piano, guitarra, bateria e até flauta. Vejam vídeos, documentários, filmes sobre música, ouçam temas de outras alturas, de outros estilos. 

Volto a dizer: façam isto sem medo. Estamos na altura certa de experimentar. Garanto-vos que vai aumentar as vossas skills de produção, vai estimular a vossa criatividade e fazer-vos ver algo para além de "puntz, puntz, puntz". Isto não é uma crítica ao "EDM" porque eu também gosto e faço com a mesma dedicação. 

Mas se explorarmos outras "áreas" temos mais hipóteses de evoluir as nossas capacidades dentro da música. A nível pessoal não temos de estar vinculados a um estilo musical - é importante não esquecer isso. Em primeiro lugar, antes de sermos DJs, Produtores, somos criativos, e se praticarmos da maneira certa, conseguimos fazer coisas incríveis e conseguimos chegar a resultados onde nunca pensámos chegar outrora. 

A música tem um tempo de consumo muito rápido e depois de tudo passar, é muito provável que existam novas tendências a aparecer, o que me leva a crer que se nós formos dedicados e criativos o suficiente, podemos fazer algo que se torne "novo". Não precisamos de mais música "igual". Eu próprio estou, como referi, a criar um EP onde aplico tudo o que disse anteriormente. Não, não vou deixar de ser ZINKO, nem deixar de fazer "EDM" mas vou lançar algo da minha autoria, onde mostro um pouco mais do que aquilo que tenho feito. Considero que há males que vêm por bem, talvez esta pausa na vida de todos seja o caso, talvez seja um "bónus" de tempo para nos reinventarmos como artistas, como criativos e como humanos. 

Façam muita música. Não tenham medo de a mostrar.
 
Publicado em Zinko
Todos falavam da iminência de uma nova crise, no final de 2019 era prognóstico que no ano seguinte era certo que uma crise económica nos iria bater à porta. Ninguém ligou, qual 1.º prémio do Euromilhões, que todos pensam que só sai aos outros, a crise veio por forma de uma pandemia que nos confinou todos em casa, que desacelerou a economia a velocidades perto do ralenti, fechou quase todos setores de atividade, foi democrática e ninguém estava preparado.

A noite foi das primeiras a fechar portas, mesmo antes do governo decretar o seu encerramento, já muitos cancelavam eventos e outros fechavam mesmo portas. Foi a primeira a fechar e, apesar dos esforços dos empresários desta indústria, parece estar a ficar para o fim sem data marcada para abrir portas. 

E que noite podemos nós encontrar? Como serão as discotecas e os bares adaptados a esta nova realidade? Tenho pensado muito neste assunto e não se admirem se aquilo que irei agora escrever seja diferente do que já tenha escrito no passado, mas a realidade é que, em virtude das informações e desinformações que tenho recebido, ao longo deste tempo de pandemia, tenho tido um comportamento quase bipolar e muitas vezes prefiro reduzir-me ao silêncio.

A pergunta é simples, é possível, com todas as restrições abrir uma discoteca ou um bar? Sem dúvida, todos os espaços podem abrir e, acima de tudo, têm o direito de abrir, coloquem todas as restrições, imponham as regras, exequíveis claro, mas permitam que cada empresário tome a decisão de abrir ou não, se pode e tem condições para abrir ou não, porque os seus clientes, os utentes da noite também têm o direito de escolher se vão ou não comparecer na noite. 

A palavra de ordem é "bom-senso", por parte de todos, os empresários e os utentes. Porque a realidade é esta: ou nos portamos bem ou, à imagem do ocorrido da Febre Espanhola, uma segunda vaga será catastrófico, por isso "juizinho". 

Tudo é possível, com peso e medida. Todos de máscara na noite? Será possível projetar uma noite onde todos estarão de máscara? Com certeza, até digo mais, pode ser muito divertido, com a certeza que a pista de dança saberá bem melhor. Covid-vos a dançar... Boa noite!
 
Zé Gouveia
Publicado em Zé Gouveia
sexta, 25 março 2016 21:44

O DJ Residente

Andando por aqui a explorar os temas que tenho em agenda para esta minha primeira crónica, decidi focar a importância do DJ residente num espaço noturno.
 
Na ideia e opinião de muita gente, o DJ residente não é mais do que um trabalhador habitual de um club que tem como função tocar ao início da noite, quando a casa se encontra ainda vazia e que ali está apenas a ‘encher chouriço’ como se diz na gíria popular, até que entre na cabine o convidado da noite, que esse sim é a estrela.
 
Nestes meus 16 anos de carreira como DJ, contei com 2 residências: uma de 2 anos e outra de 3 anos, sentindo-me como tal com capacidade de opinar livremente acerca daquilo que é um DJ residente e da suprema importância que ele tem para um club!
 
O DJ residente tem sido relegado para uma posição secundária na noite e cada vez mais se encontram espaços que não têm mesmo um residente. Parece que se esqueceu que o residente é o mais importante elo de ligação das normalmente 3 fases em que a noite se divide: Warm-up, Peak Hour e Closing.
 
O residente tem como principal missão preparar a noite para o convidado. Saber o que tocar e quando tocar. Levar o público ao encontro do convidado mas sem nunca chocar com a sonoridade que esse vai apresentar no seu set! Como residentes, temos de saber brilhar à nossa maneira.
 

(…) o residente é o mais importante elo de ligação das normalmente 3 fases em que a noite se divide: Warm-up, Peak Hour e Closing.

 
Aprendemos a conhecer as caras habituais do club e como tal, aprendemos a conhecer os seus gostos. Saber pôr o público a mexer deixa rapidamente de ser um problema e é com essa arma que muitas vezes salvamos a noite, ajudando também o convidado a familiarizar-se com o público que tem na sua frente. Tudo isto, sabendo sempre qual é o nosso lugar na noite e sem nunca querermos tomar a lead… lembrem-se: não são o ponto alto da noite.
 
É por isso que continuo a dizer que ser residente não é um trabalho fácil! Requer know-how, leitura de pista, trabalho de casa para com o convidado que vamos ter nessa noite, cultura musical acima da média, capacidade de gestão e acima de tudo saber conhecer as suas fronteiras. Muitos DJs falham isto e é por isso que vulgarmente vemos supostos residentes a fazer warm ups completamente desenquadrados daquilo que vai ser a noite, a reproduzirem musicas produzidas pelos convidados (parece um cliché, mas é uma situação que se repete frequentemente), a tocar ‘mais forte’ querendo mostrar ao convidado e às vezes ao público que também estão à altura do artista seguinte, mesmo ‘queimando’ completamente a noite… São pequenos detalhes mas muito importantes! Tão pequenos e tão importantes que até mesmo o nível de volume do som é para ter em conta. Sabemos o efeito que o som tem no nosso corpo… sentimo-lo como que se de uma batida de um coração se tratasse e é algo que marca o nosso ritmo ao longo da noite.    
 
Outra das situações recorrentes de muitos dos DJs residentes na atualidade é a de reproduzirem muita música antiga. Na tentativa de quererem fazer tão bem o seu trabalho de não querer ‘roubar’ o estrelato do convidado, acabam por pecar na sua playlist, reproduzindo muitas vezes a medo e recorrendo a temas mais antigos. Pessoalmente, considero isto um excesso! Há muita música nova e recente que não vai chocar com o trabalho do convidado. É certo que devemos guardar os chamados ‘hits’ para a Peak Hour, normalmente dominada pelo convidado, mas há muitos outros ‘hits’ de fácil uso no warm up. Mais uma vez , aqui encontramos os frutos do nosso trabalho de casa.
 
Assim sendo, se vos convidarem para ser residente, pensem primeiro se consideram ter os requisitos necessários para tal! Não é fácil! E não tomem esse trabalho apenas como uma oportunidade de atuar todas as noites sem terem de estar à procura de gigs, mas sim como uma escola, uma fonte de aprendizagem, que vos prepara para tudo. Até mesmo para os mais experientes, pois a arte de aprender é uma experiência contínua que devemos saber abraçar!
 
Pedro Carvalho
Publicado em Pedro Carvalho
sábado, 13 junho 2020 23:38

Tempo para meditar

Não faria sentido algum, neste momento, dissociar o mercado dos DJs e Produtores musicais do COVID-19.

Para ser sério, direi que foi o melhor que poderia ter acontecido. Não que tudo estivesse mal mas, a maioria encontrava-se no mau caminho.

Se no que diz respeito aos consagrados pouco haverá a dizer, já que vão garantidamente aproveitar para produzir música, retemperar forças e reaparecer ao seu melhor nível pois possuem situações financeiras que lhes permitem dedicar-se à sua profissão, o mesmo não se poderá dizer da grande maioria e, desta, opto por começar pelos mais novos.

Para estes, melhor do que um semestre de COVID-19 não poderia existir e, embora tema que não vá servir para grande coisa, penso que deveriam ter aproveitado para ler e ouvir música, que julgo ser aquilo que maioritariamente lhes faz falta. Por muito que as pessoas se contorçam com esta afirmação e que a mesma até possa ser vista como afronta, não o é.
 

Mudar, exigiu que os DJs educassem musicalmente o público e, contra ventos e marés, foi exactamente isso que aconteceu.


Se retrocedermos há vinte e muitos anos atrás, facilmente concluímos que, quando a música de dança começou a despertar entre nós, a maioria dos empresários e até clientes, afirmavam à boca cheia que não queriam "martelinhos". Mudar, exigiu que os DJs educassem musicalmente o público e, contra ventos e marés, foi exactamente isso que aconteceu. Dj Vibe, ao contrário do que muitos pensam, não caiu do céu, não foi obra e graça do Espírito Santo. Ouviu muita música e daí, não surpreende que ainda hoje detenha, através da parceria com Rui da Silva - Underground Sound of Lisbon - o maior êxito internacional que algum português alguma vez produziu e que perdura como hino "So Get Up" e que cada um dos seus set's seja uma viagem, naturalmente que uns melhores que outros. Depende do estado de espírito de cada um.

A maioria dos novos Produtores, que serão certamente os grandes da música de amanhã, não conhecem Música além daquela que hoje produzem. Não conhecem, sequer, clássicos de 70/80/90 quanto mais, um pouco de música clássica!

A maioria dos grandes nomes - atenção que estou essencialmente a falar do mercado nacional - foi residente, fez o seu percurso e cresceu. A maioria dos grandes nomes, sabe ir ao baú pois, tem conhecimento, história e arte, a tal arte que aprenderam nos anos 90 em que a máxima era; música é cultura. Se um DJ não educa a sua pista, apenas lhe resta ir copiando o sucesso do vizinho e, daí à maioria das pistas de dança estarem a passar cópias de lixo umas das outras, é o sistema reinante. Ninguém procura ter o seu público procuram sim, copiar o sucesso da pista ao lado seja ele qual for. E os produtores? Fazem exactamente o mesmo!

O COVID-19 veio, se não para safar isto, pelo menos, para voltar a baralhar e para dar de novo. Saiba a nova geração olhar para isto com olhos de ver. Perceber que não é por aquele ser kizombeiro que todos têm que ser kizombeiros ou, porque o que está a dar é a latinada, que Lisboa apenas tem que ouvir latinada em cada porta aberta.
 

Em Portugal, a maioria das rádios passa lixo durante as 24 horas do dia pois, a única preocupação reside nas audiências. Se for Zé Cabra ou Maria Leal que está a dar, é isso que irá passar.


O trabalho das rádios e dos DJs é de educar mas, para educar é preciso ouvir, saber, conhecer e procurar. Em Portugal, a maioria das rádios passa lixo durante as 24 horas do dia pois, a única preocupação reside nas audiências. Se for Zé Cabra ou Maria Leal que está a dar, é isso que irá passar. Quanto mais fácil, brega e sem nexo melhor. Tudo isto seria um cântico gregoriano se os DJs fossem DJs e não, maioritariamente, tipos que, por €50 euros/noite pagos por fora, assumem a categoria dos discos pedidos da senhora que passa a semana a ouvir Maria Leal na rádio e que vê na pista a forma de aplicar os seus trejeitos mundanos entre três vodkas.

Por sua vez, os mais novos, cuja maioria de música pouco percebem, independentemente de existirem alguns com grande valor, ao ser-lhes dada uma oportunidade, agarram-se aos potenciómetros da mesa e aplicam golpes de karate noite fora como que a correr com todos os que estão à sua frente, excepção feita claro está, aqueles vinte que são a sua falange de amigos pessoais e respectivas namoradas. Depois choram-se, o mercado não lhes dá oportunidades, é ingrato, são os malditos lobbies. Não, os proprietários das casas e promotores de festas, precisam é de manter os clientes, não que corram com eles.

Ao contrário daquilo que vou vendo nos cursos para DJs e Produtores disponíveis no mercado, nenhum indivíduo sem o mínimo de cultura musical poderia ter aprovação em qualquer curso destes. É quase como dar uma catana para as mãos de um atrasado mental. Pode alguém que não conhece música educar maiorias? O resultado está à vista de todos e, só não vê quem não quer. Acaba o cliente por ter que fugir, o segurança, saturado, perder a cabeça, o porteiro, preferir ficar do lado de fora da porta, a barmaid utilizar O.B.s nos ouvidos e, claro, o empresário a coleccionar contas, a ter que mudar de empresa e a deixar rasto como o caracol.

Sobre a injecção de "live's" que temos levado nos últimos 70 dias, direi o seguinte. Será difícil perceber que, tirando casos pontuais de festivais - que para mim, mesmo assim, não fazem qualquer sentido - pois ninguém está em casa de castigo a ouvir um doido a gravilhar como se de uma cabine de um jardim zoológico se tratasse! Maioritariamente não há música, há barulho.

Aconselho, para este período, voltarem a ouvir Opus de Eric Prydz até o perceberem. É simples e eficaz, possui musicalidade e é um exemplo moderno de algo com princípio, meio e fim.
 
Miguel Barreto
Publicado em Miguel Barreto
quarta, 08 outubro 2014 22:28

Teremos sempre Paris

Parece que já lá vai, sem ter chegado verdadeiramente.
Foi um verão atípico que aqueceu pelos motivos menos evidentes e que teve como acendalha uma loira fleumática.
 
É curioso porque recordo, nítida e claramente, de ouvir o Bernardo Macambira falar nisto: "devíamos era trazer a Paris Hilton a Portugal!"
Na altura, a sex tape da loiríssima herdeira do império Hilton era mais importante que qualquer #bendgate. Brejeirice à parte.
 
Por outro lado, no éter e no clubbing vivíamos uma gloriosa época de bons beats e criatividade. As "presenças na noite" eram coisa de um género de Verão interior feito de decotes e de saias muito curtas.
 

Do outro lado da barricada, com a mesma irada tinta, imprimem-se notas para pagar um cachet que se acredita milionário.

 
Devem ter passado muitas estações, muitas modas que nunca foram compridas, até esta em que acordamos com o anúncio da presença de Paris Hilton em Portugal enquanto DJ. 
 
Correm rios de tinta: as redes sociais espumam-se em opiniões várias. Do outro lado da barricada, com a mesma irada tinta, imprimem-se notas para pagar um cachet que se acredita milionário.
 
Imagino o Macambira a rir. Dou por mim a pensar o quão legítima é esta transformação.
 
Conforme os DJs evoluíram para prestações nas quais se evidenciam enquanto verdadeiros entretainers, as "presenças" também tiveram de se reinventar para continuar a ter trabalho. 
 
Já sei: "A Paris Hilton não precisa". Pois, pois não: mas precisa de olear a máquina da fama que faz com que não precise. Presença habitual nos melhores clubs do mundo, Paris a Empreendedora conseguiu encontrar a forma certa de continuar a fazer dinheiro. Se é DJ, se é de esperar um set inovador, surpreendente?
 
Mas é por isso que alguém "vai ver" a Paris Hilton? A expressão está lá: "ver", que ouvir é outra coisa.
 
Afinal, ainda que separadas por um oceano de dinheiro, não há todo um segmento no mercado nacional que está na cabine para - essencialmente - ser visto?
 
Teremos sempre Paris. A dar o mote.
 
Até porque música é amor, mesmo em tempo de guerra digital.

 

Publicado em Mariana Couto
quarta, 28 maio 2014 18:55

O futuro da EDM

Corro o risco de esta crónica entrar na história da 100% DJ como a menos popular, ainda assim acho que tem que ser feita. Odeio quando as pastilhas elásticas perdem o sabor e é neste ponto que a EDM está neste momento. Foi-nos apresentada com uma embalagem muito cativante cheia de cor e quando demos a primeira trinca era fenomenal: uma autêntica explosão de sabor. Mas foi perdendo o sabor à medida que a fomos mastigando incessantemente.
 
Exagerou-se em tudo. Na quantidade de músicas, de "novos produtores", de versões 2.0, 3.0, 50.0 de hits. Perdeu-se a alma e a essência. De todo o oceano de faixas lançadas nestes últimos anos, contam-se pelos dedos as que ficarão para a história da música electrónica dentro de uns anos. É o que acontece quando as pastilhas elásticas deixam de ter sabor, deitamos fora e nem nos lembramos mais delas. Simplesmente comemos outra quando nos apetecer. O sabor é o mesmo, o que importa é a novidade.
 

Tudo foi feito para não deixar morrer a EDM.

 
Por outro lado, neste processo, pecou-se em muito pouca coisa. Não sou dos que acha que houve falta de criatividade. Criatividade foi o que não faltou na EDM. Reinventou-se o Dubstep, reinventou-se o Minimal, reinventou-se o Tribal, o Hip Hop, e até - pasmem-se - o Reggaeton. Tudo foi feito para não deixar morrer a EDM.
 
E a EDM não morreu. Não sou dos que acha que "isto está tudo a mudar" só porque um dia acordámos com mais faixas de deep/tech no top 10 do Beatport do que de EDM. Isso é fácil de explicar. Houve muitos bons lançamentos de Deep/Tech e não tão bons lançamentos de EDM, nesta semana. É só isto.
 
A EDM tem uma característica que nunca outro estilo musical dentro da dance music teve. Tornou-a em pop music. Música que eu oiço, tu ouves, mas também a minha mãe, o teu avô ou a tua filha. Toda a gente ouve. É mainstream. E o mainstream, meus caros amigos não acaba, reinventa-se.
 
E é exactamente essa a minha previsão - que vale o que vale, ou seja muito pouco - a EDM não morre, reinventa-se. É preciso dar-lhe alma. Fundi-la com música. Com reggae, com hip hop, com world music, com as raízes do house, do techno, do deep, do jungle, enfim, com tudo.
 
Mais do que nunca, é preciso criatividade, porque uma coisa é certa: quem continuar no caminho fácil do "mais do mesmo" vai definhar.
 
Hugo Serra Riço
Publicado em Nightlife
E aqui estamos nós, quase um ano e meio depois. É realmente uma prova de fogo esta pela qual nos estão a fazer passar. Milhares de live streamings nas redes sociais a custo zero depois, a vida e futuro dos DJs e de todos os que estão ligados ao setor nocturno permanece uma verdadeira incógnita. 

Cada vez mais uma incerteza, esta profissão tende em se manter viva à conta de todo um novo circuito, constituído por restaurantes e esplanadas dos mesmos, a fazer o nosso trabalho por aquilo que nos quiserem dar. Se antes já não era uma forma de sustento fácil, agora acabamos por ficar entregues nas mãos de um sector que obviamente não tem o mesmo grau de profissionalismo que permitiria a este sector artístico a dignidade mínima para poder exercer o seu trabalho, mas que neste momento tem a faca e o queijo na mão. A realidade é que dou por mim a não querer pensar muito naquilo que poderá vir a ser o futuro da minha profissão, pelo simples facto de não saber se existirá um. 

Completamente ignorados por quem governa e toma decisões no nosso país, acaba por ser frustrante olhar para trás e relembrar todo o passado recente, que envolveu sacrifícios e muito trabalho, mas que no presente não serve absolutamente para nada. Cada vez mais parece que o desejo de quem toma as decisões é passar a designar como restauração apenas os restaurantes, os grandes beneficiados com esta pandemia, uma vez que parecem ser, cada vez mais, os grandes meninos queridos do Governo. 

Pintados como os bichos papões de tudo o que de mal acontece neste país, mesmo sendo os únicos que se encontram encerrados desde o início de todo este enredo, sim, porque o insulto que nos fizeram, ao equipararem os bares e discotecas a meros cafés como forma de podermos trabalhar sem condições nenhumas para a nossa área vai ficar para a história, os bares e discotecas continuam a ser objecto de uma tentativa de aniquilação colectiva sem precedentes num estado de direito, sendo que a única coisa que podemos fazer é assistir de uma forma quase tortuosa, à destruição do trabalho de milhares de pessoas, sejam elas artistas, proprietários, profissionais de bar ou seguranças, entre muitos outros. 

A perseguição das forças policiais, com ameaças de autos de contra-ordenação  e discursos agressivos como se estivessem a falar com criminosos, apenas uma mão cheia de minutos depois do horário "permitido" por lei, torna-se não só insultuoso, mas cada vez mais revoltante, fazendo-nos sentir como marginais, mas daqueles que pagam as suas contas, impostos, seguranças sociais e todas as suas obrigações como qualquer português, tirando os da elite, é claro. 

É com muita tristeza que vejo que temos um Governo que não percebe que ao fecharmos o nosso sector em Março de 2020, o fizemos em prol da saúde pública, para bem de todos os portugueses, perdendo com isso milhares e milhares de Euros, perdendo basicamente a nossa independência financeira. Sim, nós fizemos um favor ao país, esta é a verdade! Semana após semana apenas a esperança nos vai mantendo lúcidos o suficiente, para podermos apenas continuar a ter mais esperança, enquanto assistimos a uma Europa toda a devolver a vida aos nossos colegas de sector. Ainda bem para eles, nada de confusões, mas é decepcionante perceberes que estás num país que não sabe reconhecer todos os sacrifícios que foram feitos por ele.

Assistimos a eventos políticos, privados e para a Europa ver onde tudo lhes é permitido, enquanto o nosso sector tem que permanecer quieto e sem se poder queixar muito. Muito sinceramente custa-me um pouco a perceber o porquê desta discriminação e autêntica indiferença, nenhum outro sector passou por semelhante situação na nossa sociedade. À hora que escrevo este texto, já nem me consigo lembrar da última vez que passei música, nem sei se alguma vez voltarei a passar, mas aquilo que sei com toda a certeza é que agora compreendo um pouco melhor tudo o que o meu avô me contava acerca dos tempos da ditadura em Portugal. A pior coisa que, como seres humanos podemos sentir, é realmente sentirmo-nos ostracizados, marginalizados e absolutamente condicionados naquilo que são os nossos direitos básicos como seres humanos. 

É triste olhar para este belo país que é Portugal e vê-lo tão feio, tão descolorido e mau. Enfim, ainda temos a nossa esperança, a esperança que um dia iremos acordar e todo este pesadelo terá desaparecido... ou não!
 
Publicado em Carlos Vargas
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