Existe um filósofo francês chamado Paul Virilio que defende que, na sociedade actual, é a velocidade o que define os vencedores e os líderes. Nas palavras dele: “a velocidade da luz já não transforma o mundo, a velocidade da luz é hoje o mundo”. Nada mais correcto. A meu ver, a velocidade é hoje a força motriz de qualquer pessoa. Todos estabelecemos prazos - cada vez mais curtos - para alcançar objectivos e encaramos como falhanço se não os alcançarmos. A nossa sociedade hoje funciona assim. É refém da velocidade. Fazer bem é fazer rápido.
 
É certo que este é o mundo em que vivemos. Se olharmos para o que nos rodeia percebemos facilmente que as músicas se tornam facilmente epifenómenos. Basta pensar que há não muitos anos atrás, hits mundiais das pistas de dança subsistiam no tempo e, hoje em dia, é bastante improvável apanhar os hits de 2013 ou 2014 em 2015. Nos próprios radioshows dos top DJ’s da actualidade há uma quase obsessão com a novidade e a exclusividade. É mesmo difícil em grande parte deles encontrar “músicas já editadas”, quase como se as músicas por já terem sido editadas ultrapassassem o prazo.
 
Este, a meu ver é um dos principais problemas da nova geração de produtores e DJ’s que surgiu nos últimos dois / três anos. É obcecada com a velocidade. Quer, a todo o custo, fazer rápido. Mas atenção que fazer rápido não significa fazer bem. Mas o erro não está em querer fazer rápido. O erro está em só querer fazer rápido, ou, de outra forma, só admitir como sucesso fazer rápido.
 
A verdade é que o insucesso gera frustração. E, em grande parte das vezes, o insucesso e a frustração são nada mais que sinónimos de impaciência. Todos olham para fenómenos como Martin Garrix ou Madeon e pensam “também quero ser um prodígio de 16 ou 17 anos, cheio de sucesso”. Mas esquecem-se que estamos a falar em primeiro lugar de artistas com uma estrutura profissional gigantesca e em segundo lugar de artistas que, apesar da juventude, já cá andam há alguns aninhos. 
 

O talento só não é premiado quando os talentosos desistem. Parece um cliché, mas é assim que a vida funciona.

 
Por isso quando se sentirem frustrados, ou a achar que vivem num mundo cruel em que só não têm sucesso porque “o público não tem cultura”, “nenhuma agência aposta em mim”, “não tenho um bom estúdio”, “não tenho dinheiro para investir”, “nasci no país errado”, pensem que grande parte dos top DJ’s da actualidade, tirando poucas excepções, construiu uma carreira ao longo de 5, 10 ou 15 anos antes de chegar ao topo. É como em tudo, nenhum recém-licenciado começa a trabalhar como Director numa multinacional. Se for um prodígio, trabalhar e fizer tudo bem, certamente lá chegará. E sim, em Portugal como em tudo, as coisas obviamente demoram um bocadinho mais.
 
Não estou a dizer para serem passivos ou abrandarem o ritmo. Nada disso. Apenas que precisam de conviver com o tempo, tendo sempre em mente que o talento é sempre premiado. Mais tarde ou mais cedo. Pode tardar, mas é quase uma inevitabilidade. O talento só não é premiado quando os talentosos desistem. Parece um cliché, mas é assim que a vida funciona. É como diz o ditado: “Roma não se fez num dia”.
 
Hugo Rizzo
Publicado em Hugo Rizzo
quarta, 03 junho 2020 23:04

(Des)governados

Atravessamos momentos únicos da nossa vida e ninguém consegue fazer futurologia. Estamos completamente desgovernados por tudo, por todos e também por nossa culpa por não sabermos antecipar problemas.

Apesar de tudo, há algo que sempre iremos conseguir fazer - adaptação aos novos desafios. 

Existem DJs desde o tempo em que a tecnologia permitiu que uma única pessoa conseguisse "tocar musica gravada" (excluindo o aparecimento das grafonolas) e sempre houve adaptações e mudanças.

Provavelmente, nunca terá havido tantos recursos tecnológicos que permitissem adaptações como existem nos dias de hoje e cabe a cada um de nós pensar e implementar essas adaptações.
 
É certo que todos estamos desgovernados e até desesperados porque a principal fonte de rendimentos de um DJ é por norma as suas actuações e não havendo eventos ou espaços físicos com público para o fazer, as alternativas são escassas. O streaming é a opção lógica mas jamais poderá trazer a rentabilidade, o sentimento, a "magia" das actuações em "contacto" com o público, no entanto não nos podemos esquecer que num passado recente, muitos DJs usavam a rádio para ganhar a notoriedade que têm nos dias de hoje e as diferenças para um streaming são apenas em termos de imagem e suporte em que são transmitidas. 
 

Não tenho a pretensão de imaginar ou prever o futuro deste sector mas tenho a certeza que servirá como triagem para muitos amadores e profissionais ficarem pelo caminho (…)


Não tenho a pretensão de imaginar ou prever o futuro deste sector mas tenho a certeza que servirá como triagem para muitos amadores e profissionais ficarem pelo caminho, deixando a quem tenha perseverança um caminho aberto para o futuro quando esse mesmo futuro voltar a permitir o regresso dos DJs ao seu habitat natural. 

Sim, estamos desgovernados (todo o sector e não apenas os DJs) mas não existem soluções no imediato. 

Nada será como foi e com maior ou menos adaptação, maiores ou menores mudanças, o DJ pode estar "infetado" mas não irá "morrer".
 
Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
Nunca como hoje foi tão necessário vivermos uns para os outros. Perante as dificuldades causadas pelo medo e pela incerteza, todos conhecemos pessoas que acham que não passa tudo de uma grande mentira, outras que acham que a pandemia foi criada pelo homem, e ainda outras que afirmam que a Covid-19 não passa de uma gripezinha e que temos é que viver normalmente ignorando as consequências...

Com este debate entre tantas opiniões diferentes, que nos fazem agir de formas díspares face ao problema que a humanidade vive, 17 meses depois ainda não conseguimos obter um consenso sobre o comportamento a adotar. Enquanto uns acham que fizeram melhor que os demais, outros acham que estão no caminho certo, e os mais pobres não têm hipótese de fazer de forma diferente!

Será este um problema das democracias, que não tem poder para impor regras unânimes de forma autoritária, estando estas limitadas a recomendar a vacinação para todos aqueles que podem ser vacinados? 

Será que esta pandemia poderá causar um desequilíbrio político-social a nível mundial e potenciar o regresso de movimentos autocráticos, de regimes ditatoriais? Somos diariamente e crescentemente confrontados com agressões por grupos de jovens desesperados com a ausência de um futuro, com crimes domésticos, com violência sobre os mais fracos e sobre as mulheres em geral, com violência e abuso de crianças, com assaltos e um desrespeito generalizado pelas forças da ordem! Caso os regimes democratas não optem por endurecer as medidas de contenção e, ao mesmo tempo, de proteção aos mais vulneráveis, estarão a abrir a porta a populistas com vontade de se apresentarem como justiceiros do povo e salvadores da Pátria. 

A desconfiança que se instalou entre as pessoas, nos locais de trabalho, na sala do restaurante, nos transportes públicos, na fila do supermercado e até no próprio seio familiar, fez com que a proximidade e o contato - o mero abraço ou beijo ao pai, à mãe aos avós - sejam um gesto que acarreta riscos que não nos atrevemos a correr. 

Chegamos, aliás, a um ponto em que estão em causa os hábitos e a estrutura sociocultural existentes nos países ocidentais.

Dito isto, é agora tempo de falarmos de cultura e de entretenimento, tal como estávamos habituados a viver. E digo estávamos porque não sei se iremos retomar esses hábitos em breve - na realidade a cultura e o entretenimento, nos seus formatos pré-pandémicos, implicam o ajuntamento de centenas, milhares de pessoas que, em conjunto, saltam, riem, se abraçam e beijam... Todos esses comportamentos que nos fazem felizes, permitem-nos descontrair e descomprimir de uma semana de trabalho ou de um momento menos bom na vida. 

Será que vamos em breve voltar ao dito normal de 2019, ou recomeçar no formato de há de 40 anos, onde tudo tinha menores dimensões? Apesar da enorme vontade de voltar aos festivais de grandes proporções, as regras sanitárias vão ditar já de si algumas restrições que, aliadas à crise financeira, ao aumento do desemprego e consequente perda de poder de compra, e conjugadas com o medo e algum trauma coletivo em voltar a grandes multidões, irão certamente ter um forte impacto na indústria da cultura e entretenimento. 

Se esta for a possível normalidade nos próximos dois anos, acredito que está na hora de todos nos adaptarmos, acreditando que vai ser possível regressarmos aos nossos eventos, agindo em conjunto para o bem de todos!
 
José Manso
Publicado em José Manso
terça, 03 outubro 2017 19:14

Os Deejays e o respeito pela arte...

Num mercado em constante mudança, todos os Deejays (ou aspirantes) deveriam evitar ceder à tentação de apenas acompanhar e imitar tendências já existentes. Uma coisa, como Produtor, é aplicarmos as influências que todos temos na nossa música, e que fomos conquistando ao longo da nossa vida, quer seja à frente da cabine ou atrás, outra é pura e simplesmente tentar copiar o que estará eventualmente na moda do momento apenas porque se parte do princípio que essa será a fórmula para o sucesso, seja lá qual for a sua interpretação. A personalidade de um artista vê-se pela sua capacidade de adaptação ao passar das tendências sem desvirtuar a sua própria identidade, e penso que aqui começam a residir grande parte dos problemas relativos à longevidade da carreira de um Deejay ou Produtor, seja em Portugal ou em qualquer parte do mundo. Talento, perseverança, capacidade de sofrimento, amor à profissão e cada vez mais saber estar atualizado em áreas como como a Promoção, Marketing ou Imagem (estas últimas áreas deixarei para a minha próxima crónica de opinião, até porque a Sheila já se focou, e muito bem, neste tema), são cada vez mais factores fundamentais para se conseguir vingar numa profissão onde até há pouco tempo atrás bastava ser-se conhecido, ter uma cara bonita e levar muitos amigos atrás (sim, em momento algum referi a palavra música). 
 

Passar música para uma pista ou fazer música sozinho num estúdio, não poderá nunca ser resumido apenas ao factor negócio (…)


Acaba por ser um passo mais do que esperado o desaparecimento precoce dos mais variados nomes que chegaram a inundar as nossas pistas de dança de uma maneira vertiginosa mas que chegada a altura de colocar em prática algum dos predicados acima referidos os fizeram desaparecer com a mesma rapidez com que apareceram. Como em tudo na vida o amor à nossa arte é o que sustenta tudo e é preciso realmente ter uma abnegação muito grande para seguir em frente, por muito duros que sejam os obstáculos. Felizmente o nosso mercado está a mudar, a fasquia da qualidade está cada vez a ficar mais exigente e parece-me a mim que as coisas começam a ficar cada vez mais arrumadas nos seus devidos sítios. Passar música para uma pista ou fazer música sozinho num estúdio, não poderá nunca ser resumido apenas ao factor negócio, no fim acabará sempre por ter que vir de dentro aquilo que realmente vai tocar os nossos fãs, críticos, promotores, seguidores ou colegas de trabalho. No caso específico da produção não basta acordar de manhã e pensar que seria giro ser produtor, só porque todos os outros o são e até fica bem no flyer. Tal como na vertente do Deejay, para se ser Produtor musical é preciso ter predicados únicos que não poderemos de forma nenhuma ignorar por pensarmos que um qualquer "sample pack" juntamente com o fácil acesso a um programa de produção nos vai fazer evitar ter que trabalhar e estudar para podermos criar livremente sem limitações.
 

(...) não é por o nosso vizinho nos dizer que até temos jeito para a coisa que vamos pensar que encontrámos a nossa vocação.


Não poderemos nunca encarar tudo isto de uma forma leviana, como em todas as áreas temos seres humanos que têm aptidões para desempenhar o seu trabalho e outros que não, e não é por o nosso vizinho nos dizer que até temos jeito para a coisa que vamos pensar que encontrámos a nossa vocação. Carisma, personalidade e capacidade de integração não são características que possamos fingir, ou as temos ou não, e a consciência desses factores são determinantes para a nossa realização pessoal e acima de tudo para uma arte que cada vez mais precisa de ser respeitada. Seguir esta vida é tudo menos ser-se reconhecido, ter bebidas de borla ou entrar sem esperar na fila dos clubs ou festas da moda, é sim, estar preparado para sacrifícios sociais, pessoais e familiares que muitos de vocês que estão a ler esta crónica saberão do que estou a falar, porque certamente já o viveram. Ser Deejay é ter tudo menos uma vida normal, é ter que sacrificar tudo em prol de uma causa e estar preparado para sofrer as consequências, sendo a nossa grande recompensa a realização de ver quem está à nossa frente levantar os braços e esquecer os seus problemas nem que seja por um par de horas. Eu pessoalmente não gosto muito de pensar em planos muito alargados para a minha carreira, gosto de trabalhar no dia a dia e acima de tudo sentir que o que faço tem um sentido válido para mim, para aqueles que estão próximos de mim e para quem me ouve e segue. Tudo o que vier além disso acaba por ser agradável bónus que tem que saber ser muito bem gerido. Muitas vezes penso que a próxima data poderá muito bem ser a última, que posso estar a fazer a última viagem, a última conversa no carro com o meu agente, a visitar o último hotel e por isso mesmo todos os dias sinto mais força para continuar a desemprenhar a minha função nesta vida, que profissionalmente é sem dúvida nenhuma a música.

Muitas vezes recebo mensagens de pessoas que me perguntam o que devem fazer para serem Produtores, que programa utilizar ou que curso tirar e a todos dou uma resposta que se calhar não gostam de ouvir, que é aprender a tocar um instrumento musical, afinal estão a fazer música e provavelmente o primeiro ano até é chato, mas passados dois ou três até vão começar a achar piada e começar realmente a desfrutar da beleza única que é a linguagem musical. Penso que se calhar essas pessoas acham que é desperdiçar muito tempo, não me parece que seja muito essa a resposta que esperassem ouvir, cada vez recebo menos mensagens dessas... Mas o essencial a retirar deste pequeno exemplo, é que sem esforço e determinação até podemos conquistar pequenas coisas, mas as grandes estão destinadas a quem vê a luz que aparece na altura em que tudo parece negro e acabou, qual sinal que te diz para continuares em frente, porque o resto não interessa, mesmo que tudo em ti te faça questionar os porquês, porque nada parece fazer sentido. O melhor de tudo é que tenho a certeza que muitos de vocês com certeza que percebem o que quero dizer e se identificam com o que aqui escrevi desta vez, e se por acaso não, aconselho vivamente a procurarem outro objectivo de vida. 

Eu tenho a certeza da minha vocação e propósito nesta vida, e tu?
 
Publicado em Carlos Vargas
quarta, 10 setembro 2014 22:27

O que é um DJ 'open format'?

Muitas pessoas perguntam-me o que é um DJ de "Open Format", como tal, decidi escrever esta crónica para poder esclarecer essa dúvida persistente sobre este "novo" formato de DJ.
 
A indústria musical tem evoluído de uma forma bastante sólida, já lá vão os tempos em que um artista de Rock só fazia Rock, e um artista de Hiphop, só fazia Hiphop. Nos dias que correm são cada vez mais as fusões entre estilos musicais, o que é óptimo, porque assim conseguimos alcançar um maior leque de pessoas e explorar várias vertentes. Um grande exemplo que podemos ter, é o facto de David Guetta ter "pegado" em várias estrelas do Hiphop, Rnb, Pop e com isto ter feito hits atrás de hits e chegado a mais público!
 
Para mim isto só prova que a música não tem limites, e muito menos tabus só porque o artista “X” fez uma música num género diferente do que é habitualmente conhecido...
 
Às vezes temos que ser ousados e ter coragem para arriscar, só assim é que se marca a diferença, esta é minha opinião não só como DJ mas como produtor também, pois não gosto de produzir um só género musical nem de estar "preso" a um catálogo musical "monocromático"!
 
O DJ "Open Format" (que é o meu caso) usa essa versatilidade musical. É um DJ multi-géneros porque não está vinculado a um só género musical, e quem me vê a atuar sabe que gosto de explorar um set de A a Z, Comercial? Underground? Rock, EDM, Dubstep e música de rádio? Pois bem, na altura certa há espaço para tudo, e não há nada melhor do que ter um público satisfeito depois de ouvirem (como diz o meu manager) um set à lá "DJ Roleta" (ahahah)! 
 
Ainda a reboque do meu modus operandi, passei recentemente pela necessidade de "voltar às origens" deixando o computador de lado sempre que a cabine o permite.

Nos dias que correm são cada vez mais as fusões entre estilos musicais (...)

 
Como DJ e depois de vários anos a tocar com o Traktor, decidi explorar o sistema pendrive com o Rekordbox. Confesso que o “desmame” está a custar um pouco, porque a minha carreira como DJ, como todos sabem, começou no hiphop/scratch, e o Traktor na altura foi o meu melhor amigo (eheh). O desafio do pendrive foi vantajoso por um lado, e desvantajoso por outro... Vantajoso porque acabam as dores de cabeça de chegar a um club e ter de montar computador, cabos, placa de áudio, etc, etc, muitas das vezes (quando tocava com vinyl) tinha de montar um setup à parte (mesa, pratos, traktor...) e na maioria das vezes as cabines não tinham espaço, e aí improvisava-se um palco... Era o chamado "ganda filme" cada vez que ia tocar. 
 
Essa é uma das vantagens do pendrive - rápido e eficaz... uma pessoa chega ao club com uma bolsinha para os fones e a pen, e está feito, sem ter que andar com a mochila do computador atrás e todo o equipamento envolvente. Neste momento vamos com um avanço de 10-0 pen vs traktor, mas calma ainda faltam as desvantagens.
 
Pois bem, para mim as desvantagens do pendrive são poucas, mas ainda assim dão alguma "dor de cabeça" coisa pouca, atenção. Uma delas é o motor de busca muito limitado (no computador basta escrever e aparece tudo... Já para não falar no display que é bem maior), sim porque nós, os DJs de “Open Format” temos muita música e às vezes viramos rapidamente de música e nunca temos um set definido, o que me obriga a ter 10x mais organização no pendrive do que no computador, para depois não "andar aos papéis" perdido em dezenas e dezenas de pastas e playlists na hora de tocar. A última desvantagem (não por culpa do pendrive) é o facto de nem todos os clubs possuírem CDJ 2000/CDJ 2000 Nexus, e aí tenho sempre que recorrer ao traktor! Nesse aspecto os CDJ 2000 Nexus e o pendrive são o "casal ideal" para mim, DJ de “Open Format” e Scratch. 
 
São estes os pros e contras dos diferentes sistemas, que espero ter dado a conhecer um pouco mais desta vertente e também do meu lado "pessoal" no que toca à minha forma de tocar. Um bem-haja a todos, e continuem a divertir-se com muita música. 
 
Instagram: @rustymusik
Publicado em Rusty
domingo, 01 dezembro 2013 15:20

Como posso ser um DJ agenciado?

Resolvi puxar este tema no meu segundo artigo de opinião para a 100% DJ porque é algo com o qual sou confrontado diariamente.
 
Todos os dias recebo e-mails e mensagens via redes sociais com pedidos para agenciar artistas. De uma vez por todas, os artistas (especialmente os DJ’s) têm de perceber que não são os artistas que têm de procurar agenciamentos. Quando uma agência pretende representar um artista, não tenham dúvidas que farão tudo para o ter. 
 
Há muita gente que não consegue perceber que uma agência ou agente não é um centro de emprego, não é uma organização sem fins lucrativos e muito menos será uma instituição de caridade. 
 
As agências existem para proteger o artista, encaminhar e apoiar nas decisões da sua carreira, promover o produto (leia-se artista) e obter dividendos com o seu trabalho. Os artistas que pensam que ter um agente ou estar agenciado é ter um investidor, um empregado ou alguém que lhes vai meter dinheiro no bolso a troco de nada, vivem uma ilusão. O meu conselho é simples e directo... deixem de sonhar. 
 
Regra geral, uma agência ou agente, só trabalha com artistas que já tenham nome no mercado e que consigam obter dividendos para poder pagar o serviço de agenciamento. A ideia (errada) que os artistas têm, em que caso tenham um agente vão ter dinheiro, só entra mesmo na cabeça de alguns (neste caso de muitos). Possivelmente serei o único ou dos poucos agentes em Portugal que "foi buscar" artistas sem estarem no topo. Mesmo neste caso, fui eu que os contactei e a quem propus os meus serviços e em quem invisto por acreditar no trabalho dos mesmos. 
 
A diferença entre management e booking
 
Outra situação recorrente e que é confundida vezes sem conta pelos artistas nacionais, é a diferença entre management e booking. 
O que a larga maioria dos artistas querem, é um serviço de booking. Este é um serviço de marcações de actuações, onde o Booker recebe um percentual ou comissão pela marcação da data. Qualquer pessoa com conhecimentos e trabalho pode ser booker (até o próprio artista). 
 

Há muita gente que não consegue perceber que uma agência ou agente não é um centro de emprego, não é uma organização sem fins lucrativos...

 
São muito poucos os artistas que conseguem compreender que para terem actuações, precisam de um management profissional e de qualidade para que possam ter um booking em condições. Um bom management é essencial para quem quer entrar, permanecer e "crescer" no mercado. Outro dos erros recorrentes dos artistas nacionais é quererem fazer as "coisas" à maneira deles, mesmo tendo um manager. Se tomaram a decisão de ter um management, então sigam as directrizes de quem (à partida) sabe o que está a fazer, ou então façam vocês próprios o vosso management. 
 
Nunca devem esquecer que ambos os serviços são pagos. Seja o management, seja o "comissionista" (leia-se booker). Se vocês não trabalham de borla (ou pelo menos não deviam, salvo actuações promocionais ou de solidariedade), quem trabalha convosco também tem de receber pelo seu trabalho. 
 
Então como posso ser um artista agenciado?
 
Para seres agenciado, tens de perceber tudo o que foi mencionado anteriormente. Caso alguma agência ou agente "notar" em ti, eles próprios irão entrar em contacto contigo. Mas não desesperes... São inúmeros os casos em que fazer o próprio management e booking resultam da mesma forma (desde que trabalhes, tenhas formação e experiência ou pagues por serviços pontuais). 
 
Um artista tem de mentalizar-se que após acabar uma actuação, no minuto a seguir está novamente "desempregado" e que voltou à estaca zero (no que diz respeito a actuações). Um artista tem de olhar para si como um produto. Produto esse que tem de ser constantemente promovido/divulgado e que seja "apetecível" a sua aquisição. Nunca se podem esquecer que o vosso preço é proporcional ao retorno que dão, seja ele financeiro ou pelo serviço que prestam. 
 
Se não souberem o que fazer, mentalizem-se que têm de investir/pagar a alguém. Ninguém irá dar nada gratuitamente e as queixas que todos ouvimos diariamente de falta de oportunidades são meramente desculpas de quem não compreende que não existem negócios sem investimento. Se ninguém abre um negócio sem dinheiro, como é que querem ser um prestador de serviços sem investir? Poderão dizer-me que são artistas, que "fazem arte" mas mesmo assim, a arte vale o que alguém está disposto a pagar por ela e só a compra quem quer. 
 
Se estão neste meio porque gostam da "arte de pôr música" ou de a produzir, tentem perceber se há quem goste, se há quem a queira consumir e quem queira pagar por ela. Se querem viver da música, têm de ter um produto ou serviço que outros queiram comprar ou que sejam impulsionados a adquirir através da promoção da mesma. As regras de mercado são as mesmas para a música e para os artistas como são para uma lata de refrigerante ou para um quadro pintado por um artista ou pintor. Enquanto continuarem à procura de alguém para trabalhar por vocês, continuarem com a desculpa de que não são o que queriam ser porque não vos dão oportunidades e enquanto não perceberem que nem todos podemos ser aquilo que sonhámos, vão continuar a viver num "limbo" de onde dificilmente irão conseguir sair.
 

Um artista tem de olhar para si como um produto. Produto esse que tem de ser constantemente promovido/divulgado e que seja "apetecível" a sua aquisição.

 
Possivelmente este será o texto mais duro que escrevi até hoje para um meio de comunicação mas tinha de o fazer. A partir do momento em que queres envolver dinheiro, as regras para este meio são as mesmas do resto do mercado. 
 
Se achas que o teu serviço de DJ é uma arte ou se a música que produzes tem de ser comprada ou "consumida", tens de perceber que ninguém é obrigado a "ouvir-te" e só te pagam por isso se quiserem ou se deres retorno a quem adquire os teus serviços. A partir do momento em que queres envolver dinheiro, as regras para este meio são as mesmas do resto do mercado.
 
Desculpas como "ser DJ é ser educador musical" ou "não quero produzir música comercial mas quero que a comprem" é algo que não faz sentido nenhum nos dias de hoje. Ninguém te disse que eras professor de educação musical nem ninguém compra algo que não quer consumir. Aproveito ainda este texto para esclarecer que música comercial é algo "vendável" e que seja comprada/adquirida, seja ela de que estilo for, do mais underground ao mais pop. Há música alternativa que é extremamente comercial e artistas sobejamente conhecidos e reconhecidos. Ouvir produtores dizerem que se recusam fazer música comercial mas depois querem que ela seja comprada, é algo que ainda estou a tentar perceber a lógica. 
 
Hoje vou terminar por aqui porque já estou a entrar no tópico do meu próximo artigo de opinião mas não vos posso deixar sem umas palavras mais motivadoras depois de tudo o que escrevi. Não deixem de perseguir os vossos sonhos. Como alguém disse uma vez, "o sonho comanda a vida", só precisam de entender que se querem colocar o dinheiro no meio do vosso sonho, então deixam de estar a sonhar e têm de viver a realidade.
 
Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
quarta, 07 novembro 2012 21:04

Música...

 
Em 1990 o meu Ser despertou para uma nova tendência musical que invadia as rádios e pistas de dança em Portugal. Era muito novinho, mas lembro-me do fascínio que tais obras em mim provocaram. Eram momentos mágicos, deitado à noite a ouvir programas de rádio, gravações de cassetes, os primeiros vinis, etc., de música completamente diferente, nova, original, inteligente, cheia de sentido!
Tudo isso fez com que o sonho se apoderasse de mim. "É isto que quero, é o meu sonho!!"
Pois bem, durante 22 anos, aos poucos o meu sonho concretizou-se, eu sou o que sonhei ser, mais até talvez do que sonhava nesses tempos... Mas... E há sempre um mas...
 
Esta é uma crónica diferente, diferente das que se lê aqui, pois é intima, pessoal, mais até um desabafo. Vou falar da tristeza que sinto pela não compreensão e maus tratos que essa música e cultura que mudou o meu Ser à 22 anos sofre nos dias de hoje.

Estamparam recentemente a sigla EDM (Electronic Dance Music) para definir uma arte que já conta com mais de 30 anos de história. Estamparam porque a música de dança tornou-se extremamente rentável e como em tudo, tem que se criar uma marca à volta. Mas... Apenas chamam EDM a certos estilos musicais o que me confunde, levando a pensar que há estilos que são menosprezados, postos de lado, quando a arte é a mesma, e muitas vezes o intuito dessas obras muito mais genuíno. Um Deep House por exemplo não é uma faixa produzida electronicamente?? Ou um DJ de Deep House não rende tanto em termos monetários como um DJ de Electro, será isso? Pois bem, o conceito de EDM está então errado. Música electrónica é muito mais que Electro. Faz-me uma certa confusão existir uma definição de um todo, que define apenas uma parte que é neste momento a mais rentável. Lamentável.
 

Apenas chamam EDM a certos estilos musicais o que me confunde, levando a pensar que há estilos que são menosprezados, postos de lado, quando a arte é a mesma


Outra questão passa pelo que as redes sociais (mais concretamente FACEBOOK), abriram. As portas do RIDÍCULO! Parece que ter muitos "amigos" no Facebook vale não só entrar no TOP 100 da DJ Mag, como também se se quiser, editar uma música, remix, etc. É que muitas labels e artistas, a troco de "Likes", fazem "contests" a torto e a direito, sendo os vencedores os mais votados. É tudo muito bonito, não fosse aqui o caso por em questão a qualidade musical, pois ser um "Facebookiano famoso" não significa um bom produtor musical.
Nestes últimos tempos ouvi verdadeiras barbaridades e atentados musicais acabarem vencedores de alguns desses "contests"... É deveras preocupante que uma rede social consiga que editoras prestigiadas ponham de lado talento em troca de publicidade grátis, até porque "Likes" e votos na Internet podem ser forjados, mais grave até, comprados.

Adiante...

Não vou comentar o assunto Warm Up pois já o fiz na minha primeira crónica, mas reforço a ideia dessa mesma, que não sendo um Warm Up numa discoteca em que o residente tem mesmo que estar "calmo" em prol do bom funcionamento da casa, num festival o mesmo se passa. As pessoas vão estar ali horas e à uma da manhã, o primeiro ou o antes do cabeça de cartaz tem que ser contido. Ninguém lhe pede para passar Deep House, mas há várias maneiras inteligentes de conseguir um seguimento musical lógico com os vários artistas. Arrisca-se a brilhar aquela hora e quando entrar o cabeça de cartaz (supondo que é mesmo um dos bons), as pessoas já o esqueceram. E não, não queimou ninguém, queimou-se apenas a ele, aos olhos dos colegas e não contribuiu para a "festa", massacrando o público com música que se calhar não era para aquela hora, ou podia-se guardar, ou noutros casos, até nem tocar, se é que me faço entender. Trabalho de casa deve-se fazer, ter musica para várias horas também. Há casos de ser um DJ de um estilo/método de trabalho, etc, específico, e aí é o trabalho dele, ponto. Se a vontade é ser um DJ mainstream, tem que se conhecer e saber mais do que o TOP 100 do Beatport.

Posto isto, penso que está feita a confusão necessária para o ponto seguinte que tem a vêr com a falta de organização musical que reina no nosso país. É que hoje em dia não existem linhas musicais, chegando até ao ridiculo de quando estão mais que 2 DJs a tocar no mesmo evento, ouvirem-se as mesmas musicas repetidamente, dando a parecer que apenas existe um universo de 20 ou 30 musicas. Isto é RIDICULO! É inadmissivel que TOP DJs não arrisquem ou toquem música nova, eduquem, divulguem, surpreendam as pessoas. Eu lembro-me de ir ouvir TOP DJs e no fim pensar, "bem, que set foi este, saí daqui surpreendido, com novos horizontes. Que brutalidade!!".
 

Se a vontade é ser um DJ mainstream, tem que se conhecer e saber mais do que o TOP 100 do Beatport

 
Ouvir TOP DJs neste momento é já um cliché! Bootlegs com faixas rock/pop conhecidas nas quebras para o público cantar quando o DJ baixa o som, e/ou o TOP 10 geral do Beatport ou 100 do Progressive. Sem comentar um novo tipo de mistura que o MICROFONE trouxe… Claro que cada um sabe de si, mas penso que certos estatutos têm que ser mais, muito mais do que são agora e muitos até já foram. É que há valores em causa que alimentavam durante alguns meses muitas famílias Portuguesas. Se me vendem o TOP, quero ouvir TOP. E arrastar pessoas, já vi muita festa temática arrastar bem mais que um "TOP".

Dito isto, resta-me deixar aqui umas questões para reflexão. Porque não se unem os nossos "TOP" DJs como fizeram por exemplo os Holandeses? Será porque temos vários "Numero 1 Nacional" e eles não se entendem? Eu já tentei mais que uma vez uma junção entre vários artistas mas a resposta sempre foi negativa. Penso que a motivação neste momento é apenas monetária, levando a que cada artista queira única e exclusivamente ser "O PROTAGONISTA" e "O Nº1 NACIONAL".  Rótulos são rótulos e penso que um artista deve respirar a arte, vivê-la, deixar ela sim, ser a protagonista principal. Chega a ser "chato" os apelos desesperados que se vêem nas redes sociais, ora para votos, ora para "Likes" ou mesmo os "Posts" a roçar o infantil para as páginas do Facebook terem actividade.

Penso que todos devíamos reflectir um pouco e tentar olhar para o passado que tão bonito foi, e não estragarmos uma arte/cultura que tanto passou para ver a luz do dia, mas que assim que aqui chegou, foi prostituída…

Um bem haja a todos os colegas e profissionais do meio. Ao público, e a todos os que gostam de MÚSICA!
 
Massivedrum
www.facebook.com/massivedrum.official
Publicado em Massivedrum
domingo, 28 outubro 2018 15:23

Ainda e sempre a olhar para o tecto

Este não vai ser com certeza um texto que se tornará viral por ter alguma verdade sobre alguns elefantes escondidos na sala. Antes pelo contrário, a convite da 100% DJ fui desafiado a escrever sobre o entretenimento noturno em Portugal e embora com todas as vicissitudes, dores de crescimento e os afins e enfins, comuns a todas as indústrias, há também uma análise de desenvolvimento que é fundamental fazer. 

Ainda habita em muitas conversas de café a expressão "da noite" carregada de conotação negativa como se tudo se resumisse a uma caricatura do Cais do Sodré dos anos 80 com marinheiros, putas e caídos. Comecei a frase por "ainda" porque na verdade ela tem tendência a cair em desuso. 

Os últimos 20 anos mudaram a face da indústria como nunca. A música, o entretenimento, a tecnologia, os sonhos ao alcance de um teclado trouxeram uma nova vaga de apaixonados determinados em fazer mais e diferente, em encarar "a noite" com um novo olhar mais rigoroso e abrangente. Deixámos de lado o olhar de "merceeiro" e passamos a ter visão de gestores. E engane-se que a "mercantilização" nos trouxe marasmo ou rotina, virou-nos antes para a inovação, risco e novos horizontes. Fosse assim em todos os mercados. 

Somos hoje em Portugal uma indústria em pleno desenvolvimento e a competir com o melhor que se faz em todo o mundo. Para isso esta nova geração apostou em formação académica, mergulhou de cabeça no Mundo.Net e correu atrás de profissionalizar o setor. E se estamos longe de alguns mercados é mesmo apenas por dimensão de país mas que isso nada nos tire ao nível de entrega que fazemos. Os nossos clubes estão estruturados, pelo Algarve passam as melhores produções e nomes do mundo, os festivais de música são a areia do nosso Verão e os artistas internacionais encontram nas nossas cidades a inspiração que precisam. Somos a nova "qualquer coisa" que ainda não se definiu bem mas a verdade é que se sente em todo o lado que somos realmente qualquer coisa. 

Se muitos dos que estão a ler este texto têm mão neste advento há também muitos que ainda agora estão a começar, que ainda sozinhos pensam deitados no quarto "naquela" festa com "aquele" nome e "aquele" conceito. Venham daí as energias ainda guardadas e as ideias ainda por conceber e que sigam este caminho que tem hoje uma plataforma bem mais estruturada para percorrer. Os degraus são ambiciosos mas o resultado é incrível. E já agora, ainda passo muitas horas a olhar para o tecto e a sonhar com "aquela festa" que ainda não fiz. Mas sei que vou fazer!
 
André Henriques
Publicado em André Henriques
sexta, 25 março 2016 21:44

O DJ Residente

Andando por aqui a explorar os temas que tenho em agenda para esta minha primeira crónica, decidi focar a importância do DJ residente num espaço noturno.
 
Na ideia e opinião de muita gente, o DJ residente não é mais do que um trabalhador habitual de um club que tem como função tocar ao início da noite, quando a casa se encontra ainda vazia e que ali está apenas a ‘encher chouriço’ como se diz na gíria popular, até que entre na cabine o convidado da noite, que esse sim é a estrela.
 
Nestes meus 16 anos de carreira como DJ, contei com 2 residências: uma de 2 anos e outra de 3 anos, sentindo-me como tal com capacidade de opinar livremente acerca daquilo que é um DJ residente e da suprema importância que ele tem para um club!
 
O DJ residente tem sido relegado para uma posição secundária na noite e cada vez mais se encontram espaços que não têm mesmo um residente. Parece que se esqueceu que o residente é o mais importante elo de ligação das normalmente 3 fases em que a noite se divide: Warm-up, Peak Hour e Closing.
 
O residente tem como principal missão preparar a noite para o convidado. Saber o que tocar e quando tocar. Levar o público ao encontro do convidado mas sem nunca chocar com a sonoridade que esse vai apresentar no seu set! Como residentes, temos de saber brilhar à nossa maneira.
 

(…) o residente é o mais importante elo de ligação das normalmente 3 fases em que a noite se divide: Warm-up, Peak Hour e Closing.

 
Aprendemos a conhecer as caras habituais do club e como tal, aprendemos a conhecer os seus gostos. Saber pôr o público a mexer deixa rapidamente de ser um problema e é com essa arma que muitas vezes salvamos a noite, ajudando também o convidado a familiarizar-se com o público que tem na sua frente. Tudo isto, sabendo sempre qual é o nosso lugar na noite e sem nunca querermos tomar a lead… lembrem-se: não são o ponto alto da noite.
 
É por isso que continuo a dizer que ser residente não é um trabalho fácil! Requer know-how, leitura de pista, trabalho de casa para com o convidado que vamos ter nessa noite, cultura musical acima da média, capacidade de gestão e acima de tudo saber conhecer as suas fronteiras. Muitos DJs falham isto e é por isso que vulgarmente vemos supostos residentes a fazer warm ups completamente desenquadrados daquilo que vai ser a noite, a reproduzirem musicas produzidas pelos convidados (parece um cliché, mas é uma situação que se repete frequentemente), a tocar ‘mais forte’ querendo mostrar ao convidado e às vezes ao público que também estão à altura do artista seguinte, mesmo ‘queimando’ completamente a noite… São pequenos detalhes mas muito importantes! Tão pequenos e tão importantes que até mesmo o nível de volume do som é para ter em conta. Sabemos o efeito que o som tem no nosso corpo… sentimo-lo como que se de uma batida de um coração se tratasse e é algo que marca o nosso ritmo ao longo da noite.    
 
Outra das situações recorrentes de muitos dos DJs residentes na atualidade é a de reproduzirem muita música antiga. Na tentativa de quererem fazer tão bem o seu trabalho de não querer ‘roubar’ o estrelato do convidado, acabam por pecar na sua playlist, reproduzindo muitas vezes a medo e recorrendo a temas mais antigos. Pessoalmente, considero isto um excesso! Há muita música nova e recente que não vai chocar com o trabalho do convidado. É certo que devemos guardar os chamados ‘hits’ para a Peak Hour, normalmente dominada pelo convidado, mas há muitos outros ‘hits’ de fácil uso no warm up. Mais uma vez , aqui encontramos os frutos do nosso trabalho de casa.
 
Assim sendo, se vos convidarem para ser residente, pensem primeiro se consideram ter os requisitos necessários para tal! Não é fácil! E não tomem esse trabalho apenas como uma oportunidade de atuar todas as noites sem terem de estar à procura de gigs, mas sim como uma escola, uma fonte de aprendizagem, que vos prepara para tudo. Até mesmo para os mais experientes, pois a arte de aprender é uma experiência contínua que devemos saber abraçar!
 
Pedro Carvalho
Publicado em Pedro Carvalho
terça, 12 agosto 2014 23:01

Preguiça...

Olá a todos os leitores, colegas cronistas e a toda a equipa da 100% DJ. Espero que, dentro do que tem sido possível, o Verão esteja a correr da melhor maneira a todos.
 
Peço imensa desculpa pelo meu atraso de 12 dias, mas foi-me completamente impossível arranjar um tempo para poder divagar e partilhar convosco os meus pensamentos mais cedo. Decidi então fazê-lo hoje, aproveitando o facto de ter terminado o "mais electrónico festival de sempre em Portugal" no domingo e deixando passar segunda-feira, dia de rescaldo e reacções. 
 
Não sei se foi só nas minhas redes sociais que 80% das pessoas que por lá "habitam" manifestaram uma certa desilusão, mas que foi algo patente, foi. Não pelo cartaz, não pelos espectáculos, mas pela "repetição" dos mesmos. 
 

Há mais de 20 anos que ficou provado que a musica electrónica era o futuro (...)

 
Já de algum tempo para cá que muitos artistas ligados à música de dança, "criticam" ou referem a preguiça das novas "Rock Stars". A insistente playlist de 10/15 músicas que estes DJs tocam show após show, uns atrás dos outros, chega a ser de arrepiar. É incrível, como um artista que tem milhares de pessoas à frente dele, não tem "coragem" de arriscar, de surpreender, de se querer destacar dos demais. Sinceramente, achei por exemplo, o main stage desta edição do Tomorrowland uma verdadeira desilusão. Músicas mais que massacradas, com mais de ano e meio levadas à exaustão na edição do ano passado, tocadas de novo, "over and over again"
 
No Sudoeste, do pouco que vi - mais do mesmo. Acho lamentável, pois, ao contrário das bandas, que precisam de meses de ensaios para actuar em palco, um DJ tem a semana toda para chegar e surpreender. E muito menos desculpas de falta de tempo ou estúdio, pois sabemos que hoje em dia, duas horas de espera num aeroporto, dá para fazer muita coisa, nem que seja para surpreender o público, com um "simples" portátil bem artilhado. A questão é que estão preguiçosos. Pura e simplesmente. Sabemos que a indústria quer que se consuma estes artistas, mas acho, na minha humilde opinião, que têm que rapidamente começar a fazer mais, muito mais.
 
Quando me dizem que um espectáculo do Calvin Harris (que durante duas horas mistura produções suas) é o equivalente a um concerto de uma banda, é, uma comparação ridícula. Se em palco ele tocasse os diversos instrumentos (acompanhado ou não), se tivesse os cantores, se fosse realmente música tocada, isso era outra história, e sim, podíamos chamar de concerto, que inexplicavelmente é o que chamam a duas horas de DJ set nos dias de hoje. 

É importante e urgente que se volte a tratar a indústria como arte e não como máquina de fazer dinheiro fácil (...)

 
Há mais de 20 anos que ficou provado que a musica electrónica era o futuro, por estar, tal como o nome indica, associada à tecnologia, que como sabemos, caminha lado a lado com a evolução, mas estar constantemente a repetir uma fórmula mais que gasta, leva a vários problemas. Um desses problemas é o pouco empenho (já todos percebemos como produzir uma faixa genérica do chamado "universo EDM"), que por sua vez leva à falta de originalidade e acaba por não despertar interesse no público. É um facto provado noutras áreas e neste caso não será diferente. De tal maneira, que, esta preguiça que impera, leva a que nestes ditos "concertos", o DJ use e abuse do microfone, num espectáculo em que deveria ser a música a falar. E até nesse uso e abuso do microfone, o discurso é o mesmo. 
 
É importante e urgente que se volte a tratar a indústria como arte e não como máquina de fazer dinheiro fácil, para, claro, o bem da mesma. Há 20 anos já existiam DJs/Produtores milionários, DJs/Produtores com Grammys e nunca se deixou de respeitar a arte e o público. 
 
Felizmente a música electrónica não tem apenas esta chamada vertente EDM, e noutros estilos existem artistas fabulosos, festivais fantásticos, e sim, uma luz ao fundo do túnel, pois aos poucos, já se sente uma necessidade de mudar. Como se costuma dizer, o Mundo não pára de girar e todos os dias, nasce um génio.
 
Fiquemos com a esperança de que o respeito pela arte volte, e que, estas novas "Rock Stars", queiram realmente ficar para a história, "escrevendo" obras intemporais.
 
Saudações,
 
Publicado em Massivedrum
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