Diretor Ivo Moreira  \  Periodicidade Mensal
quarta, 25 novembro 2020 09:06

Uma (CO)vida difícil de compreender...

É realmente muito complicado compreender e aceitar o momento pelo qual estamos a passar. Nove meses de indefinição em relação a tudo o que tenha a ver com as nossas vidas, pessoais e profissionais, nove meses subjugados a uma indiferença quase criminosa da parte de quem nos governa e um desprezo absolutamente insultuoso, no mínimo, por um sector que tanto deu ao nosso País. Como eu próprio, vejo colegas em grandes dificuldades, estabelecimentos a fechar, empresários desesperados por soluções que não chegam, a noite a ser cada vez mais uma lembrança que se desvanece num mar de memórias que parecem cada vez mais nubladas. É triste tomares consciência que após anos a tentar dar o melhor de ti ao teu País, incondicionalmente, quando pela primeira vez realmente precisas dele te apercebes que apenas serves para dar, mais nada. Quando num universo de 100%, tens conhecimento que apenas 2% das infeções deste maldito Vírus são em contexto nocturno, e mês após mês apenas vais tendo conhecimento que as medidas mais apertadas são continuamente para a Restauração, começas realmente a pensar que algo se move contra tudo aquilo pelo qual acreditaste e deste a tua vida durante anos a fio, suportando as cargas fiscais absurdas, condições de emprego absolutamente deploráveis, noites mal dormidas, viagens incontáveis, vida pessoal inexistente, enfim, tudo aquilo que fez com que Portugal seja cotado como um dos melhores destinos turísticos do mundo. DJs, músicos, bartenders, chefs de cozinha, actores, artistas dos mais variadas artes e muitos mais, todos nós sempre levámos o nosso País no coração para todo o lado, quer fosse para o bar do amigo ou para o melhor festival do Mundo. Somos pequeninos mas somos muito lutadores, um país de guerreiros, infelizmente comandados por um bando de cobardes.
 

Será que tinha custado muito pelo menos ter dado uma palavra de conforto, no meio destes nove meses que se passaram, a profissionais que tanto se sacrificaram por esta pandemia e que de quinze em quinze dias ficavam a olhar para a televisão apenas para ver se as palavras "bar" ou "discoteca" saíam da boca de um Primeiro-Ministro arrogante que se recusava quase sadicamente a mencionar estas duas palavras, de um momento para o outro tão mal vistas no nosso país?


Não percebo o sentido de ter a noite fechada antes mesmo de começar, não percebo o sentido de decretar um fim-de-semana de confinamento geral mas só após as 13h, não percebo o porquê de não nos deixarem trabalhar quando somos o sector que mais cuidados tem com a desinfecção de espaços, apenas provavelmente ultrapassados pelos Hospitais. Será que tinha custado muito pelo menos ter dado uma palavra de conforto, no meio destes nove meses que se passaram, a profissionais que tanto se sacrificaram por esta pandemia e que de quinze em quinze dias ficavam a olhar para a televisão apenas para ver se as palavras "bar" ou "discoteca" saíam da boca de um Primeiro-Ministro arrogante que se recusava quase sadicamente a mencionar estas duas palavras, de um momento para o outro tão mal vistas no nosso país? E como ficaram as milhares de pessoas que, de um momento para o outro, viram um País virar-lhes as costas como se fosse deles a culpa de uma situação da qual muito provavelmente são os menos culpados? Será bastante pertinente relembrar a quem tem a memória curta que o sector nocturno foi o primeiro a fechar no início desta Pandemia, e por iniciativa própria, convém não esquecer. Corta-me o coração que sejamos tratados como criminosos apenas porque queremos trabalhar mais uns minutos, apenas porque quem teve o poder de determinar como nos é permitido levar as nossas vidas acha que de um minuto para o outro, as coisas podem correr mal. A grande diferença é que para nós, um minuto a mais é mais uma possibilidade de conseguirmos sobreviver, sim, porque é a isso que se resume tudo isto, sobrevivência. 

Que culpa temos nós que a esta Pandemia se junte uma guerra económica, social e absolutamente monopolizadora daquilo que são os nossos direitos fundamentais, que nos foram tirados sem qualquer tipo de explicação lógica? Que fique claro que eu, como todos os meus colegas, temos consciência que esta é uma guerra, é realmente perigosa e que tem que ser ganha por todos, mas terão que ser sempre os mesmos a serem lançados para a linha da frente? Que culpa temos nós que não haja controle nos transportes públicos ou que os lares tenham uma incidência de infecção assustadora? Que culpa temos dos ajuntamentos ilegais que tantas manchetes fizeram neste Verão? Que culpa temos nós da falta de pulso e coragem para evitar situações como festivais ou comícios políticos absurdos numa altura destas, comemorações religiosas, avistamentos de ondas, ou corridas de carros apenas porque não é conveniente politicamente? E como ficamos agora, já que não têm a quem culpar pelo aumento dos números, será que haverá uma ínfima possibilidade de tudo isto ter sido mal gerido e que a culpa possa ser também vossa, vocês que nunca se enganam? É que no meio de tudo isto que se passou neste últimos nove meses continuamos nós, seres humanos que apenas querem trabalhar, seja em que circunstâncias forem, para que possamos ter condições para viver, podermos alimentar as nossas famílias, os nossos filhos, termos uma vida minimamente digna.
 

Fiscalizem, sejam duros, confinem, façam o que for preciso para travar este vírus, mas façam-no de igual modo para todos, desde o cidadão que vai passear o periquito como desculpa para sair à rua, ao político que pensa que está acima da lei e organiza comícios ridículos e sem sentido apenas porque lhe é permitido.


Fiscalizem, sejam duros, confinem, façam o que for preciso para travar este vírus, mas façam-no de igual modo para todos, desde o cidadão que vai passear o periquito como desculpa para sair à rua, ao político que pensa que está acima da lei e organiza comícios ridículos e sem sentido apenas porque lhe é permitido. Não estejam sempre a castigar aquele que já está no chão, pisado e quase sem capacidade para respirar. Não deixa de ser irónico, um sector que vivia de proporcionar diversão a todos, seja o que menos vontade tem de sorrir actualmente, mas a vida é feita de injustiças, a isso estamos habituados. Ao que não estamos habituados é a sermos ostracizados e discriminados de uma maneira inaceitável e inexplicável. Pensava que já tínhamos passado essa fase há uns bons anos atrás. Só queremos trabalhar, dentro dos moldes que forem seguros para nós e para os nossos clientes, estamos dispostos a tudo, como aliás temos feito no pouco tempo que nos é permitido fazê-lo. Digam-nos, por favor, um sector que tenha investido tanto na segurança, que seja tão profissional na abordagem à pandemia e a todos os cuidados que se devem ter com o seu controle. Preocuparem-se com os cafés, pastelarias e outros é obviamente de louvar, manter-nos fechados e fazerem-nos passar pela humilhação de apenas podermos trabalhar se alterarmos um CAE soa a escárnio. Somos profissionais qualificados, dos melhores do mundo, ganhamos prémios internacionais, e até disfarçados temos que estar para podermos trabalhar? Assim já não faz mal?

Que País é este que despreza o que de tão bom tem apenas porque não tem a quem culpar relativamente a uma situação da qual ninguém tem culpa? Estamos aqui, queremos trabalhar, a horas decentes para o nosso sector, estamos dispostos a tudo, olhem para nós e digam-nos como querem que o façamos mas não deixem a Indústria Nocturna morrer, porque se continuar assim é o que vai acontecer. 

À hora que escrevo esta crónica preparo-me para viajar mais de 200 quilómetros, não para trabalhar, como tantas vezes fiz, mas para me ir juntar aos meus colegas para juntos lutarmos pelos nossos direitos, algo que pensava que nunca mais iríamos ter que fazer após o 25 Abril. Apesar de tudo irei com todo o gosto e mais forte que nunca, porque apesar de tudo, tal como esses mesmos colegas, sou Português, daqueles a sério, que lutam, trabalham e olham uns pelos outros porque isso nunca ninguém nos vai tirar, até porque enquanto não nos derem ouvidos, estaremos aqui para vos dar luta.
 
Carlos Vargas
Publicado em Carlos Vargas
É com bastante satisfação que vejo que este ano, ainda mais do que nos anos anteriores, Portugal faz parte da agenda de muitos “top“ DJ’s Internacionais, de diferentes áreas musicais. Portugal está na moda e isso reflecte-se no turismo e nos eventos que acontecem todos os fins-de-semana, especialmente nesta altura, de Norte a Sul do país. É muito bom ver eventos praticamente esgotados, à tarde, à noite, fim-de-semana após fim-de-semana (e muitos dias de semana...), com artistas que participam nos melhores festivais de música electrónica pelo mundo fora. Depois de passarmos por um período “negro” economicamente que se reflectiu na quantidade (e qualidade) de eventos que tivemos, é com muita satisfação que vejo os cartazes dos eventos recheados de grandes nomes provenientes das várias áreas da música electrónica. Eu vou participar em alguns desses eventos, e nos que já aconteceram, como por exemplo o Sound Waves do passado dia 29 de Julho em Esmoriz, a afluência de pessoas foi superior à dos últimos anos.
 
Voltámos a ser “A Paradise Called Portugal”. Quem já anda dentro da “dance scene” portuguesa há alguns anos certamente se lembra desta frase, muito repetida pelas revistas lá fora depois de ter sido o título de uma reportagem da revista Inglesa Muzik em 1995. Nos anos 90, as revistas eram o principal meio divulgador da “dance scene” a nível internacional (ainda não tinha chegado a internet...) e nessa altura a DJ Mag, Mixmag e a Muzik eram três das principais revistas inglesas totalmente dedicadas à música electrónica. A meio da década dos 90, as três mandaram várias vezes repórteres a Portugal para cobrirem a vibrante vida nocturna nacional, chegando mesmo a dizer que “Portugal é a nova Ibiza”. Começou a haver uma programação regular de grandes artistas internacionais, quer em clubs quer em eventos, e Portugal começou a aparecer, pela primeira vez, na agenda dos grandes DJ’s internacionais. Já tinham acontecido alguns eventos pontuais com artistas internacionais de topo (lembro-me do evento no Castelo de Santa Maria da Feira em 1992, com Danny Tenaglia e Jaydee entre outros artistas, como um dos mais importantes) mas não havia ainda uma programação regular de eventos, quer em clubs quer como produções independentes, com DJ’s que fizessem parte do circuito internacional.
 

(…) todos me diziam que o nosso país era fantástico e que não entendiam como sendo tão pequenos em dimensão, tínhamos uma vida nocturna tão vibrante (…)



 Com as reportagens das revistas Muzik, DJ Mag e Mixmag (entre outras), Portugal começou a estar no “mapa” dos principais DJ’s e houve um “boom” de eventos com cartazes ainda hoje impressionantes se considerarmos a dimensão do nosso país. Foi a partir dessa altura que ficaram famosas as semanas da Páscoa no Algarve onde todos os dias durante uma semana (às vezes até mais...) se podiam ouvir muitos dos DJ’s/Produtores mais importantes a nível internacional, quer na Locomia (no espaço onde hoje existe o Le Club, em Albufeira), quer na Kadoc, espaço que hoje se chama Lick Algarve, em Boliqueime, perto de Vilamoura. Além de todos esses eventos no Algarve durante o período da Páscoa, aconteciam também muitos eventos regulares no Pacha em Ofir e no Vaticano em Barcelos, entre muitos outros clubs. Foi um período dourado da “dance scene” em Portugal e onde o nosso país era referido muitas vezes na imprensa estrangeira especializada como um dos melhores locais da Europa para a “club scene”, com fantásticos clubs e um público com uma entrega e um gosto musical sem igual. Acompanhei muitos DJ’s estrangeiros quer enquanto residente no Rock’s em Vila Nova de Gaia, quer mais tarde quando fazia parte da produtora de eventos X-Club, e todos me diziam que o nosso país era fantástico e que não entendiam como sendo tão pequenos em dimensão, tínhamos uma vida nocturna tão vibrante e com tanta qualidade.

Infelizmente, e por vários motivos, esse período acabou de maneira repentina. Como a “dance scene” em Portugal atingiu uma dimensão considerável em termos de negócio, rapidamente começaram as disputas entre produtoras (e até DJ’s) para conseguir fazer o evento no club “Y”, tentando bloquear o artista “Z” à outra produtora para que não pudesse fazer um evento com esse “top” DJ. Foram muitas as situações a que assisti, de ambos os lados das principais produtoras dessa altura, para tentar bloquear datas, discotecas, artistas, etc. Obviamente isso não podia ter um desfecho feliz e o resultado foi que a rentabilidade dos grandes eventos foi sendo cada vez menor (até porque cada vez os cartazes eram maiores e mais caros...) e cada vez foi sendo mais difícil trazer pessoas a esses eventos. Obviamente também porque se esgotou um pouco o factor “novidade” dos primeiros anos e a crise que apareceu em 2000 (sim, já estávamos em crise nessa altura...) fez o resto. Deixámos de ser um paraíso para a música electrónica internacional e durante algum tempo poucos eram os eventos que contavam com artistas de topo a nível mundial.
 
20 anos depois do “Neptunus Music Festival”, evento que aconteceu nos dias 2 e 3 de Agosto de 1997 em Albufeira (no local onde agora é a Marina) e que para mim (e para muitos) colocou Portugal definitivamente no mapa dos grandes eventos de música electrónica a nível internacional, surge o BPM Portugal. Pela primeira vez, a produção de um dos maiores festivais de música electrónica do mundo (que engloba as labels e produtoras mais importantes a nível internacional) vai sair de Playa Del Carmen no México, depois de 10 edições e escolheu Portugal. Não foi por acaso. Portugal está mesmo na moda a nível internacional!
 

(…) só espero que não se cometam os mesmos erros que se cometeram no passado e que esta dinâmica dure muito mais do que durou antes, o nosso público merece!

 
O “Neptunus Music Festival” trouxe a Albufeira quase 40 dos “top” DJ’s internacionais da altura (lembro-me que o único que não pode vir na altura foi o Danny Tenaglia porque não tinha nenhum dos dias disponíveis) para atuarem em dois dias em quatro tendas em mais de 12 horas por dia, em cada tenda. Eu tive a honra de actuar em duas das tendas. Nunca tinha sido feito nada do género em Portugal até essa altura e foi um sucesso tremendo.
 
O BPM Portugal, 20 anos depois do “Neptunus Music Festival”, vai conseguir juntar muitas das maiores labels e produtoras de grandes eventos internacionais que vão trazer praticamente TODOS os grandes artistas ao Algarve, entre os dias 14 e 17 de Setembro, num evento que certamente vai marcar a “dance scene” em Portugal.

Vendo todo este “boom” de grandes eventos em Portugal, com grandes artistas, só espero que não se cometam os mesmos erros que se cometeram no passado e que esta dinâmica dure muito mais do que durou antes, o nosso público merece!
 
Carlos Manaça
DJ e Produtor
 
(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)
Publicado em Carlos Manaça
segunda, 01 outubro 2012 23:46

A ressaca e as suas curas

 
Este artigo pode parecer chato, (principalmente se tiveres mesmo de ressaca), mas no final vais concluir que, tal como nós, fãs ferrenhos de uma noite bem aproveitada, vai dar-te muito jeito no dia em que não souberes o que fazer mais para curá-la e quiseres livrar-te desse mau estar ou dor de cabeça torturantes. Vais ver que ainda nos vais agradecer.

Vamos começar por saber o que é a ressaca. Em linhas gerais a ressaca é provocada por um conjunto de três efeitos produzidos pelo álcool: desidratação, choque nervoso e desnutrição.
Desidratação porque o álcool é diurético e literalmente faz-nos correr para o WC centenas de vezes. O choque nervoso acontece porque quando se bebe muito, estamos a provocar uma overdose de uma "droga" e isso mexe com o sistema nervoso. É por isso que quando estamos mesmo naqueles dias de ressaca extrema trememos que nem varas verdes. Por último, mas não menos importante, a desnutrição: o álcool reduz a quantidade de vitaminas e nutrientes do corpo, elementos que são importantíssimos para a manutenção do sistema de defesa do organismo.
 
Além destes efeitos provocados pelo álcool, o mesmo é metabolizado pelo fígado. E aí é que está o nó da questão. Para processar as moléculas do álcool, o fígado usa duas enzimas e nem todos gozamos da quantidade de enzimas suficientes e eficientes. É por esta razão que existem pessoas que ainda não se cruzaram com uma manhã de ressaca, enquanto que outras, não podem ver uma garrafa de cerveja à frente que passam mal. No fundo, trata-se de uma questão de estrutura física ou mesmo genética, o que não tem nada a ver com tamanho.
Outro dado importante: o álcool é expelido do corpo pelos rins e pelos pulmões e afeta principalmente o lobo frontal do cérebro, responsável por controlar o julgamento (literalmente o juízo) e as relações sociais. Há quem diga que se perdem neurónios a cada bebedeira, mas é no fígado que o álcool deixa marcas mais profundas.

Depois de dar-mos uma olhadela a certos e determinados estudos, podemos realmente concluir que os efeitos do álcool no fígado são muito preocupantes, embora pouca gente ligue a isso no calor da festa.
 

"Para os mais impacientes, deparamos com testemunhos, que atestavam, que um valente cheeseburguer com batata grande e cola grande seria o auge (aguardamos o estudo científico para o comprovar) ..."

 
Explicações científicas à parte, o facto é que desde que os gregos inventaram a cerveja, que a cura da ressaca é um dos dilemas da humanidade. O primeiro conselho e mais importante de todos seria: não beber e garantimos por experiência própria (cof cof) que não vais ficar nem com um pouquinho de ressaca, mas se não vão nesta cantiga temos outras dicas para ti.
Repara que quando alguém bebe demais e vai parar ao hospital, o primeiro passo, é tomar glicose, o álcool reduz a quantidade de açúcar no sangue, (daí aquela moleza), então, a tática ideal e infalível é andar sempre com uma barrinha de chocolate no bolso. É tiro e queda e o efeito é melhor do que todas essas confusões de banhos gelados, dormir ou qualquer outra loucura que possa ter efeito contrário e piorar a situação. O mais seguro mesmo é o dito chocolatinho, (santo de cada dia), quando te começares a sentir mal, durante ou após a bebedeira. Procura não te sentares ou fechar os olhos no "durante".

Existe quem defenda que mastigar gengibre, ajuda a aliviar o stress do estômago, mas o repouso, frutas, verduras, muita água e vitamina B, sem contar com uma ou duas Aspirinas, Guronsan (ou outro), continua a ser a solução mais usada. Mas existem outras, nomeadamente: beber um litro de água antes de ir para a cama e tomar um remédio para a dor de cabeça. Verás que no outro dia vais estar melhor do que se chegasses a casa e não tomasses nada!
 
A esta altura já pensas: "E aquela secura irritante que não passa!!". Se tomares uma colher de azeite antes de começares a beber, segundo os nossos antepassados, não vais passar por essa sensação porque, provavelmente, nem vais conseguir beber mais!  Também, há quem diga que um bom sumo de limão ou tomate, no dia seguinte, ainda em jejum, costuma fazer milagres. Segundo outras culturas, um copo de cerveja gelada, assim que te levantas, também produz um efeito positivo. Pelo menos não passas por todas as sensações desagradáveis! Uma receita interessante que encontrámos para curar para a ressaca: comer uma canja de galinha. Mas aconselhamos a pedires a alguém que a faça ou a fazeres a canja antes de saíres à noite. De madrugada e de ressaca o mais certo é nem dares com um prato! Para os mais impacientes, deparamos com testemunhos, que atestavam, que um valente cheeseburguer com batata grande e cola grande seria o auge (aguardamos o estudo científico para o comprovar), mas podemos já adiantar que coca-cola e outras bebidas com gás e cafeína são irritantes para o estômago.

Se isto estiver a ser demais para a tua cabeça, (que neste momento poderá estar à roda com a noite passada), podes fazer uma pequena cábula com alguns dos conselhos mais práticos que encontrámos, para colares no espelho onde te arranjas todas as noites antes de saíres:
 
 
  • Alimenta-te bem antes de começar a beber, para que os efeitos do álcool não sejam tão intensos;
  • Nunca bebas à pressa! (nem que a loira que te tirou do sério esteja a dirigir-se para a porta acenando-te para ires com ela). A bebida é para ser saboreada calmamente, e sem pressas;
  • Faz um esforço e bebe água (entre as bebidas alcoólicas) para que o efeito do álcool não seja tão forte;
  • Modera a quantidade de álcool a ingerir;
  • No dia seguinte, opta por alimentos leves, chá, café, muita água, (mesmo muita), para hidratar o corpo, e come alimentos com sal e potássio para repor os nutrientes que perdeste. Não te esqueças de ingerir muita vitamina B.
 
Tem calma! O que estás a sentir vai passar em breve!
 
Amanhã tudo regressa ao normal! E estás pronto para mais uma, VENHA ELA!!! De preferência ao som dos FUNKyou2 - The Party Rockers!!!!
 
Francisco Praia
FY2 - The Party Rockers
Publicado em Francisco Praia
segunda, 06 julho 2020 23:28

Ajuntamentos ou locais controlados?

No início de Março, quando foi publicada a minha ultima crónica para a 100% DJ, tive que escrever duas crónicas porque a primeira que enviei ficou desactualizada em dois dias. Hoje, ao ler a última que escrevi, vejo que a realidade ultrapassou tudo o que eu tinha imaginado (e escrito) nessa altura, quando acabava de ter o meu primeiro evento adiado/cancelado. O que o sector ligado à música está a viver desde essa altura, jamais me passou pela cabeça. Desde essa altura que estamos com todas as nossas actuações canceladas e sem sequer haver um plano/data de uma possível volta ao trabalho de todo um sector.

O facto de não haver sequer um plano para todo um sector que até parou, por uma responsável decisão própria, antes de ser obrigado a isso pelo governo, na minha opinião é uma situação difícil de entender. Ouvir o tom depreciativo com que o primeiro-ministro falou de todo um colectivo foi um choque para mim e certamente para todos os empresários ligados a este sector, nas suas varias vertentes. 

Ouvir o tom depreciativo com que o primeiro-ministro falou de todo um colectivo foi um choque para mim e certamente para todos os empresários ligados a este sector, nas suas varias vertentes.

 
É verdade que este vírus colocou à prova os governos de praticamente todos os países, muitas decisões foram tomadas segundo o que ia acontecendo porque não se conheciam (e ainda não se conhecem bem) todas as características deste novo coronavírus. Numa primeira fase e segundo alguns especialistas, Portugal foi um exemplo internacional porque foi dos primeiros a limitar fortemente a mobilidade das pessoas e com isso limitar muito as possibilidades de contágio. É verdade que, comparativamente com os países vizinhos, Portugal tem um número de falecidos muito menor devido a esse sucesso na primeira fase desta pandemia e que os cuidados intensivos dos hospitais Portugueses (felizmente) nunca estiveram em rotura tal como aconteceu aqui em Espanha, situação que provocou muitos mortos pela incapacidade de serem atendidos nas urgências.

Infelizmente estamos a assistir nos últimos tempos a um aumento dos contágios confirmados em Portugal, situação que seria expectável uma vez que há uma maior mobilidade das pessoas, há mais gente a trabalhar e a deslocar-se em transportes públicos, a ir a centros comerciais, a supermercados. Basicamente há muito mais gente nas ruas que antes. Mas infelizmente também estamos a assistir à irresponsabilidade de algumas pessoas que se juntam sem terem qualquer cuidado, seja usando máscara, seja mantendo a distância de segurança aconselhada. Uma grande parte dessas pessoas são jovens que depois de estarem fechados em casa durante mais de dois meses se juntam com os amigos em grandes grupos sem cumprirem as normas mínimas de segurança, porque na realidade, não têm qualquer opção para o fazer de uma forma mais controlada.

A pergunta que coloco neste artigo é, na minha opinião, lógica: não seria melhor darem a esses jovens alternativas onde se pudessem juntar, de forma minimamente controlada, e assim reduzir esses ajuntamentos onde quase ninguém cumpre as normas de segurança?

Li em muitos comentários nas redes sociais que é "totalmente impossível manter a distância social numa discoteca, num bar, assim como ter os cuidados necessários à não propagação do vírus". Aliás, ouvimos o próprio primeiro-ministro dizer isso em directo, na TV.

Na minha opinião, depende muito das características dos espaços em questão. Obviamente há muitos locais em que é praticamente impossível criar condições mínimas de segurança por serem totalmente fechados, pouco amplos, com acessos interiores difíceis e com pouco espaço para as pessoas estarem mais afastadas e que não têm condições para abrir neste momento. Entendo isso e acho que qualquer empresário responsável que tenha um espaço com estas características, sabe que abrir nestas condições iria quase de certeza criar problemas.

Mas há muitos outros que têm características que lhes permitiria abrir com as mesmas condições já existentes para outro tipo de actividades. No Algarve, por exemplo, há muitos locais ao ar livre que podiam, com restrições de capacidade e com o uso de máscaras e gel desinfectante, abrir as portas. No resto do país também há alguns locais desse tipo, que poderiam abrir com as mesmas condicionantes de segurança.

Obviamente numa primeira fase não se poderia funcionar em horário completo, mas pelo menos esses espaços que têm uma grande parte ou são totalmente ao ar livre deveriam poder abrir. Ou pelo menos, tentar abrir. 

O que acontece é que, por terem o código de actividade de "discotecas" ou "bares", mesmo tendo estas características, não lhes é permitido abrir, numa decisão, na minha opinião, difícil de entender, especialmente quando vemos outro tipo de eventos com grandes ajuntamentos de pessoas, a serem "autorizados" ou pelo menos permitidos pelas autoridades, alguns deles por motivos políticos.
 

Não seria melhor darem a esses jovens alternativas onde se pudessem juntar, de forma minimamente controlada, e assim reduzir esses ajuntamentos onde quase ninguém cumpre as normas de segurança?

 
Pelo que sabemos até agora e do pouco que parece já assumido pela comunidade científica sobre este novo coronavírus, um dos seus principais focos de transmissão (senão o principal) são as aglomerações de muitas pessoas. Sejam elas por que motivo forem. Partidárias, futebol, religião, "botellon", praia, música, todas podem ser um foco de transmissão, todas podem contagiar se não forem tomadas precauções. 
Os ajuntamentos para ouvir música numa esplanada, num bar ao ar livre, numa discoteca ao ar livre, não são mais contagiosos do que os ajuntamentos autorizados numa manifestação política, como nos querem fazer crer.

Acho que seria importante nesta altura estabelecer de uma vez por todas regras claras e realizáveis para, lentamente, com capacidade limitada e com muitos cuidados, se começarem a abrir alguns dos locais com características especificas, regras que já existem para outras actividades. Certamente iria dar aos jovens uma alternativa mais controlada do que os ajuntamentos para os "botellons" que têm feito um pouco por todo o país.

Os empresários destes locais deram uma lição de responsabilidade a muita gente no inicio de todo esta pandemia quando decidiram fechar, mesmo antes de serem obrigados a isso. Pensaram na saúde de todos à custa da sua própria fonte de rendimento. Acho que mereciam um outro tratamento pelas autoridades responsáveis...
 
Carlos Manaça
DJ e Produtor
 
(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)
Publicado em Carlos Manaça
sábado, 09 junho 2018 23:20

A democratização da noite

Após várias tentativas infrutíferas por parte de um amigo para escrever no Portal 100% DEEJAY, pois sou avesso às críticas e dissertações sobre um produto completamente desvirtuado ao longo dos anos por inúmeras razões, algumas das quais vou comentar, lá acedi dar a minha opinião sobre o estado da noite atual.

Seguindo a linha de uma pessoa com tempo e conhecimentos do que era e é a noite (Zé Gouveia), venho abordar dois pontos que para mim desvirtuaram os espaços tão bem conseguidos nos anos 80 e 90.

Os promotores e a gula dos proprietários, muitos sem noção e outros vocacionados para o produto de desgaste rápido.

A vertente dos promotores, que a mim me faz confusão, é o exemplo da descaracterização de qualquer espaço, pois eu sou do tempo em que os relações públicas trabalhavam para uma casa a tempo inteiro, permitindo conhecer, gerir, elaborar conteúdos, target e serviço do determinado espaço, coisa que hoje é impensável e a gestão é feita através dos diversos meios de comunicação virtual, sem conhecimento nenhum de com quem comunicamos, perdendo-se assim a especificidade do target pretendido para a casa.

Isto, aliado ao facto de os próprios espaços se terem democratizado (pagas 10 euros entras), retirou-lhes o cunho uma vez que os próprios proprietários não quererem construir conceitos mas sim casas de eventos, onde tudo entra, desde que fature já!

Além de tudo isto, a realidade atual em termos estéticos é muito mais abrangente. 

Hoje em dia nós despimo-nos para sair, antes vestiamo-nos para sair.

É verdade que existem menos espaços noturnos em Lisboa, mas tem a ver com inúmeros fatores que, desde a descentralização da cidade (abertura de casas em zonas limítrofes), há tolerância zero relativamente ao álcool (que eu acho muito bem) e o nível de vida da população em geral.

Mas esta é a minha opinião, quiçá saudosista e démodé à espera do tal espaço elitista e intemporal de outros tempos.
 
Speedy
Contrariamente à imagem criada, a minha área foca-se na restauração e não na noite, apesar da imagem como gerente do BBC ter sido fortíssima atendendo à casa em questão. Projetos como o COP 3, Senhora Mãe, Spiky e Via Pública foram restaurantes dos quais intervi diretamente na execução implementação de conceito e gestão operacional.
Publicado em Speedy
sexta, 04 janeiro 2013 22:23

DJ Mumy

 
Assumo que tenho 20 minutos para escrever esta crónica. São 15:49h e combinei entregar os bebés às 4 horas na minha mãe (já me vou esticar no atraso que pode comprometer o resto do dia, tipo comboio de dominó em que uma peça leva todas as outras a cair. Sim é assim tão grave!...).
 
De seguida vou rapidamente para casa escolher o kit da noite e fazer a mini mala de fim-de-semana, dar uma "limpeza" às músicas das pens, confirmar se os phones estão ou não OK e ainda tenho que ir buscar uns novos à Pioneer - que têm andado meio "perros", talvez já da quilometragem feita em parceria comigo aí pelas estradas de Portugal -, fazer um rápido download de 2 temas novos que comprei no beatport, ligar ao pessoal do evento - para combinar umas boleias, as horas e os locais do encontro quando chegar o hotel de hoje, rezar para que o meu carro se aguente sem soluços de maior durante 270 kms - que tem estado com os problemas eléctricos típicos dos seus já quase 200 mil kms de rodagem. E que rodagem!
 
Chegar, ligar à "vovó" Clara, saber como estão os pirralhos, dar a indicação "tim tim por tim tim" dos truques para o Afonso papar a sopa de cenoura que fiz antes de sair de Lisboa - que o puto anda agora armado em caprichoso -, tomar um duche maravilha (estes momentos nos hotéis têm, neste momento da minha vida um sabor muito especial, porque podem demorar um pouco mais do que 5 minutos), pintar as unhas de vermelho nos "entretantos" e enquanto secam as ditas e os meus caracóis "enremoinhados", dar uns beijinhos ao meu namorado que felizmente me tem acompanhado por estar de licença parental - já que eu sou patroa de mim de mim própria -, voltar a ligar para saber do sono e do banho, organizar o line-up e dar uma última vista de olhos no computador, fazer o eyeliner, ligar para todos os quartos para confirmar que todos estão no lobby do hotel às nove e meia (sim este evento também "é meu" organizo-o e faço a assessoria), descer perfumada e airosa, já com a certeza de que o anti-cerne cobre bem as olheiras de vários meses de noites com menos horas de sono do que me apeteciam realmente... e de me sentir pelo menos 1 ou 2 noites por semana giraça e catita.
 

"Agora és Mãe. Passaste a ser eterna! E assim, lhes dedico a vida e assim lhes dedico os meus sets, e assim lhes dedico a minha força, paciência, inspiração e dinamismo!"

 
As noites em que a Mãe vira DJ, RP, figura pública ou afim. Eu gosto. Mas também gosto dos dias sem sono, em que refilo pela falta de tempo, em que o Afonso Luz e a Matilde Estrela se tornam prioridade entre os meus trabalhos no estúdio, os meus textos e músicas no computador, o meu blog, as minhas reuniões. Os dias e também as noites... em que as calças largas e as t-shirts tiram o lugar ao salto agulha e ao top glamouroso e em que a sopa de cenoura cuspida em cima de mim sabe bem melhor que o meu Jameson-Ginger Ale de sábado à noite.
 
Bem, eu falei em 20 minutos. São agora 16:12. Hora de seguir para a vida airada. Hora de começar a azáfama profissional do fim-de-semana, despir uma capa, vestir a outra e curtir a outra parte da vida. No fundo, não há bem "outra parte", percebo eu agora. Ser mãe é isso mesmo. Sejas DJ, empresária, actriz, contabilista, agricultora ou até dona de casa. Ser Mãe está-te no coração. E estejas onde e como estiveres, eles - os teus filhos, O Afonso e agora a Matilde que nasceu só há 2 meses... estão contigo, no teu coração e na tua cabeça que , no fundo continua a ser a mesma de sempre. A diferença é que a palavra "Multitasking" passa agora mesmo a fazer sentido. Se antes eu me sentia tantas pessoas e versões de mim mesma... agora acrescento a versão mais importante: a de ter um filho.
 
Como me disse há tempos uma amiga: Agora és Mãe. Passaste a ser eterna! E assim, lhes dedico a vida e assim lhes dedico os meus sets, e assim lhes dedico a minha força, paciência, inspiração e dinamismo!
 
Agora vou-me pisgar. Estou mesmo super atrasada.
 
E... se faz favor, aqueles que não entendem esta vida por mim escolhida (e adora criticar...), peço que, por 2 segundos imaginem a ginástica que faço para manter acesos os amores da minha vida. Ser Mulher com M grande, em toda a sua plenitude e ainda tentar "competir" com os "espécimes" masculinos que se dedicam só ao trabalho... pode ser uma batalha não ganha nesse palco... mas acreditem que o é no da vida. Porque... me sinto realizada por conseguir, "ir a todas" com muito amor e dedicação.
 
E que tal começar o ano com esta premissa?
 
 
Rita Mendes
Publicado em Rita Mendes
quarta, 01 junho 2022 09:06

A certeza da incerteza

Nunca foi tão certo que o incerto é uma evidência para a humanidade!

A economia, a saúde, o emprego, a cultura... Hoje, tudo é o momento presente sem que se conheça o amanhã, por causa, claro, dos acontecimentos dos últimos dois anos.

Em fevereiro de 2020 a pandemia Covid chegou à Europa e em fevereiro de 2022 surge a guerra na Europa, para a qual ninguém sabe prever um fim ou o impacto que terá nas sociedades pelo mundo fora.

A cultura de uma forma geral irá igualmente apresentar novas ideias e formas de expressão? A música englobada na área da cultura tem uma força de comunicação muito importante, como presenciámos na última edição da Eurovisão. Quanto à música consumida como forma de diversão, vai ela também evoluir?

Aproveito esta deixa para puxar para o estilo musical que me é mais próximo, a música eletrónica, que engloba várias influências e géneros: House Music, Techno, Trance, Afro…

Pois bem, aqui a incerteza parece-me ser uma verdadeira certeza, não relativamente à sua existência mas sim à forma como se irá continuar a difundir pelo mundo, o que implica, para quem está diretamente ligado à música eletrónica, uma verdadeira liberdade criativa, que o momento atual exige!

Copiar o que já foi feito não é bom nem nunca foi, porém inspirar-se em algo já feito e fazer melhor é um dos grandes desafios artísticos. Mas criar algo novo... é mesmo só para alguns e esses ficarão para sempre na história da música eletrónica.

Os artistas nas diferentes vertentes da cultura são uma luz de paz e amizade para a sociedade, e eu considero-me realizado por poder partilhar a história e a inspiração de alguns deles, mesmo daqueles que já partiram, como o meu amigo Erick Morillo, para quem nunca houve certezas - "Que continues a ser sempre uma fonte de inspiração, de dedicação, de trabalho e de exigência porque... só talento não chega!".
 
José Manso
Publicado em José Manso
sábado, 13 junho 2020 23:38

Tempo para meditar

Não faria sentido algum, neste momento, dissociar o mercado dos DJs e Produtores musicais do COVID-19.

Para ser sério, direi que foi o melhor que poderia ter acontecido. Não que tudo estivesse mal mas, a maioria encontrava-se no mau caminho.

Se no que diz respeito aos consagrados pouco haverá a dizer, já que vão garantidamente aproveitar para produzir música, retemperar forças e reaparecer ao seu melhor nível pois possuem situações financeiras que lhes permitem dedicar-se à sua profissão, o mesmo não se poderá dizer da grande maioria e, desta, opto por começar pelos mais novos.

Para estes, melhor do que um semestre de COVID-19 não poderia existir e, embora tema que não vá servir para grande coisa, penso que deveriam ter aproveitado para ler e ouvir música, que julgo ser aquilo que maioritariamente lhes faz falta. Por muito que as pessoas se contorçam com esta afirmação e que a mesma até possa ser vista como afronta, não o é.
 

Mudar, exigiu que os DJs educassem musicalmente o público e, contra ventos e marés, foi exactamente isso que aconteceu.


Se retrocedermos há vinte e muitos anos atrás, facilmente concluímos que, quando a música de dança começou a despertar entre nós, a maioria dos empresários e até clientes, afirmavam à boca cheia que não queriam "martelinhos". Mudar, exigiu que os DJs educassem musicalmente o público e, contra ventos e marés, foi exactamente isso que aconteceu. Dj Vibe, ao contrário do que muitos pensam, não caiu do céu, não foi obra e graça do Espírito Santo. Ouviu muita música e daí, não surpreende que ainda hoje detenha, através da parceria com Rui da Silva - Underground Sound of Lisbon - o maior êxito internacional que algum português alguma vez produziu e que perdura como hino "So Get Up" e que cada um dos seus set's seja uma viagem, naturalmente que uns melhores que outros. Depende do estado de espírito de cada um.

A maioria dos novos Produtores, que serão certamente os grandes da música de amanhã, não conhecem Música além daquela que hoje produzem. Não conhecem, sequer, clássicos de 70/80/90 quanto mais, um pouco de música clássica!

A maioria dos grandes nomes - atenção que estou essencialmente a falar do mercado nacional - foi residente, fez o seu percurso e cresceu. A maioria dos grandes nomes, sabe ir ao baú pois, tem conhecimento, história e arte, a tal arte que aprenderam nos anos 90 em que a máxima era; música é cultura. Se um DJ não educa a sua pista, apenas lhe resta ir copiando o sucesso do vizinho e, daí à maioria das pistas de dança estarem a passar cópias de lixo umas das outras, é o sistema reinante. Ninguém procura ter o seu público procuram sim, copiar o sucesso da pista ao lado seja ele qual for. E os produtores? Fazem exactamente o mesmo!

O COVID-19 veio, se não para safar isto, pelo menos, para voltar a baralhar e para dar de novo. Saiba a nova geração olhar para isto com olhos de ver. Perceber que não é por aquele ser kizombeiro que todos têm que ser kizombeiros ou, porque o que está a dar é a latinada, que Lisboa apenas tem que ouvir latinada em cada porta aberta.
 

Em Portugal, a maioria das rádios passa lixo durante as 24 horas do dia pois, a única preocupação reside nas audiências. Se for Zé Cabra ou Maria Leal que está a dar, é isso que irá passar.


O trabalho das rádios e dos DJs é de educar mas, para educar é preciso ouvir, saber, conhecer e procurar. Em Portugal, a maioria das rádios passa lixo durante as 24 horas do dia pois, a única preocupação reside nas audiências. Se for Zé Cabra ou Maria Leal que está a dar, é isso que irá passar. Quanto mais fácil, brega e sem nexo melhor. Tudo isto seria um cântico gregoriano se os DJs fossem DJs e não, maioritariamente, tipos que, por €50 euros/noite pagos por fora, assumem a categoria dos discos pedidos da senhora que passa a semana a ouvir Maria Leal na rádio e que vê na pista a forma de aplicar os seus trejeitos mundanos entre três vodkas.

Por sua vez, os mais novos, cuja maioria de música pouco percebem, independentemente de existirem alguns com grande valor, ao ser-lhes dada uma oportunidade, agarram-se aos potenciómetros da mesa e aplicam golpes de karate noite fora como que a correr com todos os que estão à sua frente, excepção feita claro está, aqueles vinte que são a sua falange de amigos pessoais e respectivas namoradas. Depois choram-se, o mercado não lhes dá oportunidades, é ingrato, são os malditos lobbies. Não, os proprietários das casas e promotores de festas, precisam é de manter os clientes, não que corram com eles.

Ao contrário daquilo que vou vendo nos cursos para DJs e Produtores disponíveis no mercado, nenhum indivíduo sem o mínimo de cultura musical poderia ter aprovação em qualquer curso destes. É quase como dar uma catana para as mãos de um atrasado mental. Pode alguém que não conhece música educar maiorias? O resultado está à vista de todos e, só não vê quem não quer. Acaba o cliente por ter que fugir, o segurança, saturado, perder a cabeça, o porteiro, preferir ficar do lado de fora da porta, a barmaid utilizar O.B.s nos ouvidos e, claro, o empresário a coleccionar contas, a ter que mudar de empresa e a deixar rasto como o caracol.

Sobre a injecção de "live's" que temos levado nos últimos 70 dias, direi o seguinte. Será difícil perceber que, tirando casos pontuais de festivais - que para mim, mesmo assim, não fazem qualquer sentido - pois ninguém está em casa de castigo a ouvir um doido a gravilhar como se de uma cabine de um jardim zoológico se tratasse! Maioritariamente não há música, há barulho.

Aconselho, para este período, voltarem a ouvir Opus de Eric Prydz até o perceberem. É simples e eficaz, possui musicalidade e é um exemplo moderno de algo com princípio, meio e fim.
 
Miguel Barreto
Publicado em Miguel Barreto
domingo, 10 março 2019 19:50

O Mercado DJ em Portugal

Ao contrário do que muitos defendem, acredito que o mercado nacional de música ainda tem muito a ganhar com artistas DJ nacionais. Que Portugal é um País com bastante talento musical já todos sabemos, nomeadamente na música eletrónica. 

O que é que está a mudar? Noto que grande parte dos artistas DJ já faz uma coisa que era impensável pela maioria no passado: Adaptam o estilo de música ao espaço/publico onde irão atuar. Há uns anos era quase um "crime" dizer a um DJ para tocar os géneros X ou Y, porque o "artista" tinha um estilo musical próprio e não se iria adaptar e "trair" o seu género musical ou "estragar" a sua imagem, ao adaptar-se musicalmente. 

Felizmente o tempo veio mudar algumas mentes mais teimosas e fê-los perceber: O que um evento quer é manter o máximo de tempo possível os clientes a divertir-se e satisfeitos. A maioria dos DJs tem de entender: Há eventos específicos onde o seu género musical é "rei" e aí não faz nenhum sentido adaptar ou fugir à essência que o define como artista. O problema é que estes eventos não são, para já, a maioria, e os eventos de massas têm pessoas que gostam de géneros díspares, desde Funk ao Rock...

O que é que esta mudança está a causar? Já podemos ver muitos eventos "Festas Anuais da Região X" a contratar artistas DJ em detrimento das típicas bandas ou artistas de música popular. Reparem, o que os eventos querem é diminuir ao máximo os seus custos, aumentando a satisfação dos participantes. Um DJ cobra 25% do que qualquer banda/artista de música popular, e não tem uma comitiva composta por meia dúzia de pessoas, ou mais. Há 5 anos era quase impensável que as comissões de festas, compostas geralmente por várias pessoas com mais de 40 anos, procurassem contratar DJs e estar a par desse segmento de mercado. Hoje em dia a mentalidade mudou.

Na DO HITS Agency, felizmente, conseguimos antecipar esta tendência. Nos últimos anos criámos conceitos, projetos e aconselhámos artistas parceiros a seguir o caminho que achávamos mais correto. Temos neste momento vários projectos DJ, não só ideais para eventos com um público-alvo específico, mas também variado (Feiras, Festas Regionais, etc.). No final ganha o evento, ganham os artistas DJ e criam-se mais oportunidades para ainda mais artistas DJ singrarem no mercado nacional. 

E por favor não cometam um erro habitual: Não se preocupem com a opinião dos outros "colegas DJ" por adaptarem musicalmente e tocarem géneros trending. Interessa sim o feedback do público e de quem contrata. Lembrem-se, se ninguém vos ouvir, é impossível criarem seguidores ou uma marca. Um DJ pode, ou não, ter uma vertente de produção musical, mas é impossível ser considerado DJ se não atuar ao vivo. 

PS: Gostei muito de assistir a Karetus a passar a música do Toy, ainda no início do verão. Quando há qualidade, até musicas "da moda" se sabe utilizar e adaptar ao seu público-alvo.
 
João Casaleiro
CEO Agência DO HITS
Publicado em João Casaleiro
segunda, 23 julho 2018 22:25

Clubs vs Festivais

Nesta crónica resolvi abordar um tema que considero bastante questionável, actuações em Clubs e Festivais. Qual o mais indicado, preferido ou recomendável... segue a minha opinião.

Em época de Verão, sinónimo de calor, férias e festas ao ar livre chegam os inúmeros Festivais. Actualmente em Portugal podemos orgulhosamente dizer que temos alguns dos melhores eventos "outdoor" do mundo, sendo de forma originária ou em parceria, consecutivamente de forma positiva a maioria dos principais nomes mundiais passam assiduamente pelo nosso país, contribuindo para a economia, distinção no panorama ou simples facilidade de acesso ao entretenimento.

Várias vezes sou questionada acerca de qual o meu formato de evento preferido para participar, embora a resposta não seja fácil é simultaneamente bastante objectiva, um evento num Club tem uma capacidade mais reduzida, o que origina um público e tipo de evento mais canalizado e direcionado ao cliente alvo, consequentemente são festas mais pequenas, mas mais calorosas onde tenho mais contacto directo e comunicação com o público. Embora neste caso, maioritariamente "não seja tão favorável" a nível de exposição artística e marketing, quando comparado com um festival, mas neste caso a interactividade é única, o que proporciona uma experiência mais intensa e directa.

Por outro lado, temos o ponto de vista dos grandes palcos e dos eventos de maior dimensão, nestes casos, a exposição a nível de promoção consegue no geral ser de maior alcance, embora a interacção com o público seja diferente, não significando que seja pior. Neste caso em palco, exijo mais de mim pois tenho que agradar a mais público, embora em paralelo me divirta imenso pois tenho "mais braços no ar" e euforia concentrada. Contudo, isto não faz com que os eventos maioritariamente agendados para mim, Clubs e de pequena dimensão, tenham menor importância ou significado.

No mercado "underground" é normal que os eventos sejam de menor capacidade e direcionados para um nicho de mercado mais reduzido, ao mesmo tempo que os festivais e eventos de maior afluência são fundamentais, tanto para a exposição a nível de promoção como para conseguir mostrar em massa a um número maior e significativamente estreante o meu trabalho e aquilo que define a "Miss Sheila".

Após o mencionado, é relevante resumir que adoro participar em ambos os tipos de eventos, não esquecendo as diferenças, ambos são importantes e um pilar na carreira de um artista como eu. Relevante também é o facto, de que sempre fui bastante grata por conseguir marcar presença de forma significativa em ambas as situações expostas aqui, desde o início da minha carreira.
Publicado em Miss Sheila
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