Diretor Ivo Moreira  \  Periodicidade Mensal
segunda, 09 fevereiro 2015 21:21

O que nunca vos disseram

Muita gente tem e vive o sonho de vir a ser um artista (DJ, cantor, etc.) mas nunca lhe disseram a verdade. Muita gente vive na ilusão que um dia vai lá chegar mas nunca soube a verdade. A grande verdade é que a larga maioria dos artistas, não faz a mínima ideia ou tem noção do que é preciso para atingir um patamar elevado e continua a pensar que a sua qualidade (ou a que pensa que tem), o seu empenho ou trabalho, serão suficientes. 
 
Existem manuais, cursos, blogs, escolas e até tutoriais mas ninguém explicou aos artistas que os tempos mudaram, a industria discográfica já não funciona da mesma forma e que ninguém quer saber ou ouvir a tua música, se tens técnica, se sabes realmente alguma coisa de música, se tens uma grande voz ou se és um exímio executante de um instrumento musical ou nos "pratos". 
 
Não tenho a presunção de dizer que "sei como se faz um artista". Julgo que ninguém o poderá dizer mas todos podem afirmar que com um investimento financeiro elevado e alguma qualidade, qualquer um pode chegar ao topo. 
Vamos chamar as "coisas" pelos nomes. Tanto eu como qualquer agente/manager ou agência, não fazemos milagres. Fazemos valer a experiência, os contactos, o know-how e principalmente onde e como investir na carreira de um artista. Muitos colegas meus vão ficar chateados comigo com o que vou dizer mas a verdade é só uma... grande parte dos artistas de primeira linha em Portugal, só lá estão porque tiveram visão, apareceram no timing certo ou tiveram alguém que os puxou para cima. Existem dezenas (para não dizer centenas) de outros artistas que estariam na ribalta se tivessem tido alguma das situações que mencionei, por isso, não vale a pena tapar o sol com a peneira e dizer que o artista A ou B está "lá em cima" porque tem imensa qualidade ou é melhor que os outros. Doa a quem doer, esta é a realidade. 
 

(...) grande parte dos artistas de primeira linha em Portugal, só lá estão porque tiveram visão, apareceram no timing certo ou tiveram alguém que os puxou para cima.

 
Este artigo de opinião é escrito para um portal mais direcionado à noite e à musica electrónica, por isso vou "apontar baterias" aos DJs.
 
Alguém consegue explicar-me a diferença de valores de actuação que existem entre os DJs que passam o mesmo estilo de música? 
Como é que avalias as tais chamadas "skills" entre DJs que passam música a 4 tempos (larga maioria dos estilos de música electrónica), que têm "keys", "sync", "delays" e todos os efeitos e mais alguns ou usam hardware linkado?
A diferenças dessas "skills" ou até da seleção musical e leitura de pista (que hoje em dia não existe) é suficiente para diferenciar um valor de actuação entre os 50€ e os 5.000€ entre dois DJs? Óbviamente que não. 
A diferença é simples, óbvia e fácil de entender e não é compreendida pelos "puristas" e "cabeças duras" que nunca vão ser nada neste mercado porque teimam em arranjar os mais variados pretextos para o seu insucesso. 
 
Quantas vezes já ouviram estas frases?
- "Eu não sou vendido";
- "Não passo azeite";
- "Eu passo a minha musica e um DJ é um educador musical";
- "O numero de fãs (likes, views, plays, followers. etc.) não querem dizer nada";
- "Aquele gajo tem likes comprados";
- "Ou passo o meu som (quando às vezes nem produtores são) ou não actuo";
- "Eu não sou RP nem tenho de arrastar ninguém para me ouvir";
 
Poderia estar mais 1h00 a escrever as célebres frases que todos já ouvimos e o que já todos disseram e no fundo vocês sabem que ninguém quer saber desses argumentos para nada e só estão a enganar-se a si próprios.
 
Música é música e cada um gosta do que quer, ouve e compra o que entende, paga com o seu dinheiro aquilo que quiser. 
 
Um artista é um produto e como qualquer produto, tem de ser promovido e demonstrar a sua qualidade no mercado e criar "necessidade" de ser adquirido. 
Ninguém quer ouvir a música de um DJ (a não ser que a música ou o próprio DJ sejam conhecidos). 
Ninguém paga um valor alto por actuação se um DJ não tiver um público que pague para o ver/ouvir.
Ninguém contrata um "educador musical" porque o que querem é um DJ que vá fazer o serviço para o qual foi contratado.
Nenhuma editora (de topo ou major) vai editar um tema de um DJ sem fãs ou que não chegue através de alguém influente no meio e interceda por ele. 
Nenhuma rádio vai passar um tema, que até pode ser excelente mas se não for feito com um nome conhecido, ter influência de uma label ou management, ninguém quer saber ou tocar essa faixa. Doa a quem doer, esta é a realidade. 
 
Continuo a não ter a presunção de dizer que sei "como se faz um artista" mas posso afirmar que enquanto os artistas não perceberem que têm de investir fortemente na sua carreira como se estivessem a abrir um negócio, nunca vão ter expressão neste mercado e não podem esperar que sejam as suas actuações ou música a dar o montante que precisam para "crescerem" porque isso nunca vai acontecer. Têm de ter capital para investir neles próprios para que as "datas" apareçam. Se não sabem como fazer, paguem a alguém que possa fazer esse serviço por eles. 
Precisam de investimento constante e de estimular o mercado para que a sua marca seja apetecível de ser comprada. Toda a gente compra um "Red Bull" em vez de outra marca energética porque foi criada essa "necessidade" e ninguém questiona se a Red Bull é melhor ou pior do que outra bebida similar.
 

Todos querem tudo "para ontem" e quando são questionados do porquê de ainda não terem conseguido nada, a resposta é sempre a mesma - "falta de oportunidades".

 
Isto é tão simples de entender e ver artistas em constante negação a encontrarem argumentos descabidos para justificar o seu insucesso é algo incompreensível porque estão só a enganar-se a eles próprios. 
 
Em 20 anos de mercado, não conheci um único artista que se queira lançar no mercado que tenha chegado junto a mim (comigo na qualidade de agente/agência) com capacidade de investimento, plano de marketing, estudo de mercado e viabilidade e que perceba que até o Cristiano Ronaldo teve de fazer as "escolinhas", passar por vários escalões e só atingiu o estrelato ao fim de muitos anos. Todos querem tudo "para ontem" e quando são questionados do porquê de ainda não terem conseguido nada, a resposta é sempre a mesma - "falta de oportunidades". 
 
Caros artistas, ninguém nasce ensinado e quando não há oportunidades a solução é criar e não esperar que caia do céu porque isso nunca vai acontecer e ninguém dá nada de borla. Mesmo com os argumentos que os artistas usam do "amor à musica", ninguém dá amor sem receber em troca. Não existe nada neste mundo que seja gratuito. Mesmo os sentimentos têm de ter retorno ou deixam de ser "dados". Ficarem a arranjar desculpas, esperarem que apareça alguém para investir em vocês sem que tenham a certeza que vão ter retorno desse investimento ou teimarem a insistir em algo que ninguém quer comprar, podem ter a certeza absoluta que nunca vão ser alguém neste meio. 
 
E se estiverem a ler esta frase, é sinal que leram todo o texto e o título desta crónica já não faz sentido porque "o que nunca vos disseram", acabou de ser dito.

 

Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
domingo, 17 março 2019 16:41

Valores

Este tema é algo que até mesmo eu não sei expressar a 100%, mas vou falar-vos um pouco dos valores que devemos considerar válidos e no limite da humildade, e também dos cuidados que nós artistas devemos ter em conta quando nos propomos a um público. 

Todos sabemos que a música eletrónica entrou na "moda" há alguns anos, e, consequentemente o número de DJs/Produtores/Sonhadores/Amantes aumentou ao longo desde esse período. 

No contexto artístico onde estou inserido, já me deparei com inúmeros casos onde o artista elabora enormes riders hospitaleiros, com direito a camarim de luxo, bebidas de marcas caras, toalhas PRETAS, entre outras tantas coisas... Perguntam-me "O que tens contra isso?" Respondo claramente que nada e considero que os artistas se valorizem e peçam aquilo que acham indispensável para o dia da sua performance. Mas será que depois na hora da atuação estão em condições de alguma coisa? Parece que alguns não compreendem que estão a tocar para o público, que estão a ser pagos e que têm de agir como qualquer contratado em qualquer outro serviço. Refiro isso porque há muitos artistas que antes da atuação bebem exageradamente, fazem uma vida de excessos antes de entrar em cena e depois "dá barraca".  O porquê de escrever sobre este tema não é nada contra quem o faz, porque sinceramente não me importo com o nível de atuação de A, B, ou C, escrevo apenas porque prentendo chamar a atenção dos excessos no meio onde estamos. Todos nós nos dizemos ser grandes artistas, falamos bem de nós próprios a toda a hora e considero isso positivo, no entanto é necessário fazer valer o que dizemos. Sinto até que seja um pouco imaturo não nos sabermos comportar dentro do nosso espaço de trabalho, a cabine. 

Para além disso, há ainda aqueles que não sabem ser educados com os colegas de trabalho, não me refiro a colegas/artistas, mas sim Técnicos de Som/Luz/Produção/Organização/Fotógrafos, etc... Sim, porque somos todos parte de uma comunidade! Comunidade esta em que precisamos uns dos outros para trabalhar, onde os artistas aparentam ter algum complexo com a comunicação, porque muitas vezes são mal-educados e chegam a ser desagradáveis para quem com eles está a trabalhar. 

"CAROS AMIGOS DJS, NÓS NÃO SOMOS REIS DE NADA, NÃO SOMOS ESTRELAS E O MUNDO NÃO GIRA À NOSSA VOLTA".

Entendam que não precisamos ser arrogantes para quem está a trabalhar. Temos espaço para ser artistas, músicos e na nossa cabeça até temos espaço para ser estrelas, mas acima de tudo devemos ser pessoas, e boas pessoas, porque só assim deixamos a nossa marca. Este é realmente um tema que me incomoda, não por viver isso na pele, mas porque já vi acontecer inúmeras vezes.

Nunca se esqueçam desta lista:
Sem Técnico de Som: Não ouvimos 
Sem Técnico de Luz: Não vimos
Sem Produção: Não comemos 
Sem Organização: Não recebemos 
Sem Fotógrafos: Não recordamos 
Sem Público: Não nada.
 
Zinko
Publicado em Zinko
sábado, 13 junho 2020 23:38

Tempo para meditar

Não faria sentido algum, neste momento, dissociar o mercado dos DJs e Produtores musicais do COVID-19.

Para ser sério, direi que foi o melhor que poderia ter acontecido. Não que tudo estivesse mal mas, a maioria encontrava-se no mau caminho.

Se no que diz respeito aos consagrados pouco haverá a dizer, já que vão garantidamente aproveitar para produzir música, retemperar forças e reaparecer ao seu melhor nível pois possuem situações financeiras que lhes permitem dedicar-se à sua profissão, o mesmo não se poderá dizer da grande maioria e, desta, opto por começar pelos mais novos.

Para estes, melhor do que um semestre de COVID-19 não poderia existir e, embora tema que não vá servir para grande coisa, penso que deveriam ter aproveitado para ler e ouvir música, que julgo ser aquilo que maioritariamente lhes faz falta. Por muito que as pessoas se contorçam com esta afirmação e que a mesma até possa ser vista como afronta, não o é.
 

Mudar, exigiu que os DJs educassem musicalmente o público e, contra ventos e marés, foi exactamente isso que aconteceu.


Se retrocedermos há vinte e muitos anos atrás, facilmente concluímos que, quando a música de dança começou a despertar entre nós, a maioria dos empresários e até clientes, afirmavam à boca cheia que não queriam "martelinhos". Mudar, exigiu que os DJs educassem musicalmente o público e, contra ventos e marés, foi exactamente isso que aconteceu. Dj Vibe, ao contrário do que muitos pensam, não caiu do céu, não foi obra e graça do Espírito Santo. Ouviu muita música e daí, não surpreende que ainda hoje detenha, através da parceria com Rui da Silva - Underground Sound of Lisbon - o maior êxito internacional que algum português alguma vez produziu e que perdura como hino "So Get Up" e que cada um dos seus set's seja uma viagem, naturalmente que uns melhores que outros. Depende do estado de espírito de cada um.

A maioria dos novos Produtores, que serão certamente os grandes da música de amanhã, não conhecem Música além daquela que hoje produzem. Não conhecem, sequer, clássicos de 70/80/90 quanto mais, um pouco de música clássica!

A maioria dos grandes nomes - atenção que estou essencialmente a falar do mercado nacional - foi residente, fez o seu percurso e cresceu. A maioria dos grandes nomes, sabe ir ao baú pois, tem conhecimento, história e arte, a tal arte que aprenderam nos anos 90 em que a máxima era; música é cultura. Se um DJ não educa a sua pista, apenas lhe resta ir copiando o sucesso do vizinho e, daí à maioria das pistas de dança estarem a passar cópias de lixo umas das outras, é o sistema reinante. Ninguém procura ter o seu público procuram sim, copiar o sucesso da pista ao lado seja ele qual for. E os produtores? Fazem exactamente o mesmo!

O COVID-19 veio, se não para safar isto, pelo menos, para voltar a baralhar e para dar de novo. Saiba a nova geração olhar para isto com olhos de ver. Perceber que não é por aquele ser kizombeiro que todos têm que ser kizombeiros ou, porque o que está a dar é a latinada, que Lisboa apenas tem que ouvir latinada em cada porta aberta.
 

Em Portugal, a maioria das rádios passa lixo durante as 24 horas do dia pois, a única preocupação reside nas audiências. Se for Zé Cabra ou Maria Leal que está a dar, é isso que irá passar.


O trabalho das rádios e dos DJs é de educar mas, para educar é preciso ouvir, saber, conhecer e procurar. Em Portugal, a maioria das rádios passa lixo durante as 24 horas do dia pois, a única preocupação reside nas audiências. Se for Zé Cabra ou Maria Leal que está a dar, é isso que irá passar. Quanto mais fácil, brega e sem nexo melhor. Tudo isto seria um cântico gregoriano se os DJs fossem DJs e não, maioritariamente, tipos que, por €50 euros/noite pagos por fora, assumem a categoria dos discos pedidos da senhora que passa a semana a ouvir Maria Leal na rádio e que vê na pista a forma de aplicar os seus trejeitos mundanos entre três vodkas.

Por sua vez, os mais novos, cuja maioria de música pouco percebem, independentemente de existirem alguns com grande valor, ao ser-lhes dada uma oportunidade, agarram-se aos potenciómetros da mesa e aplicam golpes de karate noite fora como que a correr com todos os que estão à sua frente, excepção feita claro está, aqueles vinte que são a sua falange de amigos pessoais e respectivas namoradas. Depois choram-se, o mercado não lhes dá oportunidades, é ingrato, são os malditos lobbies. Não, os proprietários das casas e promotores de festas, precisam é de manter os clientes, não que corram com eles.

Ao contrário daquilo que vou vendo nos cursos para DJs e Produtores disponíveis no mercado, nenhum indivíduo sem o mínimo de cultura musical poderia ter aprovação em qualquer curso destes. É quase como dar uma catana para as mãos de um atrasado mental. Pode alguém que não conhece música educar maiorias? O resultado está à vista de todos e, só não vê quem não quer. Acaba o cliente por ter que fugir, o segurança, saturado, perder a cabeça, o porteiro, preferir ficar do lado de fora da porta, a barmaid utilizar O.B.s nos ouvidos e, claro, o empresário a coleccionar contas, a ter que mudar de empresa e a deixar rasto como o caracol.

Sobre a injecção de "live's" que temos levado nos últimos 70 dias, direi o seguinte. Será difícil perceber que, tirando casos pontuais de festivais - que para mim, mesmo assim, não fazem qualquer sentido - pois ninguém está em casa de castigo a ouvir um doido a gravilhar como se de uma cabine de um jardim zoológico se tratasse! Maioritariamente não há música, há barulho.

Aconselho, para este período, voltarem a ouvir Opus de Eric Prydz até o perceberem. É simples e eficaz, possui musicalidade e é um exemplo moderno de algo com princípio, meio e fim.
 
Miguel Barreto
Publicado em Miguel Barreto
sexta, 17 março 2017 21:21

O DJ toca ou passa música?

De vez em quando nas redes sociais vejo umas trocas de ideias mais acesas sobre esta questão. Há muitos anos atrás os DJs usavam normalmente a expressão “vou ali passar música...”, mas de há uns anos para cá, essa expressão transformou-se em “vou ali tocar...”. Qual das duas maneiras é a mais correcta para referir-se ao mesmo acto?
 
De um lado temos os músicos (e alguns músicos que também são DJs) que dizem que o DJ se limita a “passar a música dos outros”, do outro lado temos os DJs que dizem que não só tocam as músicas dos outros (ou as suas, caso sejam também produtores musicais) mas que também criam sonoridades novas, quando estão a actuar...
 
Sinceramente, acho que as duas afirmações estão correctas. É verdade que antes de aparecerem as novas tecnologias, as várias aplicações e controladores que agora podemos usar nos “sets” as possibilidades de criação eram muito mais limitadas, mas mesmo assim havia DJs que mesmo só com pratos e discos em vinil praticamente criavam novos temas, novas versões de temas, “remixes” na hora, com vários temas a tocar ao mesmo tempo. Lembro-me assim de repente do DJ Americano Jeff Mills a actuar dessa forma e na minha opinião isso é “tocar”, não é simplesmente o acto de “passar música”. Quem já assistiu a uma actuação dele a 4 pratos sabe do que estou a falar.
 
É verdade que nessa altura eram mais os casos em que o DJ “passava música” do que os em que “tocava”, mas mesmo assim usando “só” dois, três ou quatro pratos era possível (e alguns faziam-no) criar novas sonoridades, criar novos temas a partir outros já existentes. Isso não era a regra geral, é verdade, mas alguns DJs faziam-no e muito bem. 
 
Na minha opinião, hoje em dia é mais normal, por tudo o que usamos nas actuações, o termo “tocar” do que “passar música”. Ainda mais no caso daqueles DJs que praticamente só usam temas próprios e/ou “loops” e bases próprias e alguns temas de outros artistas num programa como o Ableton Live, criando sessões exclusivas com sonoridades novas, que muitas vezes até resultam em temas novos.
 

Com tudo o que temos à disposição neste momento para usar durante as actuações o limite é a nossa imaginação e criatividade!

 
Hoje em dia, com um computador portátil e um programa como o Traktor da Native Instruments (ou outro do género) é muito mais fácil conseguirmos criar uma versão nova, um momento “exclusivo” num set que provavelmente não se vai repetir noutro local. A Native Instruments até criou um formato exclusivo, os “STEMS” que basicamente são a divisão de um tema em quatro pistas separadas. Isto permite uma grande liberdade criativa já que podes usar o instrumental de um tema, uma voz de outro, um baixo de um terceiro e um sintetizador de um quarto e criar uma versão completamente nova de algo já existente ou mesmo um tema original, dependendo da tua imaginação! Isto já era também possível com o formato “Remix Sets” que a Native criou antes e que permite ter os temas divididos por “loops” para poder usar em diferentes combinações, mas com os STEMS penso que a facilidade em criar novas sonoridades é maior e mais imediata. 
 
Por isso, na minha opinião, a discussão entre se o DJ “passa música” ou “toca” é mais uma discussão “estéril”. Tal como dizer que “o verdadeiro DJ é aquele que não usa SYNC” ou “o verdadeiro DJ usa discos em vinil, não usa computadores...” entre outras discussões que de vez em quando aparecem nas redes sociais. Com tudo o que temos à disposição neste momento para usar durante as actuações o limite é a nossa imaginação e criatividade!
 
Carlos Manaça
 
(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)
Publicado em Carlos Manaça
quinta, 18 fevereiro 2016 20:07

O talento das redes sociais

Para os fãs de música, as redes sociais são salas imensas cheias de musicalidade nos diversos estilos, onde se compram bilhetes para os festivais de verão e se descobre qual o DJ que vai estar no clube onde costumam frequentar. Para os artistas, pode significar a exposição necessária para a sua carreira.
 
Antes do boom da internet ser o que é hoje, os artistas encontravam as músicas novas nas lojas de venda ao público onde, espantem-se, era necessário pegar num vinil ou cd e realmente ouvir. Não havia Beatport, iTunes, Traxsource ou Soundcloud. Não havia forma de publicitar os gigs da mesma maneira que há hoje e para se estar a par das novidades, era necessário sair à noite e ouvir outros DJs.
 
Posto isto, Não sou hipócrita. Hoje em dia, em todas as áreas e todas as profissões, o “Social Networking” é uma ferramenta que não se deve negligenciar, de forma alguma. 
 
No entanto, por vezes dou por mim a pensar: “Quando é que o talento na gestão das redes sociais se sobrepôs ao talento musical?”.
 
Parece-me que grande parte dos novos DJs são mestres em design, percebem imenso de logos e de photoshop, inclusive até conseguem colocar mais pessoas no clube X do que aquelas que realmente lá estiveram. Tiram umas fotos do suposto estúdio com legendas “quase pronta a nova música”, mas que nunca sai... porque simplesmente estar dias a fio em frente a um computador a fazer música não é tarefa tão simples quanto parece ser. E a má notícia é: tu só vais tocar a um clube de topo ou um festival estilo Tomorrowland quando tens músicas tuas.
 
Não importa se tens 100.000 fãs no Facebook se o teu “engagement” e “edge rank” são nulos. Não é isso que faz de ti melhor artista nem faz com que vás tocar ao clube A ou B.
 

Não importa se tens 100.000 fãs no Facebook se o teu “engagement” e “edge rank” são nulos. Não é isso que faz de ti melhor artista nem faz com que vás tocar ao clube A ou B.

 
Os produtores de grandes eventos, festivais ou clubes, procuram sempre artistas que as pessoas se possam relacionar através da música, seja ela Big Room, Techno, HipHop, Kizomba, whatever. Se enquanto artista não tens a criatividade para seres um DJ diferente dos outros, através de scratch, uso de máquinas ao vivo - maschine, por exemplo, ou a capacidade de ser produtor de música, a verdade é que nunca vais passar de um DJ de warmups a tocar músicas de outros artistas.
 
O marketing é importante mas até certo ponto... Não importa se tens 100.000 fãs no Facebook se o teu “engage” e “edge rank” é nulo. Não é isso que faz de ti melhor artista nem faz com que vás tocar ao clube A ou B. 
 
No final, o que interessa saber é se tens a capacidade de te distanciar dos outros como DJ/Produtor e sejas realmente reconhecido junto do público: a qualidade vai sempre sobrepor-se à quantidade. 
 
 
Dan Maarten
Publicado em Daniel Poças
domingo, 05 novembro 2017 21:31

A noite de novo em prime time

Mas qual Urban Beach? O problema não é de hoje nem de ontem. Foi, é e será sempre, apenas e só o "K"!
 
Começo por esclarecer, que discordo totalmente e considero inadmissíveis alguns dos actos que vi por parte de alguma da segurança da casa mas, também estou longe de conhecer toda a verdade pois, garantidamente que tudo isto aconteceu fruto de muita coisa.
 
Infelizmente, a noite não é segura e não o é por uma razão simples. À volta de quem sai tranquilamente para se divertir, existe quem saia apenas e só para arranjar problemas, quem saia para roubar, quem saia para alimentar grupos de conflito e tudo, sem a polícia se encontrar nas redondezas; é mais fácil e menos complicado estar em operações Stop na caça à multa! Mas, manda quem pode, obedece quem é esperto e também os polícias acabam embrulhados num problema que não é deles.
 
Ao longo de duas vidas, provavelmente somados, pelo menos sessenta anos bem intensos, apenas registei um problema com a segurança e esse, foi prontamente resolvido pela dita segurança no local e no mesmo dia. Para ser respeitado, é preciso respeitar e essa, é a regra de ouro que cada vez alimenta menos gente que por aí anda.
 
Há bons e maus profissionais, sejam eles seguranças, empresários, barmans, djs ou outros, tal como, existem bons e maus clientes e até, clientes que servem para um mas, não servem para outro espaço. Não raras vezes, tudo isto, é bizarramente conotado com racismo ou sectarismo mas, meus caros, no Palácio de Belém apenas dorme o Presidente e quem ele bem entende e para usufruir da Assembleia da República, é preciso fazer parte da corja reinante ou então, só passando pela revista e de Cartão de Cidadão na mão. Não somos todos portugueses? Não deveríamos todos poder ir à cantina da AR?
 
O "K" por desde sempre ter definido padrões, regras, ideias e formas, por nunca se ter escondido de assumir pretender ser, ter e fazer o melhor, sempre seleccionou e isso, naturalmente que foi provocando e continua a provocar uma profunda dor de corno a quem não está dentro dos padrões por eles definidos. É traumático, imagino que seja mas, é a tal democracia a funcionar. Ou não? Serei eu obrigado a abrir o meu investimento a quem não quero? Não me parece!
 

Ao contrário do que a maioria pensa, a segurança não é gratuita, custa muito dinheiro a uma casa (...)

 
Nos últimos anos, não raras vezes vi situações em que, sem um segurança é impossível uma rapariga chegar ao seu carro sem ser importunada e como polícia não há, lá vão sendo enviados os seguranças da casa. Estaladões no meio da rua a miúdos já vi muitos e sempre, por grupos de animais, que por um telemóvel é capaz de tudo.
 
Ao contrário do que a maioria pensa, a segurança não é gratuita, custa muito dinheiro a uma casa, é mais uma área delicada a controlar... tem que se lhe diga! Porém, sem ela, garantidamente que cada discoteca seria uma selva, onde imperaria a lei das matilhas mais fortes e nada mais.
 
No dia em que nos deparamos com esta triste história à porta do tal "Urban Beach", em Coimbra, dois selvagens em pleno dia desfazem um bom samaritano de forma bastante mais barbara em plena rua. Fecharam os MacDonalds do país? Abriram Telejornais com eles, foram para o Facebook vociferar? Algum Ministro veio teorizar? Claro que não, a história é o Urban, a azia é o "K" e foi por isso, que tudo o que é paineleiro tudo fez para se meter no assunto. O Urban tem 38 queixas? E quantas tem o Metropolitano? É só tentar perceber a proporcionalidade, não esquecendo, que nos Urban's bebe-se álcool e é por norma, onde o João se atira à Clara que é namorada do Manuel... e repito, não há polícia!
 
Com e sem geringonças, todos meteram a foice em seara alheia mas, alguém se preocupou com a verdade, com as razões, com o que se passa noite a noite país fora! Todos falam do que não sabem e isso, é triste e caricato.
 
O Urban é mau? Come criancinhas? É provável que sim mas, é a casa que os mais novos preferem na cidade de Lisboa. Será, que é por ali chegarem e serem muito mal tratadas? Será esta, uma geração masoquista? Duvido!
 
Este é um problema de polícia, quem abusou, certamente será julgado e condenado dentro das razões que existirem para isso já que isto não é um caso de lesados do BES. Os ditos seguranças estão devidamente detidos, os dois "doutores" de Coimbra, à solta! Dois pesos e duas medidas.
 
Para ser franco, a quase totalidade dos comentários metem-me nojo, sinto neles de imediato repulsa, por neles rever traumas privados de muita gente que, em bicos de pés, aproveita para ladrar em regime de vingança pacóvia. É o que temos! 
 

Depois dos resultados da irresponsabilidade do Estado nos incêndios deste ano, a irresponsabilidade da falta de polícias à porta dos espaços nocturnos mantém-se vinte anos depois.

 
Lentamente, da melhor noite da Europa em 1994 para a catástrofe que se vê hoje passaram apenas vinte e tal anos e houve, quem previsse este desfecho, ele aí está.
 
Quanto à famosa PSG, terá certamente bons e maus profissionais, terá mais ou menos culpas no cartório e penso, pelas medidas agora tomadas no Urban Beach que metade dos bares do Bairro Alto irá também fechar ou talvez não, pois por aí, continua tudo a levar bom tratamento, não têm K!
 
Depois dos resultados da irresponsabilidade do Estado nos incêndios deste ano, a irresponsabilidade da falta de polícias à porta dos espaços nocturnos mantém-se vinte anos depois. Será assim tão difícil perceber, que hoje, sair de uma discoteca sem um segurança às 5 da manhã é um risco de alto calibre por culpa dos políticos que temos que apenas souberam legislar para o pagamento de direitos, direitos conexos e sei lá que mais direitos!
 
Mais uma vez, o "K" está na dança e pelo que vejo, não faltam idiotas a opinar e certamente que a grande maioria movida por outros interesses ou traumas.
 
Este, para mim, é apenas e só mais um caso de polícia. Tudo o resto que tenho lido, é apenas e só de lamentar.
 
Miguel Barreto
Publicado em Nightlife
sexta, 25 março 2016 21:44

O DJ Residente

Andando por aqui a explorar os temas que tenho em agenda para esta minha primeira crónica, decidi focar a importância do DJ residente num espaço noturno.
 
Na ideia e opinião de muita gente, o DJ residente não é mais do que um trabalhador habitual de um club que tem como função tocar ao início da noite, quando a casa se encontra ainda vazia e que ali está apenas a ‘encher chouriço’ como se diz na gíria popular, até que entre na cabine o convidado da noite, que esse sim é a estrela.
 
Nestes meus 16 anos de carreira como DJ, contei com 2 residências: uma de 2 anos e outra de 3 anos, sentindo-me como tal com capacidade de opinar livremente acerca daquilo que é um DJ residente e da suprema importância que ele tem para um club!
 
O DJ residente tem sido relegado para uma posição secundária na noite e cada vez mais se encontram espaços que não têm mesmo um residente. Parece que se esqueceu que o residente é o mais importante elo de ligação das normalmente 3 fases em que a noite se divide: Warm-up, Peak Hour e Closing.
 
O residente tem como principal missão preparar a noite para o convidado. Saber o que tocar e quando tocar. Levar o público ao encontro do convidado mas sem nunca chocar com a sonoridade que esse vai apresentar no seu set! Como residentes, temos de saber brilhar à nossa maneira.
 

(…) o residente é o mais importante elo de ligação das normalmente 3 fases em que a noite se divide: Warm-up, Peak Hour e Closing.

 
Aprendemos a conhecer as caras habituais do club e como tal, aprendemos a conhecer os seus gostos. Saber pôr o público a mexer deixa rapidamente de ser um problema e é com essa arma que muitas vezes salvamos a noite, ajudando também o convidado a familiarizar-se com o público que tem na sua frente. Tudo isto, sabendo sempre qual é o nosso lugar na noite e sem nunca querermos tomar a lead… lembrem-se: não são o ponto alto da noite.
 
É por isso que continuo a dizer que ser residente não é um trabalho fácil! Requer know-how, leitura de pista, trabalho de casa para com o convidado que vamos ter nessa noite, cultura musical acima da média, capacidade de gestão e acima de tudo saber conhecer as suas fronteiras. Muitos DJs falham isto e é por isso que vulgarmente vemos supostos residentes a fazer warm ups completamente desenquadrados daquilo que vai ser a noite, a reproduzirem musicas produzidas pelos convidados (parece um cliché, mas é uma situação que se repete frequentemente), a tocar ‘mais forte’ querendo mostrar ao convidado e às vezes ao público que também estão à altura do artista seguinte, mesmo ‘queimando’ completamente a noite… São pequenos detalhes mas muito importantes! Tão pequenos e tão importantes que até mesmo o nível de volume do som é para ter em conta. Sabemos o efeito que o som tem no nosso corpo… sentimo-lo como que se de uma batida de um coração se tratasse e é algo que marca o nosso ritmo ao longo da noite.    
 
Outra das situações recorrentes de muitos dos DJs residentes na atualidade é a de reproduzirem muita música antiga. Na tentativa de quererem fazer tão bem o seu trabalho de não querer ‘roubar’ o estrelato do convidado, acabam por pecar na sua playlist, reproduzindo muitas vezes a medo e recorrendo a temas mais antigos. Pessoalmente, considero isto um excesso! Há muita música nova e recente que não vai chocar com o trabalho do convidado. É certo que devemos guardar os chamados ‘hits’ para a Peak Hour, normalmente dominada pelo convidado, mas há muitos outros ‘hits’ de fácil uso no warm up. Mais uma vez , aqui encontramos os frutos do nosso trabalho de casa.
 
Assim sendo, se vos convidarem para ser residente, pensem primeiro se consideram ter os requisitos necessários para tal! Não é fácil! E não tomem esse trabalho apenas como uma oportunidade de atuar todas as noites sem terem de estar à procura de gigs, mas sim como uma escola, uma fonte de aprendizagem, que vos prepara para tudo. Até mesmo para os mais experientes, pois a arte de aprender é uma experiência contínua que devemos saber abraçar!
 
Pedro Carvalho
Publicado em Pedro Carvalho
quarta, 22 fevereiro 2017 22:02

Preparação e pesquisa de músicas

 

Assunto muito discutido. A pesquisa de músicas torna-se a cada dia, o ponto crucial para o DJ profissional. Assim sendo, uma pesquisa mais apurada acaba aumentando a qualidade do desempenho do DJ e, ainda por cima, pode fazer a diferença entre o sucesso ou não de um gig.
 
Outra virtude da pesquisa é a possibilidade de clarear os caminhos do set e distanciá-lo o máximo possível daquele lugar comum, onde se encontram as faixas sob as categorias patrocinadas ou as famosas “Top 10”, “Top 100”, etc. 
 
Categorias essas que, em grande parte, estão em evidência, pois (como o próprio nome diz) foram financiadas de alguma maneira. Ou seja, para se destacar, o profissional deve se acostumar com a corrida incessante em busca de novidades que, pratiquem a coexistência entre o gênero que mais o retrata e a surpresa de tocar uma faixa pouco conhecida ou até mesmo exclusiva.
 
A introdução desta crónica sugere a não banalização da profissão de DJ, já que grande parte das pessoas (clientes) que frequentam as festas e clubes não tem nenhum tipo de conhecimentos.
 
Nada mais injusto, uma vez que a função principal do DJ é a de levar a boa música, a cultura e as sensações transmitidas pelo seu set.
 
Seguindo para a parte que realmente interessa... A pesquisa.
 
É de conhecimento geral que grande parte da matéria-prima do DJ, a música, encontra-se na internet. Seja lançamento, seja uma track de um ano atrás ou aquele clássico que marcou a década de 80, a probabilidade de se encontrar tal conteúdo em formato digital supera os 95%. 
 

(...) a probabilidade de se encontrar tal conteúdo em formato digital supera os 95%.

 
Sendo assim, pode-se levantar a grande questão: Como ser diferenciado em um nicho de mercado competitivo em que, mais da metade dos interessados são incluídos digitalmente e possuem os mesmos recursos?
 
Na minha opinião a resposta para tal pergunta é simples e direta: DEDICAÇÃO
 
Quanto maior a dedicação, maior será a chance de aumentar o grau de temas novos nas suas music lists.
 
Algumas Dicas
O levantamento dos artistas que mais agradam o ouvido do DJ é um bom primeiro passo. 
 
Frequentar a página do produtor, estar sempre atento ao seu trabalho e segui-lo em redes sociais é uma vertente interessante, pois faz com que os lançamentos dessas pessoas cheguem mais rapidamente até o pesquisador mais assíduo. O objetivo aqui é simplesmente vigiar de perto os lançamentos, produções e remixes dos que o DJ considerar como melhores produtores.
 
Seguindo a questão acima, duas hipoteses interessantes. A primeira será a pesquisa sobre um registo musical. Esse registo reúne músicas que tenham algo em comum, então se um lançamento do produtor de preferência daquele DJ o agradou naquele momento, há uma ampla facilidade de ele apreciar os lançamentos adicionais e demais produtores daquele mesmo registo musical, ampliando, assim, a rede de produtores que o artista seguia até então.
 

Procurar discos nas lojas espalhadas pelo país (já muito poucas) é uma alternativa palpável e confiável.

 
A segunda hipótese é o aumento da notoriedade de um recurso interessante que alguns sites oferecem, conhecido como “quem comprou esta faixa, também comprou…”, isto significa que podemos comprar e encontrar a mesma música e mais as apontadas, isto é, a avaliação dessas outras faixas tornou-se iminente, uma vez que dois artistas de, aparentemente, mesmo gosto musical, se encontraram.
 
Pode não ser de conhecimento geral, mas existem lançamentos de faixas exclusivas em vinil, o que pode tornar um set extremamente distintivo com relação aos demais, uma vez que nem todos os DJs são entusiastas dos 12’’. Contudo, o profissional pode – e deve – adquirir o vinil e utilizar-se das técnicas digitais atuais para converter a faixa e conseguir exibi-la ao público de maneira digital, mesmo entendendo-se que essa técnica pode decrescer a qualidade com que a música foi gravada.
 
Mantendo a abordagem tecnologica, porém distanciando um pouco da originalidade, atualmente existem aplicativos que têm por objetivo identificar músicas. Daí, se o DJ escutar um trecho de uma track, basta habilitar esses softwares para obter um retorno do produtor e nome da mesma. Muito se contesta a respeito de aplicações como essas, porém poderá ser mais um meio de pesquisa. Exemplo: Shazam
 
Por fim, conclui-se que o DJ deve estar a par de toda e qualquer mídia social existente. Sites como o Facebook, MixCloud, SoundCloud, entre outros, devem ser visitados constantemente, pois neles podem aparecer sons novos, ímpares e que encaixem no repertório do artista.
 
Abandonando a era digital, ainda existem opções para os DJs.
 
Procurar discos nas lojas espalhadas pelo país (já muito poucas) é uma alternativa palpável e confiável também. A obtenção de raridades nestes locais é completamente exequível e, vale frisar novamente.
 
O trabalho exigirá dedicação!
 
Publicado em Divenitto
Chamo-me Herick Pinto, conhecido como "Baruke", tenho 23 anos, sou DJ profissional há 1 ano, fui formado na Academia Internacional de Musica Eletróncia (AIMEC) e contarei aqui um pouco sobre os sonhos e dificuldades que um jovem DJ encontra no início da carreira.

Desde que me entendo por gente que amo a música e tinha o sonho de seguir esse ramo de trabalho, poder expressar os meus sentimentos, transmitir para o público o que estava a sentir e fazer com que eles também vibrassem e entendessem a história que a minha música estava a contar.

Acredito que como um jovem DJ, não só eu, mas, como todos vocês que estão a iniciar a carreira, posso dizer que partilhamos o mesmo sonho: atuar em grandes palcos, participar nos festivais que fomos como público, mas agora como DJs, sermos reconhecidos, dividir o palco com os nossos ídolos, etc.; Só que muitos não imaginam as dificuldades que existem por trás disso e sonhar é realmente muito bom, mas acho que devemos também tentar perceber e contornar as dificuldades que vão aparecer ao longo do caminho. 

Vou tentar elucidar-vos um pouco sobre algumas dificuldades que podem encontrar ao longo do vosso percurso. Claro que é a minha experiência e acho que todos os jovens iniciantes na carreira também o vão passar ou já passaram por isso.

Em primeiro lugar acredito que uma das maiores dificuldades que encontrei foi arranjar gigs onde pudesse atuar, mostrar o meu talento e o meu som, porque ainda não nos conhecem, não somos ninguém aos olhos dos contratantes, não conhecem o nosso trabalho. Então ficam receosos de contratarem, como dizem "o desconhecido assusta". Quando contratam restringem a música que podemos passar, ou seja, só tocamos as músicas que eles querem e mais nada e isso realmente é muito frustrante, pois todos queremos tocar o nosso estilo, mas, acima de tudo acho que temos que parar e pensar que ser DJ também é um negócio e temos que saber aproveitar as oportunidades que nos são dadas, contruir o nosso curriculum, obter experiência em diversos tipo de sítios, seja em esplanadas, bares, discotecas, concertos, etc... tudo isso conta. 

Sem falar na parte em que muitos de nós trabalhamos, pois ainda não podemos viver da música e temos que garantir o nosso sustento e ter também para investir na nossa carreira. Se não podes investir 100% do teu tempo na música a treinar e procurar por gigs, investe 80 ou 70%, mesmo que seja só aquelas poucas horas do dia, faz algo, pois se ficarmos parados à espera que os contratantes venham ate nós e que nossos trabalhos cheguem sozinhos às mãos deles: não vão chegar, é assim que funciona. Por isso, invistam sempre que possam, é essa a minha dica.

Acredito que com foco no que realmente queremos, conseguimos atingir os objetivos que desejamos na nossa carreira. Eu por exemplo já atuei no "Ministerium Club" um espaço que eu só conhecia como visitante e sempre me imaginei a tocar ali, no Palco LG do Meo Sudoeste também tive a oportunidade de fazer o público vibrar e realmente foram experiências incríveis. Por isso, se realmente é o que tu desejas fazer tenho 3 palavras para ti: Foco, Força e Inspiração!
 
Publicado em Baruke
Portugal está cada vez mais na rota dos grandes DJs. Ao longo dos últimos anos demos um passo de gigante ao nível da produção de eventos assim como na vinda dos melhores nomes do mundo ao nosso país.
 
Não é de agora esta enorme paixão que Portugal demonstra pela musica eletrónica, muitos dos que lerem esta crónica provavelmente nunca terão ouvido falar de um “Neptunus Festival” entre muitos outros grande eventos que decorreram neste nosso cantinho à cerca de 25, 30 anos atrás. Sempre tivemos uma grande cultura e dance scene, desvanecida um pouco nos últimos anos com certas “modas musicais” ou influências culturais.
 
Com a chegada dos eventos de verão, muitas das ditas “modas” ficam esquecidas e as pessoas que num clube não conseguem ouvir a chamada “música de discoteca”, sim este termo já existiu, acabam por ir a sunsets, festivais, etc., para ver e ouvir DJs. Será que durante o inverno não se ouve música eletrónica em Portugal? É pena pois temos grandes DJs e principalmente grandes produtores, que acabam por não se poder expandir derivado ao estado do mercado, ou melhor, da música que se ouve em muitos dos locais neste momento no nosso país.
 
Tivemos e continuamos a ter nos últimos anos DJs/Produtores portugueses presentes no Top 100 da DJ Mag, goste-se não goste do modelo, seja verdadeiro ou não, ele está lá e acaba por ter um grande peso no mercado em algumas zonas do globo. Para mim como português é um orgulho ver colegas meus de profissão conseguirem colocar o nome de Portugal tanto lá em cima, Diego Miranda, Kura, Pete Tha Zouk e DJ Vibe estiveram e estão no topo dos DJs do mundo, o que é absolutamente fantástico.
 
Os grande festivais estão aí, tanto num movimento mais underground como mainstream, é altura de evasão total com o Algarve como ponto máximo dos grandes eventos e projetos de verão.
 

Para mim como português é um orgulho ver colegas meus de profissão conseguirem colocar o nome de Portugal tanto lá em cima.

 
Vejamos agora com atenção a agenda destes espaços, mais concretamente os “Summer Clubs” onde na maior parte das vezes os proprietários são os mesmos de muitos dos clubes que marcam a cena noturna nacional durante a temporada de inverno.
 
Se existe espaço para todos os gostos com agendas multifacetadas, com vários estilos musicais, (e ainda bem que é assim) porque não aplicarem a mesma estratégia no inverno nos clubes que gerem ou são proprietários. Acho que seria fantástico para a explosão total de novos artistas e conceitos nacionais. Aplaudo novas tendências, sejam elas numa componente eletrónica ou não, mas sair à noite desde terça-feira até ao domingo a ouvir o mesmo em muitos locais, não me parece que seja vantajoso para o desenvolvimento da indústria musical em Portugal. Se nos últimos anos tivemos um boom em produção nacional, porque motivo, tirando raríssimas excepções, muitos dos grandes produtores portugueses não conseguiram vingar lá fora? Talvez pela necessidade de trabalhar “para dentro de casa” e viver ou sobreviver, pois se não for dessa forma torna-se impossível fazer uma carreira sólida em Portugal, enquanto que os outros que não se preocuparam tanto com o mercado nacional, trabalharam para o mundo e foram conquistando o seu espaço além fronteiras
 
Nos últimos três anos tenho viajado um pouco por todo o mundo, Brasil, Dubai, Qatar, Tailândia, República Checa, Suécia, Marrocos, Espanha, entre muitos outros, tive oportunidade de tocar em alguns dos melhores clubes do mundo como o Green Valley no Brasil, Duplex em Praga ou Catch na Tailândia e por mais que viaje e toque pelo mundo é sempre melhor estar com os nossos, e sei que temos condições para ser cada vez mais uma referência no que diz respeito a “night scene” mundial, basta apenas uma mudança de estratégia e colocar em prática as mesmas ideias aplicadas durante o verão em Portugal, onde se ouve de tudo, segmentado e nos mesmos espaços. Se o caminho for bem feito, teremos grandes produtores e DJs portugueses a dar cada vez mais cartas fora do nosso país.
 
Agradeço mais uma vez ao Portal 100% DJ o convite para escrever esta crónica, é e será um prazer enorme colaborar e trabalhar em conjunto para um melhor desenvolvimento da música em Portugal.
 
Eddie Ferrer
Publicado em Eddie Ferrer
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