Quando me convidaram para escrever esta crónica, pensei com medo, estando ciente de estar ao lado de tanta gente conhecedora da indústria, que eu não teria expertise suficiente sobre o assunto.
Confesso que pensei que deveria fazer como tantos famosos artistas mundiais o fazem… pedir a alguém que escrevesse e eu apenas dava o nome!
Não cedi à tentação e escrevi apenas este texto como um... desabafo!
Lembro-me agora de uma troca de opiniões que tive nos finais dos anos 80 com o meu Pai, sobre um estilo musical que estava a dar os primeiros passos em Portugal: o House Music.
Nessa altura eu defendia a música gerada e difundida pelo "messias" Mr. Frankie Knuckles e que tinha como elemento característico a batida electrónica sempre acima dos 120 bpm.
O meu Pai, amante de música e locutor de rádio nas madrugadas da Antena1, não compreendia como era possível alguém ouvir aquilo a que chamava “barulho” e pior... como era possível ainda alguém gostar.
Nessa altura, pensava eu:
- O meu pai está mesmo velho, pois não compreende as novas tendências da música.
Hoje, passados anos, quando saio à noite nos principais eventos ou clubes mundiais, penso ao ouvir as músicas da moda:
- Como é possível alguém gostar disto?
Acredito que a minha filha pense também como eu há uns anos atrás que o pai coitado, já está velho e não entende nada sobre música moderna.
Estou assustado com esta ideia, confesso!
Será que estou mesmo a ficar velho e sem a capacidade de me atualizar musicalmente?
Penso então que talvez ainda haja uma possibilidade de me safar deste meu envelhecimento de actualização musical, peço então a vossa ajuda para refletirem comigo:
O agora auto-denominado EDM - (a que eu carinhosamente chamo “Música das Buzinas”). Começa logo pela usurpação de um nome - EDM:
- EDM - Electronic Dance Music é toda uma cultura de música de dança e electrónica e não apenas uma categoria dentro da pasta completa do House Music.
Aqui começa a minha reflexão sobre o que é a moda de música ou música da moda.
- Nos anos 90 havia um estilo de música (EuroPop), que por tão frequentemente e quase que em exclusivo se ouvir nas feiras populares, até se utilizava a simpática denominação de música “carrinhos de choque”.
A “Música das Buzinas” e enganosamente chamada EDM é na sua generalidade semelhante à música “Carrinhos de Choque”, sendo a sua construção sem grandes alterações na sua génesis musical e a aplicação de apenas modernos retoques de produção de máquinas que não existiam na altura.
Fico triste, pois acho que o House Music que eu defendi, se transformou apenas num espectáculo de estrelas Pop(…)
PLEASE, onde está então a novidade? Porque é que a música de “carrinhos de choque” era foleira na altura e está agora na moda movimentando milhões de seguidores?
A resposta a esta pergunta é quase tão difícil como saber o porquê de os carros brancos nessa altura serem chamados frigoríficos com rodas e agora até eu estar a pensar em ter um?
Ainda há pouco tempo, falei com um conjunto de reconhecidos coreógrafos que me disseram que era quase impossível hoje em dia, coreografar espectáculos com a “Música das Buzinas”.
Então como é possível? Fica então a minha dúvida, se a base da música electrónica é fazer as pessoas dançar, como é possível ser difícil fazer dançar os coreógrafos?
Será que quando se diz que a máxima "nada se inventa e tudo se transforma", já esgotou o espírito de imaginar música realmente nova?
Era necessário pegar em tudo o que era piroso há uns anos atrás, retocar, modernizar tecnologicamente e virar tendência?
Fico também rendido, quando me recordo que até eu próprio, no concerto dos Swedish House Mafia no Meo Arena, estava na pista maravilhado com o espectáculo visual e que dei por mim a pensar que a magia que ali estava a acontecer em termos técnicos, não era compatível com a possibilidade de os artistas poderem estar a tocar realmente, pois tudo batia perfeito: as explosões de CO2 com a batida, as imagens com os vídeos e os laser com os refrões que todos cantávamos, mas que isso afinal, ou seja a arte inicial dos artistas, já não era fundamental!
Fico triste, pois acho que o House Music que eu defendi, se transformou apenas num espectáculo de estrelas Pop e onde o marketing de comunicação do mundo actual, nos fez perder o gosto e a consciência própria do que realmente gostamos e ensinou-nos ou impingiu-nos a seguir tendências e conceitos que por muito que já tínhamos achado foleiro ou pimbas em determinadas alturas das nossas vidas, agora somos seguidores convictos.
Provavelmente eu, estou de facto, velho!