Diretor Ivo Moreira  \  Periodicidade Mensal
sexta, 29 maio 2020 22:08

Indústria da noite VS Pandemia

Nesta minha crónica para a 100% DJ decidi não falar do foco principal que normalmente guia a ideologia desta plataforma, mas faço-o muito por achar que nesta altura as duas acabam inevitavelmente por estar interligadas, ao mesmo tempo que peço desde já desculpa aos leitores pela extensão da mesma. 

Desde o princípio do mês de Março que o nosso país, bem como o resto do mundo tem sofrido de uma forma absolutamente inesperada com uma pandemia assassina e muito calculista que tem matado indiscriminadamente um pouco por todo o mundo. Na altura, o confinamento geral acabou por ser a decisão mais correcta, causando danos imediatos na nossa sociedade e comércio, bem como na nossa indústria, a nocturna, que como todos sabemos vive constantemente numa situação periclitante e de constante luta pela sobrevivência. É evidente que factores como o distanciamento social e todos os cuidados que nós, como cidadãos, tivemos que começar a adoptar, imediatamente fizeram perceber que os negócios de diversão nocturna iriam imediatamente ser os mais afectados, e com todo o sentido. 

A verdade é que cumprimos o nosso papel e, sem qualquer tipo de indicações ou apoios de qualquer espécie, fomos até, por iniciativa própria, os primeiros a compreender que era hora de cerrar os punhos e lutar contra um inimigo invisível. Os dias foram passando, a pandemia foi sendo controlada, o nosso país e Governo foi tido como exemplo lá fora e lentamente foram começando a ser dados passos para que lentamente pudéssemos todos voltar à normalidade, mesmo que condicionados e sendo obrigados, como é lógico, a ter em linha de conta que o problema não tinha desaparecido, mas sim controlado. 

Sector a sector, muito cuidadosamente, foram sendo abertas as portas das vidas de milhares de empresários, que puderam pelo menos olhar para o futuro com uma perspectiva mais animadora. Até aqui tudo bem, até nos termos começado a aperceber que esta mesma esperança não iria ser dada a todos, tendo inclusivamente os bares sido passados do sector de restauração e bebidas, onde sempre "viveram", para um sector invisível que até aos dias de hoje ainda não conseguimos muito bem perceber qual é. Numa primeira fase abriria a indústria que teria que abrir, e bem, e os bares e discotecas nem sequer eram tópico de conversa, quanto muito com uma previsão, mas na altura achei que tal era perfeitamente compreensível. Seguiu-se a segunda fase de desconfinamento, abrindo já o sector de restauração e bebidas, de onde os bares foram retirados como que por magia, e mesmo que com regras e restrições de horários lá tivemos cafés e restaurantes a ter a possibilidade de funcionar, sendo mais uma vez o sector noturno ignorado e sem qualquer tipo de informação relativamente ao futuro. Nesta altura, já os empresários lutavam contra a situação de ausência de qualquer tipo de apoio ou pelo menos uma perspectiva que daria uma luz ao fundo de um túnel muito escuro.
 

É verdade que faltará muita organização para se conseguir criar uma força que realmente tenha um peso suficiente para que pelo menos sejamos considerados, e isso é sem dúvida culpa nossa (...)


É verdade que faltará muita organização para se conseguir criar uma força que realmente tenha um peso suficiente para que pelo menos sejamos considerados, e isso é sem dúvida culpa nossa, se calhar passamos tempo demais a trabalhar e não devíamos, mas isso não significa que, devido a isso, tenhamos que continuar a ser ignorados quase em forma de desprezo ao ponto de serem absolutamente inexistentes as palavras "sector nocturno" nos comunicados do nosso primeiro-ministro, à excepção da única vez em que foi confrontado directamente por um orgão de comunicação social, a TSF, tendo o mesmo até parecido ter ficado bastante incomodado ao ponto de apenas dizer que se a indústria nocturna tivesse que ficar encerrada durante o Verão, iria ficar e isso não iria ser problema nenhum. 

Quando tomei conhecimento deste comentário, na minha opinião de uma irresponsabilidade política absolutamente inexplicável, dei por mim a analisar a situação actual, na qual observo alguns café e restaurantes que têm que encerrar às 23 horas, a funcionar ilegalmente até horários permitidos aos bares, a oferecerem serviços de bar sem terem qualquer tipo de especialização para isso, e numa altura em que até já se fala em levantar grande parte das restrições a este tipo de estabelecimentos, muitos deles continuam a não mostrar qualquer tipo de preocupações com as regras da Direção Geral de Saúde e a laborarem numa perspectiva bastante animadora, até porque se tivermos em linha de conta que uma boa parte da população portuguesa se encontra em "tele-trabalho", várias vezes conseguiremos facilmente afastar o cenário de pandemia dos nossos pensamentos ao andar na rua, tal é a descontração com que vemos as pessoas a retomarem as suas vidas de uma forma absolutamente normal, ao ponto de poderemos imaginar até que estamos em pleno Verão, notando-se um afluxo a esplanadas, cafés e restaurantes absolutamente anormal e até surpreendente para a data, na minha opinião, isto tudo para não falar na proliferação de festas ilegais, algumas que contaram já com mais de 100 pessoas como já me foi relatado por vários colegas de norte a sul do país e onde até, segundo a comunicação social, já aconteceram violações. 
 

Cada um civicamente acaba por ser responsável pela sua conduta, e irá sofrer, ou não, as consequências das suas atitudes (...)


Até aqui infelizmente tudo bem, cada um civicamente acaba por ser responsável pela sua conduta, e irá sofrer, ou não, as consequências das suas atitudes, mas ao voltarmos um pouco atrás reparamos num pequeno pormenor que me parece que estará a passar ao lado da vista de todos. Então, e o sector nocturno, como está no meio disto tudo? Absolutamente esquecido, com senhorios, empresários, bartenders, DJs, músicos, funcionários, marcas de bebidas, pequenos e grandes distribuidores e todos os que dependem desta indústria absolutamente entregues à sua sorte e, pior que tudo, a sentir na pele uma discriminação e desprezo sem comparação num Estado Democrático, ao mesmo tempo que assistem a esta série de acontecimentos que parecem estar a passar ao lado da opinião pública.

Os bares não podem abrir, mas os restaurantes e cafés trabalham o nosso mercado, as discotecas não podem abrir mas o festival do Avante não pode deixar de ser feito, as salas de espectáculos têm limitações do tamanho de 20m2 mas os aviões não têm restrições porque os passageiros apenas olham para a frente, ou seja, resumidamente, a cultura e a diversão nocturna não poderão nunca ser equacionados porque apenas não temos direito e somos um factor gravíssimo de risco. E será que ninguém pensa que talvez conseguíssemos dar mais garantias de segurança do que o café da esquina, onde toda a gente se abraça e faz de conta que tudo isto passou? E será que as discotecas não fariam um melhor trabalho de segurança do que uma qualquer garagem da Amadora? E o que fazemos aos milhares de artistas que ganhavam a vida a causar lazer e descontração a todas estas pseudo-figuras nas suas pausas de trabalho no Verão onde já eram imprescindíveis, para lhes dar música, fazer cocktails ou simplesmente os servir, o que fazemos aos milhares de funcionários altamente especializados que cada vez mais engrandeciam a qualidade de serviço do nosso país ao ponto de colocar Portugal como um dos mais apetecíveis destinos turísticos do mundo? O que fazemos aos milhares de espaços que anualmente enchiam os cofres do Estado com milhões de Euros em impostos apesar de serem constantemente bombardeados com impostos, taxas e licenças completamente desajustadas e algumas até inconstitucionais. 

Já não basta sermos preteridos em relação a um qualquer café ou esplanada que há anos que só sabe o que é servir cafés, tostas-mistas ou refrigerantes, ou a uma qualquer garagem ou anexo de acesso duvidoso, onde não existe qualquer tipo de segurança, não só contra o Covid mas também contra a nossa própria integridade física?
 

A pior coisa que poderemos algum dia sentir como cidadãos contributivos e activos dentro da economia do nosso país é sermos constantemente postos de lado, ao ponto de nem contarmos para uma terceira fase, e última de desconfinamento.


A pior coisa que poderemos algum dia sentir como cidadãos contributivos e activos dentro da economia do nosso país é sermos constantemente postos de lado, ao ponto de nem contarmos para uma terceira fase, e última de desconfinamento. O tratamento tem que ser igual para todos, cada sector tem que trabalhar para o seu mercado, porque é precisamente para isso que está habilitado, e um estado de direito não pode nunca dar a entender que devido a interesses políticos, existem prioridades e não-prioridades, a isto se chama viver num estado democrático. Ou se abre ou se fecha tudo, conforme os interesses não é boa política. 
Onde está o dinheiro dos nossos impostos de que finalmente tanto precisamos para conseguirmos superar isto? É que agora precisamos dele, e não pode haver desculpas. Acho também que está na altura de darmos o nosso grito de revolta, espalhando a nossa revolta um pouco por todo o país, até porque, ou muito me engano, ou não me parece que esta situação vá ter algum tipo de alteração nos tempos mais próximos, até porque à hora que escrevo esta crónica recebo a notícia de que por exemplo os cinemas vão abrir com total liberdade em termos de ocupação, já para não falar dos aviões não vão ter também qualquer tipo de restrições e até da festa do Avante, que vai ter que ir para a frente. E como ficamos nós, bares e discotecas deste país? Provavelmente iremos ter que deixar de existir...

Para terminar, e como um artista que já levou o nosso país a todo o mundo, e como empresário que já há muitos anos contribui arduamente para o sistema financeiro do nosso país, sempre sem falhar, até porque tal não me é permitido, ao contrário do oposto, sinto que o meu país está a falhar comigo, com os meus colegas artistas e com os meus colegas empresários, e isto é simplesmente inadmissível, diria mesmo que é uma vergonha pandémica! 

A realidade é esta, nós para eles não contamos para nada, a não ser para entregar os impostos, e isto é uma postura de país de terceiro mundo completamente inaceitável em pleno Século XXI. Está na altura de darmos uso à nossa voz, até porque como já percebemos, a comunicação parece claramente estar em sincronia com esta ostracização em relação a esta situação, ou muito me engano ou estamos prestes a ser o único sector a nível nacional que irá continuar encerrado.
 
Carlos Vargas
Publicado em Carlos Vargas
sexta, 02 maio 2014 00:05

A lei do mercado dos DJs

Mas afinal, existe alguma "lei do mercado" que influencie a carreira dos DJ's? Claro que sim. 
No meu último artigo de opinião, escrevi um pouco sobre isso mas não aprofundei este assunto que muitos dos novos DJ's ainda não compreenderam. 
Muitos reclamam por "falta de oportunidades". Oportunidades? Será que colocando um DJ num determinado evento/actuação irá alterar em definitivo a sua carreira? A resposta é NÃO. 
 
A "lei do mercado" que eu falo, não é mais do que a aplicação do termo "Oferta VS Procura" num serviço que é fornecido (serviço de entretenimento). 
Quando existem mais DJ's do que locais ou eventos que necessitam desse serviço, quando a concorrência é mais que muita e numa altura em que a profissão foi "banalizada" devido às facilidades em ser DJ que foram trazidas pela tecnologia, ninguém pode dizer que uma actuação (leia-se oportunidades) vai fazer a diferença e colocar alguém num patamar de relevo. 
Hoje foste tu contratado mas amanhã já há outro para ser contratado. 
 
Um factor que influencia as actuações e onde existem críticas por parte dos DJ's da "velha guarda" ou daqueles mais ligados ao "House" é o tradicional termo "mãos no ar". 
Sinceramente, alguém ainda quer ir assistir à actuação de um DJ que não levanta a cabeça, não olha para ninguém e onde ninguém vê o que ele está a fazer? 
Poderão dizer que a música fala por si... ok. Posso concordar, mas então tirem o "homem" dali e metam um set gravado porque estar a olhar para uma cabine onde estar lá alguém ou não estar, é igual, mais vale meter uma jukebox (isto se o importante for a música). 
 
Não quero dizer com isto que os DJ's terão de fazer "palhaçadas" ou estar sempre aos saltos, mas temos que "exigir" que demonstrem que estão a sentir a música e que transmitam (corporalmente) esse sentimento para o público que pagou para os ver (porque se for só para ouvir, ouvem em casa no Soundcloud). 
 

Infelizmente, assim que um "artista" começa a ter alguma projecção e um elevado número de actuações, pensa logo que o motivo é unicamente ele ser melhor que os outros (...)

Uma outra situação que influencia o mercado é o número de actuações dos DJ's - é sem dúvida alguma, se são representados por alguém ou se têm agente de marcações. 
 
Infelizmente, assim que um "artista" começa a ter alguma projecção e um elevado número de actuações, pensa logo que o motivo é unicamente ele ser melhor que os outros ou que a "sua música ou técnica" é superior aos demais "colegas de trabalho". 
 
Regra geral, esquecem-se que só têm esse elevado número de actuações ou são reconhecidos no mercado porque houve alguém que marcou as referidas actuações ou os promoveu convenientemente para que as possam realizar (solicitações/pedidos de actuação).
Como manager e booker que sou, não faço milagres (tal como qualquer outro colega meu). O que "nós" fazemos, não é mais do que fazer aquilo que um DJ não faz e devido a estarmos inseridos no mercado, é normal que o conhecimento que temos dele seja superior ao de alguém que a sua função não é a mesma que a nossa. O acordo principal que se deve obter é o de que um manager/booker não "mete", nem produz música e um DJ/artista não faz management, nem marca datas. 
 
Quanto à questão monetária entre agentes/agências e artistas, tenho uma opinião muito própria (apesar de também eu não a fazer na maioria dos casos): Se um DJ/Produtor fica com os dividendos da sua produção musical (regra geral) então porque é que quando faz uma actuação, tem de ficar com 70% ou 80% do cachet por 1h00/2h00 de trabalho?
 
Será que sabem quantas horas é que o seu representante teve de trabalhar para ele ter essa actuação ou quanto é que investiu (tempo e dinheiro) para que a actuação fosse solicitada/agendada? Será justo?
É verdade que o agente/agência precisa do produto (leia-se artista) para poder "vender", mas também é verdade que o artista sem ser representado, terá de fazer ele o trabalho do agente e certamente ficará muito mais tempo na "prateleira" (como produto que é). 

Raros são os casos em que a mudança de representante deu bom resultado e, tal como tu, ninguém trabalha de borla ou faz investimentos para perder (...)

 
Como referi anteriormente, nenhum agente/agência faz milagres e se não tiver bons artistas, também não conseguirá fazer alguma coisa. Devido a essa situação é que as tais "oportunidades" não são dadas a quem ainda não tem "valor de mercado" porque não existe o retorno devido, relativamente ao trabalho que um agente ou booker tem. 
 
Nos dias que correm, existem poucas soluções para os artistas. Ou assumem um "casamento" com um agente/agência que irá investir em vocês e no caso de quererem mais tarde o "divórcio", vão ter de pagar pelo trabalho e investimento que foi feito, ou então não são agenciados e trabalham nas duas vertentes e assumem o investimento de tempo e dinheiro (não será certamente a mesma coisa nem obter os mesmos resultados). 
 
Se fores artista (DJ, produtor, Mc, musico, etc.) e estiveres ligado a algum agente ou agência (ou se fores convidado para ser agenciado), nunca te esqueças que a opção foi feita entre duas partes. Caso queiras quebrar essa ligação tenta sempre que seja de uma forma amigável e com os motivos bem claros para que possam chegar a um entendimento, nunca esquecendo que "não se deve cuspir no prato onde comeu". Raros são os casos em que a mudança de representante deu bom resultado e, tal como tu, ninguém trabalha de borla ou faz investimentos para perder onde não tenha de ser devidamente compensado. 
 
A decisão de ser agenciado tem de partir de duas partes (tal como num casamento) mas ninguém obriga ninguém a estar "casado" se não estiver contente com a decisão. No entanto, quando alguém quebra um compromisso, não pode ficar com tudo o que foi construído a dois. "Artistas" há muitos e nunca te julgues melhor que os teus colegas, em especial se o trabalho não foi "só teu". 
 
Nenhum agente ou agência consegue nada "sem ti" mas tu podes ser substituível. Quem não pode ser substituído é quem paga (clientes), quem te promove e apoia (parceiros) e quem te dá visibilidade. Ninguém (como eu) faz milagres e qualquer agente/agência sabe que sozinho nada consegue e muito menos faz com que "tu" (DJ) consigas entrar nesta "lei do mercado". 
 
Afinal existe ou não uma "lei do mercado para os DJ's"?
Sim... existe. E acredites ou não, é exactamente a mesma que para outro produto qualquer. 
Existem "Lobys"? Claro que sim. 
Basta ter qualidade? Claro que não. 
Vais lá chegar sozinho e com o teu trabalho? Nem em sonhos. 
 
Ninguém consegue nada sozinho e enquanto não perceberem que ser DJ ou artista é algo que nada mais é do que um serviço/produto e é regido pelas leis de mercado normais, dificilmente conseguirão que alguém "compre" o que querem "vender".

 

Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
terça, 04 julho 2017 22:50

Algarve: destino de festa

A noite algarvia é um tema recorrente na minha vida, perguntam-me frequentemente por ela – como é? Como está? E por aí em diante – especialmente quando vou em tour para o Brasil, país irmão e cheio de curiosidade pela cena portuguesa.
 
Nasci e cresci no Algarve, e com mais de 20 anos como DJ foi no Algarve que tive as primeiras oportunidades da minha carreira. Essas oportunidades aconteceram em espaços que fazem hoje parte da história e são referências quando se fala da dance scene nacional. A primeira de todas foi como DJ residente do bar Mitto, em Albufeira, que se tornou lugar de visita obrigatória para todos as pessoas influentes na noite de Lisboa e Porto que iam sempre lá no início da noite. Com a palavra a passar e uma clientela conhecedora da música e do meio, o meu trabalho no Mitto resultou num convite para tocar em algumas noites do Capítulo V, um club único, com um glamour e uma clientela selecionada a dedo, e que não voltou a repetir-se na cena nacional.
 
Algum tempo depois, em 1998, fui convidado para ser DJ residente da Locomia, que vivia os seus anos de ouro que ficaram inscritos na história da electrónica nacional. Ali, na cabine com vista para a Praia de Santa Eulália, pude tocar com praticamente todos os nomes de referência da dance scene mundial tanto do techno (que fazia as festas de sexta-feira), como do house (aos sábados). Partilhar a cabine com vultos como Deep Dish, Erick Morillo, David Morales, Richie Hawtin, Jeff Mills, ou Frankie Knuckles, entre muitos outros.
 
O Mitto, o Capítulo V e a Locomia foram as minhas escolas musicais, naquelas cabines aprendi tudo sobre a arte de ser DJ, da comunicação com o público ao trabalho de fazer, com ele, uma viagem musical e, em última instância como a política musical constrói uma casa.
 
Escrever sobre o Algarve sem mencionar a Páscoa é quase impossível. No final dos anos 90 e início dos anos 2000, as férias da Páscoa eram obrigatórias ser passadas no Algarve. Nessa altura do ano as casas do Norte do país assentavam arraiais no Algarve e havia uma sucessão louca de festas com nomes nacionais e internacionais de referência. Vejo as festas à tarde na piscina da Locomia como a pré-história dos sunsets de hoje. Recentemente tive oportunidade de rever o Little Louie Vega, e não é que ele se recordava de lá estar a atuar com Masters at Work?
 

Vejo o fenómeno dos sunsets como uma alternativa muito saudável e inclusiva – permite que todos, independentemente da idade, possam frequentar a festa.

 
O que nos ficou desses tempos em que a Páscoa era no Algarve, e não num Spring break na costa espanhola, foram os sunsets. Apesar desta perda para Espanha – e os operadores turísticos deviam pensar em relocalizar as celebrações dos finalistas para o Algarve – tudo se tem vindo a transformar, e surgem novos espaços que apesar de existirem apenas 20 a 30 noites entre Julho e Agosto, trazem novidades a cada noite enriquecendo a cena nacional.
 
Vejo o fenómeno dos sunsets como uma alternativa muito saudável e inclusiva – permite que todos, independentemente da idade, possam frequentar a festa. Por ser durante o dia e porque as pessoas que estão na praia são “seduzidas” pela música que os DJs tocam em alguns espaços nas mais diversas praias algarvias. As pessoas acabam por se agrupar perto destes "beach points", e ficam a dançar e a curtir até para lá das 22h.
 
As festas nos barcos também eram, e continuam a ser, muito procuradas. Apesar de terem uma vertente e um público mais alternativo são momentos únicos e espetaculares que o Algarve continua a oferecer. Aqui destaco as que participei com a subida pelo Rio Guadiana em que o barco que fazia a travessia de pessoas pra Espanha, saía de Vila Real de Sto. António, e regressava ao final das tardes de verão.
Fui acompanhando sempre muito de perto as tendências e mudanças dos mais variados espaços no Algarve, como algarvio de gema, e há muitos anos que realizo um sunset em parceria com o grupo No Solo Água, que começou em Vilamoura e em 2011 ganhou a designação por que ficaria conhecido até hoje: Infinity Sunset by Pete Tha Zouk.
 
Na segunda edição, ainda em Vilamoura, decidi saltar de paraquedas e aterrar numa praia da Falésia repleta de gente, 18 mil pessoas segundo as contas oficiais, e depois de aterrar fui conduzido à cabine onde toquei mais de 5 horas de set. Foi algo único, com a adrenalina no máximo, e absolutamente inesquecível na minha carreira de DJ.
Este ano marquem a data de 13 de Agosto nas vossas agendas, porque o Infinity Sunset by Pete Tha Zouk acontece no No Solo Agua da Marina de Portimão, com entrada gratuita e permitida a todos, para que juntos possamos fazer uma grande festa a dança na areia ou com os pés dentro de água. Até lá!
 
Pete Tha Zouk
Publicado em Pete Tha Zouk
Numa Indústria cada vez mais articulada e direccionada para um serviço facilitista e de personalização praticamente nula, o trabalho e preponderância do DJ acaba por ser cada vez mais refém da necessidade dos clubes ou discotecas, que devido ao facto de terem que apresentar lucros e resultados imediatos, se vêem muitas vezes obrigados a desvirtuar toda a sua ideologia musical a troco de trabalho. Outrora expoentes máximos com direito a palavra de ordem dentro daquilo que era a motivação que levava os seus clientes a uma qualquer pista de dança do nosso país, vemo-nos actualmente sem qualquer espaço de manobra para podermos de alguma forma contribuir para um trabalho mais qualitativo, sustentado e educativo dentro daquilo que seria o cenário ideal para uma evolução nocturna que na minha opinião iria a médio prazo elevar a qualidade da noite portuguesa.
 
A ironia das ironias acaba por ser o endeusamento e proliferação que cada vez mais está na moda de tentar esconder o óbvio, que é o decréscimo qualitativo da noite, com a vinda de artistas internacionais que começam novamente a visitar o nosso país e os nossos clubes, o que apesar de considerar sem dúvida bastante positivo, contrasta em absoluto com o total desprezo com aquilo que seria certamente um dos pilares dessa mesma evolução pretendida, os DJs nacionais, nomeadamente os residentes na verdadeira acepção da palavra. Não falo dos residentes a que chamo de "fast-food", termo que não pretendo conotar de forma alguma com um sentido pejorativo, até porque muitas vezes acaba por ser a única forma que muitos deles têm de manter um posto de trabalho que na maioria das vezes nem lhes permite assumir uma profissão a tempo inteiro, tal é a desvalorização que advém das suas próprias opções de carreira, mas sim dos verdadeiros DJs residentes, que felizmente, quais Gauleses no tempo dos Romanos, ainda vão resistindo bravamente na tentativa de criar tendências, sendo a prova disso mesmo quatro ou cinco espaços no nosso país que conseguem apresentar uma coerência, qualidade e consistência dignas de serem elogiadas.

Mal ou bem, para se oferecer um serviço é necessário que este tenha sustentação para nele podermos investir e faze-lo desenvolver (...)

 
Logicamente que podem ser bravos mas não chegam, uma vez que as modas, para passarem a tendências precisam de ser massificadas, algo que dificilmente irá acontecer nos próximos tempos, na minha opinião, dentro do lado mais qualitativo do nosso mercado. Os verdadeiros profissionais da música, os residentes que criavam as tendências da pista, permitindo assim aos convidados terem a liberdade de se exprimirem sem qualquer tipo de condicionalismos, são cada vez mais uma espécie em vias de extinção, e sinceramente penso que aqui reside um dos principais focos do problema. Claro que, paralelamente a tudo isto, teremos também de ter a capacidade de analisar o lado mais cerebral desta temática, também ela de certa forma compreensível e com uma palavra a dizer naquele que é o ponto de vista do negócio e investimento, do qual posso também, como músico, produtor, DJ e também há já um par de anos empresário nocturno, ter alguma autoridade para falar, uma vez que acabo por estar dos dois lados. Actualmente não é fácil de todo sustentar um investimento com alicerces em romantismos e ideologias de elite. Mal ou bem, para se oferecer um serviço é necessário que este tenha sustentação para nele podermos investir e faze-lo desenvolver, e esse investimento apenas será possível se a equação final que tanto influencia toda esta realidade for positiva, caso contrário os problemas deixam de existir porque muito provavelmente o projecto também terá o mesmo caminho.
 
Estas duas vertentes da nossa indústria, que terão certamente pontos de defesa bastante válidos da parte dos dois lados, acabam por se esbater naquilo que é a dura realidade de um mercado muito pequeno, bem fechado e de fácil propensão a criar modas "convenientes", que resultam para todos os intervenientes neste mercado menos para os directos, que são os próprios espaços e os artistas, neste caso em particular os DJs, com as regras do jogo a serem ditadas pelos muitos canais, muitos deles sem qualidade informativa e de pesquisa, que temos ao dispor dos media para espalhar o que mais lhes convém, deixando aqui de imperar o aspecto qualitativo para começar a dominar o lado financeiro e de lucro directo, o que prejudicando os DJs e a Indústria da Noite, é sem dúvida nenhuma o que alimenta todo este mercado. E aí teremos mais uma vez que ser realistas e concordar, até porque o movimento mais underground (ou menos mainstream) será sempre o mais prejudicado, por ser o que menos hipótese de visibilidade e lucro dá.
 

(...) cabe a cada um de nós, artistas, quer seja em vinyl, com computadores, pens ou o que for, ter a responsabilidade de saber onde queremos estar (...)

 
Voltando ao romantismo, costumo dizer que antigamente os artistas faziam a indústria, e que um dos principais problemas da conjuntura actual que vivemos hoje em dia é que os papéis se inverteram e quem faz os artistas é a indústria, mas aqui com uma grande diferença, que é o facto de os artistas criarem a indústria com o poder da sua música, enquanto que a indústria não cria os artistas com base no poder da música, mas sim em resultados, e logicamente que do ponto de vista da arte no seu estado mais puro, essa não é nem nunca será uma equação de sucesso do ponto de vista musical. É no entanto, e não poderia deixar de fazer este apontamento, de louvar a proliferação de movimentos mais Underground e nada virados para massificações, lucros ou equações financeiras imediatas, mas sim exclusivamente assentados na qualidade e romantismo, e que com os seus próprios meios conseguem cada vez mais implementar qualidade e alternativa para quem sai à noite, muitas vezes apenas para desfrutar de tudo o que de bom a música tem para oferecer, até porque não nos poderemos nunca esquecer que existe e continuará a existir um enorme número de clientes da noite, que continuam avidamente à espera pelo DJ que os vai surpreender e levar onde nenhuma rádio ou estratégia de mercado conseguirá levar, e isso não há indústria mecanizada que consiga diluir.
 
O caminho a seguir é este, muito ao encontro do que já vi muitas vezes lá fora, uma vez que o lado cerebral irá continuar a crescer, devido à própria evolução da nossa sociedade, apesar de não podermos de forma alguma desprezar o lado mais romântico da noite, que irá também continuar a crescer proporcionalmente, o que faz com que o equilíbrio se mantenha dentro do desequilíbrio, e cabe a cada um de nós, artistas, quer seja em vinyl, com computadores, pens ou o que for, ter a responsabilidade de saber onde queremos estar e qual é o nosso papel dentro deste inevitável equilíbrio.
 
Carlos Vargas
Publicado em Carlos Vargas
quinta, 28 maio 2015 19:35

Soundcloud: o princípio do fim?

Quem se lembra do MySpace? Grandes artistas foram descobertos, muitos temas, álbuns apareceram no MySpace e foram assinados em Major Labels. Com o evoluir dos tempos, o site acabou por ficar obsoleto porque não acompanhou a rápida evolução da internet e outros serviços semelhantes apareceram e acabaram por o substituir. 
 
Um deles foi o SoundCloud, que nos últimos 5 anos foi uma das principais, se não a principal plataforma de divulgação de música e onde foram descobertos vários artistas e outros tantos promovidos à exaustão.
 
A par com a evolução do SoundCloud, a pirataria também ganhou proporções gigantescas e hoje em dia é sabido que a venda de música já não é aquilo que outrora foi, no entanto, o investimento nos artistas por parte das labels não parou de existir ou diminuiu. Pelo contrário, como hoje em dia é mais fácil fazer música com um computador, é preciso investir ainda mais para garantir que os artistas e as musicas têm a visibilidade necessária.
 
Um utilizador frequente do SoundCloud sabe que por lá se encontra imensa música “gratuita” e, na verdade, há mais bootlegs e mashups do que temas originais (ou havia), o que faz com que as labels não vendam os temas originais. E mesmo que as músicas não estejam em free download, sabe-se que há sempre meios de contornar isso e o público em geral consegue fazer mais rápido um download pirata para ouvir no carro (não interessa a qualidade da música) do que comprar um tema.
 

O SoundCloud como o conhecemos está a acabar e não interessa se pagas um serviço premium ou não.

 
Quando foi anunciada a parceria entre o SoundCloud e a Zefr, uma das plataformas líder de mercado de gerencia de direitos e royalties, que é responsável por identificar os temas no YouTube e consequentemente entregar os direitos e royalties às labels, pensou-se que iam terminar os famosos “takedowns” no SoundCloud porque as editoras iriam finalmente poder ganhar dinheiro com os temas que iriam sendo colocados no SoundCloud e que seria implementado o mesmo sistema de publicidade paga que o YouTube. No entanto, o resultado foi outro: nessa semana os artistas revoltaram-se contra o SoundCloud porque os “takedowns” foram gigantescos e até chegaram a nomes como Martin Garrix, que viu os seus temas originais serem removidos.
 
O SoundCloud como o conhecemos está a acabar e não interessa se pagas um serviço premium ou não. Os mix sets, bootlegs e mashups estão a ser apagados diariamente e, é o que vai continuar a acontecer a curto-médio prazo.
 
Apesar do SoundCloud ter pago mais de 2 milhões de dólares em publicidade aos seus parceiros, a Sony afirma que não ganha dinheiro suficiente e é quem está a criar mais problemas.
 
Sabemos que o SoundCloud tem uma audiência mensal de cerca 350 milhões de utilizadores e que, apesar de tudo, ajudou a desenvolver e a lançar artistas como a Lorde, promover artistas do meio como o Drake, Miguel e mesmo a Beyonce e ainda a descobrir outros tantos. Mas o que se passa é, ao mesmo tempo que os artistas precisam de exposição, as labels precisam de ser pagas pela música e enquanto o SoundCloud não pagar aquilo que as labels acham justo, a situação vai-se manter como está e vamos continuar a ver os takedown’s diários e a revolta dos artistas. 
Inclusive a Sony já retirou temas de grandes artistas como Adele, Miguel e Hozier; e sabe-se também que as negociações entre os dois falharam por falta de acerto monetário. 
Um serviço que outrora foi feito a pensar nos artistas, hoje em dia é controlado pelas editoras.
 
Como o SoundCloud é um dos principais “fornecedores” de musica dos blogs, sites e redes sociais, pela sua fácil integração, a pergunta que eu faço é: quanto tempo falta para aparecer um sério concorrente do SoundCloud e que o destrone, como aconteceu com o MySpace?
 
Dan Maarten
Publicado em Daniel Poças
Tempo de pandemia e estado de emergência é também tempo de uma reflexão sobre o impacto da nossa área e nas consequentes mudanças no futuro. Neste momento, a incerteza é sem dúvida a maior preocupação numa indústria que foi fustigada pela necessidade de parar a sua actividade, muito antes de todas as outras áreas de sociedade.

A indústria da música, uma área fundamental da cultura, vive tempos difíceis. Músicos, técnicos, agentes, promotores e todos os restantes postos directos e indirectos de trabalho gerados por esta área que em muito contribui para a sociedade, estão com o seu futuro em suspenso.

Em Portugal como na maioria dos países do mundo urge a necessidade de um plano de contingência que passa pela preservação da saúde pública e pelo controlo social e económico. Essas medidas implicam estabelecer prioridades e a música não é assim considerada numa primeira fase. No nosso país por força da sazonalidade da nossa actividade existe muito trabalho considerado precário. A curto prazo terá de ser criado um fundo/linha de apoio excepcional para determinadas áreas da sociedade como a indústria da música e do entretenimento em geral. Se é prioritária a saúde pública e a contenção da pandemia, implica que eventos sejam cancelados ou adiados, tendo em conta que são foco de provável contágio.

Todos aqueles que estão directa ou indirectamente dependentes desses mesmos eventos estão impedidos por tempo indeterminado de exercer a sua actividade, mesmo quando toda a sociedade estiver já de volta ao seu normal funcionamento. É com certeza imprudente acelerar a retoma dos eventos e espaços de diversão, sob pena de assistirmos a uma "segunda vaga" de surto da epidemia que poderá ser mais penalizadora e certamente atrasará a retoma à normalidade.

No entanto é fundamental criar medidas de apoio e um organismo que lidere esse processo de uma forma estruturada.

Este é o momento certo para a indústria da música se unir de uma forma organizada e concertada à imagem de outras áreas. Apenas com uma estratégia será possível salvar uma indústria que ficará exposta.

É sem dúvida um momento único e ímpar na sociedade moderna que vivemos. Como em todas as "guerras" existem consequências, momentos de crise e readaptações para o futuro.

Podemos estar perante uma crise sem precedentes, talvez a mais dura e com maiores consequências, mas é também um momento de mudança de hábitos, de consciência social e de adaptação a uma nova realidade.
Numa fase em que é ainda imprevisível prever o que acontecerá com a economia e sociedade em geral, a música tem e terá sempre um papel fundamental na sociedade e mesmo em tempo de confinamento tem a capacidade de transmitir emoções. Cabe aos músicos e restantes intervenientes continuarem a brindar o público com a emoção e alegria que apenas a música é capaz.

A sociedade e os governantes têm o dever cívico de preservar esse bem tão precioso que contribuiu diariamente para o bem-estar de todos, num momento que é difícil mas que testa a capacidade humana de se superar e reinventar.

Devemos todos contribuir activamente mantendo as regras de afastamento social e medidas de prevenção. Só assim poderemos voltar a fazer festa em breve!

#StaySafe #VaiCorrerTudoBem
 
Fernando Vieira
Publicado em Fernando Vieira
quarta, 05 junho 2019 21:55

Miss Sheila - 20 Anos de Música

Para a minha primeira crónica de 2019, o tema selecionado é imprescindivelmente o meu 20.º aniversário de carreira e o meu percurso no mundo da música, desde o dia "zero", até aos dias de hoje.

20 anos, parece que foi ontem, no entanto muito tempo se passou desde o dia em que fiz a minha primeira atuação profissional ao vivo. "20", não é o número exacto e correspondente à minha ligação com a musica electrónica, mais concretamente com o "House e Techno". Comecei bem antes de 1999, a experiência das primeiras "raves", o meu cargo na Bimotor DJ com as encomendas internacionais de vinyl para Portugal, os eventos no Rocks, a Kaos Records, a Supersonic... tudo isto e muito mais faz parte da minha introdução ao "mundo" que hoje chamo "meu", e um importante pilar naquilo que hoje sou.

Resumir a minha carreira não é de todo tarefa fácil. 
Sempre tive uma imensa paixão pela música. Nasci em Sasolburg (Africa de Sul), depois vivi em Nova York, até que conheci o maravilhoso país que é Portugal, onde passei a residir.

Iniciei bem cedo a minha experiência com a música no geral, já nos Estados Unidos, com as aulas de piano, flauta e bateria. Sempre senti que eu e a musica éramos mais que meros "conhecidos", havia algo que me fazia sentir bem e em harmonia, sempre que ouvia um tema com que me identificasse. Naturalmente, senti a necessidade de partilhar esses sentimentos. Daí surgiram as primeiras experiências com a arte do "DJing", isto já em Portugal, no bar do qual era proprietária em conjunto com o meu irmão. Malibu Bar, era na Praia De Esmoriz e foi onde tive a oportunidade de dar início e desenvolver a minha paixão pela electrónica. Na altura, Esmoriz era prova-velmente uma das cidades onde residiam mais DJs. A forma como falávamos acerca dos temas mais recentes, do panorama no geral, contribuiu bastante para aquilo que sou hoje e para todo o "background" que ganhei.

Considero que tenho uma carreira solida e sinto-me imensamente grata por isso. Contudo, o processo de gestão de uma carreira para que tudo prevaleça de forma relevante e consistente não é de todo fácil, tema que já abordei de uma forma mais concreta na minha Crónica de Opinião: "A Máquina atrás do artista".

Fazendo uma retrospectiva, passei por varias gerações. Inicialmente onde apenas existia o "vinyl",  aquelas malas pesadas e os "White Labe" exclusivos, posteriormente o início da "Era Digital", onde surgiram os primeiros "CDjs", mais atualmente os DJ Softwares. Todo este processo de evolução no que diz respeito às ferramentas para actuação fez-me ganhar bastante experiência, que se reflete nos dias de hoje, sempre que saio para trabalhar.
 
A música também mudou bastante, felizmente a música boa nunca vai acabar, isto é algo certo, mas é normal que existam mudanças, devido às influências (culturais, sociais, políticas) ou mesmo ao material de estúdio, que em paralelo ao de performance ao vivo, também foi alvo de um grande "upgrade" ao longos dos tempos.

A música também mudou bastante, felizmente a música boa nunca vai acabar, isto é algo certo, mas é normal que existam mudanças, devido às influências (culturais, sociais, políticas) ou mesmo ao material de estúdio, que em paralelo ao de performance ao vivo, também foi alvo de um grande "upgrade" ao longos dos tempos.


Resumidamente, o facto de no início não ser tudo tão simplificado, fez com que eu e os artistas da minha geração tivéssemos que nos esforçar um pouco mais para que o produto final fosse o mais perfeito possível.

A nível do trabalho de estúdio e produção, como já referi inicialmente, também houve um grande desenvolvimento, seja a nível do Hardware, Software ou mesmo a forma como a informação é partilhada.

Editei o meu primeiro disco em 2001, pela conceituada "Tango" em parceira com o Joeski. Desde aí fui desenvolvendo as técnicas de forma intensa e editando originais e remisturas um pouco pelos quatro cantos do mundo, Digital Waves, Kaos, Magna (Portugal), Fresh Form, Datagroove (Espanha), Moderate (Itália), Fatal (Holanda), Na-nowave (Japão), Tango (EUA), Hypno (Reino Unido) e mais recentemente pela conceitua-da e restrita Natura Viva onde apenas figuram os melhores do mundo. 

De salientar também que em 2014 realizei um dos meus sonhos, abrir uma editora. A minha Digital Waves está também de parabéns em 2019 com os seus já 5 anos de existência. Estou a preparar desde Janeiro alguns temas, que vão sair até ao final do ano juntamente com tudo o que está projectado entre mim e a minha agência para esta temática.

Para finalizar, durante todo este percurso tive o prazer de conhecer pessoas fantásticas e conhecer outros países e culturas, como foi mais concretamente o caso de Nova Iorque, Ibiza, Geneva, Luanda, Cidade do Sal, Luxemburgo, Rotterdam, Bruxelas, Funchal, Lyon, Hartford, Sevilha, Vigo, Neuchatêl, Friburgo, Amsterdão, entre muitas ou-tras fantásticas cidades do mundo, como Portugal, obviamente! 

Assim sendo e de forma a celebrar este marco na minha carreira, do qual não podia estar mais grata por cada minuto, decidi retribuir todo o apoio e carinho que recebi ao longo dos anos, com a temática "20 Years of Music", que irá originar dois grandes eventos no final do ano. Um a Norte e outro a Sul. Mais novidades estão planeadas para sair, por isso fiquem atentos, este ano festejamos juntos.
 
Publicado em Miss Sheila
domingo, 16 setembro 2018 22:47

Os "ginastas" da Dance Scene

O motivo da minha crónica deste mês vem na sequência de um post de um DJ que li há alguns dias numa das suas redes sociais em que dizia "isto é o que eu faço quando me pedem para tocar EDM" e fazia um gesto com a mão e o dedo do meio erguido dizendo também no mesmo post "I'm a Techno addict!". Como eu tinha a noção que o dito DJ tinha produzido há relativamente pouco tempo temas originais/remixes de EDM que tinha visto à venda no Beatport e que até tinha uma agenda internacional preenchida, fui um pouco atrás na sua rede social e realmente estavam lá os posts relativos a "great EDM Remix", vídeos no estúdio "what a EDM BOMB!", fotos com alguns dos artistas EDM do momento, etc. E fiquei realmente um pouco confuso...
 
O motivo da minha surpresa não é o facto de o DJ em questão ter mudado de estilo. Acho isso perfeitamente normal e faz parte do nosso percurso, quer como artistas, quer como pessoas. O que me faz muita confusão é como certos artistas podem, num momento querer ser os maiores num determinado estilo musical, porque está na moda e quando este deixa de estar na moda já é uma porcaria, já "passou o seu tempo" ou "isto é o que eu faço quando me pedem para tocar...". Essa parte já não entendo. Se até há pouco tempo querias ser o "novo príncipe do EDM", não podes, passado um ano e meio, dois anos, dizer que "isto é o que eu faço quando me pedem para tocar EDM" com um gesto obsceno. Até porque hoje em dia temos a internet que regista tudo o que publicamos, para sempre. E se vais publicar que és um "techno addict" e que "EDM sucks", ao menos apaga os posts anteriores onde dizes que estás a produzir a próxima "bomba EDM" ou que "respiras EDM". É o mínimo que se pode fazer em nome da coerência.
 
Entendo que seja o estilo musical mais "underground" que está na moda, mas ver alguns artistas (e muitas pessoas) que até à bem pouco tempo diziam mal do techno em favor de outros estilos (não só EDM) que agora são "techno addicts" faz-me alguma confusão. 

É verdade que o techno está na moda há já alguns anos e que parece que assim se vai manter durante algum tempo. Obviamente que não tenho nada contra isso até porque toco alguns temas techno nos meus sets, apesar de não ser um DJ cuja base seja esse estilo. Gosto de alguns dos temas que saem neste momento, embora já não seja tão fã da "nova" moda do techno mais rápido (para cima de 130/132 BPMs) que é bastante popular neste momento e que projectou vários DJs para a ribalta nos últimos tempos. Talvez porque, embora para a malta mais jovem seja uma sonoridade nova, alguns dos temas que estão na moda aos meus ouvidos soam-me ao techno que se tocava nos anos 90, inícios de 2000 com alguns sons novos, mas cuja base é bastante parecida e por isso não me soa a "novidade". Mas o certo é que há milhares de pessoas que seguem esse estilo e que enchem pavilhões, clubs, eventos e que para eles é uma sonoridade totalmente nova, coisa que entendo perfeitamente e que respeito totalmente. 

Mas será mesmo necessário que de repente quase toda a gente "viva para o techno", "respire techno" e seja "techno fanatic"? Entendo que seja o estilo musical mais "underground" que está na moda, mas ver alguns artistas (e muitas pessoas) que até à bem pouco tempo diziam mal do techno em favor de outros estilos (não só EDM) que agora são "techno addicts" faz-me alguma confusão. 

Tal como disse antes, obviamente que não tenho nada contra os artistas que mudam de estilo musical, isso faz parte do percurso de vida, da evolução pessoal de cada um, e é uma situação perfeitamente normal. O que me faz confusão é o aproveitamento de alguns em "mudar" para o estilo que está na moda dizendo mal do estilo que lhes deu muito dinheiro a ganhar. Quer publicamente quer em privado. Os Ingleses têm uma expressão para isso, chamam-lhe "jump on the bandwagon".

PS: Recentemente o DJ e produtor de EDM Hardwell comunicou que ia fazer uma pausa nos seus gigs por tempo indefinido para se dedicar a ser "Robbert e deixar de ser Hardwell 24 horas por dia" devido à pressão que isso significava na sua vida pessoal e ao efeito que estava a ter sobre a sua criatividade como artista. O que me levou a ler mais uma vez a crónica anterior que escrevi para a 100% DJ sobre o falecimento de Avicii. A vida de um DJ de topo com uma agenda internacional como Avicii ou Hardwell tinham, não é nada fácil. Felizmente Hardwell percebeu onde estava o seu limite e conseguiu parar a tempo...
 
Carlos Manaça
DJ e Produtor
 
(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)
Publicado em Carlos Manaça
A minha crónica este mês é sobre aquilo que eu acho que pode vir a dar uma grande ajuda à sobrevivência das pequenas (e grandes) editoras como a Magna Recordings: o serviço de streaming. Com as vendas de música para download a descer de ano para ano (pelo menos é o que nos dizem as principais lojas online...) e o hábito cada vez mais generalizado das gerações mais novas de "sacarem" tudo grátis da internet, os serviços de streaming podem vir a ser a nossa "tábua de salvação" nos próximos anos. É um facto que é muito mais cómodo ouvir as músicas que queremos quando queremos, online, do que ter um monte de temas no telemóvel/iPad/computador, a ocupar espaço no disco (espaço que muitas vezes é limitado) e que, com o passar dos anos, se torna num problema, se não andarmos sempre a apagar o que já não ouvimos. E com o tamanho dos pacotes de dados oferecidos pelas principais empresas de telecomunicação hoje em dia, fazer streaming já não esgota os megas disponíveis, como acontecia há uns (poucos) anos atrás.

No entanto, o streaming já levantou problemas sérios entre os artistas/editoras e algumas das plataformas mais importantes, como é o caso do Spotify. Não podemos esquecer que estas empresas têm como objetivo principal o maior lucro possível, e ao terem um produto cujo número de plays está (quase) totalmente nas suas mãos, torna-se muito difícil para o artista/editora ter algum controlo sobre esses números. Na realidade, estas empresas pagam o que lhes apetece pagar. É certo que pelo contrato podes pedir uma auditoria aos números de plays, mas dificilmente os pequenos artistas/editoras têm recursos para o fazer e mesmo as grandes editoras tiveram problemas com isso. 

É conhecida a polémica do caso da cantora Taylor Swift que em 2014 retirou o álbum "1989" e todo o seu catálogo anterior do Spotify quando recebeu os primeiros relatórios de plays porque eram, segundo ela, "ridículos". Entre 2014 e 2017 todo o seu catálogo esteve fora do principal serviço de streaming (que neste momento já conta com mais de 100 milhões de usuários) o que desagradou à sua grande legião de fãs. Mas a explicação de Taylor Swift sobre os motivos dessa sua atitude fez, para mim, todo o sentido.

Segundo ela e o presidente da sua editora, era uma tremenda falta de respeito para as pessoas que tinham comprado o álbum completo em download por 12,99 dólares que os usuários do Spotify pudessem ouvir os mesmos temas, grátis, embora com anúncios entre os temas. Ou a pagar 9,99 dólares por mês no serviço premium, sem anúncios, para ouvir uma quantidade ilimitada de música, onde estariam incluídos os temas do novo álbum. E quando chegaram os primeiros relatórios de plays no Spotify do álbum "1989" que tinha acabado de vender nessa semana 1.3 milhões de cópias para download, foi a gota de água que a fez retirar todo o seu catálogo da principal plataforma de streaming. 

Segundo ela, só quando o Spotify pagasse "justamente, aos autores, editores, produtores, músicos, e a toda a gente envolvida no processo de criação musical de um álbum/single, é que voltaria a disponibilizar o seu catálogo no Spotify". Parece que isso foi conseguido em 2017 porque após uma renegociação do seu contrato, todo o seu catálogo voltou a estar disponível no Spotify, para grande alegria dos seus muitíssimos fãs no mundo inteiro.
 
Para facturarmos 1.300 euros relativos ao streaming de um tema, na Pandora teríamos que ter à volta de 87.500 plays e no Youtube 1.890.000 (!!). No Spotify são necessários aproximadamente 356.850 plays de um tema para podermos facturar os mesmos 1.300 euros, valor que obviamente estará sujeito aos respectivos impostos antes de chegar às nossas mãos.

Em 2015, e também depois de receber relatórios de plays de Spotify, que segundo eles eram "uma vergonha", Jay Z decidiu criar com Usher, Rihanna, Nicki Minaj, Madonna, Deadmau5, Kanye West, entre outros, o TIDAL, o "primeiro serviço de streaming totalmente controlado pelos artistas". Conseguiu ter, numa primeira fase, alguns lançamentos exclusivos, por alguns dias, mas as editoras proprietárias dos álbuns conseguiram, ao fim de algum tempo, disponibiliza-los nas restantes plataformas, o que levou a que a grande vantagem do TIDAL (a exclusividade) se perdesse em alguns dias. Obviamente que isso fez com que a nova plataforma "dos artistas e para os artistas" tivesse grandes problemas de afirmação num mercado já dominado pelo Spotify. O TIDAL apresentou por isso prejuízos crescentes desde 2015, tendo em 2017 vendido 33% à empresa de telecomunicações americana Sprint que injectou de imediato 200 milhões de dólares para viabilizar a empresa que já estava a ser acusada de falta de pagamento de royalties aos artistas e editoras...
É um facto que os pagamentos feitos aos artistas/editoras pelas plataformas de streaming, segundo os últimos dados, é ainda muito reduzido por cada play. Varia entre os 1,5 cêntimos pagos pela plataforma Pandora até aos 0,0066 cêntimos (!!) pagos pelo Youtube. O Spotify paga à volta de 0,0399 cêntimos por play e está mais ou menos a meio da tabela dos pagadores de royalties.

Para termos uma ideia mais concreta do que significam estes valores, para facturarmos 1.300 euros relativos ao streaming de um tema, na Pandora teríamos que ter à volta de 87.500 plays e no Youtube 1.890.000 (!!). No Spotify são necessários aproximadamente 356.850 plays de um tema para podermos facturar os mesmos 1.300 euros, valor que obviamente estará sujeito aos respectivos impostos antes de chegar às nossas mãos.

Eu sei que há muita gente que defende que neste momento é obrigatório estar em todas as lojas de venda online por download e em todos os serviços de streaming para que o nosso trabalho seja visível a toda a gente, e em parte isso é verdade. Mas também é verdade que, com o streaming, mais uma vez, o artista/editora está no "final da linha" no que se refere a receber algum dinheiro que é gerado pelo seu trabalho, pelos seus temas produzidos/editados. São inúmeras horas em estúdio, às vezes investimentos em outros artistas, vocalistas, músicos, etc., que, mais uma vez, na minha opinião, não estão a ser devidamente compensados. 

Esta crónica serve também para anunciar que, finalmente, todo o catálogo da Magna Recordings vai estar disponível brevemente nas principais plataformas de streaming. Finalmente temos um acordo razoável com uma distribuidora que nos vai permitir estar também nas restantes lojas online de download (Traxsource, iTunes, etc) assim como nas principais plataformas de streaming como Spotify, Deezer, Apple Music, entre outras. 

Vamos esperar que isso ajude na divulgação de toda a música que já editámos nos 19 anos que festejamos neste mês de Maio e que ao mesmo tempo também seja uma fonte de rendimentos (por pouco que seja...) para a editora e para os artistas. Algo que ajude a recompensar o esforço que temos ao criar e editar música para que vocês possam disfrutar e dançar, seja em casa, no club ou no evento!
 
Carlos Manaça
DJ e Produtor
 
(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)
Publicado em Carlos Manaça
quarta, 03 dezembro 2014 18:58

O caso holandês

 
A questão da nacionalidade na música electrónica de dança deveria ser pouco importante, o que importa é a música e a quantos agrada sem olhar a fronteiras ou barreiras, afinal a grande conquista da electrónica é a democratização do acesso à música. No entanto é impossível não reparar no domínio de um pequeno país europeu, que tem crescido sustentadamente ao longo da última década, a Holanda. A maior evidência é o domínio do Top100 da DJ Mag, o ranking que serve de referência à indústria mainstream. Quatro dos DJs do Top5 mundial são holandeses, e se alargarmos para o Top20, metade são holandeses. A representatividade holandesa não tem par noutra nacionalidade e é um verdadeiro fenómeno. Se olharmos com mais um pouco de atenção verificamos que esta é apenas a ponta do icebergue. Grandes editoras são holandesas (a Spinnin; a Revealed; a Armada, entre outras); grandes produtoras de eventos são holandesas (a ID&T, responsável pelo Tomorrowland e pelo Sensation, por exemplo; ou a Alda Events, responsável pelas tours mundiais de Hardwell e Armin Van Buuren). A maior conferência anual é de organização holandesa e realiza-se em Amesterdão, o Amsterdam Dance Event. Mas como é que um pais tão pequeno consegue um peso tão significativo numa indústria mundial? Será algo na água que bebem? Ou será um fenómeno mais complicado de explicar?
 

O peso da música electrónica na economia holandesa é de 587 milhões de Euros por ano (...)

 
Comecemos esta análise pelo principio: os holandeses são porventura o único povo que tem estudos de impacto económico da indústria da música electrónica desde o início do século XXI. O primeiro estudo publicado data de 2002 e foi realizado pela consultora KPMG. O mais recente data de 2012 e foi executado pela consultora EVAR, e foi um dos documentos imprescindíveis a este texto1. O peso da música electrónica na economia holandesa é de 587 milhões de Euros por ano, ou seja, mais de meio milhar de milhões. Para este valor global contribuem as receitas dos DJs e produtores musicais, que ultrapassam os 254 milhões de Euros; os festivais e eventos que contribuem com uma fatia de 137 milhões de Euros; a recolha de royalties que ascende a 53 milhões de Euros; A organização de eventos a contribuir com 35 milhões de Euros; entre outras fontes de receitas que ascendem a uns impressionantes 587 milhões de Euros. Como se os números não falassem por si, esta é uma área de negócio em expansão mundial pelo que é expectável que cresça mais nos próximos anos. Uma estimativa cautelosa do mercado mundial dos eventos relacionados com a música electrónica cifra-se nos 2,7 mil milhões de Euros. E o que é que isto significa? Que os holandeses tiveram desde muito cedo a noção de que esta era uma indústria que poderia vir a ter tanto peso na economia do país como condições para crescer exponencialmente no futuro. 
 
Com esta ideia em mente o governo holandês teve o golpe de vista de acarinhar a música electrónica, de a reconhecer, de lhe dar um lugar de destaque na cultura e de criar um sistema de apoio, directo e indirecto, a toda a indústria. Um exemplo claro, e ímpar, desta integração e aceitação? Armin Van Buuren em 2013 a actuar no Kingsday (feriado nacional para celebrar o aniversário do Rei) ao lado da orquestra The Royal Concertgebouw: 
 
 
Outro grande exemplo do investimento na música electrónica foi a criação de uma conferência em 1996 - o Amsterdam Dance Event (ADE) - financiada pela Buma/Stemra (a Sociedade de Autores Holandesa), numa altura em que existia apenas a Winter Music Conference (WMC) de Miami. Focando mais a parte profissional e diurna do negócio, o ADE conseguiu destronar a WMC da sua posição de maior conferência mundial, e tornou a WMC de Miami uma opção, e o ADE de Amesterdão uma obrigação anual para qualquer profissional da indústria. 
 
Além desta óbvia integração dos DJs na cultura do país realizam-se no Kingsday vários eventos de música de dança públicos em todas as grandes cidades holandesas (Amesterdão, Roterdão, Haia, Utrecht, etc) feitos em cooperação com o governo local porque há um entendimento da parte de quem tem o poder público que estes eventos atraem pessoas e geram receitas. Ainda no campo do apoio existem várias organizações de caridade como a Unicef, WWF, War Child (Dance 4 Life), que são parcialmente financiadas pelo governo e que organizam diversos eventos, entre os quais eventos de EDM, para chamar a atenção para as suas causas.  
 
Por último, mas não de somenos importância, os estudos dos músicos e produtores também são apoiados através de financiamento estatal. Qualquer estudante holandês, em função das suas condições de vida pode pedir um apoio estatal até 400€ mensais e, desde que termine os estudos no tempo mínimo e sem falhar nenhuma disciplina, não tem que devolver o dinheiro que recebeu ao Estado. 
 

O caso holandês é um case study mas deveria ser também um exemplo a seguir por outros países.

 
Já ouviram falar de outro país que tenha algo de remotamente semelhante em termos de apoio, integração e valorização da cultura da música electrónica? Eu também não. Parece-me que podemos excluir a hipótese da água.
 
É evidente que sem talento nada se faz, pelo que há um valor artístico no caso holandês que não pode ser medido, e que é a variável nesta equação. Contudo a expressividade dos números da representatividade holandesa na indústria da EDM mundial é directamente proporcional ao investimento de uma nação, não só em apoio financeiro e institucional mas também em aceitação de uma forma de arte e cultura tão vanguardista (sim, porque ainda há quem discuta o valor de um produtor musical versus um músico instrumentista) que permanece na sombra na maioria das culturas mundiais apesar da crescente exposição e da conquista da pop mundial. 
 
O caso holandês é um case study mas deveria ser também um exemplo a seguir por outros países. 
 
(1) "Dance-onomics - The Economic Significance of EDM for the Nederlands" - EVAR Advisory Services, October 2012
 
Thanks Celwin Frezen for the Dutch insider input, couldn’t have done it without you!
 
Um agradecimento especial a toda a equipa e artistas da WDB Management pelo input valioso que dão a todas as minhas crónicas.
 
Sónia Silvestre
Brand Manager
WDB Management
Publicado em Sónia Silvestre
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