Diretor Ivo Moreira  \  Periodicidade Mensal
quinta, 28 março 2019 21:30

A Indústria e a Integridade Criativa

Os termos Artista e Criação podem ser muito relativos se tivermos em linha de conta todas as necessidades de uma Indústria absolutamente focada na massificação e na componente financeira em detrimento da liberdade artística. Até onde a nossa liberdade criativa se pode sobrepor à realidade quando temos que ter em linha de conta que nada mais do que uma simples opinião muitas vezes pode ser escrutinada até à exaustão, muitas vezes por pseudo-críticos que percebem tanto da nossa Arte de fazer música como eu percebo de cirurgias cardíacas. Infelizmente sou obrigado a chegar à conclusão que como Artistas a nossa liberdade criativa vai até onde a Indústria precisa, é ela que dita as regras, as necessidades e as tendências. 

Posto isto, pergunto eu de uma forma muito directa, o que percebe a Indústria de criatividade, sensibilidade ou originalidade? Serei obrigado a dizer absolutamente nada. Há muitos anos os Artistas ditavam as tendências com a sua criatividade, livre de segundas intenções e absolutamente pura do ponto de vista dos resultados. Não havia redes sociais, não havia estudos de mercado, ou se gostava ou não. Paralelamente a esta maneira de colocar a Arte, temos hoje em dia uma realidade onde o Criativo é literalmente encostado à parede. Alguém acha que o mercado precisa disto, existe um nicho para determinado tipo de "produto" e é isso que se procura. E quem quer fazer uma carreira guia-se pelas directrizes impostas. Torna-se absolutamente banal um qualquer compositor afirmar que tem a fórmula mágica, fórmula essa que lhe foi demonstrada por uma realidade comum e que poderá ou não ser seguida, correndo nós o risco de sermos considerados "infiéis" se optarmos por fugir ao rebanho e apresentamos algo que seja considerado fora do padrão porque todos nos devemos reger. 

É evidente que existem sempre fugas à tirania industrial, o que graças às mesmas redes sociais, que tanto aniquilam os verdadeiros criativos, curiosamente acabam por ajudar a furar a hierarquização implementada, fazendo com que mesmo sem termos os padrões ditos consensuais conseguimos chegar ao "paraíso". É evidente que dada a globalização das artes, os diferentes serão sempre meros influenciadores de minorias, se bem que por vezes uma minoria pode dar lugar a um culto que nenhuma máquina industrial oleada ou organizada consegue combater. Ao longo dos anos temos tido os mais variados exemplos de "rebeldes" que acabaram por encostar às cordas a promiscuidade negocial de um mercado absolutamente agarrado a um pagamento de favores e troca de identidades por desvios mais fáceis para os objectivos pretendidos, ganhando respeito das entidades ditas especialistas, não de uma forma natural mas porque também estas perceberam que a equação não tem que ser exata. O que seria de nós se um dia alguém tivesse chegado perto dos Beatles e lhes tivesse dito que estavam errados na sua visão, porque comercialmente não iria resultar? 

E como estes teria centenas de exemplos para vos dar, nos mais variados sectores da Arte. A personalidade Artística acaba por ser o nosso único trunfo perante uma realidade em absoluta decadência e tentativa de monopolização da criação, o que me parece absolutamente desprovido de qualquer sentido de lógica. Quem cria deve ser livre física e espiritualmente para conseguir transportar de dentro de si cá para fora uma forma de comunicação que cada um de nós, como seres humanos, temos para oferecer de uma maneira muito singular. Cada um de nós é especial, seja a pintar um quadro, a escrever um poema ou a compor uma música. Hoje em dia tudo gira à volta da imagem, de quem tem mais seguidores, quem influencia mais, quem choca mais. Na minha opinião, a liberdade criativa é o maior dom que nos foi conferido e se alguém nos está a tentar retirar isso, devemos cerrar os punhos e lutar com todas as nossas forças para que jamais esse objectivo seja alcançado. 

Como Artista sou muito pouco flexível naquilo que é a minha identidade criativa, admito. Tenho a perfeita noção que pago a minha fatura por isso, mas tenho a certeza que estou a contribuir para a defesa de todos aqueles que no futuro sejam também essencialmente focados na criação e no transmitir vibrações e sensações únicas uns para os outros, que no final das contas é a principal função de quem tem a responsabilidade e o dom de poder oferecer algo para a posteridade. O importante não é o agora, mas sim o que deixamos para o futuro. A presunção de pensarmos que somos os mais importantes só porque estamos no nosso tempo acaba por ser actualmente o maior pecado da sociedade criativa em geral.
 
Carlos Vargas
Publicado em Carlos Vargas
segunda, 03 junho 2013 19:59

O que fazer e o que mudar

Aceitei o desafio da 100% DJ para poder dirigir algumas palavras a todos os leitores/visitantes.
Escolher o tema para esta primeira crónica foi complicado. Não por não haver inspiração, mas porque há tanto para falar e dizer sobre a música, DJs, produtores e noite Portuguesa. 
 
Para quem não me conhece, sou o responsável pela DWM e representamos vários DJs e produtores Nacionais e fazemos o seu management.
Vou partilhar convosco alguns pensamentos e experiência adquirida em 20 anos de mercado. 
 
Em primeiro lugar, já é tempo de se mudar mentalidades entre DJs e produtores. Em Portugal em vez de se pensar em "crescer" profissionalmente, prefere-se deitar abaixo os colegas de profissão. Se olharmos para países como a Holanda ou a Suécia, vemos o quanto estamos errados. Não é a denegrir um colega que o nosso trabalho sai valorizado. Especialmente na produção, é altura de puxarmos uns pelos outros para conquistar o mercado Internacional. Portugal tem muitos e bons produtores que não são valorizados porque existe esta "guerrilha interna" onde ninguém ajuda ninguém e o "falar mal" é muito mais fácil. Todos os produtores sofrem com isto e não há quem saia beneficiado. 

Não é a denegrir um colega que o nosso trabalho sai valorizado. Especialmente na produção, é altura de puxarmos uns pelos outros para conquistar o mercado Internacional.

 
Dentro da produção, há algo que tem de ser interiorizado. Quem produz (independentemente do estilo) tem de perceber para quem a sonoridade é destinada. Vejo muitos produtores a lançarem faixas Afro, Latinas, com sonoridades Brasileiras, vocais em Português e que depois não compreendem porque é que não têm datas Internacionais ou não vendem as suas produções. O motivo é fácil de perceber. São estilos musicais destinados ao mercado interno, PALOP's, Brasil e comunidades Lusas. 
 
Não estou a dizer com isto que não o devem fazer, apenas pretendo que compreendam que é um produto esgotado, limitado geograficamente e pouco "consumido" quando se trata de vendas musicais. Ou conseguem produzir algo "fresh" e com um estilo muito próprio, ou estarão a produzir algo com limitações e muita concorrência. 
 
Ainda dentro da produção, outro erro recorrente é a produção excessiva de sonoridades mais "clubbing" onde a concorrência Internacional é feroz. Para esta situação é essencial editarem numa label Internacional que promova convenientemente a vossa faixa. Editar num "depósito" de faixas ou numa label Nacional, é apenas um capricho. A vossa música por mais qualidade que tenha, não chega como promo aos Top DJs Internacionais (que são quem a pode projectar ao ser tocada), não é divulgada, não há seguidores da label onde editam a faixa para a poderem ouvir (e comprar), etc.
 
 
Quais são as alternativas? 
Como é que se pode projectar a música e abrir portas para as actuações?
 
Chegamos a um ponto que muitos rejeitam e teimam em não aceitar. A Promoção. 
Quer gostem ou não, hoje em dia é essencial terem imensos Likes, Followers, Subscribers, etc. Se não querem investir, falam mal de quem paga anúncios publicitários, não investem em vídeo e imagem e julgam que só a música vai ser suficiente, então nunca vão sair do patamar onde estão. 
Se a vossa música não chega ao público e profissionais, se a quiserem oferecer (free download) mas não têm seguidores ou têm muito poucos, como é que alguém sabe do vosso trabalho se a informação não chegou ao destinatário?
 

Tirem da ideia que vão produzir uma faixa que vai ser um Hit se não tiverem uma máquina à vossa volta para projectar a vossa música.

Podem não saber como o fazer ou a melhor forma de executar. Afinal de contas, são DJs/produtores e não têm obrigação de saber alguma coisa de Marketing. Neste caso, recorram a profissionais. Contactem um management (que vão ter de pagar, não julguem que há alguém que vai trabalhar de borla), falem com um PR (Public Relations) que vos coloque a música nas rádios, "disparem" newsletters, etc., e mentalizem-se que para colher, têm de semear. 
 
Não existe nenhum produtor actualmente que tenha ganho notoriedade sem ter efectuado investimento em Marketing. Tirem da ideia que vão produzir uma faixa que vai ser um hit se não tiverem uma máquina à vossa volta para projectar a vossa música. 
 
 
Então e os DJs?
 
O DJ como o conhecíamos acabou. Sim... acabou. Quem conseguiu atingir patamares elevados, foi porque andou (anda) há muitos anos no mercado. Actualmente o DJ mudou. Com as novas tecnologias tornou-se fácil passar musica (o que para mim, por si só, não faz um DJ). 
 
Situações como tocar durante 5 ou 6 horas seguidas, saber "ler a pista" ou saber baixar a intensidade musical para os clientes irem ao bar consumir e agarrar a pista novamente, são coisas que os actuais DJs não sabem fazer. Foi incutida uma ideia diferente do que é na realidade um DJ, principalmente quando todos pensam em tocar num palco para milhares de pessoas, quando o lugar do DJ é numa cabine a fazer aquilo que sabe (ou sabia) fazer melhor que ninguém. 
 
Um DJ era um "educador musical". Hoje em dia, ninguém quer ser educado porque a Internet dá-lhe tudo para ele escolher por si e é influenciado pelo que ouve na rádio ou na TV. O DJ actual tem de mentalizar-se que tem de optar. Ou toca um estilo muito próprio e fica sujeito à aceitação do mercado e dos clubes que aceitam essa sonoridade, ou "regressa às origens" e é um executante musical que tem de tocar para o que o publico quer ouvir. 
 
Muitos estarão a pensar que vêm DJs a tocar em palcos para milhares de pessoas em Festivais por todo o mundo. Sim, é verdade, mas se virem bem, ou são DJs/produtores que vão para passar a sua música ou ficaram conhecidos por uma determinada faixa ou então são DJs com muitos anos de experiência que ganharam a sua notoriedade há anos atrás. 
 
Actualmente não há um único profissional que seja apenas DJ que nos últimos 6/7 anos tenha atingido a ribalta. Principalmente para os novos DJs que todos os dias aparecem, tirem da ideia que por saberem misturar com um software e passarem as músicas dos SHM, Avicii ou Hardwell, que isso irá levar-vos a algum palco Internacional ou atingir um patamar elevado.
 

Um DJ era um "educador musical". Hoje em dia, ninguém quer ser educado porque a Internet dá-lhe tudo para ele escolher por si e é influenciado pelo que ouve na rádio ou na TV.

O meu conselho para todos os DJs que agora surgiram, é o de procurarem uma residência para trabalhar. Se realmente é como dizem e argumentam (que a música é a vossa vida, o vosso sonho, etc.) vivam então a música como ela tem de ser vivida e principalmente pensem no que realmente querem. Se o que querem é ser um Hardwell, Avicii, Skrillex ou Carl Cox (seja qual for o estilo) sigam o vosso sonho por causa da música e nunca pela fama, dinheiro, prestigio, sexo, copos, etc. porque para atingirem um patamar elevado, não basta ter vontade, qualidade e sorte. Precisam de muito investimento financeiro, "padrinhos", contactos, imenso trabalho e mesmo assim nada é garantido. 
 
Por hoje é tudo e há muito mais para falar, mas o texto já vai longo.
 
Lembrem-se que a oferta é muita e a procura é pouca. Vivam um sonho mas não criem ilusões e valorizem os outros profissionais e principalmente os Portugueses, porque só dando as mãos, podemos sair para o Mundo que é um mercado muito maior que este País no cantinho da Europa.
 
Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
segunda, 04 novembro 2013 14:40

DJs VS Produtores

 
É obrigatório ser DJ e produtor hoje em dia? Um DJ é um produtor melhor? Um produtor é um bom DJ? Saberes fazer música faz com que a tua carreira evolua mais rápido? Aparentemente, hoje em dia quem faz um tão aclamado "hit" passa do 0 para o #40 da DJ Mag - como foi o caso do Martin Garrix, era "desconhecido", e hoje em dia é dos DJs/produtores que mais toca e corre o mundo.
 
Nos clubes e nos festivais o que se ouve são as músicas feitas pelos produtores de música, sempre foi assim e sempre será, são eles que inspiram as pessoas a ouvir e a gostar de música, é por causa deles que as pessoas acabam por sair à noite, para ouvir e se divertir ao som da música deles... e a maior parte dos DJs, são DJs porque se inspiraram em algum DJ/produtor.
 
Mas o reverso da medalha também existe. Se não houvessem DJs, os produtores não tinham forma de sustento, as suas músicas não eram vendidas e não eram tocadas nas pistas de todos os clubes e festivais que existem por esse mundo fora... o DJ é o principal porta-voz das músicas nos tempos que correm - existem cada vez mais clubes, cada vez mais festivais e todas as músicas que saem para o mercado hoje em dia, já vêm acompanhadas com o "remix pack" e na sua grande maioria, já agradam a toda a gente - desde o tech ao trap.
 
Nos anos 80 e 90, não era fácil ser-se produtor de música - tudo era extremamente caro de se comprar e não havia internet com as velocidades estonteantes que há agora, mas acima de tudo, era tudo analógico, não havia muito software. Hoje em dia, com a internet e a pirataria a fervilhar - e como ser DJ/produtor está na moda - qualquer pessoa pode ser um "DJ/produtor", ainda que não saia de casa e tenha apenas um laptop e um DAW qualquer à escolha - pirateado, e meia dúzia de VSTs. 

Um simples DJ acaba por ser como uma banda de covers, nunca toca as suas músicas mas sim os sucessos das outras bandas.

 
Ver um DJ passar a produtor de música é capaz de o transformar em alguém melhor - o facto de aprender a ouvir "não" (das editoras e de outros DJs/produtores), a coragem que é preciso ter para mostrar o seu trabalho - ainda que alguns não têm bem noção do que fazem e só porque os amigos dizem que está "bom" já se acham a "última bolacha do pacote", por outro lado também têm a força de criar algo do zero, do nada, algo inexistente, investir tempo, aprender, evoluir, crescer como artista, como profissional e como pessoa. Um simples DJ acaba por ser como uma banda de covers, nunca toca as suas músicas mas sim os sucessos das outras bandas, podem ser super talentosos e com uma técnica e leitura de pista inacreditável, mas no final, são apenas um "DJ". Claro que um DJ é sempre alguém que cria de uma certa forma e expressa a sua criatividade, mas poucos são os que tentam evoluir e fazer algo inovador e diferente...
 
Um DJ/produtor, por outro lado, é visto como alguém que escreve música, criar e toca os seus próprios temas, faz edits, bootlegs, mashups, procura sempre dar o seu cunho pessoal à música que toca e apresenta aos seus fãs e acrescenta valor à indústria musical, ao mercado que o rodeia e à sua "fan base". 
 
Ao contrário do mundo de um DJ, que na sua maior parte, vive "sozinho" quando está a actuar, porque a cabine é sua e ele é que decide o que vai tocar, um produtor vive em colaborações - podem ser músicos, cantores ou até mesmo outros produtores - isto impulsiona a comunicação, a exploração das fraquezas e forças, a interação, a criatividade e a inspiração - basicamente, aprende-se imenso quando se faz colaborações, tens que ser cordial, saber ouvir e respeitar as opiniões.
 
Quando fazes música estás a ser obrigado a tomar decisões - se vais fazer uma música de house, progressive, tech, trap, dubstep, whatever... que VST's vais usar, que som vais escolher, vais perder tardes a mexer num knob de um synth que altera uma frequência que muda a música toda e és obrigado a seguir em frente, a decidir. Vais procurar uma editora ou pensar se vais abrir a tua própria ou ainda se a vais disponibilizar grátis. Vais enviar a música a todos os teus amigos DJs, vais ouvir "nãos" e vais ouvir "sims". É um processo que não acaba e as decisões são constantes e a maior parte do tempo, tu não tens tempo para parar e pensar - tens que tomar decisões na hora. É um processo criativo, intenso, emocional e divertido... mas no final, super recompensador.
 
 
Daniel Poças
FY2 - The Party Rockers
Publicado em Daniel Poças
quarta, 22 fevereiro 2017 22:02

Preparação e pesquisa de músicas

 

Assunto muito discutido. A pesquisa de músicas torna-se a cada dia, o ponto crucial para o DJ profissional. Assim sendo, uma pesquisa mais apurada acaba aumentando a qualidade do desempenho do DJ e, ainda por cima, pode fazer a diferença entre o sucesso ou não de um gig.
 
Outra virtude da pesquisa é a possibilidade de clarear os caminhos do set e distanciá-lo o máximo possível daquele lugar comum, onde se encontram as faixas sob as categorias patrocinadas ou as famosas “Top 10”, “Top 100”, etc. 
 
Categorias essas que, em grande parte, estão em evidência, pois (como o próprio nome diz) foram financiadas de alguma maneira. Ou seja, para se destacar, o profissional deve se acostumar com a corrida incessante em busca de novidades que, pratiquem a coexistência entre o gênero que mais o retrata e a surpresa de tocar uma faixa pouco conhecida ou até mesmo exclusiva.
 
A introdução desta crónica sugere a não banalização da profissão de DJ, já que grande parte das pessoas (clientes) que frequentam as festas e clubes não tem nenhum tipo de conhecimentos.
 
Nada mais injusto, uma vez que a função principal do DJ é a de levar a boa música, a cultura e as sensações transmitidas pelo seu set.
 
Seguindo para a parte que realmente interessa... A pesquisa.
 
É de conhecimento geral que grande parte da matéria-prima do DJ, a música, encontra-se na internet. Seja lançamento, seja uma track de um ano atrás ou aquele clássico que marcou a década de 80, a probabilidade de se encontrar tal conteúdo em formato digital supera os 95%. 
 

(...) a probabilidade de se encontrar tal conteúdo em formato digital supera os 95%.

 
Sendo assim, pode-se levantar a grande questão: Como ser diferenciado em um nicho de mercado competitivo em que, mais da metade dos interessados são incluídos digitalmente e possuem os mesmos recursos?
 
Na minha opinião a resposta para tal pergunta é simples e direta: DEDICAÇÃO
 
Quanto maior a dedicação, maior será a chance de aumentar o grau de temas novos nas suas music lists.
 
Algumas Dicas
O levantamento dos artistas que mais agradam o ouvido do DJ é um bom primeiro passo. 
 
Frequentar a página do produtor, estar sempre atento ao seu trabalho e segui-lo em redes sociais é uma vertente interessante, pois faz com que os lançamentos dessas pessoas cheguem mais rapidamente até o pesquisador mais assíduo. O objetivo aqui é simplesmente vigiar de perto os lançamentos, produções e remixes dos que o DJ considerar como melhores produtores.
 
Seguindo a questão acima, duas hipoteses interessantes. A primeira será a pesquisa sobre um registo musical. Esse registo reúne músicas que tenham algo em comum, então se um lançamento do produtor de preferência daquele DJ o agradou naquele momento, há uma ampla facilidade de ele apreciar os lançamentos adicionais e demais produtores daquele mesmo registo musical, ampliando, assim, a rede de produtores que o artista seguia até então.
 

Procurar discos nas lojas espalhadas pelo país (já muito poucas) é uma alternativa palpável e confiável.

 
A segunda hipótese é o aumento da notoriedade de um recurso interessante que alguns sites oferecem, conhecido como “quem comprou esta faixa, também comprou…”, isto significa que podemos comprar e encontrar a mesma música e mais as apontadas, isto é, a avaliação dessas outras faixas tornou-se iminente, uma vez que dois artistas de, aparentemente, mesmo gosto musical, se encontraram.
 
Pode não ser de conhecimento geral, mas existem lançamentos de faixas exclusivas em vinil, o que pode tornar um set extremamente distintivo com relação aos demais, uma vez que nem todos os DJs são entusiastas dos 12’’. Contudo, o profissional pode – e deve – adquirir o vinil e utilizar-se das técnicas digitais atuais para converter a faixa e conseguir exibi-la ao público de maneira digital, mesmo entendendo-se que essa técnica pode decrescer a qualidade com que a música foi gravada.
 
Mantendo a abordagem tecnologica, porém distanciando um pouco da originalidade, atualmente existem aplicativos que têm por objetivo identificar músicas. Daí, se o DJ escutar um trecho de uma track, basta habilitar esses softwares para obter um retorno do produtor e nome da mesma. Muito se contesta a respeito de aplicações como essas, porém poderá ser mais um meio de pesquisa. Exemplo: Shazam
 
Por fim, conclui-se que o DJ deve estar a par de toda e qualquer mídia social existente. Sites como o Facebook, MixCloud, SoundCloud, entre outros, devem ser visitados constantemente, pois neles podem aparecer sons novos, ímpares e que encaixem no repertório do artista.
 
Abandonando a era digital, ainda existem opções para os DJs.
 
Procurar discos nas lojas espalhadas pelo país (já muito poucas) é uma alternativa palpável e confiável também. A obtenção de raridades nestes locais é completamente exequível e, vale frisar novamente.
 
O trabalho exigirá dedicação!
 
Publicado em Divenitto
domingo, 02 novembro 2014 22:26

O fim do EDM

Um novo ciclo da música electrónica está a terminar. Nunca consegui perceber esta "história" do EDM e a confusão sobre o que é realmente. As letras EDM significam Electronic Dance Music mas ficou claramente conotado com o Progressive e Big Room. 
 
Este título que dei ao artigo de opinião (fim do EDM) não é algo que possa ser levado à letra. É óbvio que não vai acabar mas nota-se claramente que deixará de ter o impacto que tem tido nos últimos anos. O EDM passará a ser um estilo musical que muito poucos DJ’s e Produtores terão sucesso ao estar conotados com o mesmo. Os clubes e discotecas já deixaram de contratar como contratavam os DJ’s que tocam este estilo porque perceberam que o EDM é algo que "exige" uma produção, é necessário um "espírito de festival", não é dançável (que é o que se pretende num clube ou discoteca) e que, apesar de movimentar milhares de fãs, foi (está) a ser explorado até à exaustão. 

Os clubes e discotecas já deixaram de contratar como contratavam os DJ’s que tocam este estilo porque perceberam que o EDM é algo que "exige" uma produção (...)

 
Vou fundamentar as minhas palavras. Um clube/discoteca retira os seus dividendos da venda de bebidas (percentagem mais elevada) e um percentual mais baixo do valor das entradas. O público (leia-se clientes) está mal acostumado e já não aceitam o que era normal, até há meia dúzia de anos, onde eram feitas "triagens" na porta dos clubes e onde passámos a ter dezenas de promotores a vender pulseiras ou ingressos e a haver "guest lists". Grande parte dessas verbas que são pedidas "para entrar" já não são para o estabelecimento mas sim para as equipas de promotores e RP's, deixando apenas a venda de bebidas como retorno para a casa. Se o retorno vem da venda de bebidas, volta a ser necessário que o estilo de música permita que os clientes estejam o maior tempo possível dentro dos estabelecimentos, os DJ’s consigam "ler uma pista" e ter "altos e baixos" na sua actuação para enviar as pessoas ao bar, tenham um determinado tipo de cliente que queira dançar, ouvir música, tenha qualidade no atendimento e que não esteja "aos saltos", a levar com confetis no seu copo, levar encontrões ou com uns miúdos aos saltos e a pisarem tudo o que esteja em meio metro quadrado e onde vá realmente para um clube/discoteca e não para um festival ou casa de espectáculos. 
 
É justamente nos festivais onde o EDM não vai "morrer" e onde continuará a arrastar os fãs. No entanto, acho que consegui passar a mensagem do porquê do EDM e em especial os DJ’s que o tocam terem uma tendência para desaparecer. A quantidade de DJ’s que seguiu a tendência do EDM tornou a oferta bem maior que a procura e com esta mudança (óbvia e objectiva), - bem como a saturação e exploração excessiva deste estilo - vai trazer dissabores a muita desta nova escola de DJ’s que surgiu nos últimos anos. 
 
Outros sinais claros que vão sendo transmitidos pelo mercado são os que vêm da indústria discográfica e das rádios. Ainda há dias terminou o ADE e essa mensagem clara (que define a nível mundial) veio também da Holanda. As discográficas não querem continuar a apostar num estilo musical esgotado e as que apostam são as que não estão acessíveis ao comum dos DJ’s e onde os seus interesses são com os artistas que elas próprias agenciam ou adquiriram exclusivos. Casos como o Nicky Romero e até o próprio Hardwell são um exemplo e vamos ouvir produções sem aquela "agressividade" do EDM puro.
 
Temos em Portugal o único DJ/Produtor que vingou (e continuará a vingar) com este estilo musical - o Kura - porque foi quem se destacou da concorrência e conseguiu moldar a sua imagem e sonoridade, deixando claro que o seu objectivo era para o mercado Internacional. Editar pela Revealed, Protocol, Armada ou Ultra é mais do que suficiente para fundamentar as minhas palavras e para que se perceba que a única maneira de seres reconhecido num estilo musical destinado a massas e a festivais é se tiveres uma projeção internacional (o que traz reflexos no seu país, como é óbvio).
 
Deixo aqui uns parêntesis em relação ao Kura para que esta malta nova perceba uma coisa. O Kura não está aqui à meia dúzia de anos. Começou como todos os grandes DJ’s, a trabalhar à noite (ainda sem ser DJ), "engoliu muitos sapos", tocou por trocos, foi criticado, trabalhou anos a fio a acreditar e a fazer aquilo que pretendia e só ao fim de uma década é que atingiu o patamar em que está. Quem pensa que faz uma faixa e que vai ter alguém a trabalhar por ele ou que vai ter um "hit" e tornar-se uma estrela, lamento desiludir mas isso nunca vai acontecer. 
 
"Os sonhos não têm pernas mas tu tens, por isso corre atrás deles" mas não julgues que isso aparece de um ano para o outro. Num próximo artigo de opinião irei escrever sobre o trajecto e as dificuldades que os TOP DJ’s portugueses tiveram para chegar ao patamar onde estão. 
 

Sim... o EDM está a "morrer" (para alguns) mas a musica electrónica nunca esteve tão bem como está actualmente.

 
Não querendo fugir ao tema deste artigo e porque há muito para escrever sobre ele e estas linhas são poucas para isso, vou deixar a minha recomendação a todos os que entraram nesta industria à pouco tempo. 
 
Pesquisem o que está a ser vendido actualmente na indústria discográfica, oiçam o que as rádios estão a difundir e a apostar, pesquisem o que está a surgir lá fora e antecipem a vossa produção e os vossos registos o mais rápido possível. A Portugal chega tudo com algum "delay" e se conseguirem começar já a ser identificados com o "futuro", as vossas hipóteses de chegarem mais longe na vossa carreira aumenta. Caso o vosso objectivo seja seguir o estilo de música que gostam ou trabalhar para um "nicho" de mercado e esperar que o mesmo seja apetecível ao mercado, preparem-se para ter imenso trabalho e esperar vários anos e mesmo assim nada garante que venham a ser um DJ com sucesso. 
 
Vou terminar com um pensamento muito próprio. Ser DJ é uma arte, ser produtor é algo que até podes saber como fazer, mas podes não ter o "dom" para isso. Eu também sei jogar futebol mas quando cheguei à idade dos séniores, não consegui jogar profissionalmente e receber por isso (no entanto sabia jogar futebol). Ser DJ ou Produtor não é para todos. É uma profissão como outra qualquer com o acréscimo que tens de ter talento e tens de trabalhar imenso. Só o trabalho não chega, teres talento e não trabalhares também não te faz chegar a lado nenhum e na larga maioria das vezes, o trabalho árduo até vale mais que o talento natural que possas ter. 
 
Sim... o EDM está a "morrer" (para alguns) mas a musica electrónica nunca esteve tão bem como está actualmente. Resta saber qual é o novo caminho que esta indústria vai seguir e se vamos voltar a ter um novo ciclo com estilos já existentes.

 

Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
domingo, 02 dezembro 2012 21:59

Back in the club, the story

Este mês resolvi dar a conhecer todo o processo que atravessei para criar, desenvolver e acabar o nosso novo tema "Back In The Club". A faixa foi apresentada pela primeira vez, ao vivo, na 'MEGA HITS Kings Fest' no Campo Pequeno em Lisboa, a 27 de Outubro. A ideia de fazer um tema com o Dani (Daniel Fontoura) começou após o ter visto a cantar num karaoke, no Cruzeiro MEGA HITS que participámos em maio de 2011 - fiquei impressionado com a voz dele e gostei muito de o ouvir cantar. Nesse momento, o meu primeiro pensamento foi: "Vou ter que fazer uma música com ele". Começámos a conversar sobre essa possibilidade e de como poderíamos avançar para a música e mal cheguei ao estúdio, a primeira coisa que fiz foi selecionar todos os esboços que tinha guardados no disco do meu iMac, até que cheguei àquele que usei para o "Back In The Club".
 
Lembro-me que esse tema começou pelo verso, uma melodia simples e ao mesmo tempo alegre, que estivesse de alguma forma relacionada com o nosso estado de espírito, com aquilo que os FY2 – The Party Rockers apresentam no seu estilo de set, mas acima de tudo, algo que nos divertisse e que nos desse prazer construir. Desenvolvi um pouco a ideia, sequenciei a música de forma a ser algo "apresentável" para o Dani poder opinar e ter uma base sólida para começar a construir a melodia vocal e a letra. Claro que ao longo de todo o processo criativo, várias mudanças foram acontecendo: desde mudar toda a estrutura rítmica (pelo menos duas vezes), trocar vários elementos, acrescentar e retirar beats - mas tudo isto faz parte do processo criativo e da busca pela "batida perfeita".
A meio do tema, percebi que a ajuda de um compositor seria bem-vinda e que iria tornar a faixa mais interessante melodicamente. Foi aí que conheci o Miguel Amorim. Um jovem músico, compositor e produtor que me fez ver certas coisas de forma diferente e com quem, para além da relação de amizade, mantive uma relação de trabalho constante em diferentes áreas dentro da música! O Miguel veio desempatar algumas coisas e resolver certas "equações" musicais que serviram como a "cereja no topo do bolo" - e verdade seja dita, a união faz a força e quantas mais boas pessoas tivermos ao nosso lado para nos ajudar, apoiar e aconselhar, melhor!
 

(...) Mas o que interessa é que façam algo e que trabalhem, não deixem as ideias de músicas gravadas no telemóvel ou mesmo na cabeça - exteriorizem e materializem!

 
Depois do Dani concluir a letra e a melodia vocal, gravámos alguns takes "experimentais" daquilo que poderia ser a voz no tema e fomos reconstruindo a música de forma a se adequar que nem uma luva à voz. Uma vez o instrumental finalizado, fomos para estúdio gravar a voz. Depois, basicamente, foi substituir os takes gravados no meu "home studio" pelos novos que gravámos e a música estava pronta para enviar para o Engenheiro de Som que iria misturar e masterizar o tema.
 
Por intermédio do Miguel Amorim, conheci o José Diogo Neves, um músico, produtor e Engenheiro de Som fantástico, com uma capacidade de aprendizagem fora de série (e uma paciência de aço para ouvir todos os meus devaneios) e que acabou por misturar e "masterizar" o tema – e que, a par com o Miguel, se tornou meu amigo e hoje em dia, basicamente, fazemos os três parte de uma equipa e temos a nossa "cena" juntos onde estamos em constante ligação e a trabalhar em conjunto! Após alguns ajustes e experimentações ao vivo, chegámos ao resultado final - que podem ouvir em algumas das principais rádios nacionais!
 
Eu sei que toda a gente tem a sua forma de criar e começar uma música - seja pela linha de baixo, pela parte rítmica ou pelo refrão - whatever - mas o que interessa é que façam algo e que trabalhem, não deixem as ideias de músicas gravadas no telemóvel ou mesmo na cabeça - exteriorizem e materializem! E acima de tudo, nunca desistam dos vossos sonhos!
 
 
Daniel Poças
FY2 - The Party Rockers
Publicado em Daniel Poças
segunda, 17 março 2014 14:19

Projeção além-fronteiras

Na minha primeira coluna para a 100% DEEJAY, vou falar sobre o "vá para fora cá dentro", (não, não é uma crónica turística, dos top restaurantes e hotéis) mas sim sobre a projeção que os produtores e DJs portugueses alcançaram além-mar.
 
A música é uma parte importante da nossa estrutura, não só enquanto pessoas, mas também enquanto sociedade. Quantos de nós não associam momentos importantes a uma música específica? Quantos de nós, não esboçamos sorrisos quando ouvimos a nossa música preferida? Quantos de nós se recordam de revoluções e marcos importantes na nossa história através da música? 
 
A música sempre esteve e estará presente. As pessoas gostam e procuram-na. O desenvolvimento de aplicações cibernéticas, permitiram o boom musical além-fronteiras. Hoje em dia, é possível um produtor dar a conhecer o seu trabalho a qualquer parte do mundo. Basta um click, uma partilha, uma página nas redes sociais. Quantos nomes de referência atuais não começaram a sua carreira por colocar um vídeo no Youtube? Quantos deles não se renderam ao imenso poder da web? Não há veiculo mais rápido. 
 
Óbvio que o boom musical, permite o aparecimento de um maior número de nomes, e de um boom de ditos "DJs". A propósito disto, costumo brincar, e quantos de nós não temos um DJ ou um produtor no nosso círculo de amigos? Eles estão aí e vieram para ficar. Procuram vingar no mundo da música, deter um nome mundial e mexer com as emoções do público. Os cursos de DJ e Produtor proliferam e têm cada vez mais alunos. Todos querem aprender. Todos querem ser os melhores.
 
Se há 15 anos atrás, (tinha eu 20 anos), nomes como DJ Vibe, Carlos Manaça, Frank Maurel, Jiggy, eram a referência na dance scene portuguesa, e o que eu pagava para ver; hoje em dia na nova geração onde me incluo, temos Pete Tha Zouk, Diego Miranda, Kura, Christian F, Mastiksoul, Tom Enzy, Rui Santoro, MassiveDrum, Karetus, entre outros - a fazer furor nas pistas de dança. Uma mudança de paradigma? Também. O comercial ou EDM tem vindo a passos largos a marcar posição nos maiores e melhores clubes nacionais. Impulsionado pelas rádios e pelos programas televisivos da temática da noite, veio para ficar. Sobre isso já não existem dúvidas. 
 

É uma sensação indescritível ouvir as pessoas lá fora a cantar as nossas músicas.

É frequente no Brasil, Angola, Moçambique e Suíça, serem publicitadas festas com nomes nacionais. O fenómeno que carinhosamente apelido, do "Vá para fora cá dentro". Sempre ouvi dizer, o que é nacional é bom. E subscrevo! Faz-se boa música em Portugal, faz-se música que as pessoas gostam de ouvir, não só aqui, como noutros países. É uma sensação indescritível ouvir as pessoas lá fora a cantar as NOSSAS músicas... em jeito de brincadeira, dá dez a zero às batatas-fritas do McDonalds em dia de ressaca.
 
O trabalho dos DJs Pete tha Zouk e Diego Miranda em terras das águas de coco, veio abrir todo um mercado para os DJs em crescimento. Se pensarmos que Portugal tem aproximadamente 10 milhões de habitantes e só São Paulo tem o dobro, estamos a falar numa potência enorme em termos de público. Há muita gente a quem fazer chegar o nosso trabalho. 
Agora sonha-se não só com tocar nas casas de referência a nível nacional, como também poder tocar em São Paulo, Rio de Janeiro, Luanda... and so on... o mundo tem os braços abertos para os DJs. Aqui e em todo o lado! 
 
É cada vez mais normal, estarmos de férias no estrangeiro e termos um DJ português a tocar num club ou evento local. O bom trabalho é reconhecido pelas pessoas e são elas que fazem crescer um DJ. As tours no Brasil, África e Europa, começam a ser uma constante na agenda dos profissionais do DJing. 
 
Acredito que com o passar do tempo, cada vez mais nomes portugueses irão figurar nos melhores cartazes mundiais. Há muitos nomes com valor e a fazer um FANTÁSTICO trabalho. Com esforço, dedicação, empenho e muito sacrifício tudo é possível. E nós, portugueses, sempre fomos conhecidos por sermos um povo lutador.  
 
Não só no estrangeiro, mas também cá dentro a aposta nos nomes nacionais tem vindo a crescer. Num mercado onde a oferta é vasta, a procura também o é. Se Portugal tivesse uma industria noturna tão bem oleada como a Holanda, não teríamos só o melhor jogador do mundo em Portugal. Provavelmente teríamos também o melhor DJ. O Pete Tha Zouk na posição 37, foi o português que mais se aproximou desse feito. 
 
Os clubes publicitam os nomes nacionais e têm casa cheia. Faz-se um bom trabalho em Portugal, e é-se reconhecido. Cativa-se o público e eles chamam por mais. Na prática, tudo se resume a uma conjugação de interesses: As pessoas procuram a música e a música encontra-as, numa simbiose perfeita.

 

Publicado em Eddie Ferrer
segunda, 09 fevereiro 2015 21:21

O que nunca vos disseram

Muita gente tem e vive o sonho de vir a ser um artista (DJ, cantor, etc.) mas nunca lhe disseram a verdade. Muita gente vive na ilusão que um dia vai lá chegar mas nunca soube a verdade. A grande verdade é que a larga maioria dos artistas, não faz a mínima ideia ou tem noção do que é preciso para atingir um patamar elevado e continua a pensar que a sua qualidade (ou a que pensa que tem), o seu empenho ou trabalho, serão suficientes. 
 
Existem manuais, cursos, blogs, escolas e até tutoriais mas ninguém explicou aos artistas que os tempos mudaram, a industria discográfica já não funciona da mesma forma e que ninguém quer saber ou ouvir a tua música, se tens técnica, se sabes realmente alguma coisa de música, se tens uma grande voz ou se és um exímio executante de um instrumento musical ou nos "pratos". 
 
Não tenho a presunção de dizer que "sei como se faz um artista". Julgo que ninguém o poderá dizer mas todos podem afirmar que com um investimento financeiro elevado e alguma qualidade, qualquer um pode chegar ao topo. 
Vamos chamar as "coisas" pelos nomes. Tanto eu como qualquer agente/manager ou agência, não fazemos milagres. Fazemos valer a experiência, os contactos, o know-how e principalmente onde e como investir na carreira de um artista. Muitos colegas meus vão ficar chateados comigo com o que vou dizer mas a verdade é só uma... grande parte dos artistas de primeira linha em Portugal, só lá estão porque tiveram visão, apareceram no timing certo ou tiveram alguém que os puxou para cima. Existem dezenas (para não dizer centenas) de outros artistas que estariam na ribalta se tivessem tido alguma das situações que mencionei, por isso, não vale a pena tapar o sol com a peneira e dizer que o artista A ou B está "lá em cima" porque tem imensa qualidade ou é melhor que os outros. Doa a quem doer, esta é a realidade. 
 

(...) grande parte dos artistas de primeira linha em Portugal, só lá estão porque tiveram visão, apareceram no timing certo ou tiveram alguém que os puxou para cima.

 
Este artigo de opinião é escrito para um portal mais direcionado à noite e à musica electrónica, por isso vou "apontar baterias" aos DJs.
 
Alguém consegue explicar-me a diferença de valores de actuação que existem entre os DJs que passam o mesmo estilo de música? 
Como é que avalias as tais chamadas "skills" entre DJs que passam música a 4 tempos (larga maioria dos estilos de música electrónica), que têm "keys", "sync", "delays" e todos os efeitos e mais alguns ou usam hardware linkado?
A diferenças dessas "skills" ou até da seleção musical e leitura de pista (que hoje em dia não existe) é suficiente para diferenciar um valor de actuação entre os 50€ e os 5.000€ entre dois DJs? Óbviamente que não. 
A diferença é simples, óbvia e fácil de entender e não é compreendida pelos "puristas" e "cabeças duras" que nunca vão ser nada neste mercado porque teimam em arranjar os mais variados pretextos para o seu insucesso. 
 
Quantas vezes já ouviram estas frases?
- "Eu não sou vendido";
- "Não passo azeite";
- "Eu passo a minha musica e um DJ é um educador musical";
- "O numero de fãs (likes, views, plays, followers. etc.) não querem dizer nada";
- "Aquele gajo tem likes comprados";
- "Ou passo o meu som (quando às vezes nem produtores são) ou não actuo";
- "Eu não sou RP nem tenho de arrastar ninguém para me ouvir";
 
Poderia estar mais 1h00 a escrever as célebres frases que todos já ouvimos e o que já todos disseram e no fundo vocês sabem que ninguém quer saber desses argumentos para nada e só estão a enganar-se a si próprios.
 
Música é música e cada um gosta do que quer, ouve e compra o que entende, paga com o seu dinheiro aquilo que quiser. 
 
Um artista é um produto e como qualquer produto, tem de ser promovido e demonstrar a sua qualidade no mercado e criar "necessidade" de ser adquirido. 
Ninguém quer ouvir a música de um DJ (a não ser que a música ou o próprio DJ sejam conhecidos). 
Ninguém paga um valor alto por actuação se um DJ não tiver um público que pague para o ver/ouvir.
Ninguém contrata um "educador musical" porque o que querem é um DJ que vá fazer o serviço para o qual foi contratado.
Nenhuma editora (de topo ou major) vai editar um tema de um DJ sem fãs ou que não chegue através de alguém influente no meio e interceda por ele. 
Nenhuma rádio vai passar um tema, que até pode ser excelente mas se não for feito com um nome conhecido, ter influência de uma label ou management, ninguém quer saber ou tocar essa faixa. Doa a quem doer, esta é a realidade. 
 
Continuo a não ter a presunção de dizer que sei "como se faz um artista" mas posso afirmar que enquanto os artistas não perceberem que têm de investir fortemente na sua carreira como se estivessem a abrir um negócio, nunca vão ter expressão neste mercado e não podem esperar que sejam as suas actuações ou música a dar o montante que precisam para "crescerem" porque isso nunca vai acontecer. Têm de ter capital para investir neles próprios para que as "datas" apareçam. Se não sabem como fazer, paguem a alguém que possa fazer esse serviço por eles. 
Precisam de investimento constante e de estimular o mercado para que a sua marca seja apetecível de ser comprada. Toda a gente compra um "Red Bull" em vez de outra marca energética porque foi criada essa "necessidade" e ninguém questiona se a Red Bull é melhor ou pior do que outra bebida similar.
 

Todos querem tudo "para ontem" e quando são questionados do porquê de ainda não terem conseguido nada, a resposta é sempre a mesma - "falta de oportunidades".

 
Isto é tão simples de entender e ver artistas em constante negação a encontrarem argumentos descabidos para justificar o seu insucesso é algo incompreensível porque estão só a enganar-se a eles próprios. 
 
Em 20 anos de mercado, não conheci um único artista que se queira lançar no mercado que tenha chegado junto a mim (comigo na qualidade de agente/agência) com capacidade de investimento, plano de marketing, estudo de mercado e viabilidade e que perceba que até o Cristiano Ronaldo teve de fazer as "escolinhas", passar por vários escalões e só atingiu o estrelato ao fim de muitos anos. Todos querem tudo "para ontem" e quando são questionados do porquê de ainda não terem conseguido nada, a resposta é sempre a mesma - "falta de oportunidades". 
 
Caros artistas, ninguém nasce ensinado e quando não há oportunidades a solução é criar e não esperar que caia do céu porque isso nunca vai acontecer e ninguém dá nada de borla. Mesmo com os argumentos que os artistas usam do "amor à musica", ninguém dá amor sem receber em troca. Não existe nada neste mundo que seja gratuito. Mesmo os sentimentos têm de ter retorno ou deixam de ser "dados". Ficarem a arranjar desculpas, esperarem que apareça alguém para investir em vocês sem que tenham a certeza que vão ter retorno desse investimento ou teimarem a insistir em algo que ninguém quer comprar, podem ter a certeza absoluta que nunca vão ser alguém neste meio. 
 
E se estiverem a ler esta frase, é sinal que leram todo o texto e o título desta crónica já não faz sentido porque "o que nunca vos disseram", acabou de ser dito.

 

Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
terça, 06 dezembro 2016 22:35

30 Anos

Num dia de Setembro de 1986, depois de ter participado em alguns eventos na escola que frequentava (a Escola Secundária de Santo André, no Barreiro, distrito de Setúbal) e algumas festas particulares, fui até à Discoteca “Os Franceses” (chamava-se assim porque ficava por baixo de uma Sociedade Recreativa chamada “Os Franceses”) para “prestar provas” e assim poder começar a trabalhar ali como DJ residente.
 
Foi uma tarde de muitos nervos, com o gerente, alguns empregados e amigos a ouvir o meu “set” feito ali, em directo, para depois decidirem se eu iria ou não ficar como segundo DJ da Discoteca. Aquele que fazia as folgas do DJ principal e passava os “slows”, a música mais calma que se passava numa determinada altura da noite (ou tarde) e onde as pessoas dançavam agarradas. Dois “pratos” com “pitch” (com sistema de correia, o que os tornava bastante “variáveis”) uma mesa de mistura de dois canais (sem equalizador por canal) e alguns discos de vinil escolhidos pelo gerente foram os instrumentos usados para esta avaliação.
 
Apesar dos nervos, de não conhecer os discos e de não ter monitores na cabine (“luxo” que só apareceria muitos anos mais tarde...) a “audição” correu bem e fui aceite como DJ residente. Foi uma sensação inesquecível para mim! Todas as horas passadas a ouvir (e a gravar em cassetes) os programas “Discoteca”, “Som Da Frente”, “Todos No Top” na RDP-Rádio Comercial (entre outros) tinham valido a pena... O meu primeiro ordenado: 25 contos por mês para trabalhar quartas, quintas, sextas e sábados à noite e domingos à tarde! Hoje seriam 125 euros...
 
Em 2016 ano passaram 30 anos desde este momento. Desde essa altura muita coisa mudou no papel que o DJ desempenha num Club. Em 1986 um DJ era simplesmente mais um empregado da Discoteca, cuja função era passar a música que funcionasse melhor para o público do momento, fosse Pop, Rock, Reggae, ou outro qualquer estilo desde que não se “esvaziasse a pista”. Os discos eram comprados pelas discotecas e não pelos DJ’s, por isso os gerentes (que muitas vezes acompanhavam os DJ’s nas compras) também tinham uma  desde que fosse dançsmente acompanhavam os DJs , Rock, Reggae, ou outro qualquer estilo, desde que fosse dançuma palavra a dizer sobre o estilo de música. Nos dias de hoje é difícil imaginar uma situação destas, certo? Mas era assim que funcionavam a maior parte dos Clubs...
 

O DJ é neste momento um dos ícones, uma das principais referências dentro da música, nas suas várias vertentes e estilos.

 
Hoje em dia o DJ é o artista principal da discoteca/evento. É por ele, pela música que ele “toca” (a aplicação deste termo a um DJ dará para outra crónica...) que as pessoas ali se deslocam. Ou pelo menos é assim na maioria dos casos. O papel que um DJ tem nos dias de hoje não tem nada a ver com o que tinha nos anos 80/90, o seu protagonismo é (quase) total, tendo-se mesmo tornado uma estrela Pop nos últimos anos. Quando nomes como David Guetta, Carl Cox, Richie Hawtin, (entre muitos outros) enchem estádios/pavilhões com milhares de pessoas e têm os seus próprios dias nos maiores festivais de música em todo o planeta, facturando milhões, é toda uma geração que os segue. Os DJ’s são, sem dúvida, dos artistas mais importantes do século XXI. Os cantores do momento querem gravar com os nomes mais importantes, as bandas querem remixes suas, o seu nome aparecer num tema é (praticamente) garantia de sucesso. O DJ é neste momento um dos ícones, uma das principais referências dentro da música, nas suas várias vertentes e estilos. Um exemplo a seguir por muitos.
 
É por isso normal que muita gente queira seguir este caminho. Todo o mediatismo gerado à volta da figura do DJ leva a que muitas pessoas queiram, naturalmente, fazer o mesmo percurso, tentar chegar “lá acima”. As novas tecnologias e o seu fácil acesso (e o baixo preço do equipamento, quando comparado com os preços dos anos 80/90 e 2000) tornaram muito mais fácil o caminho para os novos talentos. É bastante mais fácil para uma pessoa com talento e determinação, mesmo com poucos recursos económicos, conseguir produzir um tema com muita qualidade que tenha sucesso nas rádios e que projecte o seu nome como Produtor, o que leva (na maior parte dos casos) a um aumento das suas actuações como DJ.
 
O “ser DJ” tornou-se por isso um objectivo de muitos, o que em alguns casos provocou reacções menos positivas de pessoas que criticam a “banalização” do papel do Disc Jockey. É verdade que houve (e continuará a haver enquanto o DJ tiver o protagonismo que tem hoje) muitas pessoas que “apanharam o autocarro” (os ingleses têm uma expressão para isso - “jump on the bandwagon”) do DJ’ying e que se aproveitam (ou aproveitaram) desse fenómeno e “de repente” também são DJ’s. É uma situação normal e que não vai acabar tão cedo. Mas também é verdade que esta “massificação” nos trouxe alguns artistas de muito talento que de outra forma nunca poderiam ter chegado ao grande público.
 
Para mim 2016 foi um ano muito especial. Foi o ano em que cumpri 30 anos totalmente dedicados à música, deixando para trás uma (possível) carreira como arquitecto. Uma data que sinceramente nunca pensei em atingir, até porque quando comecei a minha carreira, os DJ’s com mais de 30 anos de idade (salvo raras excepções) já eram considerados “cotas” ou “desactualizados”. Foi também um ano de balanço, de pensar em tudo o que aconteceu ao longo destes 30 anos, em toda a música que me “passou pelas mãos”, em todas as horas, noites, tardes, dias passados em estúdio ou a actuar em algum das centenas de eventos onde participei. Na mudança radical do papel do DJ ao longo destes 30 anos...
 

Sinto-me um privilegiado por ter acompanhado todo este processo e por ainda hoje, creio eu, fazer parte do lote de artistas que impulsionou e impulsiona a “Dance Scene” em Portugal.

 
Tive a sorte de estar nos princípios do “boom” da música de dança em Portugal, ao lado das primeiras editoras a arriscar editar música electrónica “Made in Portugal” (das quais a Magna Recordings fez parte), nos primeiros eventos com DJ’s convidados vindos do estrangeiro a actuar em solo nacional e mais tarde nos primeiros mega-eventos de música de dança em Portugal. Sinto-me um privilegiado por ter acompanhado todo este processo e por ainda hoje, creio eu, fazer parte do lote de artistas que impulsionou e impulsiona a “Dance Scene” em Portugal.
 
2016 foi sem dúvida um dos melhores anos da minha carreira, recebi alguns prémios (entre os quais o da 100% DJ), participei em muitos eventos que me marcaram bastante, tal como os “Melhores do Ano da Radio Nova Era” (Porto) em Abril, onde recebi o Prémio Carreira (totalmente de surpresa...); no mega evento “Rock In Rio” em Maio em Lisboa, onde actuei ao lado de nomes como Carl Cox, DJ Vibe ou Octave One, todos referência para mim enquanto DJ’s/Produtores. Uma noite inesquecível!
 
Foi por isso com muito prazer que no final de Outubro estive no Salão de Plenos da Câmara Municipal do Barreiro para receber uma homenagem aos meus 30 anos de carreira, das mãos do próprio Presidente da Câmara. Foi uma total surpresa para mim que a Câmara Municipal da minha cidade se tivesse dado ao trabalho de organizar essa cerimónia onde estiveram alguns dos meus amigos mais próximos, a minha família mas também alguns meus ex-colegas da Escola Secundaria, pessoas que eu já não via há décadas! Nunca eu iria imaginar que, 30 anos depois de passar tantas vezes a pé em frente à Camara Municipal a caminho dos “Franceses” para ir trabalhar, iria estar ali no Salão de Plenos a receber uma homenagem pelos meus 30 anos de carreira das mãos do próprio Presidente da Câmara!!
 
A minha mensagem é por isso muito simples: acreditem nos vossos sonhos, por mais difíceis que possam parecer, dediquem-se o mais que puderem à música se esta for mesmo a vossa paixão. Não vão por “modas”, tentem “tocar” aquilo que realmente gostam, se puderem entrem também pelo caminho da produção, criem os vossos próprios temas, porque, se o vosso trabalho tiver mesmo qualidade, mais cedo ou mais tarde a vossa oportunidade vai (mesmo) aparecer... Eu (ainda) acredito nisso!
 
Carlos Manaça
 
(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)
Publicado em Carlos Manaça
domingo, 19 abril 2020 15:00

O impacto da pandemia na música

A pandemia devido ao novo COVID-19 chegou e é bem real. Já todos sentimos o grande impacto de todas as medidas que tiveram (e continuam a ter) de ser adoptadas pelo governo e Direção Geral de Saúde.

Assim sendo e inevitavelmente a minha crónica vai ser à volta deste tema, em particular da música electrónica, que como todos sabem, é a minha área.

Tendo em conta o grande risco de contágio, artistas como eu que vivem da música, assim como da cultura no geral, fomos dos primeiros a sentir todas estas drásticas acções que foram implementadas, tendo inicialmente numa grande maioria e de livre e espontânea vontade terem sido encerrados teatros, cinemas, museus, exposições, concertos, festivais, clubs, etc. Foi de uma enorme consciência e com imenso sacrifício que vimos isto a acontecer, antes do confinamento obrigatório. Lamentavelmente mas para o bem mútuo continuamos na mesma situação. 

O que não está bem a meu ver, são as medidas de apoio que não estamos a receber ou a ser implementadas. Dou como exemplo a tentativa do nosso Ministério da Cultura em apoiar certas entidades, numa fase em que ainda não atingimos o pico e a luz ao fundo do túnel ainda se encontra um pouco longe. Lançar um evento como o "Tv Fest" onde seriam apoiadas (e muito bem), mas apenas algumas entidades (aqui está um dos erros a meu ver).

Este projeto, criado pelo Governo no quadro de apoio, no âmbito da crise causada pela pandemia COVID-19, e destinado "exclusivamente" ao setor da música, tinha estreia marcada para quinta-feira 9 de Abril, no canal 444, nos quatro operadores de televisão por subscrição em Portugal e na RTP Play. 

De acordo com a ministra, seriam abrangidos "160 músicos", "de todos os estilos musicais", a quem era pedido que "envolvessem sempre equipas técnicas", o que significaria o envolvimento de "cerca de 700 técnicos", ao longo dos vários programas. Depois de anunciada, a iniciativa foi criticada por vários músicos, sendo lançada uma petição online - em menos de 24 horas, mais de 16 mil pessoas subscreveram essa petição. O Festival foi desta forma suspenso, mas não cancelado, de forma a supostamente ser repensado.

Estamos, sem dúvida, a passar uma fase que nunca pensaríamos e enquanto refletimos nisso as coisas no geral vão ficando piores. As medidas de apoio têm que ser implementadas e surgir com uma visão mais abrangente e global, onde o benefício deverá ser repartido igualmente ou então beneficiar os que passam mais dificuldades, como é o caso de entidades mais pequenas ou mesmo locais, uma análise do lucro individual "versus" os gastos, seriam uma boa equação para chegar a um resultado mais satisfatório e justo, porque a realidade é que estamos todos no mesmo barco, e não apenas a secção mais "mainstream", que foi a "fórmula" desenhada para direcionar esta iniciativa. 

Por outro lado, numa outra instância, acho que o que deveria ser realmente feito era canalizar esses fundos para o nosso SNS e a luta da frente contra o vírus. 

No meu caso em particular, estou, como todos sabem, com os eventos suspensos, algo que foi também comunicado muito antes de ser obrigada a faze-lo, tanto eu como a minha agência achámos por bem antecipar tudo isto que viria a acontecer, por nós e por todos. Vou acompanhado positivamente o desenrolar da situação e mantendo todos os cuidados necessários e sugeridos pela DGS. 

Como artista que sou, a minha função é divulgar a música electrónica em paralelo com divertir as pessoas, e agora mais que nunca isso é necessário, algo que também estou a fazer, através de livestreams, publicações e outras ações em que decidi participar.

Para ocupar o meu tempo, tenho estado no estúdio onde ouço diariamente bastante música nova, estou a preparar novos releases meus e da minha editora Digital Waves, assim como a gravar o meu Radioshow semanal na Nova Era e mensal na Nove3Cinco. Tenho feito também exercício por casa e mantido uma alimentação relativamente saudável.

Nesta fase é muito importante manter o positivismo, e, claro, dentro dos possíveis ficar em casa ou da forma mais segura possível, manter a actividade física e fazer o máximo por assegurar o bom funcionamento do sistema imunitário.

Tudo vai passar, tudo vai ficar bem, mas agora temos que pensar em nós e naqueles que diariamente arriscam as suas vidas para combater esta pandemia que nos apanhou de surpresa. Agora, não vamos deitar tudo a perder e recomeçar o confinamento de novo... está nas nossas mãos. 

Quero aproveitar para deixar um sentido agradecimento aos nossos "heróis" que têm sido incansáveis: médicos, enfermeiros, transportadores, staff dos supermercados, farmacêuticos, trabalhadores de companhias aéreas, motoristas de transportes públicos, etc. 

Fiquem seguros, olhem pela vossa saúde e pela dos outros, vamos voltar a dançar até de manhã com sorriso de orelha a orelha, mas agora temos que lutar, todos juntos!

Esta crónica foi redigida a 13 de Abril 2020, pelo que atendendo à conjuntura atual, pode ficar desatualizada num curto período de tempo.
 
Publicado em Miss Sheila
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