Diretor Ivo Moreira  \  Periodicidade Mensal
segunda, 01 outubro 2012 23:46

A ressaca e as suas curas

 
Este artigo pode parecer chato, (principalmente se tiveres mesmo de ressaca), mas no final vais concluir que, tal como nós, fãs ferrenhos de uma noite bem aproveitada, vai dar-te muito jeito no dia em que não souberes o que fazer mais para curá-la e quiseres livrar-te desse mau estar ou dor de cabeça torturantes. Vais ver que ainda nos vais agradecer.

Vamos começar por saber o que é a ressaca. Em linhas gerais a ressaca é provocada por um conjunto de três efeitos produzidos pelo álcool: desidratação, choque nervoso e desnutrição.
Desidratação porque o álcool é diurético e literalmente faz-nos correr para o WC centenas de vezes. O choque nervoso acontece porque quando se bebe muito, estamos a provocar uma overdose de uma "droga" e isso mexe com o sistema nervoso. É por isso que quando estamos mesmo naqueles dias de ressaca extrema trememos que nem varas verdes. Por último, mas não menos importante, a desnutrição: o álcool reduz a quantidade de vitaminas e nutrientes do corpo, elementos que são importantíssimos para a manutenção do sistema de defesa do organismo.
 
Além destes efeitos provocados pelo álcool, o mesmo é metabolizado pelo fígado. E aí é que está o nó da questão. Para processar as moléculas do álcool, o fígado usa duas enzimas e nem todos gozamos da quantidade de enzimas suficientes e eficientes. É por esta razão que existem pessoas que ainda não se cruzaram com uma manhã de ressaca, enquanto que outras, não podem ver uma garrafa de cerveja à frente que passam mal. No fundo, trata-se de uma questão de estrutura física ou mesmo genética, o que não tem nada a ver com tamanho.
Outro dado importante: o álcool é expelido do corpo pelos rins e pelos pulmões e afeta principalmente o lobo frontal do cérebro, responsável por controlar o julgamento (literalmente o juízo) e as relações sociais. Há quem diga que se perdem neurónios a cada bebedeira, mas é no fígado que o álcool deixa marcas mais profundas.

Depois de dar-mos uma olhadela a certos e determinados estudos, podemos realmente concluir que os efeitos do álcool no fígado são muito preocupantes, embora pouca gente ligue a isso no calor da festa.
 

"Para os mais impacientes, deparamos com testemunhos, que atestavam, que um valente cheeseburguer com batata grande e cola grande seria o auge (aguardamos o estudo científico para o comprovar) ..."

 
Explicações científicas à parte, o facto é que desde que os gregos inventaram a cerveja, que a cura da ressaca é um dos dilemas da humanidade. O primeiro conselho e mais importante de todos seria: não beber e garantimos por experiência própria (cof cof) que não vais ficar nem com um pouquinho de ressaca, mas se não vão nesta cantiga temos outras dicas para ti.
Repara que quando alguém bebe demais e vai parar ao hospital, o primeiro passo, é tomar glicose, o álcool reduz a quantidade de açúcar no sangue, (daí aquela moleza), então, a tática ideal e infalível é andar sempre com uma barrinha de chocolate no bolso. É tiro e queda e o efeito é melhor do que todas essas confusões de banhos gelados, dormir ou qualquer outra loucura que possa ter efeito contrário e piorar a situação. O mais seguro mesmo é o dito chocolatinho, (santo de cada dia), quando te começares a sentir mal, durante ou após a bebedeira. Procura não te sentares ou fechar os olhos no "durante".

Existe quem defenda que mastigar gengibre, ajuda a aliviar o stress do estômago, mas o repouso, frutas, verduras, muita água e vitamina B, sem contar com uma ou duas Aspirinas, Guronsan (ou outro), continua a ser a solução mais usada. Mas existem outras, nomeadamente: beber um litro de água antes de ir para a cama e tomar um remédio para a dor de cabeça. Verás que no outro dia vais estar melhor do que se chegasses a casa e não tomasses nada!
 
A esta altura já pensas: "E aquela secura irritante que não passa!!". Se tomares uma colher de azeite antes de começares a beber, segundo os nossos antepassados, não vais passar por essa sensação porque, provavelmente, nem vais conseguir beber mais!  Também, há quem diga que um bom sumo de limão ou tomate, no dia seguinte, ainda em jejum, costuma fazer milagres. Segundo outras culturas, um copo de cerveja gelada, assim que te levantas, também produz um efeito positivo. Pelo menos não passas por todas as sensações desagradáveis! Uma receita interessante que encontrámos para curar para a ressaca: comer uma canja de galinha. Mas aconselhamos a pedires a alguém que a faça ou a fazeres a canja antes de saíres à noite. De madrugada e de ressaca o mais certo é nem dares com um prato! Para os mais impacientes, deparamos com testemunhos, que atestavam, que um valente cheeseburguer com batata grande e cola grande seria o auge (aguardamos o estudo científico para o comprovar), mas podemos já adiantar que coca-cola e outras bebidas com gás e cafeína são irritantes para o estômago.

Se isto estiver a ser demais para a tua cabeça, (que neste momento poderá estar à roda com a noite passada), podes fazer uma pequena cábula com alguns dos conselhos mais práticos que encontrámos, para colares no espelho onde te arranjas todas as noites antes de saíres:
 
 
  • Alimenta-te bem antes de começar a beber, para que os efeitos do álcool não sejam tão intensos;
  • Nunca bebas à pressa! (nem que a loira que te tirou do sério esteja a dirigir-se para a porta acenando-te para ires com ela). A bebida é para ser saboreada calmamente, e sem pressas;
  • Faz um esforço e bebe água (entre as bebidas alcoólicas) para que o efeito do álcool não seja tão forte;
  • Modera a quantidade de álcool a ingerir;
  • No dia seguinte, opta por alimentos leves, chá, café, muita água, (mesmo muita), para hidratar o corpo, e come alimentos com sal e potássio para repor os nutrientes que perdeste. Não te esqueças de ingerir muita vitamina B.
 
Tem calma! O que estás a sentir vai passar em breve!
 
Amanhã tudo regressa ao normal! E estás pronto para mais uma, VENHA ELA!!! De preferência ao som dos FUNKyou2 - The Party Rockers!!!!
 
Francisco Praia
FY2 - The Party Rockers
Publicado em Francisco Praia
segunda, 02 abril 2012 21:33

Conversas à beira bar

 
DJs...
Nos dias que correm, surgem cada vez mais DJs (wannabes) ou projetos envolvendo os mesmos. A polémica estalou! As casas agradecem os cachets mais baixos e a capacidade de movimentar gente, característica típica de RPs. Mas no meio de tanta polémica acabamos por atirar pedras, quando de facto mesmo nós temos telhados de vidro...

Um dia ao olhar à volta cheguei a uma conclusão: no nosso dia-a-dia protagonizamos algo que segue a mesma linha lógica sobre a qual muitos de nós se queixam.

As casas procuram DJs mais baratos que arrastem gente para os ouvir, fazendo um paralelo com outra realidade. Neste mundo existe tanta gente que tem um amigo habilidoso que consegue arranjar o nosso computador, TV ou máquina de lavar roupa, aí poupamos uns trocos por não precisarmos de recorrer a pessoas ou empresas especializadas que nos sairiam mais caras.
Então essas mãos e mentes habilidosas, embora não sejam formadas ou treinadas para a área especifica, acabam por “desenrascar” de uma forma que nos serve perfeitamente e nos favorece economicamente, retirando trabalho a quem estudou, treinou ou se especializou em determinada arte, ciência, etc.
 
A luta dos DJs já remonta a tempos míticos em que se criticava quem não tinha um mix perfeito ou não tocava uma determinada linha musical da eleição da maioria dos artistas mais conceituados. Agora para além da técnica ser quase nula por parte destes, ainda existe a problemática da qualidade musical que é em grande parte a única possível... numa conversão medíocre de um vídeo online para formato áudio (o que é ainda mais reprovável)!
 
Mas no meio de tantas polémicas esquecemo-nos que ser DJ não é apenas o “mix perfeito”, é sim a espiritualidade e a forma de estar com a música e o público numa sintonia repleta de boas vibrações e, de facto, o que falta em profissionalismo ou habilidade a todos os "wannabes" é compensado com essa boa vibe que eles levam para as cabines e pistas!

Prego atrás de prego (usando a gíria DJística) eles constroem uma noite bem regada de sorrisos, dança e amizade ainda que a técnica e qualidade sonora estejam ausentes... se bem que a base da história do DJing era apenas passar música sem ter necessariamente que existir o "mix". Se formos ao "fusilis" da questão, este novos iniciados também podem ser considerados DJs porque passam música (mesmo que pareça uma noite de feira popular ou um bom bailarico da terrinha)!

Já cansa tanta queixa. Vivemos num mundo livre e cada um tem o direito de experimentar, viver, vibrar e a música e o público potenciam toda uma panóplia de emoções. Chega de tanto drama, "diz que disse" e mau estar entre os demais.
Todos sabemos que no final prevalece sempre a qualidade e a alma que poucos podem oferecer. Em todo esse mundo se procura o barato de biscates mas no final quando queremos qualidade garantida, acabamos por recorrer a quem “sabe o que faz” e está certificado para isso, porque o mais barato por vezes sai caro...
Fica esta no ar para os mais atentos: “Deixa-os andar” como diria o mais típico dos portugueses!
 
Francisco Praia
www.facebook.com/funkyou2djs
Publicado em Francisco Praia
sexta, 11 outubro 2019 22:20

O lado B do Hiphop

Hoje em dia quando falamos de Hiphop, de uma maneira geral, referimo-nos ao género musical composto pelo DJ/produtor e o MC (Mestre de Cerimónia), ou cantor. Mas se voltarmos ao início, ao nascimento deste estilo musical, a realidade é que não estamos a falar de Hiphop, mas sim de RAP (Rhythm and Poetry ou Ritmo e Poesia). 
Quando se fala em Hiphop nos seus primórdios, em meados dos anos 80, estamos a falar de todos os elementos que compõem uma cultura. Ou seja, a maneira especifica de vestir, a maneira de comunicar, as diferentes formas de expressão artística, tais como o Graffiti e o "Writing", o Breakdancing (B-boys e B-girls) e também o DJ e MC.

Ou seja, quando falamos do Hiphop, na sua forma mais genuína, estamos a falar de uma forma de viver a vida. E não apenas de um estilo musical. 

Com o passar do tempo, o RAP foi ganhando terreno no seu percurso, chegando a atingir um patamar mais "mainstream" e mais aceite pelo público em geral. Por consequência, indirecta ou não, o RAP acabou por influenciar diversos estilos musicais, principalmente a música POP que ouvimos hoje. Daí ouvirmos falar em Hiphop como género musical, quando na realidade a definição "correcta" será RAP. No entanto, continua a ser um tema bastante debatido, e algo controverso, porque não deixa de ser um estilo que abrange inúmeras influências musicais e culturas diferentes.

Como DJ à 18 anos, gostava de transmitir uma mensagem a todos os iniciantes a esta arte de Djing: Este estilo musical é o mais difícil de se tocar, e o mais difícil de começar a treinar, mas também é dos mais ilimitados, porque quem sabe tocar Hiphop, sabe tocar tudo.

A dificuldade de dominar este estilo dá-se a diversos factores, sendo um deles a grande presença vocal em cada faixa. Obviamente, quando estamos a misturar duas músicas, não queremos duas vozes a atropelarem-se uma à outra, criando uma confusão vocal tal que até os menos entendidos na matéria se apercebem que algo de muito errado está acontecer na pista de dança.
Logo aí temos um grande obstáculo para ultrapassar visto que, ao contrário da música eletrónica, não temos versões com introduções mais longas ou "amigas" do DJ que nos facilitam bastante as misturas. No Hiphop temos de usar outras maneiras de introduzir as músicas, fazendo-as soar o melhor possível e sem atropelamentos. 
 
Este estilo musical é o mais difícil de se tocar, e o mais difícil de começar a treinar, mas também é dos mais ilimitados, porque quem sabe tocar Hiphop, sabe tocar tudo.

Este é um dos factores que torna este género de música tão desafiante. Exige mais horas de treino e muito mais "trabalho de casa", obrigando o DJ a tornar-se num profissional com muito mais "bagagem", conhecimento e experiência. Com todo este trabalho, depois de horas infindáveis de treinos intensivos, não há nada melhor do que pôr tudo isto em prática e usar todos os conhecimentos adquiridos para rebentar as pistas em nome próprio. 


No entanto, existe uma vertente igualmente gratificante, e muito importante, que é pouco falada na indústria: acompanhar artistas nas suas digressões. No hiphop (ou no RAP), os DJs são um elemento essencial, e geralmente ignorado, para o sucesso do estilo musical. 

Isto pode acontecer de diversas maneiras, o DJ tanto pode fazer parte da banda do cantor, como pode adicionar arranjos musicais únicos, acrescentar as suas competências de Turntablism/Scratch ou mesmo pisar o palco ao lado do artista e acompanhá-lo, disparando as suas "backing tracks", substituindo uma banda. 

Esta vertente do Djing apesar de pouco falada, eleva o papel da profissão e mostra a sua versatilidade, pois existem inúmeras vantagens em partilhar um palco com um DJ. Uma delas, e uma das mais importantes para mim, é a possibilidade de fazer um curto DJ set para aquecer o público antes do artista entrar em palco.

E claro, quanto melhor e mais bem preparado estiver o DJ para entrar em palcos, que podem parecer enormes quando se entra sozinho, e causar o impacto necessário para fazer a diferença no espectáculo, melhor a probabilidade de o público estar mais receptivo  a receber calorosamente o artista, o que vai fazer toda a diferença no show. 

Podem não dar valor a um que DJ que não faz mais nada para além de disparar músicas do cantor X e há até quem pense que qualquer pessoa sem conhecimento de Djing o consegue fazer, mas eu não gosto de menosprezar essa vertente. A verdade é que quanto melhor e mais experiente é o DJ que assume esse papel, mais facilmente se minimiza a probabilidade de falhas, técnicas ou não, que por vezes estão fora do controlo do artista, e de toda a sua equipa. Mesmo que passem despercebidas e sejam identificadas e ajustadas rapidamente pelo DJ, antes do público se aperceber da situação. 
 
A verdade é que quanto melhor e mais experiente é o DJ que assume esse papel, mais facilmente se minimiza a probabilidade de falhas, técnicas ou não, que por vezes estão fora do controlo do artista, e de toda a sua equipa.

Outro factor que gosto de referenciar é a cumplicidade na comunicação entre o artista e o DJ. Esta ligação é muito importante para que o espectáculo corra bem e sem falhas, e que se vai adquirindo com tempo e experiência. Por exemplo, se um cantor quiser alterar alguma faixa no alinhamento, se necessitar de uma entrada ou saída mais rápida, ou de uma música fora do alinhamento, muitas vezes nem necessita de falar com o DJ, ele apercebe-se da situação e faz acontecer o mais breve possível. Isto só acontece se tivermos alguém a preencher correctamente esse papel em cima do palco. 


Por fim, o último factor que considero muito importante referir, é a capacidade técnica do DJ como músico, ou seja, a capacidade de adicionar elementos e arranjos musicais orgânicos de forma a colorir e melhorar o espectáculo do artista. Isto pode surgir através das suas capacidades de Scratch/Turntablism, ou também, pela sua formação e estudos de música, adicionando instrumentos ou efeitos que complementam as faixas originais. 

Outra mais valia que merece ser referida, é a sua capacidade vocal. Esta ferramenta é das mais importantes, pois o facto de conseguir estar "à vontade" para comunicar e entusiasmar o público, ou mesmo para cantar, e duplicar as vozes do cantor (backvocals) é uma técnica que pode causar mais impacto do que o vosso melhor "disco". 

Ao longo da história do Djing podemos encontrar inúmeros exemplos de DJs que não só faziam parte de bandas, como em algumas delas eram consideradas o elemento principal. 
Temos o exemplo do pioneiro DJ GrandMixer DXT, que fazia parte da banda do gigante do Jazz / Funk, o Herbie Hancock, como temos bandas internacionais e nacionais de diversos estilos de música com DJs na sua formação, como: Sublime, Incubus, Limp Bizkit, Slipknot, Linkin Park, Beastie Boys, Portishead, Keys n Krates, Da Weasel, Buraka Som Sistema, Boss A.C., Supa Squad, entre outras.
 
DJ Nokin / Professor do Curso de DJ da AIMEC Portugal 
Publicado em Nokin
Se estás a tocar e achas que o teu público é mau… és provavelmente tu que estás mal.
 
Não me interpretes mal. Não te estou a dizer que és mau no que fazes, ou que tocas mal. Estou-te simplesmente a dizer que estás no local errado a fazê-lo. Este é um dos primeiros e principais erros de percurso dos DJ’s em início de carreira: lá porque que o teu set funcionou no local A não quer dizer que funcione no local B. O tempo, o espaço e as expectativas do público são factores determinantes para o sucesso da tua prestação. Mas vamos por partes:
 

AS EXPECTATIVAS

 
99% das pessoas que vão a festivais de EDM (Tomorrowland, Ultra, EDC, etc..) vão na expectativa de ouvir EDM. O que aconteceria se num festival em que existe esta expectativa aparecesse lá um DJ que ninguém conhece, com os últimos êxitos do Kizomba e Reggaeton? Provavelmente ficaria para a história no guiness como o tipo que conseguiu mais assobios em simultâneo. O que aconteceria se subitamente num festival de Reggae como o Rototom ou, em Portugal, o MUSA, aparecesse uma banda de Death Metal ? Por acaso esta não sei.. mas era engraçado de se ver o resultado.. Mas já perceberam onde quero chegar. Existem expectativas, as pessoas são rígidas quanto a elas e intolerantes com tudo o que fuja a essas expectativas. Isto é válido para bares, discotecas, sunsets, festivais, afters… tudo!
 

O ESPAÇO

 
O espaço é outro factor determinante na recepção do público a determinado repertório musical. Estás num bar numa praia, pôr do sol, caipirinhas na mão, miúdas giras, um PA que não aguenta assim tanto… e um DJ a tocar dubstep.. faz sentido? Não me parece. Da mesma forma que não faz sentido ouvires Chillout num festival open air com uma mega produção de som e luz. A música adapta-se ao espaço e às suas condições. Não o espaço à música.
 

O TEMPO

 
Ora aqui está um dos factores mais importantes e um dos mais difíceis de gerir. Aqui não existem regras. Só lá vai com experiência e olhos no público. A quantidade de DJ’s que erra neste ponto é avassaladora. Todos os espaços e festivais têm o seu tempo. O tempo em que o público chega ao festival, vai beber uma bebida e conhecer o espaço, se ambienta, ganha mood, ganha espírito e se começa finalmente a libertar. Não há ninguém - nem mesmo o maior party animal do mundo - que chegue a um festival e mal entre seja transportado para um estado em que instantaneamente está aos saltos ou a fazer moches. O público tem um tempo para se ambientar e começar a responder. E da mesma forma tu enquanto DJ também tens que gerir o teu tempo da melhor forma. Se tens 2 horas para actuar e 30 minutos daquelas músicas que deixam toda a gente literalmente a dar o máximo, não as descarregues todas seguidas ou no início da actuação. Mas também não as deixes todas para o fim. Gere-as de forma inteligente.
 
Por isso se tocas EDM e te metem num bar que todas as noites vai corrido a Kizomba e Reggaeton, estás mal tu - que foste ao engano -, está mal o bar - que te contratou para ires tocar -, mas nunca está mal o público. Há público mais frio ou mais quente a reagir. Mas nunca há mau público. Dizermos que “o público é que não sabe o que é bom” é só o maior erro e a maior falta de humildade que podemos ter enquanto profissionais e o princípio do fim de muitas carreiras promissoras, até porque são poucos - pelo menos em Portugal - os que se podem orgulhar de dizer: este espaço encheu e estas pessoas estão todas aqui por minha causa: eu toco o que quero.
 
Em suma, há expectativas, espaços e tempo para tudo. Se conseguires gerir estes factores da melhor forma, é meio caminho andado para seres bem sucedido.
 
DJ e Produtor
Publicado em Hugo Rizzo
segunda, 02 maio 2022 22:05

Tudo na mesma

Depois de dois anos de pandemia que forçou a uma paragem da actividade do entretenimento nocturno e eventos, o regresso veio trazer o que já se esperava - ficou tudo na mesma. 

Apesar dos esforços de inúmeras pessoas, onde associações foram criadas com investimento pessoal, numa tentativa de municiar os DJs das ferramentas necessárias para o seu reconhecimento profissional, as dificuldades foram encontradas dentro da própria "comunidade DJ". 

Rapidamente foram esquecidas as "queixas" de falta de apoios sociais, a inexistência de "voz" junto das entidades competentes, o reconhecimento da profissão e o auxílio para todos aqueles que iniciam ou que já exercem mas não têm o conhecimento de situações em que verbas que são suas por direito ficam nas mãos de terceiros.  

A desconfiança natural por parte da maioria dos DJs é justificada com o passado, onde várias associações foram criadas com intuitos poucos claros ou onde visavam o lucro, mas nem com o aparecimento de associações sem fins lucrativos, onde os associados não pagavam quotização, com estatutos claros e onde todos os associados tinham direito de apresentar candidatura aos orgãos sociais, tiveram uma recepção por parte desta comunidade para poderem oferecer o que os DJs tanto "reclamam" mas que pelos vistos não pretendem ter...

Foi uma oportunidade perdida e basta olhar para o modelo Holandês para perceber que há (havia) uma oportunidade única que podia levar à internacionalização do produto português e internamente munir os DJs de ferramentas que permitisse darem passos em frente nas suas carreiras.

Ao invés disso, agências e agentes (como eu) passaram a canalizar os seus esforços para outras áreas dentro da música, eventos e entretenimento e dezenas (para não dizer centenas) de DJs e produtores de música electrónica vão ficar pelo caminho ou com maiores dificuldades, havendo mesmo um decréscimo acentuado na contratação para eventos não especificados onde os DJs tinham o seu espaço e que foi ocupado por outro tipo de artistas e estilos musicais. 

Não há culpados (cada um é livre de fazer o que entender) mas há responsáveis e essa responsabilidade não precisa de ser assumida mas está imputada a quem deixou ficar "tudo na mesma". 
 
Ricardo Silva
Agente Artístico e Empresário
Publicado em Ricardo Silva
terça, 12 novembro 2019 22:06

Quanto vale o "TOP 100 DJs" da DJ Mag?

No passado dia 19 de Outubro foram revelados os resultados de mais um "DJ Mag Top 100 DJs" e mais uma vez, com polémica. Os irmãos Thivaios mais conhecidos por Dimitri Vegas & Like Mike ganharam pela segunda vez (a primeira tinha sido em 2015) e voltaram novamente as acusações de "marketing agressivo" e "caça ao voto" para o "Top 100" da revista inglesa. Já em 2015 foram acusados de que o seu management tinha contratado uma vasta equipa de promotoras para visitar vários eventos onde eles actuavam que, de iPad's na mão com a página aberta e já preenchida com o nome da dupla na votação do Top 100 da revista, pediam o voto a quem estava no evento. Essa equipa da promotoras chegou mesmo a andar por todo o festival Tomorrowland em 2015 (festival co-produzido pela ID&T, empresa que representa a dupla Belga), com os famosos iPad's a pedir o voto para a dupla e não permitindo votar em outros nomes quando alguém lhes dizia que Dimitri Vegas & Like Mike não eram os seus artistas favoritos e queriam votar noutros nomes.
 
Já em 2013 a dupla levantou alguma polémica quando teve uma subida fantástica no "Top 100" da revista Inglesa, passando do lugar 38 em 2012 para a sexta posição em 2013 quando em 2011 tinham entrado pela primeira vez para a posição 79. De 2011 a 2013 tiveram uma subida de 73 lugares no "Top 100" da DJ Mag e tudo devido, segundo algumas pessoas ligadas ao meio, a uma política muito agressiva de marketing direcionado (quase) exclusivamente a pedir o voto para a lista da revista inglesa.

É certo que o "Top 100" da DJ Mag sempre esteve envolto em algumas polémicas, mesmo quando a votação era feita através do envio dos cupões da revista por correio. Fui assinante da revista durante cerca de 20 anos e lembro-me de ler algumas críticas que diziam que já nessa altura a revista "aconselhava" os artistas a fazerem publicidade nas suas páginas como forma de atingir os potenciais votantes e de artistas como Paul Van Dyk, Ferry Corsten e Armin Van Buren (que lideraram a tabela durante vários anos) reconhecerem que gastavam entre 10.000 a 15.000 libras ao ano em publicidade na revista inglesa.

Com o aparecimento das redes sociais a relação dos artistas com o público alterou-se totalmente, passou a ser mais directa, mais pessoal, e as suas campanhas de marketing começaram a usar os "social media" para chegar mais facilmente ao seu público alvo, deixando de usar quase exclusivamente as páginas das revistas especializadas para o fazer. De qualquer forma, o "Top 100" da revista inglesa continua a ser a sua principal fonte de receitas, quer através da publicidade no formato físico, quer na sua página web e tornou-se numa das principais referências de quem contrata artistas para grandes eventos e festivais especialmente de EDM, nas suas varias vertentes, representando uma subida de cachet muito importante para quem colocar ao lado do seu nome a indicação "#1 DJ Mag Top 100 DJs", representando por isso muito dinheiro. Logicamente os artistas/managers apercebendo-se disso, começaram a usar todos os meios ao seu dispor para chegar ao mais alto possível da tabela, sabendo que isso lhes pode acrescentar um valor importante ao seu cachet.
 
O "Top 100" da revista inglesa continua a ser a sua principal fonte de receitas, quer através da publicidade no formato físico, quer na sua página web e tornou-se numa das principais referências de quem contrata artistas para grandes eventos e festivais.

Há no entanto algumas diferenças entre os artistas de topo sobre a maneira como encaram a sua posição neste "Top 100". Enquanto alguns (como Dimitri Vegas & Like Mike, entre outros) gastam verdadeiras fortunas em campanhas online a pedir o voto e em publicidade, há outros que referem que "nunca pediram, nem vão pedir o voto para este tipo de votações". Ainda recentemente Martin Garrix o disse numa entrevista, apesar de ter sido o número um, três anos consecutivamente, 2016, 2017 e 2018.


É um facto que muitos dos artistas da chamada electrónica "não comercial", mesmo aqueles que entram na lista, dizem não dar importância a este "Top 100 DJs" (muitos deles até o ridicularizam, especialmente nos últimos anos) mas o que é certo, é que a sua posição na tabela da revista inglesa influência muito alguns mercados na hora de decidir a contratação para alguns dos eventos/clubes mais importantes. 

A Ásia e o Brasil são dos locais que mais olham para o "Top 100" da DJ Mag, são dois mercados enormes e que representam muito dinheiro para os artistas. Por esse motivo, para muitos deles, especialmente os do circuito mais "mainstream", estar no "Top 100" ou não estar, pode alterar significativamente o valor que vão facturar ao longo do ano, e por isso apostam muito na publicidade nas redes sociais (e não só) para pedir o voto ao seu público para os ajudar a subir o mais alto possível sabendo que isso vai subir consideravelmente o cachet em muitos locais.

Uma das acusações que mais ouço e leio ao "Top 100" da DJ Mag é que deixou de ser um top de DJs para ser um concurso de popularidade, onde (quase) qualquer pessoa pode entrar desde que aposte numa campanha de marketing agressiva e junto dos mercados certos. Mas a realidade é mesmo essa, o "Top 100" da revista britânica há muito que não é um "Top 100 DJs" (apesar do nome) mas sim uma tabela de popularidade dos artistas! Esse é o erro de muita gente que ainda teima em ver este top como uma lista dos melhores DJs e produtores, quando na minha opinião há muito que não o é. Especialmente com o aparecimento do EDM, com todos os milhões (em facturação e em pessoas) que envolve anualmente, o "Top 100 DJs" é uma tabela dos artistas mais populares, com mais seguidores nas redes sociais e que participam nos eventos com mais repercussão mediática, que nestes últimos anos têm sido os eventos de música electrónica mais "mainstream".
 
Mas a realidade é mesmo essa, o "Top 100" da revista britânica há muito que não é um "Top 100 DJs" (apesar do nome) mas sim uma tabela de popularidade dos artistas!

Obviamente a popularidade dos artistas também vem do seu bom trabalho, dos seus bons sets nos grande eventos/clubes, do sucesso dos seus temas na rádio, nas listas de vendas, etc. Pelo menos deveriam ser esses os factores mais importantes, na minha opinião, para a popularidade do artista. Mas o certo é que se todo esse bom trabalho que o artista faz, nas várias vertentes, não for bem divulgado, à escala global, este não atinge a popularidade que necessita para um dia poder entrar numa lista como o "Top 100 DJs". Por isso, na minha opinião, há muitos anos que este "Top 100 DJs" é um concurso de popularidade e é assim que o devemos ver.  (Os meus parabéns ao Kura e ao meu amigo Diego Miranda pelas posições #40 e #55).


Talvez para calar um pouco as críticas que sempre aparecem quando são divulgados os 100 nomes do "Top 100 DJs" a revista inglesa criou em 2018 o "Alternative Top 100 DJs" com a colaboração da maior loja online, o Beatport. Esta lista é feita com base nas votações do "Top 100 DJs" normal juntamente com as vendas dos temas dos artistas no Beatport e para muitos é a "verdadeira" lista dos melhores DJs e produtores do momento. Para mim é sem duvida o "Top 100" que melhor reflecte quais os artistas mais destacados dentro da música electrónica nos seus vários estilos (com toda a subjectividade que uma lista deste género pode ter) uma vez que contam também os números de vendas dos seus temas e não só a votação dos fans. 

Por cá e felizmente com muito menos polémica está a decorrer até dia 20 de Novembro a votação para o "Top 30" da 100% DJ. Para apoiarem os vossos artistas favoritos basta escolherem 4 nomes e votar online em www.top30deejay.pt. Já faltam só 8 dias para terminarem as votações!
 

Carlos Manaça

DJ e Produtor

www.facebook.com/djcarlosmanaca

 

(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)

Publicado em Carlos Manaça
segunda, 09 fevereiro 2015 21:21

O que nunca vos disseram

Muita gente tem e vive o sonho de vir a ser um artista (DJ, cantor, etc.) mas nunca lhe disseram a verdade. Muita gente vive na ilusão que um dia vai lá chegar mas nunca soube a verdade. A grande verdade é que a larga maioria dos artistas, não faz a mínima ideia ou tem noção do que é preciso para atingir um patamar elevado e continua a pensar que a sua qualidade (ou a que pensa que tem), o seu empenho ou trabalho, serão suficientes. 
 
Existem manuais, cursos, blogs, escolas e até tutoriais mas ninguém explicou aos artistas que os tempos mudaram, a industria discográfica já não funciona da mesma forma e que ninguém quer saber ou ouvir a tua música, se tens técnica, se sabes realmente alguma coisa de música, se tens uma grande voz ou se és um exímio executante de um instrumento musical ou nos "pratos". 
 
Não tenho a presunção de dizer que "sei como se faz um artista". Julgo que ninguém o poderá dizer mas todos podem afirmar que com um investimento financeiro elevado e alguma qualidade, qualquer um pode chegar ao topo. 
Vamos chamar as "coisas" pelos nomes. Tanto eu como qualquer agente/manager ou agência, não fazemos milagres. Fazemos valer a experiência, os contactos, o know-how e principalmente onde e como investir na carreira de um artista. Muitos colegas meus vão ficar chateados comigo com o que vou dizer mas a verdade é só uma... grande parte dos artistas de primeira linha em Portugal, só lá estão porque tiveram visão, apareceram no timing certo ou tiveram alguém que os puxou para cima. Existem dezenas (para não dizer centenas) de outros artistas que estariam na ribalta se tivessem tido alguma das situações que mencionei, por isso, não vale a pena tapar o sol com a peneira e dizer que o artista A ou B está "lá em cima" porque tem imensa qualidade ou é melhor que os outros. Doa a quem doer, esta é a realidade. 
 

(...) grande parte dos artistas de primeira linha em Portugal, só lá estão porque tiveram visão, apareceram no timing certo ou tiveram alguém que os puxou para cima.

 
Este artigo de opinião é escrito para um portal mais direcionado à noite e à musica electrónica, por isso vou "apontar baterias" aos DJs.
 
Alguém consegue explicar-me a diferença de valores de actuação que existem entre os DJs que passam o mesmo estilo de música? 
Como é que avalias as tais chamadas "skills" entre DJs que passam música a 4 tempos (larga maioria dos estilos de música electrónica), que têm "keys", "sync", "delays" e todos os efeitos e mais alguns ou usam hardware linkado?
A diferenças dessas "skills" ou até da seleção musical e leitura de pista (que hoje em dia não existe) é suficiente para diferenciar um valor de actuação entre os 50€ e os 5.000€ entre dois DJs? Óbviamente que não. 
A diferença é simples, óbvia e fácil de entender e não é compreendida pelos "puristas" e "cabeças duras" que nunca vão ser nada neste mercado porque teimam em arranjar os mais variados pretextos para o seu insucesso. 
 
Quantas vezes já ouviram estas frases?
- "Eu não sou vendido";
- "Não passo azeite";
- "Eu passo a minha musica e um DJ é um educador musical";
- "O numero de fãs (likes, views, plays, followers. etc.) não querem dizer nada";
- "Aquele gajo tem likes comprados";
- "Ou passo o meu som (quando às vezes nem produtores são) ou não actuo";
- "Eu não sou RP nem tenho de arrastar ninguém para me ouvir";
 
Poderia estar mais 1h00 a escrever as célebres frases que todos já ouvimos e o que já todos disseram e no fundo vocês sabem que ninguém quer saber desses argumentos para nada e só estão a enganar-se a si próprios.
 
Música é música e cada um gosta do que quer, ouve e compra o que entende, paga com o seu dinheiro aquilo que quiser. 
 
Um artista é um produto e como qualquer produto, tem de ser promovido e demonstrar a sua qualidade no mercado e criar "necessidade" de ser adquirido. 
Ninguém quer ouvir a música de um DJ (a não ser que a música ou o próprio DJ sejam conhecidos). 
Ninguém paga um valor alto por actuação se um DJ não tiver um público que pague para o ver/ouvir.
Ninguém contrata um "educador musical" porque o que querem é um DJ que vá fazer o serviço para o qual foi contratado.
Nenhuma editora (de topo ou major) vai editar um tema de um DJ sem fãs ou que não chegue através de alguém influente no meio e interceda por ele. 
Nenhuma rádio vai passar um tema, que até pode ser excelente mas se não for feito com um nome conhecido, ter influência de uma label ou management, ninguém quer saber ou tocar essa faixa. Doa a quem doer, esta é a realidade. 
 
Continuo a não ter a presunção de dizer que sei "como se faz um artista" mas posso afirmar que enquanto os artistas não perceberem que têm de investir fortemente na sua carreira como se estivessem a abrir um negócio, nunca vão ter expressão neste mercado e não podem esperar que sejam as suas actuações ou música a dar o montante que precisam para "crescerem" porque isso nunca vai acontecer. Têm de ter capital para investir neles próprios para que as "datas" apareçam. Se não sabem como fazer, paguem a alguém que possa fazer esse serviço por eles. 
Precisam de investimento constante e de estimular o mercado para que a sua marca seja apetecível de ser comprada. Toda a gente compra um "Red Bull" em vez de outra marca energética porque foi criada essa "necessidade" e ninguém questiona se a Red Bull é melhor ou pior do que outra bebida similar.
 

Todos querem tudo "para ontem" e quando são questionados do porquê de ainda não terem conseguido nada, a resposta é sempre a mesma - "falta de oportunidades".

 
Isto é tão simples de entender e ver artistas em constante negação a encontrarem argumentos descabidos para justificar o seu insucesso é algo incompreensível porque estão só a enganar-se a eles próprios. 
 
Em 20 anos de mercado, não conheci um único artista que se queira lançar no mercado que tenha chegado junto a mim (comigo na qualidade de agente/agência) com capacidade de investimento, plano de marketing, estudo de mercado e viabilidade e que perceba que até o Cristiano Ronaldo teve de fazer as "escolinhas", passar por vários escalões e só atingiu o estrelato ao fim de muitos anos. Todos querem tudo "para ontem" e quando são questionados do porquê de ainda não terem conseguido nada, a resposta é sempre a mesma - "falta de oportunidades". 
 
Caros artistas, ninguém nasce ensinado e quando não há oportunidades a solução é criar e não esperar que caia do céu porque isso nunca vai acontecer e ninguém dá nada de borla. Mesmo com os argumentos que os artistas usam do "amor à musica", ninguém dá amor sem receber em troca. Não existe nada neste mundo que seja gratuito. Mesmo os sentimentos têm de ter retorno ou deixam de ser "dados". Ficarem a arranjar desculpas, esperarem que apareça alguém para investir em vocês sem que tenham a certeza que vão ter retorno desse investimento ou teimarem a insistir em algo que ninguém quer comprar, podem ter a certeza absoluta que nunca vão ser alguém neste meio. 
 
E se estiverem a ler esta frase, é sinal que leram todo o texto e o título desta crónica já não faz sentido porque "o que nunca vos disseram", acabou de ser dito.

 

Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
Para a minha última crónica de 2019 decidi dar continuidade ao último tema abordado por mim, a celebração dos meus "20 Anos de Música". O evento foi realizado no passado sábado 7 de Dezembro e teve lugar no Pacha Ofir.

O alinhamento foi cuidadosamente pensado ao pormenor e tive como convidados: Chus & Ceballos, artistas que admiro e que foram uma forte inspiração para o meu início, não só pelo trabalho desenvolvido em prol da electrónica a nível mundial mas também devido à label que fundaram coincidentemente há também 20 anos, a Stereo Productions. Coyu, o espanhol proprietário da conceituada Suara, editora e fundação de apoio aos gatos abandonados, trabalho que tem vindo a ser desenvolvido por Ivan (Coyu) em Barcelona, e projecto que sem dúvida admiro e respeito bastante, ele é também um dos artistas Techno mais respeitados do momento, género que muito se identifica comigo. Pig&Dan, DJs e Produtores de excelência, são bastantes as edições desta dupla Britânica que uso nos meus sets, são um dos mais sucedidos projectos da famosa Drumcode de Adam Beyer. Rafa Barrios, mais um grande artista e amigo, conheci-o na primeira vez que veio a Portugal, através da minha agência Next Bookings, que o representa em Portugal desde esse dia, Rafa tem apoio incondicional de Carl Cox que curiosamente tocou 10 temas originais dele num único set, entre muitos outros artistas de primeira liga que o apoiam de forma consistente, devido às suas produções de qualidade. 

A nível nacional marcaram presença, Fauvrelle, mais um artista e amigo que admiro, considero-o o melhor produtor a nível nacional. Nuno Clam, residente em Esmoriz, temos importante ligação musical deste muito cedo. Nunno aka Nuno Lapa (Babalu), o nome mais importante no panorama underground da zona Centro, mais concretamente em Coimbra, reside atualmente na Suíça onde promove a sua carreira a nível profissional também com a Next Bookings. Eat Dust, conhecido pelo forte apoio de Marco Carola às suas produções. Tiger Lewis, residente do antigo Buddha Club e nome assíduo dos melhores Clubs do nosso país. O imprescindível Nelly Deep, residente do Pacha Ofir há mais de 20 anos, o "Master of Ceremony" Johnny Def, e para complementar o cartaz decidi juntar dois veteranos da dance scene nacional, Carlos Manaça e XL Garcia, que regressaram ao Pacha Ofir em modo "Back 2 Back" ao final de muitos, muitos anos.

Pacha (Ofir), foi o local escolhido, não só pela capacidade e condições como também pelo historial e tudo o que este Club significa para mim e para a electrónica em Portugal, foi a minha primeira escolha e fiquei bastante satisfeita por terem aceite este "desafio".

A produção do evento, e agora voltando um pouco à primeira parte desta crónica, "20 Anos de Música" e a outro tema aqui abordado por mim "A máquina atrás do artista", foi algo planeado de uma forma bastante meticulosa. Foi algo muito importante onde todos os detalhes foram da maior significância e pensados ao pormenor.
Planeei juntamente com a minha "equipa" o que queria a nível de estratégia de marketing, imagem, condições, decor, etc. Felizmente tudo correu como planeado: o local, o alinhamento, a campanha planeada e os convidados.

Preparei também um tema original em estúdio, intitulado de Miss Sheila-20YOM que saiu precisamente no dia do evento, 7 de Dezembro, pela minha editora Digital Waves. E que assinala este marco tão importante para mim.

Para um artista, a parte da co-organização de um evento, ocupa um espaço que deve ser mais dedicado à parte criativa e preparação para as atuações, etc. Mas foi com imensa satisfação que conduzi e ajudei em todo o processo dos "20 Years Of Music" desde o início até ao final. Foi um trimestre intenso de trabalho árduo e preocupação, de forma a que tudo corresse como planeado. Felizmente correu e sinceramente não mudaria nada.

Agradeço imensamente o apoio de todos os que fizeram parte deste trajecto, desde o dia um, onde fiz a primeira atuação ao vivo na Studio 55 em Espinho e fui prontamente agenciada pelo Paulo Almeida (Feedback Agency), que foi a primeira pessoa a apostar na "Miss Sheila". Posteriormente vieram outros a quem devo o mesmo respeito e gratitude, como é o caso do meu caro amigo António Cunha (RIP), o meu querido irmão Carlos Lopes, foi mais que um Manager e Agente, um verdadeiro braço direito. E claro ao meu atual Manager e Booker que todos sabem o quanto atualmente é importante para mim e para a minha carreira, Américo Oliveira (Next Bookings).

A todos estes e a todos os outros que de alguma forma intervieram, no meu sucesso, estou infinitamente grata! Fiquei da mesma forma grata por todas as entidades que apoiaram de alguma forma este acontecimento, nada me faz sentir mais grata do que ver o respeito e consideração de todos pelo meu trabalho, agora sei que realmente fiz algo pela dance scene, e é isso que quero continuar a fazer.

20 anos já passaram, muito obrigado a todos, como é obvio aos fãs, sem o apoio deles nada seria possível, assim como todos os que de alguma forma ajudaram ao meu grato sucesso, esta celebração é de todos, venham mais 20!
 
Publicado em Miss Sheila
Portugal está cada vez mais na rota dos grandes DJs. Ao longo dos últimos anos demos um passo de gigante ao nível da produção de eventos assim como na vinda dos melhores nomes do mundo ao nosso país.
 
Não é de agora esta enorme paixão que Portugal demonstra pela musica eletrónica, muitos dos que lerem esta crónica provavelmente nunca terão ouvido falar de um “Neptunus Festival” entre muitos outros grande eventos que decorreram neste nosso cantinho à cerca de 25, 30 anos atrás. Sempre tivemos uma grande cultura e dance scene, desvanecida um pouco nos últimos anos com certas “modas musicais” ou influências culturais.
 
Com a chegada dos eventos de verão, muitas das ditas “modas” ficam esquecidas e as pessoas que num clube não conseguem ouvir a chamada “música de discoteca”, sim este termo já existiu, acabam por ir a sunsets, festivais, etc., para ver e ouvir DJs. Será que durante o inverno não se ouve música eletrónica em Portugal? É pena pois temos grandes DJs e principalmente grandes produtores, que acabam por não se poder expandir derivado ao estado do mercado, ou melhor, da música que se ouve em muitos dos locais neste momento no nosso país.
 
Tivemos e continuamos a ter nos últimos anos DJs/Produtores portugueses presentes no Top 100 da DJ Mag, goste-se não goste do modelo, seja verdadeiro ou não, ele está lá e acaba por ter um grande peso no mercado em algumas zonas do globo. Para mim como português é um orgulho ver colegas meus de profissão conseguirem colocar o nome de Portugal tanto lá em cima, Diego Miranda, Kura, Pete Tha Zouk e DJ Vibe estiveram e estão no topo dos DJs do mundo, o que é absolutamente fantástico.
 
Os grande festivais estão aí, tanto num movimento mais underground como mainstream, é altura de evasão total com o Algarve como ponto máximo dos grandes eventos e projetos de verão.
 

Para mim como português é um orgulho ver colegas meus de profissão conseguirem colocar o nome de Portugal tanto lá em cima.

 
Vejamos agora com atenção a agenda destes espaços, mais concretamente os “Summer Clubs” onde na maior parte das vezes os proprietários são os mesmos de muitos dos clubes que marcam a cena noturna nacional durante a temporada de inverno.
 
Se existe espaço para todos os gostos com agendas multifacetadas, com vários estilos musicais, (e ainda bem que é assim) porque não aplicarem a mesma estratégia no inverno nos clubes que gerem ou são proprietários. Acho que seria fantástico para a explosão total de novos artistas e conceitos nacionais. Aplaudo novas tendências, sejam elas numa componente eletrónica ou não, mas sair à noite desde terça-feira até ao domingo a ouvir o mesmo em muitos locais, não me parece que seja vantajoso para o desenvolvimento da indústria musical em Portugal. Se nos últimos anos tivemos um boom em produção nacional, porque motivo, tirando raríssimas excepções, muitos dos grandes produtores portugueses não conseguiram vingar lá fora? Talvez pela necessidade de trabalhar “para dentro de casa” e viver ou sobreviver, pois se não for dessa forma torna-se impossível fazer uma carreira sólida em Portugal, enquanto que os outros que não se preocuparam tanto com o mercado nacional, trabalharam para o mundo e foram conquistando o seu espaço além fronteiras
 
Nos últimos três anos tenho viajado um pouco por todo o mundo, Brasil, Dubai, Qatar, Tailândia, República Checa, Suécia, Marrocos, Espanha, entre muitos outros, tive oportunidade de tocar em alguns dos melhores clubes do mundo como o Green Valley no Brasil, Duplex em Praga ou Catch na Tailândia e por mais que viaje e toque pelo mundo é sempre melhor estar com os nossos, e sei que temos condições para ser cada vez mais uma referência no que diz respeito a “night scene” mundial, basta apenas uma mudança de estratégia e colocar em prática as mesmas ideias aplicadas durante o verão em Portugal, onde se ouve de tudo, segmentado e nos mesmos espaços. Se o caminho for bem feito, teremos grandes produtores e DJs portugueses a dar cada vez mais cartas fora do nosso país.
 
Agradeço mais uma vez ao Portal 100% DJ o convite para escrever esta crónica, é e será um prazer enorme colaborar e trabalhar em conjunto para um melhor desenvolvimento da música em Portugal.
 
Eddie Ferrer
Publicado em Eddie Ferrer
domingo, 16 setembro 2018 22:47

Os "ginastas" da Dance Scene

O motivo da minha crónica deste mês vem na sequência de um post de um DJ que li há alguns dias numa das suas redes sociais em que dizia "isto é o que eu faço quando me pedem para tocar EDM" e fazia um gesto com a mão e o dedo do meio erguido dizendo também no mesmo post "I'm a Techno addict!". Como eu tinha a noção que o dito DJ tinha produzido há relativamente pouco tempo temas originais/remixes de EDM que tinha visto à venda no Beatport e que até tinha uma agenda internacional preenchida, fui um pouco atrás na sua rede social e realmente estavam lá os posts relativos a "great EDM Remix", vídeos no estúdio "what a EDM BOMB!", fotos com alguns dos artistas EDM do momento, etc. E fiquei realmente um pouco confuso...
 
O motivo da minha surpresa não é o facto de o DJ em questão ter mudado de estilo. Acho isso perfeitamente normal e faz parte do nosso percurso, quer como artistas, quer como pessoas. O que me faz muita confusão é como certos artistas podem, num momento querer ser os maiores num determinado estilo musical, porque está na moda e quando este deixa de estar na moda já é uma porcaria, já "passou o seu tempo" ou "isto é o que eu faço quando me pedem para tocar...". Essa parte já não entendo. Se até há pouco tempo querias ser o "novo príncipe do EDM", não podes, passado um ano e meio, dois anos, dizer que "isto é o que eu faço quando me pedem para tocar EDM" com um gesto obsceno. Até porque hoje em dia temos a internet que regista tudo o que publicamos, para sempre. E se vais publicar que és um "techno addict" e que "EDM sucks", ao menos apaga os posts anteriores onde dizes que estás a produzir a próxima "bomba EDM" ou que "respiras EDM". É o mínimo que se pode fazer em nome da coerência.
 
Entendo que seja o estilo musical mais "underground" que está na moda, mas ver alguns artistas (e muitas pessoas) que até à bem pouco tempo diziam mal do techno em favor de outros estilos (não só EDM) que agora são "techno addicts" faz-me alguma confusão. 

É verdade que o techno está na moda há já alguns anos e que parece que assim se vai manter durante algum tempo. Obviamente que não tenho nada contra isso até porque toco alguns temas techno nos meus sets, apesar de não ser um DJ cuja base seja esse estilo. Gosto de alguns dos temas que saem neste momento, embora já não seja tão fã da "nova" moda do techno mais rápido (para cima de 130/132 BPMs) que é bastante popular neste momento e que projectou vários DJs para a ribalta nos últimos tempos. Talvez porque, embora para a malta mais jovem seja uma sonoridade nova, alguns dos temas que estão na moda aos meus ouvidos soam-me ao techno que se tocava nos anos 90, inícios de 2000 com alguns sons novos, mas cuja base é bastante parecida e por isso não me soa a "novidade". Mas o certo é que há milhares de pessoas que seguem esse estilo e que enchem pavilhões, clubs, eventos e que para eles é uma sonoridade totalmente nova, coisa que entendo perfeitamente e que respeito totalmente. 

Mas será mesmo necessário que de repente quase toda a gente "viva para o techno", "respire techno" e seja "techno fanatic"? Entendo que seja o estilo musical mais "underground" que está na moda, mas ver alguns artistas (e muitas pessoas) que até à bem pouco tempo diziam mal do techno em favor de outros estilos (não só EDM) que agora são "techno addicts" faz-me alguma confusão. 

Tal como disse antes, obviamente que não tenho nada contra os artistas que mudam de estilo musical, isso faz parte do percurso de vida, da evolução pessoal de cada um, e é uma situação perfeitamente normal. O que me faz confusão é o aproveitamento de alguns em "mudar" para o estilo que está na moda dizendo mal do estilo que lhes deu muito dinheiro a ganhar. Quer publicamente quer em privado. Os Ingleses têm uma expressão para isso, chamam-lhe "jump on the bandwagon".

PS: Recentemente o DJ e produtor de EDM Hardwell comunicou que ia fazer uma pausa nos seus gigs por tempo indefinido para se dedicar a ser "Robbert e deixar de ser Hardwell 24 horas por dia" devido à pressão que isso significava na sua vida pessoal e ao efeito que estava a ter sobre a sua criatividade como artista. O que me levou a ler mais uma vez a crónica anterior que escrevi para a 100% DJ sobre o falecimento de Avicii. A vida de um DJ de topo com uma agenda internacional como Avicii ou Hardwell tinham, não é nada fácil. Felizmente Hardwell percebeu onde estava o seu limite e conseguiu parar a tempo...
 
Carlos Manaça
DJ e Produtor
 
(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)
Publicado em Carlos Manaça
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