Diretor Ivo Moreira  \  Periodicidade Mensal
Todos falavam da iminência de uma nova crise, no final de 2019 era prognóstico que no ano seguinte era certo que uma crise económica nos iria bater à porta. Ninguém ligou, qual 1.º prémio do Euromilhões, que todos pensam que só sai aos outros, a crise veio por forma de uma pandemia que nos confinou todos em casa, que desacelerou a economia a velocidades perto do ralenti, fechou quase todos setores de atividade, foi democrática e ninguém estava preparado.

A noite foi das primeiras a fechar portas, mesmo antes do governo decretar o seu encerramento, já muitos cancelavam eventos e outros fechavam mesmo portas. Foi a primeira a fechar e, apesar dos esforços dos empresários desta indústria, parece estar a ficar para o fim sem data marcada para abrir portas. 

E que noite podemos nós encontrar? Como serão as discotecas e os bares adaptados a esta nova realidade? Tenho pensado muito neste assunto e não se admirem se aquilo que irei agora escrever seja diferente do que já tenha escrito no passado, mas a realidade é que, em virtude das informações e desinformações que tenho recebido, ao longo deste tempo de pandemia, tenho tido um comportamento quase bipolar e muitas vezes prefiro reduzir-me ao silêncio.

A pergunta é simples, é possível, com todas as restrições abrir uma discoteca ou um bar? Sem dúvida, todos os espaços podem abrir e, acima de tudo, têm o direito de abrir, coloquem todas as restrições, imponham as regras, exequíveis claro, mas permitam que cada empresário tome a decisão de abrir ou não, se pode e tem condições para abrir ou não, porque os seus clientes, os utentes da noite também têm o direito de escolher se vão ou não comparecer na noite. 

A palavra de ordem é "bom-senso", por parte de todos, os empresários e os utentes. Porque a realidade é esta: ou nos portamos bem ou, à imagem do ocorrido da Febre Espanhola, uma segunda vaga será catastrófico, por isso "juizinho". 

Tudo é possível, com peso e medida. Todos de máscara na noite? Será possível projetar uma noite onde todos estarão de máscara? Com certeza, até digo mais, pode ser muito divertido, com a certeza que a pista de dança saberá bem melhor. Covid-vos a dançar... Boa noite!
 
Zé Gouveia
Publicado em Zé Gouveia
Existe um filósofo francês chamado Paul Virilio que defende que, na sociedade actual, é a velocidade o que define os vencedores e os líderes. Nas palavras dele: “a velocidade da luz já não transforma o mundo, a velocidade da luz é hoje o mundo”. Nada mais correcto. A meu ver, a velocidade é hoje a força motriz de qualquer pessoa. Todos estabelecemos prazos - cada vez mais curtos - para alcançar objectivos e encaramos como falhanço se não os alcançarmos. A nossa sociedade hoje funciona assim. É refém da velocidade. Fazer bem é fazer rápido.
 
É certo que este é o mundo em que vivemos. Se olharmos para o que nos rodeia percebemos facilmente que as músicas se tornam facilmente epifenómenos. Basta pensar que há não muitos anos atrás, hits mundiais das pistas de dança subsistiam no tempo e, hoje em dia, é bastante improvável apanhar os hits de 2013 ou 2014 em 2015. Nos próprios radioshows dos top DJ’s da actualidade há uma quase obsessão com a novidade e a exclusividade. É mesmo difícil em grande parte deles encontrar “músicas já editadas”, quase como se as músicas por já terem sido editadas ultrapassassem o prazo.
 
Este, a meu ver é um dos principais problemas da nova geração de produtores e DJ’s que surgiu nos últimos dois / três anos. É obcecada com a velocidade. Quer, a todo o custo, fazer rápido. Mas atenção que fazer rápido não significa fazer bem. Mas o erro não está em querer fazer rápido. O erro está em só querer fazer rápido, ou, de outra forma, só admitir como sucesso fazer rápido.
 
A verdade é que o insucesso gera frustração. E, em grande parte das vezes, o insucesso e a frustração são nada mais que sinónimos de impaciência. Todos olham para fenómenos como Martin Garrix ou Madeon e pensam “também quero ser um prodígio de 16 ou 17 anos, cheio de sucesso”. Mas esquecem-se que estamos a falar em primeiro lugar de artistas com uma estrutura profissional gigantesca e em segundo lugar de artistas que, apesar da juventude, já cá andam há alguns aninhos. 
 

O talento só não é premiado quando os talentosos desistem. Parece um cliché, mas é assim que a vida funciona.

 
Por isso quando se sentirem frustrados, ou a achar que vivem num mundo cruel em que só não têm sucesso porque “o público não tem cultura”, “nenhuma agência aposta em mim”, “não tenho um bom estúdio”, “não tenho dinheiro para investir”, “nasci no país errado”, pensem que grande parte dos top DJ’s da actualidade, tirando poucas excepções, construiu uma carreira ao longo de 5, 10 ou 15 anos antes de chegar ao topo. É como em tudo, nenhum recém-licenciado começa a trabalhar como Director numa multinacional. Se for um prodígio, trabalhar e fizer tudo bem, certamente lá chegará. E sim, em Portugal como em tudo, as coisas obviamente demoram um bocadinho mais.
 
Não estou a dizer para serem passivos ou abrandarem o ritmo. Nada disso. Apenas que precisam de conviver com o tempo, tendo sempre em mente que o talento é sempre premiado. Mais tarde ou mais cedo. Pode tardar, mas é quase uma inevitabilidade. O talento só não é premiado quando os talentosos desistem. Parece um cliché, mas é assim que a vida funciona. É como diz o ditado: “Roma não se fez num dia”.
 
Hugo Rizzo
Publicado em Hugo Rizzo
A amplitude comunicacional dos festivais de música em Portugal é cada vez mais ampla e por isso são hoje mais recorrentes os que têm no seu cerne ou numa das suas ações a vertente solidária.
 
Deixo abaixo três desses exemplos sendo que apenas tive em conta aqueles que mantêm uma lógica recorrente e estratégica nesta área pois muitos festivais evocaram razões solidárias esporádicas (nomeadamente nos anos de Troika em Portugal) mas ou não existem hoje ou o seu conceito não conseguiu obter um fundamento válido junto do seu público.
 
Rock With Benefits
Existe desde 2011, com uma edição especial no final de cada ano civil e várias sessões espartilhadas ao longo do ano em que recebem artistas pop/rock portugueses. É na cidade de Fafe que está um dos primeiros eventos culturais a ter a causa solidária como um fator de motivação para a realização e dádiva musical como moeda de troca com o seu público. Os fundos revertem para o apoio a famílias carenciadas sinalizadas do Município em que ocorre - o público pode pagar parte do seu bilhete em produtos alimentares;
 
Party Sleep Repeat
É um dos "novos festivais" que melhor tem conseguido posicionar-se e afirmar-se no panorama nacional com um público fiel e que reconhece o critério e qualidade musical (as bandas alternativas portugueses) que coloca a cada edição e respeita o que levou a concretizar este evento. Nasceu, em 2013, como um tributo a Luís Lima, um jovem sanjoanense que tinha um grande interesse pela música e consciência social. Esta homenagem, levou a uma enorme adesão familiar e municipal que levou à concretização de uma associação com o seu nome e à fortificação deste conceito como um festival. Através da sua receita de bilheteira são elaborados donativos para famílias carenciadas (programa "Apadrinhe esta ideia") e a várias instituições nacionais a cada edição;
 
Edp Cooljazz
O leilão de uma guitarra é já algo que acompanha as mais recentes edições do festival. A cada ano, um dos principais artistas internacionais do cartaz assina este objeto dando ênfase ao projeto "Guitarra Solidária". Para 2018, o britânico Van Morrison é o artista envolvido e o valor inicial de licitação está cifrado em 600€ - todo o valor angariado do mesmo reverte para a CERCICA (Cooperativa para a Educação e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados de Cascais), localizada na cidade que passa a acolher os concertos do festival.

 

Ricardo Bramão
Presidente e Fundador APORFEST, Associação Portuguesa de Festivais de Música.
 
Publicado em Ricardo Bramão
domingo, 16 setembro 2018 22:47

Os "ginastas" da Dance Scene

O motivo da minha crónica deste mês vem na sequência de um post de um DJ que li há alguns dias numa das suas redes sociais em que dizia "isto é o que eu faço quando me pedem para tocar EDM" e fazia um gesto com a mão e o dedo do meio erguido dizendo também no mesmo post "I'm a Techno addict!". Como eu tinha a noção que o dito DJ tinha produzido há relativamente pouco tempo temas originais/remixes de EDM que tinha visto à venda no Beatport e que até tinha uma agenda internacional preenchida, fui um pouco atrás na sua rede social e realmente estavam lá os posts relativos a "great EDM Remix", vídeos no estúdio "what a EDM BOMB!", fotos com alguns dos artistas EDM do momento, etc. E fiquei realmente um pouco confuso...
 
O motivo da minha surpresa não é o facto de o DJ em questão ter mudado de estilo. Acho isso perfeitamente normal e faz parte do nosso percurso, quer como artistas, quer como pessoas. O que me faz muita confusão é como certos artistas podem, num momento querer ser os maiores num determinado estilo musical, porque está na moda e quando este deixa de estar na moda já é uma porcaria, já "passou o seu tempo" ou "isto é o que eu faço quando me pedem para tocar...". Essa parte já não entendo. Se até há pouco tempo querias ser o "novo príncipe do EDM", não podes, passado um ano e meio, dois anos, dizer que "isto é o que eu faço quando me pedem para tocar EDM" com um gesto obsceno. Até porque hoje em dia temos a internet que regista tudo o que publicamos, para sempre. E se vais publicar que és um "techno addict" e que "EDM sucks", ao menos apaga os posts anteriores onde dizes que estás a produzir a próxima "bomba EDM" ou que "respiras EDM". É o mínimo que se pode fazer em nome da coerência.
 
Entendo que seja o estilo musical mais "underground" que está na moda, mas ver alguns artistas (e muitas pessoas) que até à bem pouco tempo diziam mal do techno em favor de outros estilos (não só EDM) que agora são "techno addicts" faz-me alguma confusão. 

É verdade que o techno está na moda há já alguns anos e que parece que assim se vai manter durante algum tempo. Obviamente que não tenho nada contra isso até porque toco alguns temas techno nos meus sets, apesar de não ser um DJ cuja base seja esse estilo. Gosto de alguns dos temas que saem neste momento, embora já não seja tão fã da "nova" moda do techno mais rápido (para cima de 130/132 BPMs) que é bastante popular neste momento e que projectou vários DJs para a ribalta nos últimos tempos. Talvez porque, embora para a malta mais jovem seja uma sonoridade nova, alguns dos temas que estão na moda aos meus ouvidos soam-me ao techno que se tocava nos anos 90, inícios de 2000 com alguns sons novos, mas cuja base é bastante parecida e por isso não me soa a "novidade". Mas o certo é que há milhares de pessoas que seguem esse estilo e que enchem pavilhões, clubs, eventos e que para eles é uma sonoridade totalmente nova, coisa que entendo perfeitamente e que respeito totalmente. 

Mas será mesmo necessário que de repente quase toda a gente "viva para o techno", "respire techno" e seja "techno fanatic"? Entendo que seja o estilo musical mais "underground" que está na moda, mas ver alguns artistas (e muitas pessoas) que até à bem pouco tempo diziam mal do techno em favor de outros estilos (não só EDM) que agora são "techno addicts" faz-me alguma confusão. 

Tal como disse antes, obviamente que não tenho nada contra os artistas que mudam de estilo musical, isso faz parte do percurso de vida, da evolução pessoal de cada um, e é uma situação perfeitamente normal. O que me faz confusão é o aproveitamento de alguns em "mudar" para o estilo que está na moda dizendo mal do estilo que lhes deu muito dinheiro a ganhar. Quer publicamente quer em privado. Os Ingleses têm uma expressão para isso, chamam-lhe "jump on the bandwagon".

PS: Recentemente o DJ e produtor de EDM Hardwell comunicou que ia fazer uma pausa nos seus gigs por tempo indefinido para se dedicar a ser "Robbert e deixar de ser Hardwell 24 horas por dia" devido à pressão que isso significava na sua vida pessoal e ao efeito que estava a ter sobre a sua criatividade como artista. O que me levou a ler mais uma vez a crónica anterior que escrevi para a 100% DJ sobre o falecimento de Avicii. A vida de um DJ de topo com uma agenda internacional como Avicii ou Hardwell tinham, não é nada fácil. Felizmente Hardwell percebeu onde estava o seu limite e conseguiu parar a tempo...
 
Carlos Manaça
DJ e Produtor
 
(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)
Publicado em Carlos Manaça
A minha crónica este mês é sobre aquilo que eu acho que pode vir a dar uma grande ajuda à sobrevivência das pequenas (e grandes) editoras como a Magna Recordings: o serviço de streaming. Com as vendas de música para download a descer de ano para ano (pelo menos é o que nos dizem as principais lojas online...) e o hábito cada vez mais generalizado das gerações mais novas de "sacarem" tudo grátis da internet, os serviços de streaming podem vir a ser a nossa "tábua de salvação" nos próximos anos. É um facto que é muito mais cómodo ouvir as músicas que queremos quando queremos, online, do que ter um monte de temas no telemóvel/iPad/computador, a ocupar espaço no disco (espaço que muitas vezes é limitado) e que, com o passar dos anos, se torna num problema, se não andarmos sempre a apagar o que já não ouvimos. E com o tamanho dos pacotes de dados oferecidos pelas principais empresas de telecomunicação hoje em dia, fazer streaming já não esgota os megas disponíveis, como acontecia há uns (poucos) anos atrás.

No entanto, o streaming já levantou problemas sérios entre os artistas/editoras e algumas das plataformas mais importantes, como é o caso do Spotify. Não podemos esquecer que estas empresas têm como objetivo principal o maior lucro possível, e ao terem um produto cujo número de plays está (quase) totalmente nas suas mãos, torna-se muito difícil para o artista/editora ter algum controlo sobre esses números. Na realidade, estas empresas pagam o que lhes apetece pagar. É certo que pelo contrato podes pedir uma auditoria aos números de plays, mas dificilmente os pequenos artistas/editoras têm recursos para o fazer e mesmo as grandes editoras tiveram problemas com isso. 

É conhecida a polémica do caso da cantora Taylor Swift que em 2014 retirou o álbum "1989" e todo o seu catálogo anterior do Spotify quando recebeu os primeiros relatórios de plays porque eram, segundo ela, "ridículos". Entre 2014 e 2017 todo o seu catálogo esteve fora do principal serviço de streaming (que neste momento já conta com mais de 100 milhões de usuários) o que desagradou à sua grande legião de fãs. Mas a explicação de Taylor Swift sobre os motivos dessa sua atitude fez, para mim, todo o sentido.

Segundo ela e o presidente da sua editora, era uma tremenda falta de respeito para as pessoas que tinham comprado o álbum completo em download por 12,99 dólares que os usuários do Spotify pudessem ouvir os mesmos temas, grátis, embora com anúncios entre os temas. Ou a pagar 9,99 dólares por mês no serviço premium, sem anúncios, para ouvir uma quantidade ilimitada de música, onde estariam incluídos os temas do novo álbum. E quando chegaram os primeiros relatórios de plays no Spotify do álbum "1989" que tinha acabado de vender nessa semana 1.3 milhões de cópias para download, foi a gota de água que a fez retirar todo o seu catálogo da principal plataforma de streaming. 

Segundo ela, só quando o Spotify pagasse "justamente, aos autores, editores, produtores, músicos, e a toda a gente envolvida no processo de criação musical de um álbum/single, é que voltaria a disponibilizar o seu catálogo no Spotify". Parece que isso foi conseguido em 2017 porque após uma renegociação do seu contrato, todo o seu catálogo voltou a estar disponível no Spotify, para grande alegria dos seus muitíssimos fãs no mundo inteiro.
 
Para facturarmos 1.300 euros relativos ao streaming de um tema, na Pandora teríamos que ter à volta de 87.500 plays e no Youtube 1.890.000 (!!). No Spotify são necessários aproximadamente 356.850 plays de um tema para podermos facturar os mesmos 1.300 euros, valor que obviamente estará sujeito aos respectivos impostos antes de chegar às nossas mãos.

Em 2015, e também depois de receber relatórios de plays de Spotify, que segundo eles eram "uma vergonha", Jay Z decidiu criar com Usher, Rihanna, Nicki Minaj, Madonna, Deadmau5, Kanye West, entre outros, o TIDAL, o "primeiro serviço de streaming totalmente controlado pelos artistas". Conseguiu ter, numa primeira fase, alguns lançamentos exclusivos, por alguns dias, mas as editoras proprietárias dos álbuns conseguiram, ao fim de algum tempo, disponibiliza-los nas restantes plataformas, o que levou a que a grande vantagem do TIDAL (a exclusividade) se perdesse em alguns dias. Obviamente que isso fez com que a nova plataforma "dos artistas e para os artistas" tivesse grandes problemas de afirmação num mercado já dominado pelo Spotify. O TIDAL apresentou por isso prejuízos crescentes desde 2015, tendo em 2017 vendido 33% à empresa de telecomunicações americana Sprint que injectou de imediato 200 milhões de dólares para viabilizar a empresa que já estava a ser acusada de falta de pagamento de royalties aos artistas e editoras...
É um facto que os pagamentos feitos aos artistas/editoras pelas plataformas de streaming, segundo os últimos dados, é ainda muito reduzido por cada play. Varia entre os 1,5 cêntimos pagos pela plataforma Pandora até aos 0,0066 cêntimos (!!) pagos pelo Youtube. O Spotify paga à volta de 0,0399 cêntimos por play e está mais ou menos a meio da tabela dos pagadores de royalties.

Para termos uma ideia mais concreta do que significam estes valores, para facturarmos 1.300 euros relativos ao streaming de um tema, na Pandora teríamos que ter à volta de 87.500 plays e no Youtube 1.890.000 (!!). No Spotify são necessários aproximadamente 356.850 plays de um tema para podermos facturar os mesmos 1.300 euros, valor que obviamente estará sujeito aos respectivos impostos antes de chegar às nossas mãos.

Eu sei que há muita gente que defende que neste momento é obrigatório estar em todas as lojas de venda online por download e em todos os serviços de streaming para que o nosso trabalho seja visível a toda a gente, e em parte isso é verdade. Mas também é verdade que, com o streaming, mais uma vez, o artista/editora está no "final da linha" no que se refere a receber algum dinheiro que é gerado pelo seu trabalho, pelos seus temas produzidos/editados. São inúmeras horas em estúdio, às vezes investimentos em outros artistas, vocalistas, músicos, etc., que, mais uma vez, na minha opinião, não estão a ser devidamente compensados. 

Esta crónica serve também para anunciar que, finalmente, todo o catálogo da Magna Recordings vai estar disponível brevemente nas principais plataformas de streaming. Finalmente temos um acordo razoável com uma distribuidora que nos vai permitir estar também nas restantes lojas online de download (Traxsource, iTunes, etc) assim como nas principais plataformas de streaming como Spotify, Deezer, Apple Music, entre outras. 

Vamos esperar que isso ajude na divulgação de toda a música que já editámos nos 19 anos que festejamos neste mês de Maio e que ao mesmo tempo também seja uma fonte de rendimentos (por pouco que seja...) para a editora e para os artistas. Algo que ajude a recompensar o esforço que temos ao criar e editar música para que vocês possam disfrutar e dançar, seja em casa, no club ou no evento!
 
Carlos Manaça
DJ e Produtor
 
(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)
Publicado em Carlos Manaça
sexta, 17 março 2017 21:21

O DJ toca ou passa música?

De vez em quando nas redes sociais vejo umas trocas de ideias mais acesas sobre esta questão. Há muitos anos atrás os DJs usavam normalmente a expressão “vou ali passar música...”, mas de há uns anos para cá, essa expressão transformou-se em “vou ali tocar...”. Qual das duas maneiras é a mais correcta para referir-se ao mesmo acto?
 
De um lado temos os músicos (e alguns músicos que também são DJs) que dizem que o DJ se limita a “passar a música dos outros”, do outro lado temos os DJs que dizem que não só tocam as músicas dos outros (ou as suas, caso sejam também produtores musicais) mas que também criam sonoridades novas, quando estão a actuar...
 
Sinceramente, acho que as duas afirmações estão correctas. É verdade que antes de aparecerem as novas tecnologias, as várias aplicações e controladores que agora podemos usar nos “sets” as possibilidades de criação eram muito mais limitadas, mas mesmo assim havia DJs que mesmo só com pratos e discos em vinil praticamente criavam novos temas, novas versões de temas, “remixes” na hora, com vários temas a tocar ao mesmo tempo. Lembro-me assim de repente do DJ Americano Jeff Mills a actuar dessa forma e na minha opinião isso é “tocar”, não é simplesmente o acto de “passar música”. Quem já assistiu a uma actuação dele a 4 pratos sabe do que estou a falar.
 
É verdade que nessa altura eram mais os casos em que o DJ “passava música” do que os em que “tocava”, mas mesmo assim usando “só” dois, três ou quatro pratos era possível (e alguns faziam-no) criar novas sonoridades, criar novos temas a partir outros já existentes. Isso não era a regra geral, é verdade, mas alguns DJs faziam-no e muito bem. 
 
Na minha opinião, hoje em dia é mais normal, por tudo o que usamos nas actuações, o termo “tocar” do que “passar música”. Ainda mais no caso daqueles DJs que praticamente só usam temas próprios e/ou “loops” e bases próprias e alguns temas de outros artistas num programa como o Ableton Live, criando sessões exclusivas com sonoridades novas, que muitas vezes até resultam em temas novos.
 

Com tudo o que temos à disposição neste momento para usar durante as actuações o limite é a nossa imaginação e criatividade!

 
Hoje em dia, com um computador portátil e um programa como o Traktor da Native Instruments (ou outro do género) é muito mais fácil conseguirmos criar uma versão nova, um momento “exclusivo” num set que provavelmente não se vai repetir noutro local. A Native Instruments até criou um formato exclusivo, os “STEMS” que basicamente são a divisão de um tema em quatro pistas separadas. Isto permite uma grande liberdade criativa já que podes usar o instrumental de um tema, uma voz de outro, um baixo de um terceiro e um sintetizador de um quarto e criar uma versão completamente nova de algo já existente ou mesmo um tema original, dependendo da tua imaginação! Isto já era também possível com o formato “Remix Sets” que a Native criou antes e que permite ter os temas divididos por “loops” para poder usar em diferentes combinações, mas com os STEMS penso que a facilidade em criar novas sonoridades é maior e mais imediata. 
 
Por isso, na minha opinião, a discussão entre se o DJ “passa música” ou “toca” é mais uma discussão “estéril”. Tal como dizer que “o verdadeiro DJ é aquele que não usa SYNC” ou “o verdadeiro DJ usa discos em vinil, não usa computadores...” entre outras discussões que de vez em quando aparecem nas redes sociais. Com tudo o que temos à disposição neste momento para usar durante as actuações o limite é a nossa imaginação e criatividade!
 
Carlos Manaça
 
(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)
Publicado em Carlos Manaça
domingo, 17 fevereiro 2019 23:28

Os ciclos

O que podemos esperar de 2019? 
Um novo ano entrou e a apreensão que sentimos no seio da indústria da musica electrónica em Portugal é evidente. 
Em 2017, num dos artigos de opinião que escrevi para a 100% DJ, fui criticado quando afirmei que estávamos "a chegar ao fim do EDM". Hoje, é claro para todos que o EDM (electro, progressive, big room) está em queda e a adaptar-se a um novo ciclo.
Poderia fazer um exercício com cada um de vós para encontrar motivos e justificações, mas não existem. 
Tudo tem um ciclo, "sai de moda" e tem uma ascensão, pico e declínio. 
É certo que os estilos a que chamamos EDM (erradamente, porque EDM é uma sigla que abrange toda a música electrónica) não irão desaparecer, simplesmente deixarão de ser a principal referência para os amantes da Dance Music, e produtores e DJs terão de adaptar-se, reinventar as suas produções e actuações ou optar por manter o seu registo e identidade, tendo a noção que irão trabalhar para "um nicho de mercado", tal como outras sonoridades mais "clubbing" tiveram de fazer e "aguardar". 
 
Talvez esteja errado mas não consigo imaginar o aparecimento de nada de novo na música electrónica. Poderá aparecer algo "criativo" com alguma fusão de estilos, mas coloco muitas dúvidas que apareça um "Dubstep, D&B, Hard Style ou uma variação da House Music" que consiga afirmar-se como "novo ou inovador". Estou convicto que os ciclos serão cada vez mais rápidos e passageiros, tendo as diferentes sonoridades um nicho muito próprio de seguidores. 
 
Então e em Portugal? 
Portugal não é diferente e assistimos neste último ano ao desaparecimento de dezenas (para não dizer centenas) de DJs e produtores, sendo cada vez mais difícil a afirmação de novos talentos sem terem um elevado investimento financeiro que lhes permita ter uma equipa, meios de comunicação e marketing e uma rede de contactos que os acompanhe e catapulte para o mercado. 
Em termos de sonoridades também não somos diferentes do resto do mundo. 
Há um claro regresso das vertentes mais "House", o Techno está em novo crescimento e as sonoridades com vocais (letras completas) ocuparam o espaço do que antigamente chamava-mos de "comercial". 
O mercado (leia-se pessoas/consumidores) é e sempre será quem tem a última palavra e tudo o que julgamos prever ou ter certezas, não passa de uma leitura dos sinais que o mercado vai dando. 
 
Termino este primeiro artigo de opinião de 2019 com uma palavra para a 100% DJ, a quem parabenizo por mais um ano e agradeço o convite para continuar esta longa parceria/participação. 
Publicado em Ricardo Silva
segunda, 02 maio 2022 22:05

Tudo na mesma

Depois de dois anos de pandemia que forçou a uma paragem da actividade do entretenimento nocturno e eventos, o regresso veio trazer o que já se esperava - ficou tudo na mesma. 

Apesar dos esforços de inúmeras pessoas, onde associações foram criadas com investimento pessoal, numa tentativa de municiar os DJs das ferramentas necessárias para o seu reconhecimento profissional, as dificuldades foram encontradas dentro da própria "comunidade DJ". 

Rapidamente foram esquecidas as "queixas" de falta de apoios sociais, a inexistência de "voz" junto das entidades competentes, o reconhecimento da profissão e o auxílio para todos aqueles que iniciam ou que já exercem mas não têm o conhecimento de situações em que verbas que são suas por direito ficam nas mãos de terceiros.  

A desconfiança natural por parte da maioria dos DJs é justificada com o passado, onde várias associações foram criadas com intuitos poucos claros ou onde visavam o lucro, mas nem com o aparecimento de associações sem fins lucrativos, onde os associados não pagavam quotização, com estatutos claros e onde todos os associados tinham direito de apresentar candidatura aos orgãos sociais, tiveram uma recepção por parte desta comunidade para poderem oferecer o que os DJs tanto "reclamam" mas que pelos vistos não pretendem ter...

Foi uma oportunidade perdida e basta olhar para o modelo Holandês para perceber que há (havia) uma oportunidade única que podia levar à internacionalização do produto português e internamente munir os DJs de ferramentas que permitisse darem passos em frente nas suas carreiras.

Ao invés disso, agências e agentes (como eu) passaram a canalizar os seus esforços para outras áreas dentro da música, eventos e entretenimento e dezenas (para não dizer centenas) de DJs e produtores de música electrónica vão ficar pelo caminho ou com maiores dificuldades, havendo mesmo um decréscimo acentuado na contratação para eventos não especificados onde os DJs tinham o seu espaço e que foi ocupado por outro tipo de artistas e estilos musicais. 

Não há culpados (cada um é livre de fazer o que entender) mas há responsáveis e essa responsabilidade não precisa de ser assumida mas está imputada a quem deixou ficar "tudo na mesma". 
 
Ricardo Silva
Agente Artístico e Empresário
Publicado em Ricardo Silva
sexta, 05 abril 2013 14:50

Mudam-se os tempos, muda-se o respeito

 
Passo bastante tempo em estúdio e esse facto permite-me estar também atento ao que se passa nas redes sociais e internet. Ora algo que me tem vindo a intrigar nos últimos tempos, é a tremenda falta de respeito e facilidade com que os mais novos (talentosos ou não) artistas, tratam os mais velhos (maior parte com "cartas mais que dadas").

Eu compreendo o entusiasmo de alguns jovens, que conseguindo "imitar" a sonoridade de alguns artistas internacionais, são colocados em pedestais por amigos "facebookianos", que sendo igualmente joviais, não medem a "crítica exageradamente positiva".
 
Todos sabemos que colocar um preview musical no facebook leva a que 90% dos comentários sejam positivos, por razões óbvias. Ora essa situação não demonstra a realidade do talento artístico. Pelo menos no caso dos jovens. Mas acontece que estes jovens "artistas" ficam deslumbrados e pensam que podem argumentar, criticar e achar que apenas o que fazem está correcto e é bom.

Esta é uma situação grave. O respeito é um dos alicerces da inteligência e bem-estar entre "nós", seres pensantes.


Presenciei, recentemente uma bárbara situação em que um importantíssimo produtor foi "gozado", criticado e "escovado", até ao limite. Por quem?! Pois, aí é que está! Por quem ainda não mostrou/provou nada. Por quem ainda não tem sequer argumentos de "venda" artística e acima de tudo, e mais grave, por quem, ao pé de quem criticou é muito pequenino.

Esta é uma situação grave. O respeito é um dos alicerces da inteligência e bem-estar entre "nós", seres pensantes. Opiniões são opiniões, e todos somos livres de as ter, de as dar. Mas a crítica, a crítica é algo diferente e quando é dada com malícia, torna-se falta de respeito.

Gozar um artista que até já pouco tem a almejar, vindo de quem tem ainda tudo a almejar, é sinceramente e desculpem a expressão, mentecapto!

Estes "jovens" esquecem-se que editar uma música nos dias de hoje, não tem sequer um terço do valor que era editar há dez anos atrás. Porquê? Porque hoje em dia não tem custos, porque hoje é facílimo chegar às editoras, porque hoje, se "te enganares" num release, dois dias depois podes lançar uma nova. Porque hoje o risco para as editoras é quase nulo. E porque hoje, hoje até o youtube te ensina a "criar um hit"!
Com isto não significa que o talento tenha deixado de existir, porque existe e bastante, mas esse, esse não precisa de anos para "dar o salto" e afirmar.

Tentar subir uns degraus, difamando o mais velho é feio e no facebook, todos vêem!

Penso que colocar os pés bem assentes no chão e olhar o futuro com entusiasmo e "ganas" é o melhor caminho para os jovens, mas sempre a respeitar o próximo e o mais velho, pois esse, foi o que abriu portas para o "sonho"!
 
 
Publicado em Massivedrum
quarta, 03 junho 2020 23:04

(Des)governados

Atravessamos momentos únicos da nossa vida e ninguém consegue fazer futurologia. Estamos completamente desgovernados por tudo, por todos e também por nossa culpa por não sabermos antecipar problemas.

Apesar de tudo, há algo que sempre iremos conseguir fazer - adaptação aos novos desafios. 

Existem DJs desde o tempo em que a tecnologia permitiu que uma única pessoa conseguisse "tocar musica gravada" (excluindo o aparecimento das grafonolas) e sempre houve adaptações e mudanças.

Provavelmente, nunca terá havido tantos recursos tecnológicos que permitissem adaptações como existem nos dias de hoje e cabe a cada um de nós pensar e implementar essas adaptações.
 
É certo que todos estamos desgovernados e até desesperados porque a principal fonte de rendimentos de um DJ é por norma as suas actuações e não havendo eventos ou espaços físicos com público para o fazer, as alternativas são escassas. O streaming é a opção lógica mas jamais poderá trazer a rentabilidade, o sentimento, a "magia" das actuações em "contacto" com o público, no entanto não nos podemos esquecer que num passado recente, muitos DJs usavam a rádio para ganhar a notoriedade que têm nos dias de hoje e as diferenças para um streaming são apenas em termos de imagem e suporte em que são transmitidas. 
 

Não tenho a pretensão de imaginar ou prever o futuro deste sector mas tenho a certeza que servirá como triagem para muitos amadores e profissionais ficarem pelo caminho (…)


Não tenho a pretensão de imaginar ou prever o futuro deste sector mas tenho a certeza que servirá como triagem para muitos amadores e profissionais ficarem pelo caminho, deixando a quem tenha perseverança um caminho aberto para o futuro quando esse mesmo futuro voltar a permitir o regresso dos DJs ao seu habitat natural. 

Sim, estamos desgovernados (todo o sector e não apenas os DJs) mas não existem soluções no imediato. 

Nada será como foi e com maior ou menos adaptação, maiores ou menores mudanças, o DJ pode estar "infetado" mas não irá "morrer".
 
Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
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